Marxismo e o Partido Socialista Escocês

No encontro do Movimento Socialista Internacional (ISM), ocorrido sábado 25 de março em Glasgow, decidiu-se aceitar uma proposta de formalmente dissolver o ISM. O ISM era o grupo que deixou o CIT em 2001 e incluía lideranças do Partido Socialista Escocês – Tommy Sheridan, Alan McCombes, Colin Fox e Frances Curran, dentre outros.

A divisão em 2001 se deu após um intenso período de debate e discussão dentro da seção escocesa do CIT e internacionalmente (os documentos relacionados às questões debatidas na Escócia nesta época podem ser encontrados em www.marxist.net).

Estes ex-membros do CIT romperam conosco porque rejeitaram a necessidade de continuar a construir uma organização e um programa marxistas, enquanto trabalhava-se para construir e fortalecer o Partido Socialista Escocês – um partido politicamente amplo.

Explicamos neste momento que este abandono do CIT e de uma abordagem marxista consistente e principista poderiam ter profundas conseqüências para o SSP, o qual nossos companheiros lideram.

Infelizmente, os recuos e as dificuldades vividas pelo SSP no último período estão enraizados em erros políticos e idéias políticas oportunistas do ISM – que formou o maior bloco político na liderança do SSP.

Sob sua influência direta, o SSP moveu-se para um crescente reformismo de esquerda e uma posição política nacionalista de esquerda. A qual, conjuntamente com a condução equivocada dos eventos envolvendo a renúncia de Tommy Sheridan, colocou um questionamento sobre o futuro do SSP.

Nesta declaração, os Socialistas Internacionais – a seção escocesa do CIT – encaram a situação enfrentada pelo SSP e as lições tiradas da desintegração do ISM. Lições que tiveram importantes implicações para socialistas na Escócia que estão trabalhando para reconstruir a influência do SSP, assim como para socialistas e marxistas internacionalmente.

O Partido Socialista Escocês (SSP) realizou uma conferência em 4 e 5 de março com o partido ainda lutando para se recuperar do impacto do afastamento de Tommy Sheridan, a figura mais conhecida do SSP, como dirigente nacional em novembro de 2004. Sua resignação foi tomada por uma decisão do comitê executivo do partido provocada pelo medo de histórias de tablóides envolvendo a vida privada de Sheridan. Tommy Sheridan entrou na justiça contra o News of the World e deve ser ouvido em julho.

Desde a época de seu afastamento como representante, o apoio eleitoral do SSP diminuiu significativamente. As eleições gerais de maio do ano passado (para todo o Parlamento de Westminster) viram o partido receber 1,9% dos votos apurados no conjunto em Escócia (43.516 votos), uma queda em relação aos 3,1% (72.518 votos) alcançados em 2001. Uma série de eleições, tanto para o parlamento quanto para a câmara, confirmaram esta tendência. Em média, nestas eleições, o SSP perdeu cerca de 40-50% de seus votos.

As mais recentes eleições em Dunfermline e West Fife, que produziram uma humilhante derrota para o Novo Trabalhismo, viram o SSP receber 1,5% dos votos – uma pequena queda quando comparada às decepcionantes eleições gerais de 2005. Todos os membros do parlamento escocês do SSP disputarão as eleições em 2007 e, a menos que haja uma melhora significativa nas votações, o SSP pode perder vários assentos. Também ocorreu uma redução no número de ativistas envolvidos com o partido, na medida em que o SSP lutou para encontrar uma saída para estas dificuldades.

A seção do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) no SSP – os Socialistas Internacionais – criticou a liderança do SSP pela condução da situação envolvendo Tommy Sheridan. O CIT também se opôs, no que é principal, à direção e à abordagem políticas da liderança do SSP – a qual vem sendo a principal responsável pelos recuos que o SSP sofreu. Mas nós também, de forma consistente, apresentamos uma estratégia que acreditamos que fortalecerá o SSP e ajudará a reconstruir o seu apoio.

Por exemplo, no fim do último ano a liderança do SSP propôs lançar uma campanha nacional de 10 pontos intitulada “Povo e não o lucro” (People Not Profit). O CIT defendeu e apoiou esta iniciativa que, para nós, poderia ajudar a popularizar algumas das principais políticas do SSP. O programa de 10 pontos incluía demandas como “fim dos baixos pagamentos”, “fim das privatizações” e “oposição à guerra no Iraque”.

Porém, nós não concordamos, tal como o comitê executivo do SSP propôs inicialmente, com esta campanha se limitar, principalmente, naquilo que os poderes existentes do parlamento escocês poderiam oferecer. Isto, no caso dos baixos pagamentos, resultaria no fato de que somente a demanda para aumentar o salário mínimo para os trabalhadores do setor público deveria ser incluída na campanha. Nós buscamos com que esta demanda incluísse todos os trabalhadores – sem exceção.

No congresso do SSP a tese do CIT buscou ampliar estas propostas, chamando também pela reestatização, sob gestão democrática da classe trabalhadora, de todas as indústrias e dos serviços privatizados pelo Partido Conservador e o Novo Trabalhismo. Isto estaria ligado com a explicação da necessidade de lutar pela propriedade pública de todas as grandes indústrias, como uma parte de uma economia planejada socialista alternativa ao caos do livre mercado.

Durante o pré-congresso a executiva do SSP indicou que manteria suas propostas originais e limitadas. Porém, os panfletos produzidos para a campanha, que apareceram no dia em que o congresso começou, levaram em conta muitas das sugestões do CIT e, como resultado, são muito mais efetivas e fortalecerão o impacto da campanha Povo e não o Lucro.

 
Debates do congresso do SSP

Ocorreu um importante debate sobre a esquerda européia durante o congresso do SSP. Uma moção dos apoiadores da tese do CIT defendia o surgimento de novos partidos de esquerda na Europa que poderiam, potencialmente, ter um papel importante no enfrentamento contra os ataques neoliberais da classe trabalhadora.

Moções da direção do partido pediam para que o SSP entrasse no Esquerda Unitária Europeia (GUE, sigla em francês) e uma do Partido Socialista dos Trabalhadores (SWP – Socialist Workers Party da Inglaterra) chamando o SSP para ingressar no Partido da Esquerda Européia (PEE).

O GUE, uma organização de “esquerda” no parlamento europeu, inclui organizações como Sinn Feinn, o PDS/Partido de Esquerda na Alemanha (o PDS, o Partido do Socialismo Democrático, originado do partido stalinista que comandava a antiga Alemanha Oriental) e o Partido da Refundação Comunista (PRC) na Itália. Alguns dos mesmos partidos formaram o PEE.

No debate, os membros do CIT destacaram que o PRC concordou em entrar em uma reaplicação do “Bloco Oliveira” governo de coalização dos anos 90, caso Silvio Berlusconi seja derrotado nas eleições de 9 de abril na Itália. Isto envolveria o PRC em uma coalizão com outros partidos pró-capitalismo – uma coalizão que, por isto, está comprometida na defesa do capitalismo e que fará ataques aos trabalhadores italianos.  

Nós também explicamos o papel do PDS/Partido de Esquerda na Alemanha que em um governo de coalizão local com o pró-mercado Partido Social-Democrata (SPD) em duas regiões – inclusive Berlim. Em Berlim, o PDS foi um instrumento na aplicação de privatizações, ataques ao direito de sindicatos barganharem e na implementação de ataques sobre empregos e serviços.

Os porta-vozes do CIT saudaram a eleição dos 54 parlamentares – do Partido de Esquerda e de um novo partido, o WASG (Alternativa Eleitoral – Trabalho e Justiça Social) – nas eleições gerais do último ano na Alemanha. O CIT na Alemanha, Alternativa Socialista (SAV), participa integralmente no WASG tendo um importante papel no novo partido em diferentes áreas – incluindo Berlim.

Porém, a nossa moção chamava o congresso do SSP a apoiar a decisão do WASG em Berlim, confirmada em uma recente votação dos membros do partido, de continuar independente do PDS nas eleições de Berlim que ocorrerão mais tarde este ano.

Fizz Garvie e parlamentar Frances Curran, que apoiaram a entrada na GUE argumentaram que um “projeto de esquerda unificado” era a necessidade premente. Fizz Garvie afirmou que qualquer coisa que ameaçasse uma oportunidade histórica de “unir a esquerda na Alemanha”, isto é, a fusão do PDS e do WASG sem quaisquer condicionantes, seria um grande recuo. Infelizmente, isto coloca Fizz e outros na mesma posição que os líderes nacionais do WASG e do PDS que esperam juntar-se sem clamar pelo abandono do PDS no envolvimento em alianças que fazem cortes sociais.

 O SWP desejava que o SSP ingressasse no ELP para “podermos influenciar outros partidos de esquerda”. Mas está claro que o SWP não está preparado para criticar as ações de partidos como o PDS na Alemanha, o PRC na Itália ou Sinn Fein na Irlanda (que aplicou projetos de iniciativa privada quando o Sinn Fein ocupava posições ministeriais na Irlanda do Norte, antes de cair em colapso muitos anos atrás).

Esta abordagem levou o SWP a apoiar uma fusão, sem qualquer princípio, do PDS/Partido de Esquerda e do WASG na Alemanha – enquanto critica o CIT por argumentar por uma esquerda forte baseada em oposição aos ataques aos direitos dos trabalhadores e às privatizações.

A moção do CIT chamava o SSP a tomar uma posição clara na oposição à participação em coalizões de corte em níveis locais, regionais ou nacionais e, desta forma, propôs discussões sobre estas bases antes de ingressar no ELP. Uma emenda que chamava o SSP a trabalhar próximo do GUE, mas não ingressar nele, foi derrota por apenas uma pequena margem. Não votou-se a moção do CIT, já que a votação para o SSP ingressar no GUE e no ELP passou.

O SWP também falou contra uma emenda sobre mudança climática que comprometeria o SSP a chamar uma economia planificada socialista sustentável para lidar com a crescente crise ambiental. Um dos porta-vozes do SWP afirmou: “Se nós aceitarmos esta emenda nós estaremos construindo uma cerca entre nós e os outros dos movimentos ambientalistas”. A emenda foi derrotada. O papel do SWP, que não é questionado pela direção do SSP, é o de ativamente se opor a quaisquer movimentos para levantar a bandeira do socialismo em algum dos “movimentos” em que eles participam. Isto inclui o movimento anti-guerra, a coalizão Respect, campanhas ambientais e o movimento anti-globalização. Ao mesmo tempo em que argumenta que avançar na explicação socialista sobre o ambiente levaria “à construção de uma cerca em torno do SSP”, o SWP recusa-se a condenar os atos reacionários como o 11 de setembro ou as explosões de julho de 2005 em Londres – o que só pode alienar a massa da classe trabalhadora, incluindo grandes setores da comunidade mulçumana.

Infelizmente, a falta de confiança em avançar com uma bandeira socialista clara e independente também aplica-se aos setores da direção do SSP. No debate sobre a “Convenção de Independência” a moção do Comitê Executivo do SSP descreveu a reunião de lançamento da Convenção – composta pelo SSP, o Partido Nacional Escocês (SNP) e os verdes – como “de esquerda e internacionalista”. O membro do CIT, Gary Clark, que participou da reunião afirmou que foi uma reunião em que a bandeira nacional da Escócia estava colocada em cada assento do salão e onde a maioria da audiência eram membros e apoiadores do SNP. Não existia um contingente identificável dos trabalhadores.

A moção do Comitê Executivo descreveu o movimento de independência na Escócia como estando “preocupado com a desigualdade local e global de riqueza”. Uma moção de Dundee West destacava o perigo de dar ao SNP tais credenciais de esquerda: “O SNP usa qualquer oportunidade para defender sua visão de uma Escócia de livre mercado, que impulsionaria o chamado ‘Tigre Celta’ da economia irlandesa. Nós acreditamos que a moção do Comitê Executivo [do SSP], buscando minimizar as claras diferenças existentes entre o SSP e o SNP, pode causar verdadeiros danos ao SSP e o movimento socialista na Escócia. Isto pode ter como efeito um futuro enfraquecimento em nosso apelo à classe trabalhadora da Escócia que olhou para o SSP como uma alternativa ao establishment político pró-capitalista, inclusive o SNP”.

A participante do CIT, Sinead Daly, foi eleita para o Comitê Executivo do SSP, ganhando a quarta maior votação na lista feminina. Este foi um crescimento significativo nos votos para o CIT, comparados ao ano passado, quando Sinead era a oitava na lista. Janice Godrich e Jim Mcfarlane, membros do CIT, foram ambos eleitos para o Comitê Sindical Nacional e Sinead Daly também foi eleita para o Comitê Internacional. Estes resultados, ao lado do número de delegados que aproximaram-se de nós para discussão e comentaram sobre a clareza de nossas idéias desde o congresso mostram que a abordagem consistente tomada pelo CIT está gerando um impacto crescente num setor dos membros do SSP.

 
Dissolução do ISM

Os reveses sofridos pelo SSP trouxeram para o centro o papel desempenhado pela direção do partido nestes eventos. Particularmente, levantou a questão sobre o papel político da direção do SSP, muitos dos quais deixaram o CIT em 2001.

O bloco político majoritário entre os líderes do SSP era o Movimento Socialista Internacional (ISM). Esta é a organização que deixou o CIT em 2001 e cujos membros – que incluem Tommy Sheridan, Alan McCombes, Colin Fox e Frances Curran, ainda desempenham um papel dirigente no SSP hoje. O ISM propôs, recentemente, dissolver sua organização que esteve em um estado caótico de desordem durante os últimos 18 meses.

O ISM acusou o CIT de se opor à construção do SSP e de ser implacavelmente oposto à tudo que o SSP está tentando alcançar na Escócia. Estas alegações completamente falsas – repetidas em uma declaração para o Congresso do ISM de 2006 que propôs terminar com a tendência – foram usadas em uma tentativa de re-escrever a história do debate dentro do CIT em torno da criação do SSP (um debate que pensamos que oferece lições importantes para os socialistas hoje e para aqueles que estão trabalhando para ajudar o SSP a reconstruir o apoio perdido. A documentação do debate pode ser achada em www.marxist.net).

A maioria da direção do ISM, em 1998, concluiu que o trabalho de construção de uma organização marxista revolucionária era redundante. Ironicamente, apesar das acusações de tomar uma “abordagem totalmente negativa ao lançamento do SSP” (declaração do ISM, março de 2006) foi a direção do CIT que no início dos anos 90 levantou pela primeira vez a idéia da necessidade de construir novas organizações dos trabalhadores de massa.

Isto resultou de nossa análise que os antigos “partidos dos trabalhadores” como o Partido Trabalhista na Inglaterra, que sempre tiveram uma direção pró-capitalista, eram agora partidos completamente burgueses e fechados para os trabalhadores, sindicalistas e a juventude. Enquanto apoiávamos a construção de novos partidos da classe trabalhadora ou mesmo passos potenciais nesta direção como as alianças socialistas, o SSP e outros projetos de unidade da esquerda, nós também defendemos a necessidade de construir organizações marxistas independentes baseadas nos programas e métodos do CIT. Nós achamos que os marxistas possuem uma “tarefa dupla” neste período: encorajar, onde existem forças, a construção de novos partidos políticos para agirem como um veículo para a classe trabalhadora, enquanto, ao mesmo tempo, lutamos para fortalecer as seções do CIT.

Infelizmente, Alan McCombes, Tommy Sheridan e outros que desempenharam, no passado, um papel importante na construção de uma poderosa organização marxista na Escócia – Militant e Scottish Militant Labour – estavam abandonando a segunda destas tarefas e a luta por um programa marxista que vinha junto dela.

Ao invés disso, eles propuseram o lançamento do politicamente amplo SSP enquanto defendiam o término da organização marxista revolucionária. Eles pensaram que isto seria feito como uma forma de escapar das dificuldades e dos recuos que a esquerda e os marxistas enfrentaram nos anos 90. Os anos 90 trouxeram enormes pressões ideológicas sobre a idéia do socialismo ser uma alternativa viável ao mercado capitalista. O conceito de necessidade de um partido marxista revolucionário também foi uma perda nesta “guerra de idéias” unilateral. Grupos como o SWP e a chamada “Quarta Internacional” abandonaram completamente ou congelaram a necessidade de defender a construção de uma organização, um programa e métodos marxistas. Politicamente todos estes grupos moveram-se para a direita. Somente o CIT consistentemente defendeu a necessidade de um partido marxista revolucionário. Infelizmente isto nos colocou em oposição política com a direção do SSP sobre questões cotidianas concretas, assim como em questões vitais sobre que programa político o SSP deveria apresentar. O CIT se opôs à dissolução do SML marxista no SSP e chamou pela manutenção de uma organização marxista viável no partido mais amplo. Isto foi rejeitado pela maioria do ISM. Uma minoria do ISM partiu para a construção da tendência do CIT no SSP.

Tomando estes passos os líderes do ISM estavam rachando politicamente não somente com o CIT, mas com o marxismo autêntico e um programa socialista revolucionário. Isto teve enormes conseqüências políticas para o SSP, resultando na direção do SSP defendendo ideais políticos nacionalistas de esquerda e reformistas que, juntamente com os erros ligados à resignação de Tommy Sheridan, causaram danos ao SSP.

O CIT enxerga como uma tarefa central neste período a construção de uma alternativa combativa baseada na classe trabalhadora à barbárie capitalista neoliberal. Concretamento nós demos as boas vindas e participamos na formação doWASG na Alemanha. Na Inglaterra e no País de Gales nós lançamos a Campanha por um Novo Partido dos Trabalhadores. Ao mesmo tempo, nós buscamos construir e fortalecer nossas próprias forças marxistas que, tal como acreditamos, podem ter um papel decisivo para que estas novas formações alcancem seu potencial.

Esta foi a abordagem que nós tomamos para o nosso trabalho no SSP. Nós saudamos qualquer iniciativa que fortaleça as forças do socialismo, enquano nos opomos àqueles que podem levar ao enfraquecimento do SSP.

 
A vingança dos erros políticos

Esta abordagem de princípio ao SSP nos colocou em conflito com a direção do SSP que é constituída principalmente pelo ISM. O fato do ISM propor uma “eutanásia voluntária” depois de apenas cinco anos de existência é um indicativo da crise política que vive não somente o ISM, mas também o SSP. Os companheiros dizem: “O ISM desempenhou um papel central nos principais avanços [do SSP] – gastando todo o nosso tempo e recursos no SSP… Todavia isto teve um preço. A diminuição da coerência do ISM significou que não existia direção política para uma série de questões. Isto foi muito mais evidente durante os tempos difíceis”.

Mas eles fazem a eles mesmos um desserviço. De fato, foram os membros dirigentes do ISM que desempenharam o papel central na mudança do SSP para o solo do nacionalismo de esquerda por meio da proposta de lançar uma convenção de independência ao lado do SNP. Foram os membros do ISM que argumentaram contra a idéia de adotar um programa que comprometeria o SSP a apoiar a nacionalização dos principais setores da economia sob controle democrático da classe trabalhadora no manifesto de 2004 para as eleições européias. Os membros do ISM tentaram mais de uma vez atacar o CIT falando de idéias “superadas” como a nacionalização dos eixos principais da economia. Ao invés disso, eles argumentavam, os socialistas hoje devem apoiar “novas formas de propriedade e controle social e comunitário”. Tais idéias não são novas e refletem a pressão sobre o SSP para adotar uma política que, na prática, deixa de chamar pelo fim do capitalismo.

A declaração do ISM toca, resumidamente e de forma unilateral, as condições políticas na Escócia, onde a luta de classes, eles afirmam, está “reduzida” e onde “as greves dos bombeiros e dos enfermeiros terminaram em uma derrota completa ou parcial”. Eles até mesmo admitem que a luta pela questão nacional “ainda não ganhou visibilidade neste período”. Então, por que iniciar o lançamento de uma campanha pró-independência com os verdes e o SNP? Além disso, esta é uma campanha, na qual a distinção entre o SSP e o pró-capitalista SNP desapareceu aos olhos de uma camada importante de apoiadores do SSP.

Referências aos “tempos difíceis” na declaração do ISM claramente dirigem-se aos eventos em torno da renúncia de Tommy Sheridan como dirigente nacional, que levou o SSP a uma crise. O próprio ISM se dividiu em dois, com um grupo em Glasgow apoiando Alan McCombes e, portanto, a ação do comitê executivo, enquanto outro setor do ISM apoiou Colin Fox. Enquanto, na prática, o ISM sempre foi uma plataforma da direção do SSP, estes eventos deixaram o ISM, em suas próprias palavras, em um estado de “paralisia”.

“O ISM realmente deixou de funcionar como uma plataforma no interior do partido”, escrevem eles, enquanto há “desorientação nas fileiras do SSP”. Eles chegam a afirmar que: “todos estes fatores significam que as forças marxistas estão menos organizadas do que elas estiveram por uma década”. Talvez sem compreender a ironia, eles afirmam: “O ISM cumpriu seu papel histórico no interior do SSP e hoje não possui qualquer utilidade”.

Mas a principal responsabilidade por esta crise, tanto no SSP e na dissolução do ISM, reside na lideração que, anos atrás rompeu politicamente com o marxismo. Era um retrocesso político que estava no centro do debate aberto entre o CIT e os antigos membros do CIT, que formaram o ISM. E são os erros políticos dos antigos membros do CIT que foram os fatores centrais que prejudicaram o SSP.

O CIT na Escócia cresceu e foi capaz de começar a reconstruir suas forces após a divisão de 2001. A declaração do ISM tenta descartar esta explicação afirmando: “O CIT tem sua linha uniforme e os mecanismos de apoio que, em alguma extensão, se beneficiaram das flutuações no interior do partido e que, em uma extensão ainda maior, a sociedade”. O “mecanismo de apoio” do CIT na Escócia, consiste primariamente do programa e da análise do CIT. Isto auxiliou os partidos e as organizações do CIT a manterem suas forças, apesar das dificuldades que nós e outros socialistas enfrentamos nos anos 90. Na realidade, nós fomos capazes até de aumentar nossas forças na classe trabalhadora – especialmente nos sindicatos. Isto criou bases para avanços importantes, enquanto a luta de classes e as possibilidades de ganhar uma nova geração para idéias socialistas aumentam.

Ainda que seja uma organização relativamente pequena, o CIT na Escócia possui em suas fileiras muitos membros que estão desempenhando um papel dirigente na atual luta em defesa da previdência na Escócia. Nós temos dois companheiros que estão no Comitê Executivo nacional do sindicato dos servidores, incluindo a presidente nacional do sindicato, Janice Godrich, assim como diversos membros em posições importantes na base. Recentemente, o CIT teve diversos ganhos na Escócia, assim como os membros do SSP que viram as posições que o CIT defendeu para o SSP.

Os retrocessos do SSP são retrocessos para todos socialistas e marxistas. O CIT apresentou uma estratégia que acreditamos que pode ajudar o SSP a se recuperar. Porém, a não ser que isto seja feito a partir de uma linha de classe e socialista, o SSP pode não estar pronto para agarrar as oportunidades que claramente existem para avançar. Os membros do SSP, inclusive aqueles do antigo ISM, têm a responsabilidade de aprender as lições destes eventos. O mais importante é tirar a conclusão de que a construção de uma organização marxista mais poderosa na Escócia, tal como o CIT está tentando realizar, é uma tarefa central. Uma tarefa que, se conquistada, pode ajudar a assegurar que os socialistas e o movimento dos trabalhadores mais amplo realizem a tarefa histórica de acabar com o sistema capitalista, o que possibilitará a construção de um futuro socialista para a humanidade.