Não ao bombardeamento da Síria! Construir um movimento de massas contra a guerra!
Esse artigo foi escrito o dia antes do ataque dos EUA, da Grã-Bretanha e da França contra Síria, com mais de 100 mísseis.
A administração Trump está preparando-se para mais uma possível onda de ataques aéreos contra alvos do regime sírio. Isto poderá desencadear uma explosiva cadeia de eventos que potencialmente levará a uma conflagração militar mais séria entre as principais potências internacionais e regionais no Oriente Médio. Moscou respondeu às ameaças abertas de Trump dizendo que irá atacar as unidades dos EUA envolvidas em qualquer ataque em território sírio.
Trump, assim como a primeira-ministra britânica, Theresa May, estão passam por momentos políticos turbulentos e necessitam desviar a atenção dos infortúnios de suas administrações. Na Grã-Bretanha, foi muito conveniente para May que o alegado ataque neurotóxico [de que os Skripal foram vítimas], sem provas concretas, tenha ocorrido no período que antecedeu esta crise. Juntamente com a França, onde o presidente Emmanuel Macron enfrenta uma nova onda de ações da classe trabalhadora, e a Arábia Saudita que ofereceu instalações para apoiar os outros três, todos estão aumentando o tom retórico e exibindo o seu poder contra o regime de Assad e seus apoiadores no Kremlin. Usam, cinicamente, o pretexto de um recente alegado ataque químico em Douma, a principal cidade de Ghouta Oriental nos arredores de Damasco, para esse fim.
O regime de Bashar al-Assad e os seus aliados estrangeiros estão a ser acusados, sem qualquer evidência comprovada, deste ataque abominável, que alegadamente matou dezenas de pessoas. Sem dúvida que o regime de Assad tem defendido o seu domínio corrupto ao longo dos anos através de rios de sangue de pessoas inocentes. O CIT não dá qualquer apoio a este regime brutal e reacionário, nem aos seus patronos russos e iranianos. No entanto, porque lançaria agora o exército sírio um ataque químico, provocando a ira das potências imperialistas ocidentais? Embora não possa ser descartado tal ataque, a lógica tática por trás de tal decisão não é óbvia. A vitória militar em Ghouta Oriental estava, de fato, ao alcance do regime, consolidando o controlo de Assad sobre a maioria dos centros urbanos da Síria. Alguns comentaristas especularam que este recente ataque poderia ter sido iniciado por forças jihadistas “rebeldes”, a fim de envolver mais profundamente o imperialismo estadunidense no conflito.
Independentemente de quem seja o responsável por este ataque, o desejo de usá-lo como desculpa para outra intervenção imperialista no Médio Oriente deve ser rejeitado de imediato. Quinze anos após a invasão e ocupação do Iraque, milhões de pessoas lembram-se das mentiras dos políticos no poder e dos seus amigos na comunicação social pró-sistema e corporações na época, de forma a justificar a guerra calamitosa. Justificadamente, muitos não aceitam, sem crítica, a versão oficial dos eventos apresentada pelos governos ocidentais e pelos principais meios de comunicação social. Outras intervenções ocidentais, como no Afeganistão e na Líbia, também foram um desastre para os povos da região e apenas agravaram a crise.
A Guerra no Iraque precipitou o declínio do imperialismo norte-americano no Oriente Médio e a presente guerra na Síria expôs ainda mais este declínio, abrindo espaço à Rússia e ao Irã para expandirem a sua influência na região. Isto, combinado com a viragem da administração de Trump em direção a um apoio mais direto aos arqui-inimigos do Irã, Israel e Arábia Saudita, conduziu ao agravamento das tensões regionais.
As tensões na região entre as principais potências, precariamente mantidas em equilíbrio durante a batalha contra o ISIS, voltaram agora para primeiro plano com renovada intensidade, já que o proto-estado do ISIS ruiu completamente. Os recentes desenvolvimentos demonstram uma escalada dos conflitos militares «inter-estados» no território sírio, com um aprofundamento do envolvimento militar de Israel, Turquia, Irã e outros países.
Os ataques aéreos de Trump são provavelmente uma demonstração de força de duração limitada, como aconteceu em Abril de 2017, quando a Marinha dos EUA disparou 59 mísseis de cruzeiro Tomahawk contra uma base aérea síria. Opções mais amplas, como uma guerra declarada pela «mudança de regime», arriscam não apenas arrastar toda a região para um cenário de guerra generalizada, mas também iriam acelerar grandes convulsões políticas e sociais nas capitais ocidentais e por todo o mundo. Mas a guerra tem uma lógica própria e novos ataques aéreos dos EUA numa situação tão volátil podem trazer consequências indesejáveis.
Hipocrisia
À medida que as tensões inter-imperialistas aumentam no Oriente Médio e em todo o mundo, a hipocrisia absoluta e a dupla moral das classes dominantes também atingem proporções surpreendentes. Acusando Assad de “desrespeito pelas vidas humanas”, Trump, May e Macron estenderam recentemente o tapete vermelho ao príncipe herdeiro saudita Mohammed Bin Salman, o arquiteto-chefe da carnificina e deliberada escassez do Iémen, que mata, em média, uma criança a cada dez minutos. Todos congratularam sem reservas o carniceiro contra-revolucionário al-Sisi pela sua recente “reeleição” no Egito; todos deram livre-trânsito à operação de limpeza étnica do presidente turco Erdogan em Afrin, bem como aos atiradores israelenses que disparam contra palestinos desarmados em Gaza – cuja condenação o imperialismo estadunidense vetou no Conselho de Segurança da ONU.
Nenhum dos comentaistas que exibiram a sua indignação com o uso de armas químicas para justificar uma nova agressão militar na Síria pestanejou quando, no ano passado, o exército dos EUA fez uso de fósforo branco nas áreas densamente povoadas de Mosul e Raqqa, durante a batalha contra o ISIS. Aí centenas de civis foram dizimados e as suas cidades destruídas em nome da “guerra ao terror”. A mesma lógica tem sido usada pelos apoiadores de Assad e Putin para tentar racionalizar os cercos assassinos e bombardeios brutais de populações civis que vivem em áreas da Síria mantidas por grupos rebeldes armados, a maioria dos quais são de inclinação islâmico-fundamentalista – como os salafistas de Jaysh al-Islam, que até recentemente controlava o leste de Ghouta.
Na realidade, a violência assassina de Assad e dos seus aliados, tal como as mortes de civis provocadas pelo imperialismo ocidental na “libertação” contra o ISIS, combinada com a pobreza em massa e a alienação de milhões, atuarão provavelmente como agentes de recrutamento para futuros grupos armados sunitas extremistas – a menos que sejam desafiados por uma alternativa genuína. Paralelamente, as ações de implacáveis gangues armadas de tipo salafista e jihadista ajudarão Assad a manter o controle – através do medo – sobre importantes setores da população. Uma nova onda de ataques aéreos imperialistas teria o mesmo efeito, reforçando a narrativa de Assad, comparando o seu regime a uma fortaleza que se defende contra inimigos terroristas, internos e externos, e imperialistas.
O CIT opõe-se vigorosamente a qualquer ataque militar na Síria, bem como a intervenções e intromissões estrangeiras. O banho de sangue e a destruição, que se prolongaram, quase ininterruptamente, nos últimos sete anos necessitam de ser parados e não aumentados ainda mais. Esta é uma tarefa que todas as potências capitalistas e imperialistas envolvidas na região, lutando entre si por poder, prestígio e lucro, se mostraram totalmente incapazes de fazer. Simplesmente não há solução para os horrores que confrontam o povo sírio com base neste sistema podre.
Enquanto o povo sírio está sofrendo com os golpes da contra-revolução e da guerra, existe uma classe operária importante e poderosa em países como o Irã, Turquia e no Egito. Aliada aos pobres e oprimidos da região e unindo forças com um muito necessário movimento anti-guerra no Ocidente, esta força, armada com políticas socialistas, pode apresentar uma saída para o pesadelo que a Síria enfrenta e para o Oriente Médio.
Defendemos:
- Não aos ataques de Trump contra a Síria – retirada imediata de todas as forças estrangeiras – não a todas as ingerências na região
- Construir um movimento internacional de massas contra a guerra
- Pela construção de comitês de defesa unitários, multiétnicos e não sectários por toda a Síria para defender os trabalhadores e pobres contra ataques militares e sectários de todos os lados
- Pela construção de sindicatos independentes e partidos de massas dos trabalhadores, com um programa de terra para as massas e controle das fábricas pelos trabalhadores
- Abaixo à ditadura, o capitalismo e o imperialismo – pela unidade dos trabalhadores e pelo Socialismo!