Alta do preço dos alimentos marca o fracasso do neoliberalismo

Nas últimas semanas, a alta dos preços dos alimentos tem ganhado as manchetes do mundo inteiro e preocupado as principais instituições do capitalismo mundial. Em São Paulo, em comparação com a inflação de 4,29% nos últimos 12 meses, o feijão subiu 168%; o óleo de soja 56%, o pãozinho 17%, o filé mignon 22%, o leite em pó 42%. O preço mundial do arroz, o principal item de subsistência da maioria dos países asiáticos, subiu 150%. O presidente Lula, com seu folclórico otimismo, disse que essa alta é motivo de alegria, porque indica “que os pobres estão comendo mais”, e por isso há mais demanda do que oferta.

Analistas mais sérios, contudo, estão corretamente preocupados, tanto que o primeiro-ministro britânico Gordon Brown cobrou do G8 uma ação sobre este tema e a revisão do impacto dos biocombustíveis sobre a produção de alimentos. Esse medo é inteiramente justificado. “Um homem faminto é um homem irado”, diz o ditado, e a história está cheia de exemplos deste tipo. Como os mais recentes, citemos o assassinato, em 1980, do presidente da Libéria William Tolbert, morto a facadas durante uma revolta contra a subida do preço do arroz.

Revoltas contra preços altos

Já estão ocorrendo revoltas, como no Haiti, onde uma multidão irada conseguiu invadir a área de segurança do Palácio Presidencial, antes de ser repelida pelas forças de segurança da ONU. No Egito, a “crise do pão” abasteceu a oposição contra a ditadura de 27 anos de Hosni Mubarak, que corre o risco de cair. Em Bangladesh, um saco de arroz de dois quilos consome hoje quase a metade da renda diária de uma família pobre. Ao menos seis pessoas morreram em protestos em Moçambique. Os mais afetados por esta alta são os países mais pobres da África, Ásia e América Latina.

Várias causas podem ser apontadas para este fato. O problema é que ele não é motivado apenas por más colheitas que causam flutuações dos preços no mercado mundial. Até o Banco Mundial admite que ele é estrutural.

É claro que há um aumento no consumo, a medida que países como China e Índia experimentam um crescimento econômico e uma industrialização intensas, o que também aumenta a demanda por recursos energéticos como o petróleo (em alta por causa da instabilidade do Oriente Médio causada pela guerra do Iraque) e biocombustíveis. Estes últimos são apontados por muitas pessoas como a principal causa, pois há um estímulo enorme para aumentar a sua área de plantação, em detrimento dos alimentos. O FMI calcula que mais da metade do aumento da demanda do milho em todo o mundo nos últimos três anos teve como causa o crescimento da produção de álcool nos EUA.

Além disso, há o fator agravante da especulação, com fundos de investimentos e outros apostando na alta dos preços. Estima-se que só em 2015 os alimentos voltarão aos preços de 2000, isso se não houver outro impacto.

Resultado de uma política consciente

É um fato incontestável que tem havido uma redução das áreas cultiváveis ao redor do mundo. Isso não é surpresa, já que no sistema capitalista,  o primordial é o lucro desenfreado e não a satisfação das necessidades básicas da população. Há vinte anos, todas as agências do capitalismo mundial têm pregado a desregulamentação da economia, o fim dos subsídios aos produtos agrícolas e o ataque selvagem aos direitos básicos conquistados pela classe trabalhadora.

O resultado disso tem sido terrível para os pobres do mundo, enquanto se vê a emergência de um clube restrito de super-milionários que fizeram suas fortunas não graças a sua “esperteza” ou “clarividência” nos negócios, mas ajudados pelas políticas pró-ricos implementadas pelos governos de todo o mundo. Vemos agora a conseqüência delas.

Tudo isso deve afetar os programas de redução da pobreza de várias agências ao redor do mundo. Regiões inteiras que dependem de ajuda externa para alimentar sua população podem sofrer efeitos devastadores. A ONU estima que hoje, pelo menos 33 países onde mais da metade da renda das famílias é gasta em alimentos correm o risco de instabilidade social e institucional. Aqui no Brasil, nem as manipulações estatísticas costumeiras serão suficientes para o governo continuar a mentira de que está tirando milhares de famílias da miséria.

Falência do neoliberalismo

Tudo isso acontece num momento em que está ficando claro para todos que é o capitalismo internacional o causador da crescente miséria que afeta os pobres e trabalhadores de todo o mundo. Mesmo governos burgueses vêem isso e já estão se apressando em decretar a “falência do neoliberalismo” e procurando receitas da intervenção estatal na economia como um meio de evitar o desastre iminente.

A única saída verdadeira para a crise de alimentos é a classe trabalhadora de todos os países se apropriarem desta questão e imporem uma solução que acabe com as políticas orientadas para os ricos, e não esperem meias medidas de governos que são os causadores desta crise.

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