Marielle vive em nossa luta contra a escalada autoritária e a guerra aos pobres!
Unidade na resistência contra a direita e os ataques à democracia!
Forjar nessa luta uma alternativa socialista para o Brasil!
Há um mês, Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados.
Marielle foi executada por assassinos que visavam abafar sua voz e a de todos que ousam resistir e lutar. Não conseguiram. A voz de Marielle multiplicou-se nas ruas de todo o Brasil e várias partes do mundo.
Mas, a escalada autoritária segue em nosso país: novos atentados, prisões políticas, retirada de direitos e uma verdadeira guerra ao povo.
Os trabalhadores, mulheres, negros e negras, indígenas e LGBTs seguem na luta apesar dos ataques!
É preciso fortalecer essa resistência imediata e ao mesmo tempo apontar uma saída estratégica pela esquerda, anticapitalista e socialista, contra as classes dominantes.
O verdadeiro legado de Marielle
Marielle foi executada a sangue frio por ser mulher, negra, LGBT, nascida e criada na favela e ter ousado rebelar-se.
Não se levantou apenas como indivíduo que conseguiu superar os limites de sua condição social, isolada de seus pares. Ela o fez como parte de sua classe social, como organizadora de uma resistência coletiva.
Marielle foi morta porque, partindo de sua condição de oprimida, era de esquerda, uma militante socialista.
Organizando os de baixo numa perspectiva transformadora e coletiva, Marielle ameaçava os interesses de uma minoria que detém o poder e a riqueza em nosso país.
Esse aspecto da vida e da luta de Marielle Franco não pode ser esquecido ou apagado deliberadamente, como faz grande parte da mídia e dos porta-vozes da elite hipócrita.
A maior de todas as ofensas ao legado de Marielle é a utilização de seu assassinato como uma justificativa para abusos autoritários, como no caso da utilização das forças armadas na favelas cariocas em nome do combate à violência.
Na luta contra a falta de segurança, que atinge principalmente os pobres, o que se precisa é de políticas que combatam a desigualdade e ofereçam condições de vida digna à maioria da população. Isso é o oposto do que fazem.
Segurança pública é um direito fundamental que não pode estar separado da luta por educação, saúde, lazer, transporte e moradia decentes.
A segurança só virá com o fim da guerra aos pobres, do racismo, dos cortes nos gastos sociais e da desigualdade social extrema em nosso país.
Ao invés de intervenção federal militarizada, o que o povo precisa é de democracia real, controle popular sobre os recursos e os serviços que devem ser destinados à maioria da população.
Escalada autoritária
A intervenção federal utilizando-se das forças armadas no Rio de Janeiro é parte de uma escala autoritária e repressiva em nosso país.
O Brasil sempre foi um país autoritário e violento onde a pobreza em si sempre foi criminalizada.
A juventude negra vive um verdadeiro genocídio nas periferias das grandes cidades. Os dados relacionados ao feminicídio e assassinatos na população LGBT também são dramáticos.
Relacionado a isso, aprofunda-se o processo de criminalização das lutas sociais, perseguição a quem resiste a essa barbárie.
Estamos entre os quatro países do mundo que mais matam ativistas, principalmente relacionados à luta pelos direitos humanos, pela terra e em defesa do meio ambiente.
A polarização social e política existente tende a radicalizar esse processo.O crescimento do apoio a figuras de extrema direita, de conotação proto-fascista, como é o caso de Jair Bolsonaro, só servem para alimentar e agravar esse cenário repressivo.
Nos últimos anos, um governo golpista, ilegítimo e odiado pelo povo como o de Temer conseguiu impor enormes retrocessos e ataques aos trabalhadores e ao povo, como a reforma trabalhista e o congelamento de gastos orçamentários por 20 anos.
Para tentar manter essa espiral de ataques mesmo depois de Temer, a classe dominante se prepara para uma disputa eleitoral de cartas ainda mais marcadas.
Seu “Plano A” ainda é eleger um equivalente brasileiro do presidente argentino Mauricio Macri, um político de direita que promove as contrarreformas e ataques formalmente referendado pelo sufrágio popular.
Mas, não é uma saída fácil. As eleições no Brasil sempre se deram com abuso do poder econômico e manipulação midiática e empresarial. Mas, dessa vez, para cumprir seu plano, estão conseguindo dar um salto de qualidade no autoritarismo.
Chegaram ao ponto de retirar do processo eleitoral o candidato favorito nas pesquisas e que conta com quase 40% das intenções de voto. E novos ataques anti-democráticos devem vir até outubro.
Prisão de Lula é política
A prisão de Lula é uma prisão política. Representa um ataque aos direitos democráticos e precisa ser repudiada.
É uma interferência ilegítima, irregular, viciada e autoritária do poder judiciário (como instrumento a serviço de interesses políticos e econômicos) sobre as eleições e a vida política do país.
Aqui não se trata de inocentar Lula de antemão ou defender seu projeto político. Trata-se de reconhecer que, para a classe dominante, essa prisão visa limpar terreno para um cenário eleitoral mais favorável a seu projeto neoliberal radical: aprovar a contrarreforma da previdência, garantir o ajuste fiscal estrutural, cortes extremos nos gastos sociais, destruição dos serviços públicos, fim de direitos sociais e trabalhistas, privatizações em todos os setores, etc.
A postura moderada e conciliatória que Lula sempre adotou, em particular durante os governos do PT, e sua predisposição a adotar reformas de cunho neoliberal (como a reforma previdenciária de 2003 e as políticas de Dilma-Levy em 2015) não foram suficientes para aplacar a sanha autoritária das elites políticas e econômicas do país.
Lula foi preso e tem sua candidatura impedida porque não é a opção da classe dominante nesse momento.
Refletindo os mesmos interesses e as mesmas manobras golpistas que levaram à queda de Dilma em 2016, a prisão de Lula é uma espécie de impeachment preventivo promovido pelas elites.
Uma resposta: unidade na luta!
A única resposta possível diante desse cenário é a denúncia veemente e a luta!
No combate à direita, ao crescente autoritarismo e aos ataques aos direitos dos trabalhadores é necessário o máximo de unidade entre todos aqueles que se colocam na resistência.
Essa unidade não se dará sobre a base da defesa do programa de conciliação de classes de Lula ou do balanço de seus governos. Nós seguimos sendo oposição de esquerda a essas políticas.
A unidade só pode se dar sobre a base de demandas concretas e imediatas, tais como:
- Apuração e punição dos assassinos e mandantes da execução de Marielle e Anderson e de todos os ativistas mortos!
- Fim da intervenção federal e da ocupação militar no Rio de Janeiro! Combate ao genocídio da juventude negra!
- Contra a retirada de direitos! Revogação das medidas de ataques do governo Temer! Seguir na luta por emprego, salário, moradia, transporte, educação e saúde.
- Combate à extrema direita em todos os espaços!
- Liberdade para Lula e garantia de direitos políticos!
- Fora Temer! Eleições gerais com regras democráticas!
Uma alternativa de esquerda consequente
Ao mesmo tempo em que construímos a unidade de ação contra a direita, os governos e patrões, é urgente que se apresente uma alternativa estratégica para a reconstrução da esquerda socialista no Brasil diante do ocaso do projeto Lulista.
Sem essa alternativa estratégica, nossa luta imediata contra a direita perde força e perspectiva. Sem ela, o que vigora é um projeto de conciliação de classes que já mostrou-se incapaz de derrotar a direita e atender as necessidades do povo.
A aliança política entre o PSOL, PCB, MTST, APIB e outros movimentos sociais combativos que estão impulsionando a pré-candidatura Guilherme Boulos – Sônia Guajajara, deve ser o instrumento de reconstrução de um projeto de esquerda consequente para o país.
No seu programa é preciso incorporar todas as demandas dos trabalhadores e setores oprimidos da população vinculadas a uma perspectiva classista, anticapitalista e socialista.
É preciso defender o controle democrático dos trabalhadores sobre os setores estratégicos da economia e um novo sistema político baseado na democracia radical dos de baixo.