Grã-Bretanha: Vitoriosa conferência da Campanha por um Novo Partido dos Trabalhadores

É preciso um partido para milhões, não para os milionários

Os problemas de transporte de domingo significou que, quando a conferência da Campanha por um Novo Partido dos Trabalhadores (CNWP) no dia 19 de março começou, muitas pessoas ainda estavam chegando para a reunião e ficaram concentradas atrás do salão lotado. Outros não couberam. Eles tiveram que sentar em um café perto e escutar a conferência por alto-falantes – que, infelizmente, apenas funcionavam de vez em quando!

Apesar de tais problemas organizacionais – que vieram porque a conferência foi superlotada – o lançamento do CNWP foi um estrondoso sucesso. Mais de 450 pessoas compareceram, a maioria tendo posições locais e nacionais em sindicatos e campanhas comunitárias.

Na abertura da conferência, o vereador do Partido Socialista Dave Nellist disse que havia uma necessidade notória por um novo partido – que representasse milhões e não os milionários. Ele adicionou que os três partidos principais (Novo Trabalhismo, Liberais e Conservadores) são tão similares, com suas políticas sórdidas e anti-classe trabalhadora, que parecem mais como um só partido com três alas.

Dave reportou que mais de 1.300 pessoas assinaram a ‘Declaração por um Novo Partido dos Trabalhadores’, de 25 diferentes sindicatos e campanhas comunitárias. Ele leu mensagens de apoio à conferência, vindos de Brian Caton, Secretário Geral da Associação dos Funcionários Penitenciários, um membro da executiva da NATFHE (sindicato dos professores universitários) e do Partido Trabalhista, Pat Sikorski, Secretário Assistente do RMT (Sindicato dos Ferroviários), e Matt Wrack, Secretário Geral do FBU (Sindicato dos Bombeiros), que não podiam comparecer à conferência.

Sultões da sordidez

Tony Mulhearn (vereador de Liverpool em 1984-87 e presidente regional do Partido Trabalhista de Liverpool de 1979-85) foi o primeiro orador. Ele declarou que a aversão e o desgosto com o Novo Trabalhismo – os “sultões da sordidez” – tem alcançado níveis sem precedentes. Tony explicou que precisávamos construir um movimento capaz de traduzir a linguagem do socialismo em empregos e moradia, como a Câmara de Vereadores de Liverpool fez no passado. Precisávamos construir um partido para agir como um pólo de atração para os que procuram uma alternativa, como foi feito pela gestão socialista do Partido Trabalhista em Liverpool.

Mark Serwotka, Secretário Geral do Sindicato dos Servidores Públicos, o PCS, começou por congratular os organizadores pelo magnífico comparecimento. Ele enfatizou a necessidade de uma alternativa política ao Novo Trabalhismo – ressaltando o um milhão de trabalhadores que farão uma paralisação para defender suas pensões, em 28 de março, os cortes e demissões no NHS, e a brutal continuação da ocupação do Iraque.

Mark continuou falando sobre como uma nova alternativa pode ser criada. Ele enfatizou que a maioria dos líderes sindicais nacionais ainda dizem que se deve dar apoio ao Novo Trabalhismo como o ‘único show na cidade’. Nos últimos 6 meses, 14 sindicatos deram £1.634.000 ao Novo Trabalhismo – embora muitos destes sindicatos estão forçado a entrar em greve para defender seus membros contra os ataques governamentais aos seus direitos de pensão.

Mark disse que um novo partido é necessário e que não podemos querer ter dois ou três partidos alternativos competindo um contra o outro. Ele saudou o fato de que o Partido Socialista (CIO na Inglaterra e Gales) entrou em negociações com o Respect – e disse que o processo deve continuar porque há mais coisas em comum do que diferenças entre nós.

Claus Ludwig, um membro e vereador do Alternativa Socialista (SAV-CIO), em Colônia, Alemanha, e também membro fundador de um novo partido, Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG), explicou os importantes desdobramentos que ocorrem na Alemanha. Contra o pano de fundo de ataques às condições de vida da classe trabalhadora, o WASG – se candidatando em uma lista conjunta com o PDS (Partido de Esquerda) – recebeu 8,7% dos votos, e elegeu 54 parlamentares, na recente eleição geral. Há agora 12 mil membros do WASG.

Contudo, um debate está ocorrendo com a proposta de fusão com o Partido de Esquerda (o ex PDS, o antigo partido stalinista) e, em particular, sob qual programa ela se daria. Todos concordam com a necessidade do máximo de unidade, baseada em princípios, da esquerda. Contudo, o Partido de Esquerda está sendo parte do governo da cidade de Berlin e implementou ataques neo-liberais à classe trabalhadora, incluindo baixos salários e privatização do setor público.

Falando sobre socialismo no domingo e implementando cortes durante a semana não é um caminho para frente. Qualquer lista eleitoral conjunta deve ser construída rumo a um partido combativo e baseado na classe trabalhadora, o que significaria que o Partido de Esquerda primeiro deve deixar o governo de Berlin.

Hannah Sell, falando em nome do Comitê Executivo do Partido Socialista, explicou porque o Partido Socialista iniciou o Campanha por um Novo Partido dos Trabalhadores. Ela disse que o último escândalo de corrupção do Novo Trabalhista foi a inevitável conseqüência de que o partido está nas mãos dos Grandes Negócios. Estes tem tentado comprar os líderes do Partido Trabalhista desde sua origem, com certo sucesso, mas agora claramente tomou completamente todo o partido.

Ela enfatizou que o Partido Socialista luta por um novo partido em qual os parlamentares e outros representantes públicos devem receber o salário médio dos trabalhadores que eles representam, para assegurar que eles permaneçam em contato com o povo trabalhador.

Hannah reportou que a maioria da cobertura da imprensa sugeria que um novo partido ai ser lançado durante o fim de semana. Contudo, o Partido Socialista não estava propondo isso. Nem o Partido Socialista está propondo que uma coalizão eleitoral seja lançado como um passo para o novo partido – embora o Partido Socialista e outros estejam se candidatando para as eleições locais e ela esperasse que os membros da campanha do CNWP apoiassem estes candidatos.

Ela enfatizou que é precisamente porque o Partido Socialista é sério na luta por um novo partido que não sustentava que ele fosse lançado nesta conferência. Depois dos falsos começos nos anos 90 (como o SLP de Arthur Scargill), queremos nos assegurar que desta vez um novo partido será lançado corretamente.

O Partido Socialista esperava que da conferência que todos pudessem sair da conferência fazendo o máximo de esforço na agitação por um novo partido. Como a história do começo do trabalhismo na Grã-Bretanha demonstrou, o processo rumo à fundação do novo partido pode ser complicado.

Um partido de massas é necessário – um de dezenas de milhares. Mas o Partido Socialista não sugeria que se retardasse o movimento até que esse número fosse reunido. Queremos atrair para a atividade um número significativo de ativistas sindicais, comunitários, do meio ambiente, anti-guerra e jovens – um processo que já começou com a conferência. Deveríamos voltar para a próxima conferência e discutir como avançar.

Hannah também enfatizou que o Partido Socialista tem argumentado que a Campanha por um Novo Partido dos Trabalhadores (CNWP) deveria encorajar e apoiar qualquer iniciativa tomada pelos sindicalistas rumo a um novo partido.

Respect

Sobre o Respect, Hannah informou sobre a discussão havida recentemente entre representantes do Partido Socialista e do Respect, e o pedido do primeiro para tentar evitar confrontos eleitorais e confrontos nas reuniões de correntes nas conferências sindicais. Ela enfatizou que o Partido Socialista, enquanto saudava a eleição de George Galloway como MP (membro do Parlamento) do Respect em Tower Hamlets , Londres, não acreditava que o Respect pudesse resolver o problema da representação da classe trabalhadora.

Hannah tocou brevemente na crítica do Partido Socialista ao Respect. Contudo, ela adicionou, não obstante estas críticas, o Partido Socialista pediu ao Respect para apoiar o CNWP e esperava que ele assim o fizesse.

Hannah disse que seria um erro tentar predeterminar a estrutura e o programa de um futuro novo partido na conferência. Ela argumentou que ia excluir muitos trabalhadores que poderiam se envolver nas discussões sobre a fundação de um novo partido. Um programa e estrutura deveria vir de um processo de debate democrático, levando a um acordo claro entre todas as forças envolvidas, quando a nova formação for lançada.

O Partido Socialista acredita que é crucial que para uma nova formação ter sucesso, essa deve ser aberta, democrática e acolhedora, não apenas no papel, mas na prática. E que o melhor meio de conseguir isso é tendo um enfoque federal (como o adotado pelo Partido Trabalhista nos primeiros anos) que permitiria a convivência conjunta de várias organizações e tendências, preservando o direito de todas de se organizarem e argumentarem por seus pontos de vista particulares .

Finalmente, Hannah enfatizou que o partido deveria representar um rompimento fundamental com os partidos dos grandes negócios que atualmente dominam a política. Deveria se posicionar contra a privatização e os cortes, e pelos direitos dos trabalhadores.

Para ser um partido de milhões, é necessário enfrentar as multinacionais, que dominam cada aspecto da vida das pessoas. O Partido Socialista argumenta que um novo partido adote uma cláusula socialista chamando pela posse pública dos grandes empresas que dominam a economia.

Discussão

A discussão da conferência com a apresentação das resoluções.

Roger Bannister, do Comitê Executivo Nacional do UNISON, o maior sindicato do setor público, apresentou a resolução do Partido Socialista, que detalhou os pontos delineados por Hannah.

Pete McLaren apresentou a resolução da Aliança Socialista, que pediu por assinaturas para a ‘Declaração’ a ser agrupadas geograficamente, para facilitar contatos entre ativistas locais, e que esses elegem Comitês Interinos locais.

O grupo do CNWP em Reading moveu uma resolução chamando para que qualquer novo partido seja aberto, democrático e representativo. É preciso apelar para os ativistas anti-guerra, de questões ambientais, pensionistas e anti-racistas. Apelou para que nenhum único grupo seja permitido dominar, e por mecanismos para assegurar uma política democrática. Todas estas resoluções passaram.

Outras cinco resoluções foram derrotadas. Elas levantaram várias questões; contudo, a discussão central eram em torno de qual deveria ser o programa do novo partido. Por exemplo, duas das resoluções derrotadas argumentavam que o novo partido deveria se basear no “marxismo revolucionário” ou em um programa para “colocar a estratégia para a derrubada do capitalismo e o estabelecimento do poder da classe trabalhadora”.

Lois Austin explicou porque o Partido Socialista não poderia apoiar estas resoluções. Ela disse que isso seria limitar a discussão entre as forças que fundariam um novo partido.

A questão crucial é que um novo partido deveria envolver a classe trabalhadora e atrair nos sindicatos e ativistas de movimentos sociais que procuram por uma alternativa. Deveria ser um partido que entendesse e tomasse conta dos diferentes sentimentos e níveis de entendimento dos setores mais combativos da classe trabalhadora que se uniriam a ele.

Lois respondeu àqueles que diziam que o partido deveria ser claramente um partido “revolucionário socialista” logo no inicio. Ela disse que isso seria um grande salto para as pessoas que partiam de um ponto de vista anti-privatisação, anti-capitalista e anti-guerra, para a compreensão da necessidade para uma mudança revolucionária fundamental. Setores diferentes da classe trabalhadora tiram tais conclusões em velocidades diferentes.

É por isso que um novo partido de massas, que traga os trabalhadores juntos em uma luta comum, e permita uma discussão aberta e debate de idéias, seria um enorme passo à frente e parte crucial do desenvolvimento da consciência da classe trabalhadora, mesmo se seu programa é inicialmente muito limitado. Não é questão de esconder nossas idéias ou programas, mas de não impô-las a um novo partido em formação.

Judy Beishon também falou pelo Partido Socialista, e explicou porque deveríamos argumentar por uma cláusula claramente socialista no programa do novo partido. Mas mesmo se isso inicialmente não for um acordo, o partido seria imensamente progressivo se fosse claramente anti-privatizações e anti-cortes e envolvesse importantes setores da classe trabalhadora.

Após as resoluções, houve uma larga discussão sobre estas e outras questões.

No curso da discussão Alan Thornett foi convidado para saudar a conferência por dez minutos em nome do Respect.

Foram feitas muitas intervenções da platéia, como Paul Sutton, vereador de Stoke, Glenn Kelly, UNISON, Rob Williams, delegado sindical da fábrica de carros Visteon, Marion Lloyd, PCS, uma ativista do Partido Verde, e James, um ativista do serviço de saúde de Cardiff.

(Nota: Todos os sindicalistas presentes falaram em posição pessoal).

Direitores eleitos

Foram eleitos os seguintes diretores para a campanha:

  Secretário: Roger Bannister, executiva nacional do UNISON (condição pessoal) e Partido Socialista

  Presidente: Dave Nellist, vereador do Partido Socialista por Coventry

  Vice-Presidente: Kevin Kelly, Vice Presidente do PCS (condição pessoal)

  Vice-Presidente: Jeremy Dewar, Poder dos Trabalhadores

  Diretor de Imprensa: Pete McLaren, Aliança Socialista

  Tesoureiro: Fiona Pashazadeh, Partido Socialista

  Diretor de ligação sindical: Glenn Kelly, executiva nacional do UNISON (condição pessoal) e Partido Socialista

  Secretária Assistente: Hannah Sell, Partido Socialista

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