Hong Kong: Campanha internacional de solidariedade é lançada enquanto governo aumenta repressão
Hong Kong está enfrentando um ataque sem precedentes aos direitos democráticos, orquestrado por seu governo pró-Beijing. Nos últimos meses, jovens ativistas têm sido presos e legisladores eleitos têm sido expulsados do parlamento local parcialmente eleito (‘Legco’) com base nos mais frágeis pretextos “legais”.
Dezenas de milhares marcharam contra a repressão em agosto, mas o campo pró-governo está aumentando seus violentos ataques ao campo pró-democracia e direitos democráticos, mirando em especial os apoiadores da independência.
O apoio à independência tem se tornado cada vez mais popular entre os jovens, em especial desde o movimento dos guarda-chuvas de 2014, à medida que a repressão da ditadura chinesa intensifica-se e espalha-se por Hong Kong. Uma pesquisa de opinião em julho mostrou que 21.9% daqueles entre 25 e 39 anos apoiam a independência de Hong Kong, uma ligeira queda dos 23.9% em 2016. Claramente, a feroz campanha do establishment e da grande mídia para demonizar a independência tem tido apenas um efeito muito limitado.
A maioria dos partidos pró-democracia em Hong Kong opõe-se à independência, enquanto alguns partidos mais radicais, menores, adotam uma posição vaga, listando-a como “uma das opções”, sem apresentar uma estratégia coerente para realiza-la.
Não obstante, o tema da independência é usada cada vez mais pelo campo pró-governo para justificar a maior repressão, ligada por sua vez ao nacionalismo chinês estridente do regime de Beijing.
Com o início do novo ano escolar em setembro, faixas pró-independência apareceram no campus da Universidade Chinesa de Hong Kong, atraindo enorme publicidade e controvérsia. Faixas similares apareceram depois em vários outros campus. As autoridades universitárias, incitadas pelo campo leal a Beijing, adotaram uma linha dura contra as faixas, arrancando-as e prometendo punir os responsáveis.
Chamado a um dia de greve estudantil
A questão das faixas foi aproveitada pelo campo pró-governo para justificar novas restrições intrusivas à atividade política no campus. Ativistas estudantis que lideraram protestos contra essa censura foram ameaçados com medidas disciplinares e as autoridades estão tentando conter os sindicatos estudantis. Os direitos básicos estão em risco, entre eles o direito de opinião, de pensamento político e de se organizar livremente, e isso aplica-se não apenas aos estudantes.
As autoridades universitárias não têm base legal para as medidas que estão tomando. Ainda não há nenhuma lei contra defender ou debater a independência em Hong Kong. Mas isso é claramente algo que a ala mais desequilibrada da classe dominante quer mudar.
A Ação Socialista (CIT em Hong Kong) apoia firmemente a defesa dos direitos democráticos e a liberdade de opinião dos estudantes e de todos os outros grupos. Como em Barcelona agora, dizemos que debater a independência é um direito democrático, não um crime. Para resistir às novas restrições repressivas os estudantes precisam se organizar ativamente nos campi – um dia de greve dos universitários, tomando o exemplo do Sindicato dos Estudantes Espanhois, que está se mobilizando para defender os direitos democráticos da Catalunha, seria a resposta mais efetiva e um modo de lançar uma resistência massiva à ofensiva política.
Usar ativistas pró-independência, como os “localistas” de Hong Kong, como um espantalho para justificar a repressão, é uma tática comum no arsenal do regime chinês. A desqualificação de seis parlamentares eleitos em setembro, também começou com a remoção de dois “localistas” que representam a ‘Youngspiration’, um pequeno grupo racista de direita. O governo pôde sentir o terreno mirando nesses dois, que se mostraram excepcionalmente despreparados para oferecer qualquer resistência.
Vendo que não havia grandes reações públicas, e com os principais partidos pan-democráticos (liberais burgueses) efetivamente ficando em cima do muro sobre esse ataque, o campo do establishment achou que tinha sinal verde para ampliar sua repressão. Ele agiu contra a ala radical dos pan-democratas, mirando mais quatro parlamentares, incluindo Leung Kwok-hung (‘Cabelo Cumprido’) da Liga dos Social-Democratas (LSD).
Comício do Blue ribbon
No domingo, 17 de setembro, um comício foi organizado pelos apoiadores do governo, os ‘blue ribbon’, incluindo gangues criminosas. Essas são as forças, algumas vezes pagas, que o regime chinês e o governo de Hong Kong usam para perseguir e intimidar o movimento democrático. Esse é o esboço do que poderia se tornar uma força semi-fascista, envolvida na bandeira do nacionalismo chinês.
Nesse comício, o político Junius Ho Kwan-yiu e outras figuras pró-governo fizeram um chamado a “matarem” ativistas pró-independência! Ho disse que não era “grande coisa matar porcos ou cães”. O Secretário da Justiça de Hong Kong depois afirmou que as palavras de Ho não significavam um incitamento à violência! E isso enquanto manifestantes democráticos pacíficos estão sendo presos por supostamente incentivarem comportamentos violentos.
Ho também está buscando uma vendeta política contra o professor liberal Benny Tai Yiu-ting, uma figura proeminente da campanha “Ocupe a Central” de 2013-14. Ho argumenta que Tai não deveria poder ensinar direito na Universidade de Hong Kong por causa de sua defesa da desobediência civil. Ho iniciou uma petição com supostas 80 mil assinaturas exigindo a demissão de Tai.
Num caso separado, Benny Tai foi a julgamento na terça, 19 de setembro, por acusações ligadas ao Movimento dos Guarda-Chuvas de 2014, incluindo “conspiração para cometer perturbação pública”. No dia seguinte, Tai e outros oito ativistas voltaram ao tribunal para enfrentar mais acusações.
Tai e seus oito co-réus podem receber sentenças de prisão – uma prática que está se tornando a “nova norma” nos processos políticos de Hong Kong. A alta esfera do judiciário já se incorporou ao sistema de opressão do regime chinês. Esse último caso se segue à condenação de dezesseis jovens ativistas em agosto por períodos de até 13 meses. Muitos outros processos políticos – pelo menos outros 40 casos – estão sendo preparados, com o governo pretendendo decapitar a luta democrática mirando especialmente em seus componentes mais radicais, como o LSD e o ‘Demosisto’ estudantil.
O problema da China
A ofensiva em Hong Kong foi ordenada pela ditadura chinesa e ecoa um ataque ainda mais assustador à dissenção dentro da China.
Hong Kong é uma “semi-democracia” burguesa onde direitos como imprensa relativamente livre, eleições parcialmente abertas, direito de reunião e de opinião, foram conquistados pela luta de classes nas últimas décadas. As últimas eleições parlamentares de setembro de 2016 resultaram no fortalecimento dos partidos e grupos oposicionistas apesar do governo ter uma maioria artificial na Legco (Assembleia). Isso tornou-se o sinal para uma ofensiva coordenada – uma contrarrevolução política – do governo. Mesmo os líderes pan-democratas agora dizem que Hong Kong tornou-se um “estado autoritário”.
Beijing evidentemente teme que a luta democrática de massas em Hong Kong possa se espalhar para a China continental e inspirar demandas por direitos democráticos lá. Apesar de sua projeção externa de poder e força econômica, o partido-Estado “comunista” e seu “líder nuclear” Xi Jinping, enfrentam uma série de desafios potencialmente devastadores: crise da dívida, desigualdade social galopante, tensões globais e o risco do descontentamento das massas.
O regime teme que a tendência teimosa de Hong Kong de protestar em defesa dos direitos democráticos, como visto de forma brilhante em 20 de agosto desse ano, quando mais de 140 mil pessoas lotaram as ruas por causa da prisão de jovens ativistas, possa se tornar o eixo de uma conflagração política em toda a China.
Os socialistas condenam a vitimização de políticos e ativistas pan-democráticos como Benny Tai Yiu-ting. Iniciamos inúmeros protestos contra a repressão em Hong Kong e estamos coordenando uma campanha internacional de solidariedade com a luta democrática. Um dia de protestos internacional está sendo preparado para a quinta, 12 de outubro, que é o primeiro aniversário da desqualificação dos parlamentares oposicionistas, e outras atualizações dessa campanha serão relatados no socialistworld.net.
Ao mesmo tempo pontuamos que, infelizmente, os democratas liberais pró-capitalistas repetidas vezes impuseram freios à luta de massas, em parte porque temem perder o controle para forças mais “radicais” e em parte por causa da falsa crença de que sua “moderação” possa assegurar concessões democráticas e tornar possível um acordo com a ditadura chinesa. Na verdade, o contrário é verdadeiro. O ataque sem precedentes de hoje mostra que o único “acordo” possível com a ditadura será sobre o cadáver dos direitos democráticos de Hong Kong.
Apenas a luta de massas militante pode derrotar a atual ofensiva repressiva. Para ter sucesso, a luta precisa de uma estratégia para substituir o governo ditatorial – na China e em Hong Kong – com um sistema plenamente democrático. Isso só será possível com uma ruptura decisiva com a estrutura do capitalismo corrupto e o governo ditatorial dos 1% de bilionários.