China: Incrível onda de greves de operadores de guindastes

Greves e protestos em canteiros de obras em todo o país exigem melhores salários e condições de trabalho.

Os operadores de guindastes do setor de construção da China entraram greve em dezenas de cidades de todo o país. O fato de que as greves são coordenadas é uma conquista impressionante para esses trabalhadores.

No 1º de maio, Dia do Trabalhador, os trabalhadores convocaram uma greve nacional após uma semana repleta de greves em diferentes regiões. Embora o 1° de Maio seja feriado na China, um grande número de trabalhadores é obrigado a trabalhar, muitas vezes sem adicional.

Esta é a China, onde as greves são ilegais, a organização é ilegal e os protestos são ilegais. Não está claro quão efetiva a greve Primeiro de Maio foi, diante da repressão policial e ataques da mídia estatal contra a greve, acusando-a, em alguns casos, os trabalhadores de conluio com “forças estrangeiras”. Mas isso não diminui em nada a natureza incrível de uma onda de greves abrangendo talvez 20 províncias da China, organizada principalmente através de aplicativos de mensagens, enfrentando o mais poderoso estado ditatorial do mundo.

A partir de relatórios de mídia, acompanhamos as greves que começaram em 25 de abril, com relatos de greves nas províncias de Chongqing, Fujian, Gansu, Guangxi, Guizhou, Henan, Hubei, Hunan, Jiangsu, Jiangxi, Shandong, Shanxi e Sichuan. No momento em que escrevemos, há relatos de prisões, espancamentos e repressão policial em várias regioões. O Epoch Times informou que dez trabalhadores foram presos em uma marcha de protesto em Chongqing. A Radio Free Asia relata que houve 20 prisões em Zhengzhou, na província de Henan.

Trabalhadores migrantes

Os operadores de guindaste da China, como quase todos os trabalhadores da construção civil, são principalmente migrantes das regiões rurais mais pobres. Como a maioria dos trabalhadores migrantes, eles são admitidos temporariamente, sem contratos de trabalho, previdência ou plano de saúde. Os operadores trabalham sob extrema pressão, em turnos longos, sem intervalos para ir ao banheiro ou de descanso.

Os canteiros de obras na China trabalham notoriamente dia e noite. “Se temos que trabalhar horas extras à noite, não há pagamento extra”, disse um motorista de guindaste de Henan ao RFA. “Você pode trabalhar horas extras até as duas horas da manhã, e o chefe não se importará. Você ainda pode ter que trabalhar amanhã também”, disse ele.

“Trabalhamos 12 horas por dia em média … não temos seguro social, não temos contratos de trabalho e não temos supervisão do governo”, disse outro motorista ao Epoch Pioneer.

Um estudo do governo de 2016 mostrou que apenas um em cada três dos 280 milhões de trabalhadores migrantes da China tem um contrato de trabalho por escrito. Muitas vezes, há uma grande discrepância entre as condições salariais e de trabalho estabelecidas no contrato e a situação de fato.

A proporção da força de trabalho coberta por contrato tem caído nos últimos dez anos desde que a nova Lei do Contrato de Trabalho foi promulgada, em 2008, na qual estipula que todos os trabalhadores têm o direito a um contrato de trabalho por escrito. Outra pesquisa de 2016 mostrou que mais da metade dos trabalhadores da construção civil já havia passado por atrasos no recebimento de seus salários. Os salários em atraso são a principal causa de disputas trabalhistas na China.

Estes problemas surgem a partir das condições de ‘mercado selvagem’ no setor de construção da China (e não só lá) onde, embora muitos projetos pertencem a empresas estatais, o trabalho de construção de fato é contratada por empresas capitalistas privadas que dependem inteiramente de trabalhadores migrantes informais. Múltiplas camadas de subcontratados são a norma em tais projetos, de modo que às vezes nem fica claro qual empresa é responsável pelo pagamento dos salários.

Os operadores de guindastes estão exigindo um aumento em seu salário a partir do nível atual de cerca de 5.500 yuan (R$ 3.060), em algumas regiões tão baixo como 4.000 yuan (R$ 2.230), para no mínimo 7.000 yuan (R$ 3.900) por mês. Seus salários estão estagnados faz uma década. O Global Times, um porta-voz do governo fanaticamente nacionalista, relatou que os “operadores de guindastes protestaram em toda a China durante o Dia do Trabalhador, exigindo melhores salários e jornada de trabalho de oito horas”. Um grevista em Chengdu, capital da província de Sichuan, disse ao jornal: “Há pelo menos dez mil operadores de guindaste em Chengdu exigindo um aumento de salário.”

Trabalhadores se organizando

Os operadores de guindastes se organizaram via redes sociais como muitos outros trabalhadores na China, criando grupos de mensagens fechados em aplicativos de mensagens como o QQ. Esses fóruns são atacados e bloqueados pela polícia de internet, mas se reagrupam para manter contato.

Para a ditadura do Partido “Comunista” de Xi Jinping, a greve dos condutores de guindaste representa um grande problema, mesmo se as exigências dos grevistas são ‘econômicas’ e não representam um desafio político diretamente para o poder do governo.

Estamos testemunhando as primeiras movimentações de um gigante. Metade dos canteiros de obra do mundo estão na China, com total de cerca de 60 milhões de trabalhadores na construção civil, majoritariamente migrantes. É um dos principais contribuintes para o PIB da China.

Embora existam vários relatos de autoridades locais preparando uma repressão violenta às greves, ao mesmo tempo que a máquina de censura do regime age para abafar qualquer menção aos protestos, o exemplo da greve dos operadores de guindastes pode prevalecer por muito tempo depois da luta atual.

Se trata simplesmente da mais impressionante ação coordenada e audaciosa realizada por qualquer categoria de trabalhadores na China por muitos anos. Embora tenha sido uma tendência nos últimos anos – com outras categorias, como motoristas de táxi, trabalhadores do Walmart e trabalhadores de entregas – de coordenar as ações e se organizarem através de mídias sociais, a escala e alcance nacional da greve dos operadores de guindaste é sem precedentes.

Não há notícias da atitude tomada em relação as greves a partir dos sindicatos oficiais controlados pelo estado. Estes são os únicos sindicatos legais na China, mas são rigidamente controladas pela ditadura para frustrar e impedir que os trabalhadores façam greves e se organizem de forma independente. Os sindicatos oficiais nunca apoiaram uma greve na China.

O chinaworker.info declara sua total solidariedade aos grevistas, pela realização de suas demandas na íntegra. Denunciamos a repressão do Estado contra esses trabalhadores e pedimos a solidariedade dos trabalhadores internacionalmente com as greves e a libertação dos grevistas presos. A necessidade de sindicatos independentes de trabalhadores é mais uma vez enfatizada por essa luta, que também mostra o enorme poder potencial da classe trabalhadora chinesa.

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