Resgatar o sindicalismo combativo

O sistema capitalista, ao longo dos anos, não perde sua principal característica, explorar a classe trabalhadora em prol dos lucros e acúmulo de riqueza de alguns. O que muda nesse sistema são as diferentes ferramentas para melhor lucrar e oprimir os trabalhadores. Porém, a classe trabalhadora também tem suas cartas na manga.

Primeira greve em 1858

A primeira greve de trabalhadores brasileiros aconteceu em 1858, organizada pelos tipógrafos, no Rio de Janeiro, contra as injustiças patronais e por aumento de salários. Já no século XX, em 1907, São Paulo foi paralisada por uma greve que reivindicava a jornada de oito horas diárias de trabalho. A luta começou com os trabalhadores da construção civil, da indústria metalúrgica e de alimentos e se expandiu para outras categorias.

A crise gerada pela Primeira Guerra Mundial e a queda exacerbada dos salários dos operários desencadeou uma onda de greves. Em 1917 ocorreu uma greve geral em São Paulo, que se iniciou em no setor têxtil e foi acompanhada por diversos outros setores, inclusive com a participação de trabalhadores do serviço público. Isso resultou em uma adesão de 50 mil trabalhadores.

O crescimento industrial urbano fez aumentar o número de fábricas com uma contratação de mão de obra. Trabalhando até 16 horas por dia, boa parte era formada por crianças e mulheres, que muitas vezes tinham seus braços mutilados nas máquinas, sem direito a assistência médica ou qualquer direito trabalhista.

Para combater esta realidade foram criadas associações sindicais e jornais operários, e muitas greves se desencadearam  por melhores condições de trabalho.

O movimento sindical passou por altos e baixos. Na era Vargas e na ditadura militar foi submetido a um modelo ditatorial, corporativista, no qual a estrutura sindical é definida pelo estado e não pelos trabalhadores. Esta estrutura coorporativa se mantêm na década de 80, momento em que ocorre uma nova explosão de lutas sindicais. O cenário de redemocratização que vivíamos neste momento propiciou muitas mobilizações e resultou no surgimento da CUT (Central Única dos Trabalhadores), em 83.

A CUT foi marcada nos primeiros momentos por um sindicalismo classista, de massas e de confronto. Porém, a manutenção da estrutura sindical atrelada ao Estado e burocrática, aliada a ausência de um programa classista e socialista consequente, fez com que a CUT não suportasse a ofensiva do sistema capitalista após a queda do muro de Berlim. Acabou caminhando para a burocratização, seguindo o giro a direta da direção petista. O advento do governo Lula acabou atrelando de vez a central à lógica governamental e suas políticas neoliberais.

Também na década de 90, o avanço neoliberal pariu a “Força Sindical”, que foi construída com ajuda patronal como contrapeso à CUT. Esta era marcada pelas negociações e conciliações sem confrontos diretos, o “sindicalismo de resultado”, que visa pequenas vitórias de uma única fábrica ou categoria e não unifica as bandeiras de luta da classe trabalhadora.

Outra característica do sindicalismo atual é a ausência de organização por local de trabalho democráticas, combativas e independentes.

Este novo período é marcado por um rebaixamento dos direitos dos trabalhadores, pela globalização, pelo surgimento exacerbado de novas tecnologias e pelas novas formas de organização da produção. Desta forma o que vimos foi a diminuição da quantidade de operários manuais e das grandes concentrações operárias, o aumento acentuado do subproletarização, aumento do trabalho feminino, desemprego estrutural, trabalho precarizado e superexploração dos trabalhadores.

Novas formas de exploração

Um exemplo claro são as empresas de telemarketing. Estas empregam, na sua grande maioria, mulheres e jovens, os quais são submetidos a um trabalho estressante e repetitivo seguido com apenas 15 minutos de intervalo. Existe também a utilização de tecnologias, que acentuam a superexploração.

As empresas também se utilizam da reivindicação dos traba­lhadores de possuírem uma maior participação nos lucros e nas decisões centrais da empresa, para buscar a adesão de fundo dos trabalhadores ao projeto do capital. A chamada produção flexível atrelou o trabalhador a empresa, jogando sobre suas costas a responsabilidade sobre os resultados da empresa de forma oportunista e ilusória.

Direitos sindicais sob ataque

Lula, que esteve presente nas grandes greves do ABC na década de 80, hoje é o exemplo vivo da ofensiva neoliberal e de como retirar direitos manipulando cinicamente bandeiras históricas dos trabalhadores. O atual presidente da República, ataca diretamente a classe trabalhadora, como acontece com a reforma Sindical, que tem como objetivo afastar a base, burocratizar e centralizar os sindicatos. Sem falar na ameaça de retirada do direito de greve para funcionários públicos. 

Com isto, o sindicalismo tradicional precisa se readequar a tais realidades. A classe trabalhadora está mais fragmentada, heterogênea, complexa. O trabalhador agora muitas vezes é multifuncional, ele não pertence a uma categoria específica para ser representado por um sindicato correspondente.

Temos grandes desafios hoje. É fundamental conquistarmos a consciência de classe entre as diferentes categorias exploradas. Os sindicatos devem sair da defensiva, abandonar o modelo verticalizado (com uma estrutura hierárquica burocrática em seu interior), caminhando para a emancipação dos trabalhadores do sistema de exploração que é o capitalismo.