Mulheres, vida, liberdade
Declaração da ROSA Internacional e da Alternativa Socialista Internacional para o Dia Internacional das Mulheres
O Dia Internacional das Mulheres acontece num momento em que uma onda de lutas contra a opressão e a exploração capitalista liderada por mulheres continua a se desenvolver. As terríveis consequências da guerra, da fome, da destruição do meio ambiente, da crise política e social recaem com mais força sobre as mulheres da classe trabalhadora e pobres, e não é surpresa que elas estejam lutando contra isso. Na raiz dessas crises está o próprio sistema capitalista e a insaciável ganância da classe de super-ricos que o sistema serve.
As feministas socialistas organizadas na ROSA Internacional e na Alternativa Socialista Internacional (ASI) se inspiram nessas lutas e procuram desempenhar nosso papel na organização de protestos para lutar por tudo para que possamos viver livres da opressão, desde o direito ao aborto até um setor de cuidados com plenos recursos, em uma sociedade livre do medo e da violência, e muito mais. Junte-se a nós!
A diferença salarial entre os sexos, maiores responsabilidades no cuidado das crianças e membros da família, nossa representação excessiva em empregos precários e informais significam que as mulheres são mais afetadas pela crise do custo de vida.
As mulheres são também a maioria no setor de cuidados: enfermagem, educação, assistência social, etc., um setor que tem sido devastado por cortes e falta de verbas. Precisamos de um investimento maciço em serviços públicos gratuitos, com salários mais altos e melhores condições. Isso inclui a luta contra as privatizações, a favor da nacionalização da indústria farmacêutica e serviços de saúde onde ela é privada.
A saúde e educação públicas estão entre os ganhos mais importantes das lutas do passado, com enorme importância para as mulheres da classe trabalhadora na criação tanto de empregos seguros, quanto dos serviços que lhes permitem ganhar independência econômica através do trabalho. Entretanto, a classe dominante capitalista cortou esses serviços até os ossos, ou os mantém com fins lucrativos. Os cortes e privatizações desses serviços durante décadas empurrou as mulheres de volta para o lar, aumentando o trabalho doméstico não remunerado.
Quando lutamos, podemos vencer!
As trabalhadoras do setor de cuidados estão liderando uma luta contra a baixa qualidade dos serviços e péssimas condições de trabalho. Em todos os continentes, do Reino Unido à Argentina, do Zimbábue aos EUA, da Alemanha ao Sri Lanka, trabalhadores da saúde têm feito grandes greves. Também no setor da educação, estão se organizando para lutar por verbas e salários mais altos.
Na França, uma greve feminista contra a violência de gênero, contra a reforma da previdência de Macron e pelo direito ao aborto será realizada no dia 8 de março, por organizações de mulheres e sindicatos, mostrando como é possível unificar as lutas.
A combatividade está aumentando também no setor dos serviços. Nos Estados Unidos, geralmente são as mulheres de restaurantes e comércio que estão liderando uma nova onda de organização sindical.
As “trabalhadoras essenciais”, celebradas por manter a sociedade funcionando durante os lockdowns, não aceitam mais péssimas condições e salários baixos.
Combate à direita, violência e o imperialismo
Há uma ameaça crescente ao redor do mundo da direita populista ou da extrema-direita. Na Europa, Sul da Ásia, EUA e Brasil, a direita tem se fortalecido nos últimos anos. Migrantes, pessoas trans, minorias raciais e religiosas, pessoas sem teto, estão entre os grupos sob ataque da direita machista, racista e LGBTQIA+-fóbica, que tentam nos culpar pelos problemas da sociedade. O ROSA tem desempenhado um papel ativo no desenvolvimento da luta contra qualquer forma opressão, como recentemente nas manifestações contra o crescimento da extrema-direita e o aumento do racismo na Irlanda.
A violência baseada no gênero também tem crescido com a crescente militarização e quantidade de refugiados em todo o mundo. As tensões interimperialistas afetam não só as questões econômicas, políticas e ambientais, mas também as condições de vida das mulheres e pessoas LGBTQIA+.
Enquanto ameaças atuais como as mudanças climáticas e a pandemia da Covid-19 destacam a urgência de cooperação e solidariedade internacional, o sistema capitalista está se movendo exatamente na direção oposta, com o mundo cada vez mais dividido em dois blocos concorrentes. Além de promover valores patriarcais na sociedade, a nova fase global de militarização febril será mais uma razão para os governos capitalistas cortarem recursos públicos, como na educação e saúde.
As principais potências imperialistas estão tentando fazer os países pobres pagarem por sua crise. Entretanto, mesmo em circunstâncias extremas, as mulheres têm estado na linha de frente para resistir e se mobilizar contra a austeridade, a exploração imperialista e a guerra, seja nos protestos no Afeganistão ou na luta das mulheres russas para ajudar familiares e amigos a escapar da guerra.
No Irã, o slogan “Mulheres, Vida, Liberdade” capturou o sentimento de uma geração não disposta a aceitar a brutalidade sistemática do governo, cujo regime se baseia na opressão, subjugação e rígido controle sobre as mulheres e seus corpos.
As jovens mulheres estiveram na liderança dos protestos contra a política de Covid Zero na China, que rapidamente assumiram um caráter politizado, incluindo apelos para a queda de Xi Jinping. As feministas socialistas se solidarizam com as corajosas manifestantes na China e no Irã, defendemos a libertação das prisioneiras políticas e pelo fim dos governos repressivos – incluindo aqueles regimes com quais os autoproclamados defensores dos “direitos humanos” e da “democracia” em Washington, Paris ou Londres mantêm relações íntimas e cujos ataques brutais contra as mulheres estão sendo varridos sob o tapete, como a Índia de Modi ou a ditadura saudita.
Nossos corpos, nossas vidas, nosso direito de decidir!
Os poderosos movimentos feministas em toda a América Latina ganharam vitórias inspiradoras pelo direito ao aborto na Argentina, Colômbia e México. A necessidade de construir um poderoso movimento de massas nas ruas, sustentado por organizações de luta, é uma lição dos EUA, onde uma decisão da Suprema Corte derrubou, resultou na proibição do aborto em 13 estados. Dezenas de milhares saíram às ruas no dia em que a decisão foi anunciada, muitos em protestos organizados pela Alternativa Socialista (ASI nos EUA), já que as grandes e bem financiadas organizações feministas liberais se recusaram a tomar medidas reais.
Há uma forte conexão entre os ataques reacionários ao direito ao aborto e a guerra que está sendo travada pelos direitos das pessoas trans e não-binárias. O governo conservador britânico interveio de forma inédita para bloquear a legislação aprovada pelo parlamento escocês que melhoraria os direitos das pessoas trans. A luta pelos direitos trans é parte integrante da luta contra as rígidas normas de gênero que o sistema capitalista procura impor.
História do Dia Internacional da Mulher está enraizada no Feminismo Socialista
A pioneira feminista socialista alemã Clara Zetkin propôs em 1910 a realização de um Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, para vincular a luta pelo fim da exploração dos trabalhadores à luta pelos direitos políticos e sociais das mulheres. No ano seguinte, mais de um milhão de mulheres participaram de marchas para comemorar o primeiro Dia Internacional das Mulheres.
A luta pela igualdade e o fim da opressão exige uma mudança profunda. Significa lutar por uma alternativa socialista ao capitalismo, tirando o poder de uma elite parasita que lucra com o machismo, exploração e destruição do meio ambiente. Significa tirar o poder, a riqueza e os recursos de mãos privadas e estatizar com controle e gestão democrática os bancos e as grandes empresas que controlam a economia.
As mulheres têm um papel central em qualquer luta revolucionária da classe trabalhadora e das massas oprimidas. As demandas por autonomia corporal, liberdade da violência, cuidados infantis e de idosos gratuitos e de alta qualidade, moradia pública, controle de preços, combate à misoginia e à transfobia e ao racismo, etc., tudo isso deve ser intrinsecamente parte desse movimento.
Com base nisso, podemos construir uma sociedade que produza coletivamente para as necessidades de todas e todos, onde a riqueza produzida possa ser usada para que a sociedade assuma responsabilidades de cuidado e trabalho doméstico sem o impacto distorcido dos papéis de gênero e do mercado, e na qual cada um contribua para suas capacidades e receba de acordo com suas necessidades. Construa conosco a luta feminista socialista internacional!