Escola de quadros do CIO – Lutando pelo socialismo no mundo

A Escola de quadros internacional do Comitê por uma Inter­nacional Operária (organização internacional da qual o SR é a seção brasileira do CIO), ocorrida em agosto na Bélgica, promoveu uma ampla discussão sobre a conjuntura e as perspectivas internacionais. Contou com a participação de quase 300 militantes de 21 países num ambiente que deixava claro as grandes possibilidades de crescimento e o avançado amadurecimento do CIO.

A Escola tinha uma atmosfera sóbria, não só comemorando os avanços, mas também fazendo uma avaliação das dificuldades que várias seções viveram no último período.

A atual etapa do capitalismo abre certo espaço para manobras da burguesia. O crescimento econômico não se reflete na me­lhoria de vida dos trabalhadores. Porém, apesar da existência de lutas, existem ilusões em possíveis melhoras dentro do sistema. A ausência de alternativas e de direção levou a um refluxo das lutas em alguns países.

Governos de direita

A eleição de governos de direita não marcam necessariamente um giro à direita da classe traba­lhadora. Trata-se de um voto contraditório que é um reflexo da traição da social democracia e dos partidos comunistas, como também a ausência de partidos de massas dos trabalhadores.

Sarkozy na França, com uma política nacionalista, ganhou setores dos trabalhadores, mas dando enormes benefícios aos burgueses. Porém, no segundo turno das eleições parlamentares, sua votação não foi tão expressiva. Para dar uma idéia de sua base de apoio, Sarkozy contou com o voto de 68% das pessoas com mais de 60 anos. Sarkozy também foi forçado a se distanciar do presidente e governo anterior, do qual ele era ministro, e buscou mostrar-se como algo “novo”.

Também na Irlanda, o governo da direita do Fianna Fail conseguiu se reeleger. Na polarização eleitoral, os pequenos partidos e independentes perderam espaço, o que também refletiu a falta de lutas dos trabalhadores. Como parte disso, o Partido Socialista, nossa seção irlandesa, perdeu por pouco o mandato de deputado de Joe Higgins. Foi uma perda difícil, mas os companheiros estão confiantes de que, quando novas oportunidades surgirem, Joe Higgins ainda será lembrado como o implacável defensor da luta da classe trabalhadora, como já demonstrou nos últimos anos.

O crescimento econômico é muito frágil e instável, baseado em bolhas especulativas, o que não pode durar muito tempo como já demonstram as atuais turbulências.

Além dos crescentes problemas econômicos, a interminável guerra do Iraque só trás mais desgaste para os EUA. Hoje a maioria da população estadunidense se declara contrária a guer­ra. O Iraque é um país falido e não um Estado liberal democrático, como supostamente pretendiam os EUA. A maioria da população iraquiana passa extrema necessidade. Bush vai empur­rando esta difícil situação com a barriga, para que a bomba estoure no próximo presidente.

Capitalismo sem saída

Existe uma séria crise na relação entre os capitalistas do mundo. A competitividade e disputa por mercado e lucros geram pouca margem de concessões à classe trabalhadora. A incapacidade do capitalismo em resolver as demandas do povo é cada vez mais descarada. Nesse sistema as pessoas passam fome, mesmo com excedentes de comida sendo produzidos, algo que se agrava com a expansão dos agro-combustíveis, o que já provocou o aumento de preços do milho e arroz.

O aquecimento global e as catástrofes ambientais trazem à tona os limites do sistema. Manifestações espontâneas aconteceram na Grécia, culpando o Estado por ser omisso em relação a isto. Assim como o furacão Katrina, as inundações que ocorreram na Inglaterra indicam uma falta de infra-estrutura adequada, agravada pelas privatizações e uma incapacidade do sistema em prever e evitar catástrofes. Por outro lado, a destruição do meio ambiente é fruto da ganância do sistema capitalista, que tenta tirar lucro de tudo.

A economia mundial entra em uma fase difícil. Vemos sinais de uma enorme crise financeira, que não podemos prever para quando exatamente se dará. A atual turbulência pode ainda ser apenas tremores e não uma queda. O crescimento econômico age como uma almofada para diminuir o impacto das lutas. Quando vier a crise econômica, teremos explosões muito maiores de lutas.

Diante deste processo, muitas pessoas já tomam consciência que não existe base econômica para o reformismo de mercado. É preciso identificá-las e trazê-las para nossas fileiras. Um reflexo disto são as muitas lutas que aconteceram no último período, como greve dos servidores públicos na África do Sul, greves e ocupações nas universidades da Grécia, greve geral no Peru e na Nigéria.

Direções sindicais capitulando

Na maioria dos lugares onde o CIO tem trabalho vemos uma ofensiva das direções sindicais burocráticas contra as lutas dos trabalhadores. A burocratização e a adaptação ao capitalismo por parte da direção dos sindicatos é herança, ainda, da ofensiva ideológica do capitalismo na década de 90. Acordos com os patrões, empecilhos às lutas, são desafios que os trabalhadores se deparam quase sempre. Por não terem modelos alternativos de lutas vitoriosas, acabam não conseguindo enfrentar a direção de seus sindicatos.

Um exemplo foi a luta dos funcionários da Deutsche Tele­kom. Depois de semanas de greve a direção sindical assinou um acordo que cortava o salário de 50 mil funcionários em 6,5% e prolongava a jornada de traba­lho em 4 horas por semana.

Na Inglaterra, Thatcher fez muitos ataques aos direitos sindicais e sua legislação anti-sindical foi mantida pelo governo do “novo trabalhismo” de Blair. Nossos companheiros têm uma forte posição sindical com 23 companheiros em direções nacionais de sindicatos e dirigimos um sindicato de funcionários do estado, o PCS. Recentemente jogamos um papel muito importante na construção de uma vitoriosa conferência e uma rede de representantes sindicais de base.

Novos partidos

Assumimos hoje a tarefa dupla de construir o CIO e as nossas seções, como uma alternativa revolucionária de luta dos trabalhadores do mundo, mas também de impulsionarmos novas formações políticas de esquerda e de massas.

Participamos da construção de novos partidos de esquerda e é necessário que aprendamos com a experiência. Na Itália o Partido da Refundação Comunista foi a pioneira das novas formações de esquerda, servindo de exemplo para outras iniciativas. Mas o PRC também se tornou um exemplo de que aliança com setores na burguesia não é uma estratégia para os socialistas. Ao invés do PRC ganhar os moderados para esquerda, ele foi ga­nho para a direita.

Um momento decisivo vai ser o Congresso do PRC no começo do próximo ano. A direção quer dissolver o partido e fundar um partido “social democrata”. Estamos discutindo e atuando conjuntamente com o grupo ‘Contra Corrente’ que, por enquanto, atua no PRC. Juntos vamos trabalhar para construir uma Tese da oposição de esquerda do PRC, preparando para a possibilidade de romper no curto prazo.

O novo partido da Alemanha, chamado de ‘A Esquerda’ (Die Linke) e originado da fusão entre o WASG (o novo partido de esquerda que a nossa seção alemã ajudou construir) e o PDS (antigo partido stalinista), começa como o PRC terminou, com um programa rebaixado, que não atrai jovens e trabalhadores. A direção do WASG perdeu a oportunidade de construção de um partido de massas dos trabalhadores. Exemplo disto foi a manifestação contra o G8 em Rostock, onde este partido em nada atraiu os jovens presentes. Desde a fusa com o PDS entraram apenas 3 mil filiados, um número muito baixo, comparado com a dinâmica que tinha o WASG.

Exemplos da Alemanha, Holanda, Bélgica e Escócia

Nossos companheiros estão denunciando a fusão do WASG com o PDS e ganhando apoio para essa posição especialmente em Berlim, onde o PDS atua no governo junto com a social-democracia, retirando direitos dos trabalhadores. Neste processo a nossa companheira Lucy se tornou uma referência pública trotskista. Não estamos mais atuando neste novo partido em lugares onde o PDS está no governo, como em Berlim, mas acompanhamos as reuniões, que quase não existem mais, em regiões aonde ele ainda pode atrair trabalhadores.

Na Holanda, participamos do Partido Socialista, que se burocratizou muito no último período. O PS cresceu muito nas últimas eleições, hoje é o terceiro maior partido, passando os liberais e obteve 16%. Porém, mesmo esse crescimento sendo positivo, existe uma ilusão e um desvio reformista. O PS tem no máximo três mil militantes ativos dos 52 mil filiados e muitos desses têm cargos públicos. Um passo importante foi à formação do comitê pela democratização do PS, onde nós atuamos e que é formado por 800 militantes. Jogamos um papel importante neste comitê, colocando que a falta de democracia interna é ligada ao giro a direita do partido.

Na Bélgica a situação é complicada. Existe muita raiva com o governo, principalmente com a social democracia, mas também confrontos entre a direção dos sindicatos com a base. O novo partido de esquerda recém formado lá, o CAP (Comitê por uma Outra Política) ainda é bem incipiente e teve baixos resultados nas eleições. Porém, não podemos subestimar esta iniciativa, pois temos na história exemplos de que a maioria dos novos partidos não tiveram grandes votações logo na primeira eleição e o decisivo vai ser a capacidade do novo partido se inserir nas lutas.

Outro acerto importante de nossa organização foi na Escócia, onde nossos companheiros perceberam a necessidade de construir a nossa corrente, mesmo estando na direção de um partido mais amplo, o Partido Socialista Escocês (SSP). O setor de nossa organização que se dissolveu nessa nova formação entrou em profunda crise. A li­nha reformista e nacionalista do SSP, assim como a degeneração nas relações internas por parte da maioria da direção, esgotou por completo esse partido. O SSP acabou perdendo quase tudo o que havia construído e teve uma enorme queda nas eleições. Em compensação, nós mantivemos os melhores militantes construindo o novo partido “Solidariedade – Movimento Socialista Esco­cês” onde temos uma posição forte na direção.

Apesar das dificuldades e ilusões existentes no sistema, nos mostramos maduros para aprender com a experiência, avaliar corretamente o momento histórico e dar respostas rápidas em situações de luta. Um exemplo é a nossa organização na Grécia, que triplicou de tamanho nos últimos anos, aproveitando a revolta dos trabalhadores e as ondas de ocupações de universidades pelos jovens. Recentemente lançamos um jornal específico de estudantes.

Estamos iniciando um traba­lho em novos países, como no Líbano e na China. Na China utilizamos com muita eficiência a página da internet para tentar furar a enorme repressão dentro do país. Já traduzimos para o chinês mais de 50 textos e nossos materiais são reproduzidos em diferentes sites e blogs, mostrando uma aceitação às idéias trotskistas numa camada de jovens. Por três vezes, o Estado chinês tentou bloquear o acesso ao nosso site na China.

Mas, é na América Latina que existe uma maior expectativa e entusiasmo. Os companheiros relatam que são as atividades sobre América Latina na Europa, por exemplo, que mais atraem a atenção de jovens e trabalhadores. Isso se dá porque, diferente da maioria das outras regiões, neste continente existem lutas que não são apenas defensivas, para manter direitos, mas conquistas foram obtidas pela classe trabalhadora. Depois dos difíceis anos da década de 90, temos uma retomada de lutas, onde o socialismo, o trotskismo e as nacionalizações voltam para a ordem do dia.

Novas oportunidades na América Latina

Construímos novos grupos do CIO na Bolívia e na Venezuela. Neste país dirigimos uma regional de um sindicato da saúde e estamos consolidando nosso trabalho. Tivemos a presença de um companheiro venezuelano na Escola Internacional dando informes sobre a situação no país.

No mês de fevereiro do próximo ano iremos realizar em São Paulo uma Escola de quadros latino-americana do CIO, envolvendo militantes de vários países. Esta será uma grande oportunidade para a construção de nossa Internacional na região.

Muitas seções deram passos adiante. Precisamos estar atentos para antecipar os acontecimentos e não sermos pegos de surpresa. Este é um momento de preparação para as futuras crises, devemos criar vínculos com a parcela mais consciente dos trabalhadores, nos mostrando como referência de luta. Para isto precisamos formar novos quadros capazes de dialogar com a juventude e os trabalhadores e estejam prontos para dirigir explosões de lutas.