Paraguai: o “bispo vermelho” quebra o monopólio de poder do partido Colorado
Fernando Lugo, um ex-bispo e líder da Aliança Patriótica por Mudança (APC, em espanhol), ganhou as eleições no Paraguai. Seu sucesso significa uma ruptura com o poder do partido Colorado que durou 62 anos. Ele ganhou com 40,8% dos votos, contra 30,8% para a candidata do Colorado, Blanca Ovelar.
O resultado é mais um exemplo do processo na América Latina de vitórias eleitorais para candidatos populistas radicais ou esquerdistas.
Fernando Lugo, “o Bispo Vermelho”, tinha como lema de sua campanha “mudança ou morte”. Em suas falas, ele atacava a corrupção e injustiça. Seus oponentes tentaram caracterizá-lo como um Hugo Chávez ou Evo Morales. O presidente que deixava seu cargo, Nicanor Duarte, alertou um dia antes das eleições que grupos de venezuelanos e equatorianos estavam esperando para incendiar os postos de gasolina e propriedades privadas, com o fim de provocar distúrbios caso Lugo perdesse as eleições.
Contudo, Lugo parece se espelhar muito mais no modelo de Lula que de Chávez. Numa entrevista, ele declarou: “Eu costumo dizer que fome e desemprego, como a falta de acesso a saúde e educação, não tem ideologia”.
Itaipú e soja
Uma das promessas de sua campanha eleitoral é negociar preços mais altos pela eletricidade gerada na hidroelétrica de Itaipú e também conduzir uma reforma agrária no país, que é o quarto maior exportador de soja. Um confronto com os donos de terra vai levar a um curso de colisão com os agroindustriais do seu outro grande vizinho, a Argentina.
Sem romper com o capitalismo, Lugo vai acabar seguindo Lula, implementando políticas neoliberais. Contudo, é possível que um movimento de massas da classe trabalhadora e dos pobres force Lugo a tomar uma postura mais radical.
Ao invés dos motins e incêndios que foram previstos pela direita, as ruas de Assunção encheram com música, dança e alegria. O desejo de mudança, para acabar com a situação na qual mais que 50% dos paraguaios vivem com menos de 2 dólares por dia e 36% vivem em miséria total, é tão grande que as pessoas gritavam de alegria quando o partido Colorado admitiu a derrota.
Essa vitória pode dar um ânimo para os sindicatos, ativistas e a classe trabalhadora do Paraguai. Contudo, na primeira coletiva com a imprensa, Lugo chamou pela “unidade” do partidos políticos pelo “bem do país”. As eleições marcam uma grande mudança, mas o sucesso de sua presidência vai ser determinada pela sua política e disposição de confrontar-se com a minoria rica, que é totalmente atrelada ao imperialismo.
O exemplo de seus colegas mais radicais na Bolívia e Venezuela mostra que tentar obter concessões sem romper com o capitalismo é uma estratégia perigosa e decepcionante. A classe trabalhadora tem que utilizar essa oportunidade de mudança política para se organizar com um programa claro de ruptura com o capitalismo e imperialismo.