“A classe trabalhadora voltou!”

“A classe trabalhadora voltou”, essa foi a frase de Mick Lynch, secretário-geral Sindicato de Trabalhadores das Ferrovias do Reino Unido em janeiro deste ano, no meio de uma onda de greves, desde a educação, passando pela saúde, ferrovias e serviços públicos, que culminou com uma greve coordenada que envolveu cerca de meio milhão de trabalhadores no dia 1 de fevereiro.

O Reino Unido viu em dezembro de 2022 o maior número de dias de trabalho perdidos devido a greves desde julho de 1989. As lutas não pararam em 2023, mesmo em meio a ameaças do governo contra o direito democrático de se organizar e lutar através da Lei do Serviço Mínimo. Isso é uma consequência direta da crise econômica mundial. A Inglaterra hoje é o país com os mais altos índices de inflação e a maior crise energética do G7.

O ato de 1 de fevereiro deixou clara a disposição de luta de diversos setores, mas é preciso dizer que poderia ter sido maior. O sindicato de enfermeiras fez a sua primeira greve na história, mas infelizmente se recusou a coordenar a luta com setores para além da saúde. Há apoio da população às diversas lutas em curso e uma unificação das lutas, com construção democrática nos locais de trabalho que elejam representantes para encontros regionais e nacionais, poderia construir manifestações ainda maiores.

Luta contra a reforma da previdência na França

Temos visto grandes mobilizações na França nas últimas semanas contra a reforma previdenciária de Macron-Borne. Milhões de pessoas têm se manifestado pelo país em vários dias de greves nacionais, com 150 mil tomando as ruas de Paris em 21 de janeiro. Há também grande participação de jovens e estudantes, que estão organizando piquetes para a semana de 6 de março.

Existe um massivo rechaço da reforma pela população, mas o movimento também demonstra sinais de cansaço pois falta uma estratégia que aponte para uma escalada da luta, que combine as mobilizações massivas com os métodos de luta da classe, uma greve geral que paralise a França por mais de um dia e derrube não só a reforma, mas o próprio governo de Macron.

A onda de greves na Inglaterra, França e, recentemente nos Países Baixos, não é um fenômeno isolado: diversos países na Europa passam pelo mesmo processo de retomada de lutas sindicais em torno de demandas salariais, melhores condições de trabalho e contra políticas de austeridade dos diversos governos. Vimos no final do ano passado como diversas lutas estouraram na Bélgica, onde houve uma greve geral em novembro e também na Grécia, Espanha, Inglaterra e França, com protagonismo dos setores da educação e saúde em vários países. Vemos também uma onda de sindicalização de setores precarizados nos EUA, como na Amazon e Starbucks

O catalisador dessas lutas, para além de uma década de austeridade, é a inflação galopante e o aumento vertiginoso no preço da energia.

Construir uma alternativa às direções burocratizadas

A resposta das direções tem sido vacilante na maioria desses casos. Há dificuldade em coordenar as lutas entre as diversas categorias de trabalhadores, hesitação em jogar todo o peso dos sindicatos e centrais na construção das lutas, falta construção democrática nos locais de trabalho com eleição de representantes. Em resumo: há falta de confiança das direções na própria força do movimento para lutar e conquistar direitos, quando não há traição pura por subserviência dessas direções aos interesses de partidos e instituições burguesas.

Enquanto o capitalismo afunda na sua era da desordem, os trabalhadores recorrem a suas organizações de classe para lutar pelos seus direitos. É o momento de pressionar por baixo e construir a força necessária que arraste consigo os setores imobilistas e vacilantes do movimento.

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