Milhões protestam na França

O dia 18 de março viu um milhão e meio de manifestantes tomarem as ruas por toda a França em protesto contra o novo CPE – Contrato de Primeiro Emprego. Em Paris, mais de 400.000 participaram. No dia 28 de março os protestos uniram mais de três milhões. A última pesquisa de opinião mostra que a CPE é rejeitada por 73% da população. Até o momento, não está claro como a luta se desenvolverá. O governo parece fixar-se neste curso enquanto as centrais sindicais CGT e FO ameaçaram fazer uma greve geral, ainda não é certo se este será um protesto simbólico ou se é a próxima fase em uma séria luta contra um governo de direita.

Abaixo está uma tradução da declaração da Gauche Révolutionnaire, o CIO na França, distribuído na semana passada.

Milhões protestam na França

Por uma greve conjunta de trabalhadores e jovens para derrotar a lei trabalhista

• Greve conjunta dos trabalhadores e da juventude!

• Abolição da CPE!

• Não para a chamada lei de “igualdade de chances”!

• Retirada do Contrato do Novo Emprego (CNE)!

Os protestos massivos em 7 de março foram decisivos. A repressão violenta à ocupação da Sorbonne (uma importante universidade de Paris) mostra que o governo teme a possibilidade das greves expandirem-se ainda mais. A declaração do Primeiro Ministro Villepin na televisão confirma duas coisas: por um lado o governo trata-nos como idiotas demonstrando seu desprezo pela juventude e pelos trabalhadores; por outro lado, ela mostra que Villepin não entendeu o que realmente está acontecendo. A greve logo alcançará todas as universidades, está se espalhando entre estudantes e mais e mais trabalhadores dizem: “Por que não estamos resistindo também?”

Todos sabem que o CPE é uma parte de toda uma política. O CPE permitirá a demissão de jovens trabalhadores em qualquer momento e por qualquer motivo durante os dois primeiros anos de contrato. Esta já é a questão com o CNE para todos os trabalhadores em todos os locais de trabalho com menos de 20 trabalhadores. Todos também compreendem que todos os trabalhadores estarão sujeitados a este tipo de contrato. Esta é a razão pela qual uma grande maioria da população rejeita o CPE: nós todos somos o alvo. Na luta contra o CPE, nós iremos forçar uma derrota para o governo e para toda política voltada a tornar ainda mais insegura a vida de todos os trabalhadores.

Além disso, o CPE é apenas um elemento da lei de, supostamente, “igualdade de chances”. Esta lei fixa a idade para os aprendizes começarem em 14 anos e torna possível para os maiores de 15 anos fazerem trabalho noturno! O contrato “sênior” permite, para trabalhadores com mais de 57 anos, trabalhos temporários de 18 meses, que podem ser renovados algumas vezes, e com um salário próximo volta da linha de pobreza (SMIC). Não existirá necessidade de oferecer trabalhos decentes para “os velhos”: patrões podem demitir trabalhadores com um contrato normal (porque os patrões sabem que usualmente os salários são maiores quanto mais tempo uma pessoa trabalha no mesmo local de trabalho) e contratar outros trabalhadores com experiência com um contrato inseguro e com pagamento baixo! Com Villepin e Sarkozy (Ministro do Interior) a insegurança permanente está instalada!

Por uma greve geral da juventude e dos trabalhadores!

Milhares de estudantes estão se envolvendo na luta graças às greves massivas em universidades como Rennes e Poitiers. Pouco a pouco todas as universidades estão se envolvendo na luta e isto continua a crescer. É necessário que milhares de estudantes em cada universidade entrem em greve. Se bloqueios e ocupações são necessárias para obter este resultado, tais métodos necessitam ser usados. Mas o objetivo ainda deve ser o de que o movimento se torne em uma greve massiva, bem-estruturada e liderada democraticamente: está e a forma pela qual a greve dos estudantes pode tornar-se forte e coesa o suficiente para expandir para outros setores.

O violento despejo de estudantes que pacificamente ocuparam a Sorbonne em 11 de março mostra mais uma vez a verdadeira face do Primeiro Ministro Villepin. A repressão violenta lembra muitas pessoas da violência usada em 2005 contra diferentes movimentos grevistas e contra o povo dos bairros da classe trabalhadora. É um reflexo da violência social e econômica da política governamental que leva mais e mais trabalhadores e jovens para a miséria deixando-os sem qualquer perspectiva para o futuro.

Se o CPE hoje está concentrando todos os descontentes e une a nós todos, isto é porque há uma raiva mais profunda na sociedade. Nós já tivemos o suficiente do tipo de política que serve somente os ricos, que engendra insegurança e da prova de fogo diária de procura por um emprego ou um lugar para viver! É contra este cenário geral que a mobilização está crescendo, passo a passo, em tamanho.

Parar Villepin e Sarkozy!

Por muitos anos nós vimos numerosas lutes. No último ano nós vimos nas escolas as greves contra a “lei de Fillon”, as greves massivas em março e outubro, as greves em Marselha (SNCM, RTM e etc.). É óbvio que jovens e trabalhadores estão prontos para lutar. Porém, confrontados com a recusa das lideranças sindicais de trabalhar rumo a uma generalização das lutas, estes trabalhadores viram-se isolados e logo derrotados. Os estudantes escolares foram mesmo totalmente abandonados pelos sindicatos na educação.

Mas hoje, graças à determinação dos estudantes que estiveram em greve por semanas a situação está começando a mudar. Os dias de ação coletiva da juventude e dos trabalhadores estão começando a se tornar mais importante. Mas o que é necessário é uma verdadeira greve conjunta. O que deve ser feito é atingir onde fará o governo e os capitalistas realmente tremerem, isto é, no nível econômico. São os trabalhadores que podem alcançar isto, entrando em greve e paralisando a produção.

Mais vozes estão se expressando desta forma. Cada vez mais ações militantes são discutidas nas assembléias gerais dos estudantes. A coordenação nacional dos estudantes apresentou isto na declaração adotada em Poitiers em 11 de março: “O próximo dia decisivo será 16 de março: nós chamamos os trabalhadores e suas organizações a manifestarem-se e a usarem sua arma mais efetiva, a greve. Também é necessário começar agora para dar continuação aos dias de ação em 16 e 18 colocando uma bandeira ainda maior: nós pedimos aos sindicatos para chamar uma greve geral em 23 de março e uma manifestação nacional em Paris”.

O departamento regional do sindicato de Bouches du Rhône (CGT, FO, SUD, etc.) também adaptou um texto conjunto que afirma: “A próxima fase de mobilização deve ser situada na perspectiva de um apelo unido por uma greve geral, a qual nos permitirá aumentar a ação conjunta com a juventude”.

Toda atividade desenvolvida por milhares de estudantes nos últimos dias pressionou diferentes sindicatos e organizações da juventude a chamarem pela greve e aos sindicatos no setor público a anunciarem greve na semana entre 13 e 18 de março. Mas isto não será o suficiente. A manifestação no dia 18 deve ser o último estágio antes de uma autêntica greve. Ao juntar neste dia estudantes, trabalhadores informais, desempregados, trabalhadores e etc. nós mostraremos nossa força e nossa determinação. Nós também teremos que fazer uma grande manifestação neste dia para organizar uma greve unificada da juventude e dos trabalhadores contra o CPE, o CNE, a chamada “lei para a igualdade de chances” e a política geral de Villepin e o Ministro do Interior Nicolas Sarkozy.

Continuar a desenvolver e estruturar a greve para vencer!

Na maioria das universidades a greve começou vagarosamente. Muitas vezes um bloqueio foi necessário para permitir a participação dos estudantes nas assembléias, para informarem-se sobre a verdadeira natureza da CPE e para ver que eles poderiam construir o movimento e que o governo não é indestrutível.

A meta deve continuar a ser o de construir uma greve massiva e dirigida democraticamente com objetivos claros e estruturas genuínas. Isto é o que os membros da Gauche Révolutionnaire defendem. Graças à greve, centenas de estudantes estão disponíveis para a ação e para a organização da luta. Nós necessitamos de comitês de mobilização em todo lugar para assegurar o controle democrático da greve pelos próprios grevistas. A falta de tal estrutura significa que nos arriscamos a terminar em uma situação na qual entre reuniões ou demonstrações sejam sempre as mesmas pessoas que tomam as decisões.

Alguns grupos políticos, sindicatos e organizações sindicais estão contra os comitês de mobilização. Alguns deles afirmam “nós não precisamos de quaisquer líderes”. Outros pensam que organizar a greve melhor irá sufocá-los. Porém é o contrário: se a greve continuar em um nível desorganizado existirá apenas uma pequena minoria que poderá efetivamente fazer parte da organização e de seus desdobramentos. Além disso, se nós queremos um real movimento de massas, nós não podemos atropelar alguns aspectos cruciais de organização. Nós não podemos continuar em reuniões que duram horas para tomar apenas uma ou duas decisões enquanto, ao mesmo tempo, algumas estruturas dizem para a mídia que eles são os “porta-vozes” do movimento. Sem uma coordenação estudantil nacional não existirá uma data comum para todas as cidades agirem para fortalecer a greve.

Muitos estudantes se perguntam sobre como podem participar concretamente na organização da greve, nas manifestações e etc. Eles também têm dúvidas sobre como garantir que uma decisão tomada nas reuniões realmente é implementada. Em poucas palavras, eles compreenderam que é por meio da luta coletiva e das decisões coletivas que eles podem fortalecer a greve e vencer. Com comitês de greve em cada universidade e escola, eleito para implementar as decisões tomadas pelas assembléias, as responsabilidades serão claras e os grevistas serão capazes de realmente controlarem sua luta.

Alguns dias atrás as organizações da juventude mais envolvida nas lutes de massas chamaram por uma greve. Até agora, os líderes sindicais (notavelmente a CFDT e a CGT) recusaram-se a chamar claramente por uma greve. Se eles forem obrigados a dizer que eles não negociarão nada até a retirada da CPE, será somente por causa da pressão da greve estudantil. Nós não devemos hesitar em adotar nas nossas assembléias apelos aos sindicatos para preparar um dia de greve nacional em 23 de março. Nós também devemos continuar a divulgar informações sobre o CPE, os outros aspectos da chamada lei de “igualdade de chances”, notavelmente nos locais de trabalho e nos distritos pobres e da classe trabalhadora porque nós todos estamos envolvidos. E porque uma derrota de Villepin-Sarkozy seria uma vitória para todas as lutas futuras!

O cheiro de maio de 68?

Uma greve que começou nas universidades, após um ano de greves e depois de uma revolta da juventude nos bairros da classe trabalhadora… Trabalhadores amplamente favoráveis com o movimento, manifestações comuns da juventude e dos trabalhadores… Já faz um longo tempo que nós não vemos tal desdobramento social e político. Há anos está claro que as enormes taxas de desemprego e a crescente miséria para milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza não pode continuar por muito mais tempo.

A raiva esteve lá por anos e tinha que ser manifestada! Nós já tivemos o suficiente de políticas que servem aos ricos e aos patrões. Os lucros das multinacionais crescem mas mais pessoas estão sem habitação apropriada ou um emprego estável. A unidade entre a juventude e os trabalhadores é necessária para parar isso!

Isto é ainda mais importante quando os líderes parlamentares de “esquerda” (o Partido Socialista, os verdes, etc.) tentam ganhar ao máximo do movimento tendo um olho nas eleições de 2007 sem, no entanto, propor uma política que favoreça os trabalhadores e a juventude. O PS tenta anular o CPE por meio do Conselho Constitucional: se isto avançar, a lei da suposta “igualdade de chances” será salva e será retirada a legitimidade das atuais greves estudantis para clamar a vitória.

O PS espera ganhar da atual raiva contra o governo para conseguir ser reeleito em 2007 sem defender um programa que interesse aos trabalhadores e a juventude.

O Primeiro Ministro Villepin declarou no último domingo que “por mais de 20 anos nada foi feito para parar a insegurança com a qual a juventude é confrontada”.

De fato ao longo dos ultimo 20 anos os governos de “esquerda” e de direita multiplicaram os contratos de trabalho inseguros – desde o “Trabalho de Uso Coletivo” de Fabius em 1984 (contratos de trabalho parcial de um ano e com baixo pagamento) até os “trabalhos da juventude” de Jospin (contratos de, no máximo, 5 anos, mas renováveis a cada ano: é melhor ficar de boca calada com um contrato assim!). E não vamos esquecer os inseguros contratos que foram adicionados por todos os governos. Ao mesmo tempo, a “esquerda plural” de Jospin privatizou mais do que os dois governos de direita (Balladur e Juppé) precedentes.

A atual proposta do PS resulta em contratos nos quais as contribuições educacionais e sociais são pagas pelo estado (em outras palavras: por nossos impostos!): é mais um presente aos patrões! Nós sabemos quem os patrões escolherão contratar se a opção for entre um velho trabalhador e um jovem trabalhador muito mais barato. O PCF (Partido Comunista Francês) enquanto usa uma retórica mais radical que o PS, certamente não está pensando em romper seus laços com o PS porque pretende manter sua aliança com o PS nos governos locais e assim manter suas mandatos de vereadores.

Insegurança, miséria, exploração… isto é o capitalismo!

Os ataques de Villepin não são acidentais e o mesmo vale para as medidas ultra-repressivas de Sarkozy e sua nova lei racista. Eles são dois elementos da mesma política neoliberal que deseja satisfazer os capitalistas. Na medida em que a economia está estagnando e a competição entre as multinacionais é desenfreada, ataques são implementados não só na França mas por todo o mundo para facilitar a exploração dos trabalhadores e aumentar os lucros dos patrões reduzindo os salários de uma forma ou de outra – aumentando o tempo de trabalho, flexibilização, congelamento de salários, demissões, etc. O resultado é claro: as grandes corporações lucraram 65 bilhões de euros em 2005 contra 44 bilhões de euros em 2004 enquanto o número de pessoas vivendo num nível mínimo de subsistência aumentou 4,7% de 2004 para 2005.

O capitalismo conhece apenas a lei do lucro. Na medida em que este sistema permanece, a miséria e a exploração só podem continuar a crescer. Somente uma sociedade democrática pode mudar isto, uma sociedade democrática na qual a economia é gerida e controlada pelos próprios trabalhadores, em que os principais meios de produção são estatizados e postos sob o controle democrático trocando os lucros de poucos tal como é hoje pelas necessidades da população. É por tal sistema – o socialismo – que nós lutamos.

A luta pode ser uma ocasião para reconquistar a confiança na capacidade da juventude e dos trabalhadores de mudar a sociedade e dar fim ao capitalismo. Para fazer isto nós necessitamos de um novo partido de jovens e trabalhadores, um partido para a luta contra o capitalismo e pelo socialismo. Este é o partido que queremos construir. A “esquerda” oficial e tradicional converteu-se totalmente à gerência do capitalismo. Mesmo que eles fingem ser o “mal menor” quando comparados com a direita, ao fim, os resultados são os mesmos. O PCF não deseja quebrar sua aliança com o PS por razões eleitorais. E a Ligue Communiste Révolutionnaire (LCR) não deseja tomar qualquer iniciativa que a separaria do PCF. A última proposta da LCR, após a repressão policial aos estudantes na Sorbonne, foi a de chamar todas as forças de esquerda (inclusive o PS) a “organizar uma grande reunião juntando todas as forças de esquerda, representadas no nível mais elevado para dar suporte e solidariedade à juventude mobilizada; realizar uma reunião, assim que possível, para organizar uma resposta unificada para fazer o governo recuar e obter a retirada do CPE” (Declaração de Olivier Besancenot, 12 de março de 2006).

Tal atitude só pode aumentar a confusão! Nós não precisamos de políticos como Fabius, Hollande ou Strauss-Khan – que somente pensam em 2007 – para lutar! Mais ainda, a greve é contra a lei da “igualdade de mudanças”, o CNE e o CPE.

Não é com este tipo de tática que nós construiremos uma greve, o que continua a ser a coisa mais importante a fazer hoje, assim como também não criaremos uma alternativa real à Villepin, Sarkozy e os políticos de “esquerda” que querem gerenciar o capitalismo.

A Gauche Révolutionnaire defende a idéia de uma greve massiva e democrática. Também pensamos que precisamos de uma alternativa real ao capitalismo, um novo partido que poderá ser um instrumento fundamental nas lutas e para resistir ao capitalismo. Tal partido pode nascer da presente greve se os comitês de campanha ou de greve, enquanto constroem a luta, estenderam suas demandas à união dos trabalhadores e da juventude contra o capitalismo.

Pela vitória, por uma greve unificada da juventude e dos trabalhadores contra o CPE, contra a lei de “igualdade de chances” e contra o CNE!

Você pode gostar...