Dengue: mais um retrato do descaso

Os números de casos e mortes de dengue assustam a todos. No ano de 2008 foram registrados mais de 75.000 casos da doença. Só na cidade do Rio de Janeiro é de 454 novos casos por dia desde o início do ano. É inconcebível pensar em tanto incentivo de combate a dengue somente durante os jogos pan-americanos, e como tão rapidamente surgiu um dos maiores surtos de dengue da historia do Rio de Janeiro.

Há alguns anos, apesar da falta de uma política clara de prevenção da dengue, a prefeitura contava com os mata-mosquitos. A demissão desses trabalhadores, somados com a negligência do Sistema Único de Saúde (SUS) com relação à saúde preventiva, resultaram em uma crise catastrófica.

Recursos sumiram após o PAN

No entanto, nas proximidades dos jogos Pan-Americanos, essa preocupação esteve em pauta. Para a campanha Pan Sem Dengue, tivemos como primeira ação do plano a entrega de veículos e equipamentos para ações de prevenção contra a dengue. Foram repassados 48 microscópios bacteriológicos, um microscópio entomológico (que são usados para investigar se as larvas recolhidas são do mosquito Aedes aegypti) e 17 furgões tipo fumacê, num investimento de R$ 1,3 milhão. Acabados os jogos, a prevenção da dengue foi novamente negligenciada. E onde estão esses carros fumacê?

Hoje a população lota os hospitais e postos de saúde, mostrando quão deficiente é a estrutura do SUS, e como este não está preparado para suportar nem a epidemia de dengue, nem qualquer outra. Após muitas mortes nas filas dos hospitais, foram montados hospitais de campanha das forças armadas, o que ainda não supriu a falta de estrutura do sistema de saúde.

O numero de casos cresce cada dia mais. Não tendo como controlar o que a Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro se negava a chamar de epidemia por muito tempo, médicos de outros estados foram contratados com o salário de R$ 500 por plantão de 12 horas, e com todas as despesas pagas, enquanto os alunos dos cursos de saúde foram convocados para auxiliar nas coletas de sangue e executar procedimentos laboratoriais, sendo barganhados por horas extra-curriculares. Os profissionais de saúde que passaram em concurso, no entanto, não foram chamados. Ainda sim, o número de casos ainda não parou de crescer.

Falta de estrutura

Junto à tentativa fracassada do combate ao mosquito, iniciou-se uma campanha do hospital HemoRio para doação de sangue, necessário no tratamento da dengue hemorrágica. No entanto, novamente tratando da falta de estrutura, muitas bolsas de sangue e de preparados de plaqueta estão sendo desprezadas, pois o hospital não tem como armazená-los.

Essa crise poderia ter sido evitada? Claro que sim. Não depende apenas de uma ação de todos para evitar a proliferação do mosquito (como as campanhas repetem insistentemente), depende de promoção e educação em saúde. E depende, principalmente, da estrutura do Sistema de Saúde e de muito mais profissionais de saúde.

E a culpa é de quem? Epide­mias sempre têm a culpa do descaso do governo pela saúde publica. Não vamos mais agüentar isso! Nós decidimos a importância da saúde! Queremos um SUS com gestão real da classe trabalhadora! Para o Rio sem dengue, precisamos de um Rio com hospitais, com estrutura de atendimento e profissionais de saúde com melhores salários! Por uma saúde preventiva o ano todo! 

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