Europa: trabalhar 65 horas por semana é simbolo de modernidade?
Máquinas supermodernas, alta tecnologia, computadores ultravelozes, robôs, Internet… com esse cenário, teve quem acreditasse que cada vez mais o trabalho humano seria menos necessário. O Capitalismo só consegue dar uma resposta aos problemas que ele gera, como a grande desigualdade social: precisamos modernizar! Mais máquinas, mais tecnologia! Como se isso fosse resolver algo.
Ampliação da jornada na Europa
No dia 10 de junho, os países que compõem a União Européia, encaminharam para o Parlamento Europeu uma lei que permite a jornada semanal de trabalho de até 65 horas. Até então uma jornada semanal não deveria passar das 48 horas.
A jornada de 65 horas será possível para trabalhadores que realizem plantões (principalmente trabalhadores da saúde). Mas caso haja acordo entre empresas e sindicatos, qualquer trabalhador pode ser obrigado a trabalhar até 60 horas semanais independente do tipo de trabalho.
O argumento dado pelos governantes europeus de que ninguém será obrigado a trabalhar numa jornada dessa é ridículo. Com sindicatos pelegos, essas decisões serão tomadas à revelia dos trabalhadores. Um dos principais alvos dessa lei são os trabalhadores da saúde. Tenta-se também que o período de inatividade nos plantões não seja considerado como trabalho!
Os economistas capitalistas argumentam que a Europa deve se modernizar para conseguir acompanhar a economia mundial. Afirmam que a França, por exemplo, tem uma lei atrasada, por ter uma jornada de 35 horas. Sarkozy não aguardará a aprovação no Parlamento Europeu para flexibilizar a jornada na França. No dia 17 de junho, o presidente francês apresentou um projeto que permite ampliação da jornada por acordos entre sindicatos e patrões – o que gerou um protesto de mais de 500 mil trabalhadores por toda o país.
Jornada de trabalho e mais-valia
Parece estranho que uma das regiões mais ricas do mundo não consiga garantir uma jornada de trabalho menor, apesar de toda aparente facilidade que a tecnologia permite. Karl Marx já havia adiantado isso. O capital, para se manter, necessita explorar o trabalho humano (trabalho vivo), gerando mais-valia, a fonte do lucro do capitalista.
Uma forma de garantir a mais-valia é pela definição da jornada de trabalho. No período de um dia, o trabalhador gasta certo tempo para gerar (produzir) valor que garanta sua existência (alimentação, moradia, descanso…) o resto é trabalho que será destinado ao patrão (mais-valia). Num momento de crise, o capitalista busca aumentar a jornada para garantir a mais-valia.
Como é um sistema que se configura pela exploração de uma classe pela outra, para garantir uma vida confortável à burguesia, é necessário mais sangue, suor e lágrimas de muitos. “O capital é trabalho morto que, como um vampiro, se reanima sugando o trabalho vivo, e, quanto mais suga, mais forte se torna”. (Marx, O Capital) O aumento da maquinação (trabalho morto) não garante a vida do capital, pois não é a máquina que gera mais-valia e sim o trabalho humano.
É por isso que a solução para os problemas do capitalismo, como as condições terríveis em que a maioria da população vive, só poderá ter solução fora desse sistema. Não serão avanços tecnológicos que garantirão melhores condições.
Luta pela redução da jornada de trabalho
A jornada de trabalho que temos hoje foi conseguida não por um progresso tecnológico, foi sim um resultado da resistência dos trabalhadores, greves, piquetes, boicotes que obrigaram patrões a reduzirem a jornada.
O famoso 1º de maio, data simbólica da luta dos trabalhadores, foi criado em homenagem aos mortos na greve de 1886 em Chicago que reivindicava a jornada de 48 semanais.
A revolução russa de 1917 foi um grande incentivo para a organização e lutas dos trabalhadores de todo o mundo. Grandes mobilizações e tentativas revolucionárias foram a tônica dos anos subseqüentes. Em 1919, como resultado das pressões do movimento dos trabalhadores no mundo todo, a OIT (Organização Internacional do Trabalho) aprovou a limitação da jornada de trabalho para 48 horas semanais. Foi só o medo de revoluções explodirem por todo o mundo que as pessoas passaram a ter que trabalhar menos.
Após o colapso do stalinismo, ganhou força a idéia de que o socialismo não é possível e que o único caminho é o próprio capitalismo. Muitos partidos e sindicatos que estavam a serviço das lutas dos trabalhadores passaram a atuar numa perspectiva de melhorias dentro do sistema e em alianças com setores da burguesia. Isso enfraqueceu a luta dos trabalhadores.
Se hoje é possível a União Européia aumentar o teto da jornada de trabalho, é porque os partidos social-democratas e muitos sindicatos europeus não defendem os interesses dos trabalhadores. É por isso que devemos lutar por sindicatos independentes e por partidos amplos da classe trabalhadora para poder responder a altura às tentativas de instalar a barbárie para os trabalhadores para garantir boas condições de vida para poucos.