O que é CIT/CWI

O que é o CIT/CWI

 O SR é parte de um movimento que ultrapassa as fronteiras do Brasil. Somos a seção brasileira do Comitê por uma internacional dos Trabalhadores (CIT/CWI).

Os partidos e organizações do CIT/CWI estão presentes em cerca de 40 países de todos os continentes. Como uma pequena apresentação do CIT/CWI, reproduzimos uma entrevista com um dos fundadores do CIT/CWI, Peter Taafee, feita no 30° aniversário do CIT em 2004.

 30° aniversário do CIT

Em abril de 2004 foi o 30° aniversário de fundação do Comitê por uma Internacional dos trabalhadores (CIT). Para lembrar o evento, apresentamos a seguir uma entrevista com Peter Taaffe, membro fundador do CIT e o Secretário Geral do Partido Socialista (CIT na Inglaterra e País de Gales). O CIT possui membros, seções e grupos simpatizantes em 40 países por todo o mundo. Eles estão engajados em lutas do dia-a-dia contra os ataques dos patrões e dos governos dominantes sobre os padrões de vida da classe trabalhadora, da juventude e dos pobres. Ao mesmo tempo, o CIT explica que a luta – para ser bem-sucedida – deve ser contra não somente os efeitos do capitalismo, mas também contra o sistema capitalista como um todo.

A entrevista de Peter Taafe por Tanja Niemeier olha para as razões pelas quais o CIT foi fundado em 1974. Peter Taafe, Secretário Geral do Partido Socialista e um dos membros fundadores do CIT conversa com Tanja Niemeier.

Tanja: Peter, você é um dos cofundadores do CIT. Você pode contar para nós sobre contra que cenário político e social o CIT foi criado em 1974?

Peter: Isto ocorreu em um período em que eventos explosivos estavam ocorrendo – um período de eventos revolucionários e semi-revolucionários.

Toda a paisagem política ainda era afetada pelos eventos revolucionários da França em 1968. Mais de 10 milhões de trabalhadores e estudantes participaram de uma greve geral e o presidente da época, Charles de Gaulle, tinha fugido do país. As elites dominantes por todo o mundo tinham medo de que o capitalismo perdeu na França.

No mesmo ano, nós vimos o levante do povo contra o stalinismo na Tchecoslováquia, o qual foi brutalmente esmagado pelas forças de estado da Rússia Stalinista.

O período também era dominado pelo importante movimento contra a Guerra do Vietnã dentro dos EUA e internacionalmente.

Somente alguns dias depois de nossa reunião de fundação do CIO, a revolução em Portugal irrompeu, a qual derrubou a ditadura brutal de Caetano.

Era um período de movimentos massivos da juventude, mas também de fermentação política nos sindicatos e nos partidos dos trabalhadores.

Tanja: Por que era necessário, no seu ponto de vista, criar uma nova Internacional naquele momento?

 Peter: Nós tínhamos muito cuidado em não nos chamar de “a” Internacional, mas o ‘Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores’ porque nós não éramos (e ainda não somos) uma Internacional com presença massiva na classe trabalhadora. Nós tínhamos uma avaliação honesta de nossas próprias forças. Ao mesmo tempo era, e ainda é, nossa tarefa ajudar a construir tal Internacional. Nosso objetivo era uma Internacional com fortes raízes na classe trabalhadora, comparável com aquelas da Segunda e da Terceira Internacional. Não é possível desenvolver aqui a razão de estas Internacionais terem falhado em estabelecer o socialismo, mas nós explicamos detalhadamente estas razões em nosso trabalho, “A história do CIT” [veja a seção Publicações].

A razão principal para construir uma nova força internacional 30 anos atrás era a falta de clareza por parte das outras organizações internacionais que existiam em relação ao programa e o método. Em nossa opinião, elas não eram capazes de oferecer explicações e perspectivas para a nova situação mundial que estava se desenvolvendo.

Tanja: O que diferenciou o CIT, com suas forças relativamente pequenas, de outras Internacionais?

 Peter: Primeiro e mais importante, foi nossa clareza política e nossas perspectivas. Nós diferíamos de outros que se referiam a si mesmos como marxistas ou clamavam ser trotskistas em diferentes questões chaves. Obviamente, se tais diferenças fundamentais não existissem, não existiria necessidade de uma organização separada.

Nós tínhamos diferenças fundamentais sobre o papel e a importância da classe trabalhadora na luta pela transformação socialista da sociedade. Em nossa opinião, a classe trabalhadora foi, e é, o fator decisivo. Devido a sua importância no processo de produção, a classe trabalhadora é a única força capaz de mudar a sociedade em uma direção socialista. É a classe trabalhadora que produz todos os bens e riquezas na sociedade. Se ela toma o controle sobre os meios de produção e distribuição e, portanto, sobre a riqueza que é produzida todos os enormes recursos poderiam ser usados no interesse da classe trabalhadora, ao invés de beneficiar os capitalistas. Porém, outras organizações trotskistas acreditavam que movimentos populistas e da classe média – movimentos guerrilheiros de camponeses, por exemplo – ganharam o papel de transformar a sociedade.

Tanja: Se você olhar para trás hoje, o que você pensa que foi o maior desafio para o CIT até o momento?

 Peter: Clarificar e aguçar nossas idéias permanentemente e traduzi-las na linguagem da classe trabalhadora, liga-las ao nível real de compreensão da classe trabalhadora e da juventude em particular.

Outro desafio, obviamente, foi intervir nos movimentos que surgiram e começaram a construir forças significantes nos diferentes países através do mundo.

Tanja: Você pode nos oferecer alguns exemplos sobre o que o CIT alcançou nos últimos 30 anos?

 Peter: Eu acho muito difícil citar apenas alguns exemplos. O CIT tem hoje presença em 40 países. Em alguns países nós possuímos grupos de tamanho considerável, em outros continuamos pequenos. Entretanto, nós começamos lutas importantes.

Na Nigéria, temos a segunda maior organização do CIT, o MSD [Movimento Socialista Democrático], nossos companheiros foram cruciais na organização da resistência contra os aumentos horrendos nos preços do combustível. Isto levou a uma grande diminuição nos padrões de vida das massas na Nigéria e para mais de uma greve geral.

O Sri Lanka é um país dividido por linhas étnicas, onde os diferentes agrupamentos tanto do lado Tâmil quanto do Cingalês tentam incitar as divisões. Nossos membros – colocando em risco as próprias vidas – colocaram corajosamente, por décadas, a unidade da classe trabalhadora e o direito a autodeterminação da população oprimida Tâmil. Nós somos a única organização que produz um jornal tanto em Tamil quanto em Cingalês.

No Brasil, o descontentamento com o presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT) está crescendo devido ao fracasso de Lula de enfrenta os ricos e as instituições capitalistas internacionais. Nossos companheiros no Socialismo Revolucionário [CIT no Brasil] estão envolvidos agora na liderança de um movimento de organização de um novo partido para os trabalhadores.

Na Alemanha, a nossa organização foi crucial no início da primeira manifestação nacional contra os ataques massivos feitos pelo governo Schröeder sobre o estado do bem-estar e os padrões de vida da classe trabalhadora. A manifestação em Berlin, no último outono, atraiu 100.000 pessoas e iniciou uma onda de protestos através do país.

Na Irlanda, nossa seção – o Partido Socialista [PS] – teve uma vitória na campanha contra a introdução de impostos sobre a água. Isto lançou as bases para a eleição subseqüente de Joe Higgins ao parlamento irlandês. Desde então nós lideramos a campanha contra os impostos sobre o lixo, na qual Joe e a vereadora pelo PS Clare Daly, junto com outros manifestantes, foram presos por lutar contra estes impostos injustos sobre os estratos mais pobres da sociedade. Isto marcou um passo significante na construção de nosso partido na Irlanda e também de todo o CIT.

Na Inglaterra, nós tivemos um importante papel na liderança da câmara em Liverpool 20 anos atrás, que mostrou um exemplo histórico de [conduzir] políticas socialistas na prática. Em certo momento, nós tivemos três parlamentares (MPs) que abertamente aderiram às idéias do Militant (o precursor do Partido Socialista – CIT na Inglaterra e no País de Gales). A luta de Liverpool foi um ensaio para a campanha contra a Poll Tax; um movimento de massa de não-pagamento que foi liderado por nós e, o qual, não somente derrotou o imposto, mas também derrubou Thatcher. Nós poderíamos dar muitos outros exemplos de iniciativas significativas tomadas pelas seções do CIT.

 

Tanja: Qual é a maior tarefa para o CIT no próximo período?

Peter: Conquistar a nova geração para as idéias marxistas e trotskistas. Os eventos certamente estão nos ajudando em relação a isto. A guerra do Iraque expôs o caráter do imperialismo norte-americano.

A situação econômica na Europa, e no mundo, está radicalizando a classe trabalhadora e a juventude na Europa. Os eventos recentes na Espanha são um indicativo da velocidade em que o estado de espírito pode mudar. Após apenas alguns dias dos ataques nos metros de Madrid, a profunda tristeza da população transformou-se em raiva contra a tentativa consciente de Aznar de enganar as pessoas culpando o ETA pelos ataques. Subsequentemente, isto levou à derrota de seu partido nas eleições e a chegada do PSOE ao poder. Estes eventos ainda estão relacionados ao início da Guerra do Iraque um ano antes.

As conseqüências de grandes eventos são sempre um pouco atrasadas. Nós ainda poderíamos ver o desdobramento de uma situação que derrube Blair e Berlusconi. Ainda não é certo, mas Bush pode ser derrotado no fim do ano, o que poderia ser visto como uma vitória internacional para o movimento anti-guerra. Poderia existir uma varredura de todos os beligerantes que criaram a horrível situação do Iraque.

Da radicalização que se desenvolve, a necessidade de ação política será sentida pela classe trabalhadora. A transformação dos antigos partidos dos trabalhadores em partidos burgueses criou um vácuo enorme na esquerda. Nós temos que tentar dirigir a classe trabalhadora a preencher este vácuo criando novos partidos de massa da classe trabalhadora.

Tanja: Em sua opinião, qual é a maior diferença entre 30 anos atrás e a atualidade?

 Peter: Existem muitas diferenças. Em 1974, quando o CIT foi criado, o crescimento econômico do mundo pós-guerra não tinha sido completamente esgotado. Isto aconteceu somente mais tarde com o choque do petróleo e a crise de 1974/75, a qual marcou um ponto de virada no desenvolvimento do capitalismo no mundo.

A consciência da classe trabalhadora também era diferente, especialmente o de seus quadros dirigentes, os quais, em geral, procuravam uma alternativa socialista. O debate então se concentrou no tipo de socialismo que existiria e que programa era necessário para alcançá-lo.

O debate é diferente hoje devido ao colapso do stalinismo. Por um lado isto significou o fim de regimes autoritários, mas, por outro lado, um retorno ao capitalismo no leste europeu e na antiga União Soviética. Isto fortaleceu a classe dominante, ao menos, ideologicamente. Ela conduziu uma luta contra o socialismo e as idéias socialistas e teve certo sucesso nisto. Os líderes da social-democracia capitularam e, como resultado, a consciência recuou.

Porém, esta situação não poderia durar. Nós vemos hoje que a consciência começa a avançar diante da realidade econômica que a maior parte da população está enfrentando. Há uma raiva enorme e uma consciência crescente sobre o fato do capitalismo não funcionar. Especialmente nos últimos dois ou três anos, nós vimos um renascimento da luta de classes em muitos países através do globo. Entretanto, falta ainda para estas lutas uma expressão política de massas.

Nós estamos confiantes de que a classe trabalhadora no próximo período começará a restabelecer suas próprias organizações políticas e redescobrirá as idéias do socialismo. O CIT quer ter um importante papel para auxiliar estes desenvolvimentos e quer ajudar a construir uma sociedade socialista livre da guerra, da pobreza e desastres ambientais.

Tanja: Obrigada Peter.