Construindo o feminismo socialista ao redor do mundo

As Feministas Antirracistas Socialistas no Brasil seguem o exemplo de luta de feministas socialistas ligadas à Alternativa Socialista Internacional ao redor do mundo, que lutam  contra o machismo, a opressão, a exploração e o sistema capitalista. Muitas vezes somos maioria nas construções de lutas, atos e manifestações e não deixamos mais que apresentem as pautas dos trabalhadores sem que apresentem as pautas e/ou reivindicações das mulheres trabalhadoras. 

Na Irlanda surge em 2013 o movimento feminista socialista ROSA com a luta contra a austeridade e durante as ações que visavam a revogação de uma emenda ao artigo 8° da constituição irlandesa que restringiu o acesso das mulheres ao aborto no país. O nome do movimento significa Resistência contra Opressão, Sexismo e Austeridade. Também é inspirado pela Rosa Parks, ativista negra estadunidense que se recusou a ceder seu lugar para um passageiro branco, provocando o boicote dos ônibus Montgomery ao Movimento dos Direitos Civis nos anos 60 e pela Rosa Luxemburgo, teórica e ativista socialista excepcional, morta por sua postura antiguerra e política revolucionária em 1919. 

A ROSA na Irlanda realizou uma campanha pela legalização do aborto que rodou as cidades do país em um ônibus para promover o debate e conscientização sobre a necessidade da autonomia dos corpos femininos e sem corrermos riscos de morte ou de sermos criminalizadas.

A campanha tinha apoio de mulheres, sindicatos, religiosos, atrizes e médicos. Essa rede foi importante para que mulheres pudessem ter acesso à pílula abortiva em seus lares, com a devida segurança sanitária ao método e para proteção do seu direito de escolha sobre seu corpo. Essa luta foi fundamental para garantir a vitória com a derrubada da emenda constitucional que se deu em meados de 2018.

Na Bélgica, desde a pandemia, a Campanha ROSA seguiu o exemplo e se envolveu nas lutas dos trabalhadores da saúde, articulando atividades e campanhas para melhores condições de trabalho. A ROSA agora existe em diversos países da europa, incluindo Polônia, Alemanha e Áustria. 

Recentemente, uma intervenção de relevância da ROSA na Áustria foi ao encontro do levante revolucionário das mulheres no Irã, após o assassinato da jovem Jina (Mahsa) Amini. Não é um exagero dizer que houve um movimento revolucionário liderado por mulheres, jovens e estudantes que conseguiu extrapolar as fronteiras com ações de solidariedade na Áustria e em outros países , como, por exemplo, a elaboração e lançamento de um manifesto e protestos contra o regime do Irã, organizado pela ROSA junto com mulheres da comunidade iraniana, que levou mais de 4 mil pessoas para as ruas.

Na América Latina, mais especificamente no México, as aspirações da ROSA só cresceram em conjunto das efervescentes lutas feministas desde que uma onda verde pelo aborto legal correu por esse território. Elas consolidam-se com o movimento feminista socialista atuando principalmente nas lutas de opressões no combate ao abuso, violência e feminicídio, a favor do transfeminismo e outras causas LGBTQIA+.

Cruzando as fronteiras para os Estados Unidos, acompanhamos as lutas das mulheres pela manutenção do direito ao aborto, que sofreu um duro golpe com a revogação do Roe vs Wade pela suprema corte em 2022. A conquista pelo direito ao aborto nos EUA é um marco da luta feminista da década de 70 e essa derrota é um retrocesso conservador que também atinge os direitos LGBTQIA+.

Ainda assim, as mulheres não se intimidaram, tomaram as ruas para reivindicar o direito à autonomia dos seus corpos. Devido a construção de um movimento forte e consistente, junto com o mandato da vereadora socialista Kshama Sawant, as mulheres de Seattle garantiram seu direito ao aborto preservado com a segurança de não serem criminalizadas, inclusive para pessoas de outros estados.

Os coletivos ROSA e de feministas socialistas ao redor do mundo mostram o potencial que temos e que, armadas com um programa socialista e a determinação para lutar, é possível obter  verdadeiras conquistas! Esse ano, 10 dias após o 8M, feministas socialistas do mundo todo irão se reunir em Viena, Áustria, para o “Mulher, Vida e Liberdade”, uma conferência da ROSA Internacional.

O direito a uma vida sem violência é o principal elo que unifica mulheres no mundo todo. Todas nós, em algum momento de nossas vidas nos deparamos direta ou indiretamente com situações que identificamos o não acesso ao aborto seguro, o descrédito dos relatos das vítimas de estupro, salários menores para exercer a mesma função que homens ou não ter direitos básicos de moradia e alimentação, são tipos de violência sofridos pelas mulheres, esse sentimento de basta fica latente. E por isso que, enquanto uma mulher estiver morrendo em decorrência da falta de um direito ou mais direitos fundamentais à vida em qualquer lugar do mundo, estaremos expressando nossa indignação em nossas iniciativas.

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