Terremoto na China: construções precárias podem estar por trás da tragédia nas escolas

 Dois mil estudantes enterrados • trabalhadores do resgate correm contra o tempo

O anúncio das mortes no enorme terremoto de segunda-feira em Sichuan pode agora ter excedido os 40 mil. Mais de cem mil trabalhadores do resgate estão lutando contra o relógio para achar sobreviventes sob a massa de edifícios colapsados. Um clima ruim está previsto para o final de semana. Isso, e o risco de mais deslizamentos, aumenta a urgência da situação.

Medindo 7.9 na escala Richter, este foi o terremoto mais poderoso a atingir o país desde 1950, no Tibet. Algumas cidades na vizinhança do epicentro, no condado de Wenchuan, “foram varridas do mapa”. Pelo menos 7.700 morreram apenas na pequena cidade de Yingxia – impressionantes três quartos da população.

Política de uma só criança

Especialmente trágica é a situação de tantos estudantes enterrados sob suas escolas. Pelo menos oito escolas colapsaram e pelo menos 2 mil crianças estão desaparecidas e provavelmente mortas. A tragédia é aumentada pelo fato de que sob a política de uma só criança na China, muitas famílias desconsoladas perderam seus únicos filhos.

”Meu filho tinha apenas 15, ele era minha única esperanças”, uma mãe chorosa em Dujiangyan disse a um jornal de Hong Kong. “O que eu vou fazer sem ele?”

A escola secundarista de Juyuan colapsou completamente com o terremoto, enterrando 900 alunos. Os pais se queixam de que a escola, construída 10 anos atrás, colapsou porque os construtores usaram material inferior. Prédios quase tão velhos quanto ela continuam de pé.

”Eu vou lhe dizer porque a escola colapsou”, disse um homem idoso ao lado das ruínas. “Foi porcamente construída. Alguém queria poupar dinheiro”. [The Standard, 15/05/2008]

Outro homem, cujo único filho foi morto no terremoto, disse que o colapso da escola foi um desastre “feito pelo homem”.

”Veja, os pilares foram enchidos com areia e lama, não cimento. Não há concreto para apoiar as barras de ferro. Esse é um típico projeto ‘tofu’”, disse o homem ao South China Morning Post, usando o termo comum para obras de construção defeituosos ou inferiores.

Pobreza rural

Tais suspeitas hoje são generalizadas à medida que a horrível escala da catástrofe se torna clara. Embora também houvesse centenas de mortes em cidades como a capital provincial, Chengdu, em geral os prédios de lá resistiram ao terremoto. Mas em algumas áreas rurais, mais de 80% dos prédios colapsaram.

Engenheiros que trabalharam na região montanhosa em torno do epicentro em Wenchuan, disseram ao Los Angeles Times que muitas construções irregulares foram feitas ao longo dos anos. Como tanto os governos quanto os cidadãos são muito mais pobres nas áreas rurais, isso invariavelmente afeta a qualidade do trabalho da construção e a capacidade dos governos locais de impor rigorosos padrões em uma região construída sobre uma imensa falha sísmica. A renda média anual em Wenchuan, com uma população de 112,000, estava em torno de 1,600 yuans em 2002 (as últimas estatísticas disponíveis) menos de um quinto do nível em Chengdu!

Os telhados de muitos prédios nas áreas rurais são “pedregulhos pré-fabricados que são postos e freqüentemente reusados quando um prédio é derrubado”, disse a este jornal um engenheiro da construção com longa experiência na região do desastre.

Crise das escolas

Este é parte de um problema mais amplo – a iminente bancarrota de muitas administrações escolares como resultado das “reformas” econômicas do governo central. As escolas rurais acumularam cerca de 50 bilhões de yuans ($7.2 bilhões) em dívidas desde o final dos anos 80, entre salários de professores sub-pagos e contas de empreiteiras.

Uma engenheiro chinesa residente nos EUA disse ao South China Morning Post que, baseado no que ela observou, os padrões das instalações escolares são precárias na China, especialmente no interior, por causa do mau gerenciamento dos fundos escolares e a incapacidade de pagar as empreiteiras. 

”As empreiteiras são quase sempre forçadas a fabricar com o risco de não obterem pagamento comprometendo a qualidade e usando materiais de má qualidade”, ela contou ao jornal.

Tais alertas estão sendo ouvidas até mesmo de dentro da mídia controlada pelo estado.

”Não podemos nos permitir não levantar questões preocupantes sobre a qualidade estrutural dos edifícios escolares”, disse um editorial no China Daily.

Total compensação – comitês democráticos em todas as áreas!

As massas pobres de Sichuan estão em grande parte inseguras. Os custos astronômicos da reconstrução de seus lares e comunidades devem ser arcados pelo governo central. Um massivo programa de reconstrução será necessário, e deve seguir rigorosos padrões de construção. O estádio olímpico de Beijing, “Ninho da Ave”, por exemplo, foi construído para suportar um terremoto da magnitude 8. Padrões de design e construção similares são necessários nas escolas rurais e outros edifícios, especialmente em áreas de alto risco como esta.

Para isto se tornar um fato, não apenas vazias promessas do governo, comitês democráticos precisam ser construídos em todas as áreas afetadas, para assegurar que a ajuda de emergência seja distribuída efetivamente, sem corrupção, e para fazer campanha por um massivo e rápido programa de reconstrução. Para eliminar o suborno, corrupção e as resultantes obras de construção precárias, é vital que os setores de construção sejam imediatamente transferidos para a propriedade pública – sob controle e gestão democrática dos trabalhadores.

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