Espanha: Isso que é a democracia!

Eleições ocorrem em meio a revolta juvenil

Membros do grupo espanhol do CIT, Socialismo Revolucionario, interviram no movimento juvenil espanhol em 8 diferentes cidades e produziram um panfleto especial para esse movimento, chamando pela unidade com a classe trabalhadora e uma greve geral, por comitês democráticos eleitos de trabalhadores e jovens para preparar tal evento e por uma política socialista revolucionária. 

Gritos de “a revolução começa aqui” encheram a Plaza de Catalunya de Barcelona na manhã de domingo, pouco antes de começar as eleições municipais por toda a Espanha e vários parlamentos regionais autônomos. Uma semana atrás, quem teria previsto que essas eleições estariam tão marginalizadas, confinadas às páginas internas dos jornais diários? Ou que as praças das cidades espanholas ficariam lotadas de dezenas de milhares de “indignados”, em protesto com o consenso antissocial do PSOE (Partido “Socialista”, que está no governo) e do PP (Partido Popular, de direita)? Mas essa é a situação desde a última semana, em todo o Estado espanhol, já que uma geração anticapitalista explode em cena. Os novos governos locais e autônomos, sejam do PSOE, PP, CiU, PNV…, não têm ideia do que os “indignados”, e a classe trabalhadora a seguir, estão guardando para eles!

PSOE detonado nas urnas e nas praças

O governo do PSOE de Zapatero e Rubacalba, cujo servilismo cego ao Mercado capitalista e ataque às condições de vida da maioria lançaram as bases para a rebelião atual, se viu detonado nas pesquisas. Ele recebeu sua pior votação em mais de 20 anos. É nesse contexto que Zapatero, alguns meses atrás, decidiu renunciar como líder antes das próximas eleições gerais: esse é um governo que muito provavelmente espera a aniquilação nas mãos dos trabalhadores e jovens. Suas políticas neoliberais são responsáveis pelos quase 15 milhões sem trabalho e 45% de jovens desempregados. E seus planos para o futuro irão apenas piorar a situação. 

Embora retratado como o “grande ganhador” da eleição, o voto no PP na verdade subiu apenas 2%. Visto como o mais “efetivo” voto anti-PSOE por muitos, ele capitalizou a raiva contra o governo Zapatero, visto como responsável por quebrar a economia espanhola e manejado mal a crise econômica. No País Basco, o recém-legalizado partido nacionalista Bildu também fez enormes ganhos. Todos os comentaristas veem esses resultados como um prelúdio a uma vitória do PP em 2012. Se for o caso, os trabalhadores e jovens podem esperar um governo ainda mais brutal e ortodoxo, embora com políticas que não difiram fundamentalmente do atual governo. Não obstante, um governo do PP no contexto de tanta raiva e inquietação social, estaria a caminho de representar o “chicote da contrarrevolução”, o que poderia ver a luta de classes se desenvolver num novo patamar. Ele agravaria a questão nacional com ações contra a autonomia das regiões, e teria uma atitude menos escrupulosa com os direitos sindicais. 

É preciso um programa claro para romper com o capitalismo

Mas o que é preciso em resposta à brutalidade da austeridade do PSOE e da ameaça de um governo do PP é uma luta por uma política alternativa à política de austeridade e pró-banqueiros e grandes negócios em geral. Os votos ganhos pela Izquierda Unida, que viu um pequeno aumento para 6,3% do total, mostra como sua resposta à crise, falhando em explicar e lutar por uma alternativa viável, impediu uma verdadeiro avanço. Pactuar agora nos governos locais e autônomos com o PSOE, e se tornar responsável pelos anos de austeridade e cortes que virão, seria mais um golpe a esse partido.

As palavras de ordem da revolta juvenil, contra o governo dos banqueiros e especuladores e por uma vida decente, empregos e direitos, por uma “verdadeira democracia”, só pode ser expressa politicamente com um programa que desafie de forma fundamental o capitalismo. As demandas socialistas revolucionárias, pelo não pagamento das dívidas aos especuladores, a ruptura com a ditadura do Mercado com a nacionalização dos bancos sob controle democrático e propriedade e controle públicos da riqueza da sociedade para criar empregos e assegurar uma vida decente, devem ser popularizadas e adotadas pelos trabalhadores e jovens em luta. Isso deve se ligar à ampliação da impressionante luta dos jovens, com a qual amplas camadas dos trabalhadores mais velhos mostraram seu apoio. A necessidade de uma greve geral para mostrar quem realmente tem o poder na sociedade e lutar por uma alternativa agora está clara. 

Os jovens que lotaram as praças da Espanha odeiam profundamente o sistema, com amplas camadas se identificando com a luta contra o capitalismo como sistema. Mas tais sentimentos devem ganhar clareza para a luta por um programa política, para a transformação revolucionária da sociedade. O Socialismo Revolucionario (CIT da Espanha) participa da revolta do 15-M, e defende essa perspectiva. 

A democracia das praças dá um quadro mais preciso do que podemos esperar no próximo período do que os resultados eleitorais.

“É preciso uma greve geral”

Entrevista com trabalhadores jovens de Madrid

“Estou protestando porque estou infeliz com os políticos, eles desperdiçam nosso dinheiro. Há uma crise econômica, mas não para eles. Um político ganha 20 vezes mais do que um trabalhador,” diz José Antonio Fernandez.

“Precisamos de uma mudança na política, nas leis trabalhistas e nas condições de vida do povo,” diz Pedro San Cristobal.

Jose trabalha num telemarketing, Pedro é motorista de ônibus. Nenhum está num sindicato, mas ambos acreditam que é necessária uma greve geral.

“Os sindicatos não fazem nada; eles se sentam no colo dos políticos e empresas. A greve geral de setembro foi apenas um show. É preciso mais”, eles dizem. 

“Os salários são baixos e você apenas consegue ser pago legalmente por algumas horas; o resto é pago informalmente [dinheiro na mão], ou nem isso. Eu pessoalmente trabalho 16 horas, mas recebo apenas por oito. Para os políticos é o oposto! Todos sabem isso, mas ninguém faz nada. Se você protesta no trabalho, termina na rua,” diz Pedro.

Na eleição de domingo, Pedro e José votaram na Izquierda Unida. “Eles são pequenos, mas estão lutando pelo povo,” disseram.

Pedro se preocupa que a polícia arranque as tendas que o M-15 (o movimento que começou os protestos em 15 de maio) construiu. Na Plaza del Sol, não há partidos, sindicatos ou organizações.

“Há mais pessoas nos apoiando do que é visível nas ruas”, diz Jose. “Eu vou lutar até o fim!”

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