RN: Na luta em defesa da educação pública e condições de trabalho
Entrevista com Francislí Galdino, professora da rede pública estadual de educação do Rio Grande do Norte.
Francislí, quais os principais desafios que a categoria docente enfrenta hoje no RN?
Os nossos desafios aumentaram ao longo dos últimos anos e perpassam pelas esferas curriculares, estruturais e financeiras. O Novo Ensino Médio Potiguar está sendo implementado sem capacitação dos professores, sem discussão das ementas, sem material didático e infraestrutura adequados. O foco é limitado ao mercado de trabalho e empreendedorismo, inserção de ampla carga horária virtual mesmo com o fracasso desse modelo durante a pandemia e é, em linhas gerais, a implantação do modelo dos Institutos Federais sem o mesmo nível de investimento e com uma formação voltada ao aspecto técnico.
As escolas são cada vez mais pressionadas a aceitar o modelo de tempo integral com muitas promessas de investimento em reformas estruturais e equipamentos. O investimento deveria acontecer de qualquer forma, sendo a escola em tempo regular, meio tempo ou tempo integral. A escola de tempo integral precisará de melhor estrutura de assistência social, psicólogos e de políticas que favoreçam a permanência estudantil, pois os estudantes terão que passar o dia nela e isso exige vários suportes. O tempo integral também será um desafio para o cumprimento da carga horária, pois o docente pode ser forçado a ficar em duas ou três escolas caso não consiga trabalhar na de tempo integral.
Por fim, junta-se a esse cenário uma proposta do governo muito rebaixada para o pagamento do piso de 2023 no valor de 14,95% e, pasmem, o não pagamento do retroativo referente ao reajuste de 2022, que receberíamos esse ano em 14 parcelas a partir de janeiro, mas que nem recebemos e nem sabemos quando iremos receber, pois o acordo da greve não foi homologado em tempo hábil e a categoria só foi informada pelo SINTE sobre tal situação neste ano.
Qual tem sido o papel da direção do SINTE/RN para enfrentar esses desafios?
A maioria dos membros da diretoria do SINTE é composta por quadros do PT. O sindicato tem duas posturas diferentes quando o assunto é pautar as queixas da categoria: ser duro quando se trata de alguém da oposição, como o prefeito de Natal Álvaro Dias (Republicanos), e negociar morosamente com o governo Fátima. Os professores demonstraram insatisfação com isso em falas na assembleia do dia 27/02 que pediam que a direção “seja menos partidária ao PT e mais em defesa da categoria”.
Os professores, por sua vez, mantêm-se combativos e atropelam a direção nos chamados à luta e à greve. Apesar disso, vemos um corpo docente ainda cansado dos efeitos da pandemia, tendo que lidar com a defasagem de aprendizado causada pelo (não) ensino remoto. Tem faltado, por parte da SEEC, programas de recuperação e até mesmo de alfabetização, já que recebemos todos os anos alunos com dificuldades.
Como tem sido o processo de implementação da Lei do Piso?
Apesar dos grandes esforços do SINTE/RN para conciliar os interesses dos trabalhadores com os do governo Fátima, a categoria usou de sua voz para cobrar um posicionamento assertivo na defesa dos nossos direitos. E tem funcionado, haja visto que tivemos greve em 2021 e em 2022 e talvez tenhamos mais uma vez em 2023, tanto pelo descumprimento do pagamento do retroativo do ano passado como pela proposta rebaixada do reajuste deste ano. Apontamos também a contradição entre os recordes de arrecadação tributária e os argumentos de falta de recursos, inclusive porque o FUNDEB custeia os profissionais da ativa.
Qual o papel das professoras combativas nessa luta?
A carga de trabalho de uma professora é tripla, com o acúmulo das demandas do trabalho, da manutenção do lar e do cuidado da maternagem. Muitas colegas são obrigadas a usar os dias em que temos as assembleias do SINTE para irem ao médico ou levar um familiar. O cuidado dos outros recai sobre nós, mas não podemos deixar de estar presentes na luta, pois a categoria da educação básica é, especialmente na educação infantil e no fundamental, majoritariamente composta por mulheres.
Há pouco tempo, no último governo, tivemos um congresso que chegou a pautar, dentre outros ataques contra as mulheres, a diminuição do tempo da licença maternidade. Só nos resta sermos combativas e ocuparmos cada vez mais os nossos espaços. Que levemos nossos filhos para as assembleias, que exijamos um espaço infantil para podermos estar presentes, mas que jamais esvaziemos esses espaços conquistados com tanta luta!