Irã: A disputa nuclear com os EUA piora

O objetivo dos falcões de Washington é remover o regime iraniano

Sob intensa pressão dos EUA, apoiados pela Inglaterra e pela França, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) submeteu agora o Irã ao Conselho de Segurança da ONU. O governo Bush exige que – a menos que o Irã desista de processar combustível nuclear em solo iraniano – a ONU deva impor sanções contra o Irã.

É irônico que os EUA, que manobraram para marginalizar e desacreditar as Nações Unidas antes de seu ataque premeditado ao Iraque em março de 2003, agora precisem pressionar por uma ação coletiva contra o Irã.

Este é apenas outro exemplo de como grandes potências tentam manipular a ONU para os seus próprios propósitos. Porém, não é de forma alguma certo que os membros do Conselho de Segurança com direito de veto, como a Rússia e a China, cederão às demandas dos EUA.

Os falcões dos EUA – como o embaixador na ONU John Bolton – estão ameaçando abertamente fazer ataques militares sobre as instalações nucleares do Irã caso a ONU não force sanções.

Tudo isto apesar do Irã não ter quebrado o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNPN), o qual permite os países desenvolverem processamento nuclear de combustível. O governo Ahmadinejad rejeitou um protocolo extra da AIEA, reivindicado pelas potências ocidentais, que impõem um regime de inspeção mais intenso no Irã do que aquele requerido pelo TNPN.

Mohamed ElBaradei, cabeça da AIEA, admite que seus inspetores “não viram indicadores de mudanças de material nuclear em armas nucleares ou outros artefatos explosivos”. A reclamação é em relação às “incertezas” sobre “o alcance e a natureza do programa nuclear do Irã” – em outras palavras, suspeitas de que o Irã estaria preparando um programa de armamentos nucleares.

Todavia, Bush afirma que o embrionário programa nuclear do Irã coloca “uma grave ameaça à segurança mundial”.

Especialistas nucleares estimam que o Irã esteja entre dois e 10 anos distante da produção de armas nucleares utilizáveis. Ao mesmo tempo, o Irã carece do tipo atualizado de mísseis de longo alcance ou de aeronaves necessárias para atingir alvos regionais.

Porém, o Irã está cercado por potências nucleares: Rússia, Paquistão e Índia. É quase certo que as forças norte-americanas baseadas no Iraque possuem armas nucleares. Acima de tudo, estima-se que Israel possui por volta de 200 armas nucleares e também uma ampla frota de sofisticados mísseis e aeronaves capazes de atingir o Irã.

Por esta razão, Ahmadinejad foi capaz de conquistar apoio popular para o embrionário programa nuclear do país diante das ameaças do imperialismo dos EUA. Mesmo assim, muitos iranianos opõem-se a desperdiçar recursos em armas nucleares e ameaçam os possíveis resultados desastrosos de uma corrida nuclear regional.

Enquanto demandam rígida obediência do Irã ao TNPN, Bush, na realidade, abriu as portas para a proliferação acelerada de armas nucleares. Em sua recente visita à Índia, Bush anunciou uma negociação na qual a Índia – que ainda não assinou o TNPN – receberá tecnologia nuclear de ponta dos EUA. Somente 14 dos 22 reatores da Índia estarão sujeitos à inspeção internacional. A Índia estará livre para usar outros oito reatores de processar material fóssil para produzir ogivas nucleares.

Como um resultado disto, o Paquistão duplicará seus esforços na construção de arsenal nuclear. Enquanto isso, o governo turco anunciou que desenvolverá um programa nuclear e, com certeza, outros seguirão este caminho.

Ao propor uma negociação nuclear entre os EUA e a Índia (o que precisa de ratificação do Congresso dos EUA), Bush esmigalhou quaisquer ilusões remanescentes na efetividade do TNPN. As ameaças dos EUA contra o Irã não estão ligadas à não proliferação. Elas fazem parte de uma campanha para isolar, prejudicar e, em última instância, destruir um regime que, por muito tempo, é visto pelos falcões de Washington como o principal inimigo dos EUA na região. Porém, o imperialismo norte-americano está numa posição muito mais frágil do que em 2003.

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