França: Chamado por um novo partido

No fim de junho, a LCR (Liga Comunista Revolucionária) francesa, cujo candidato obteve mais de 4% nas eleições presidenciais desse ano, anunciou que irá dar passos para construir um novo partido anticapitalista. A seguir transcrevemos trechos da entrevista que fizemos com Alex Rouillard, dirigente da organização Esquerda Revolucionária (Gauche Révo­lutionnaire), seção do CIO/CWI na França, que está em visita ao Brasil, sobre o que isso significa para a esquerda francesa.

 

Como surgiu a proposta de um novo partido na França?

AR – Desde a grande greve do setor público de 1995 existe um espaço para a construção de um novo partido de massas dos trabalhadores na França. Na época, outra organização de esquerda, a Luta Operária (Lutte Ouvriére), chegou a obter 5% dos votos nas eleições, mas fez nada além de apenas falar sobre a necessidade de um novo partido.

Depois de todos esses anos de luta, com o Partido Socialista (PS) mostrando mais uma vez que não é uma alternativa para os trabalhadores, assim como o PT no Brasil, e com os ataques do novo governo de direita de Sarkozy, a necessidade de tomar a iniciativa por um novo partido não podia mais ser ignorada.

 

Qual é a sua avaliação sobre o chamado feito pela LCR?

AR – Existe um lado muito progressivo quando a LCR chama os trabalhadores, a juventude, as minorias, etc, para construir um novo partido que é claramente contra o capitalismo e contra participar em governos com o PS.

Por outro lado ainda não está claro qual é a idéia deles sobre como esse partido vai funcionar e qual vai ser o programa. A defesa do novo partido também não está combinada com um chamado para uma campanha contra os ataques de Sarkozy ao direito de greve, às universidades públicas, etc.

A idéia é de iniciar reuniões nas cidades, locais de trabalho, universidades etc, apontando para um Congresso no ano que vem. Nós achamos que essas reuniões devem já ter uma periodicidade, discutir questões de programa e fazer a ponte com a luta de resistência contra os ataques de Sarkozy.

 

As perspectiva são totalmente favoráveis para o novo partido?

AR – O chamado ao novo partido vem num momento em que a classe trabalhadora, mesmo estando talvez mais revoltada ainda com a política neoliberal, está, porém, menos organizada do que antes, quando comparamos, por exemplo, com o período das greves de 1995 ou 2003. Os sindicatos estão fracos e as direções estão capitulando diante dos ataques de Sarkozy e a juventude está totalmente sem organizações.

 

A situação está assim apesar da vitória da luta contra o CPE (Contrato do primeiro emprego, proposta do governo que retira direitos trabalhista de jovens até 26 anos) em 2006?

 AR – Sim. A vitória contra o CPE foi uma vitória pontual contra o governo. Por falta de alternativa política, a luta não foi ampliada para outros setores para que os trabalhadores pudessem utilizar essa vitória para ir para a ofensiva.

Isso também é um preço pago pelo atraso em implementar a proposta de um novo partido. Se tivesse sido colocada antes, a construção de um novo partido poderia dar uma perspectiva de luta e uma alternativa política.

 

Qual será a posição da Gauche Révolutionnaire?

 AR – A raiva contra a política neoliberal faz com que a situação seja instável e pode mudar rapidamente. O novo partido pode se tornar um foco para a luta. Por isso, mesmo se o chamado ainda não está muito claro, pode representar um passo progressivo e nós estamos preparados para participar.

Nós vamos defender que o partido vá além de uma política meramente anticapitalista, ele precisa fazer a ponte com uma alternativa claramente socialista.

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