EUA/Síria: Ataque de Trump agrava conflito e tensões entre poderes

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de lançar ataques com mísseis contra a base aérea de Shayrat, na Síria, acelerou o longo conflito na Síria e alimentou perigosamente as tensões entre os EUA com a Rússia e o Irã, e também com a Coréia do Norte e a China. Também aumentará significativamente as rivalidades entre os regimes sunitas e xiitas no Oriente Médio.

Trump afirmou que o ataque com mísseis “Tomahawk” foi ordenado contra “o aeroporto da Síria de onde o ataque químico foi lançado”, referindo-se a Khan Sheikhun, onde mais de 70 pessoas morreram nesta semana.

A morte terrível de dezenas de civis, incluindo crianças, levou, com razão, a repulsa e condenação pela classe trabalhadora ao redor do mundo. No entanto, os EUA, apoiados por outras potências ocidentais, cinicamente se aproveitaram do terrível incidente para tentar fortalecer sua posição no conflito sírio. As potências ocidentais, que querem ver a remoção do presidente Bashar al-Assad, foram rápidas em culpar o regime sírio pelas mortes. O governo instável de Trump também está usando o ataque com mísseis como uma forma de tentar aumentar seu apoio doméstico e desviar a atenção para o fracasso em cumprir suas promessas eleitorais e fornecer quaisquer soluções para as vidas dos americanos.

Na ausência de uma investigação sobre as razões para as mortes causadas pelo ataque químico e sem procurar uma autorização da ONU, ou mesmo uma autorização do Congresso dos EUA, Trump ordenou os ataques de mísseis contra a Síria. Os ataques dos EUA foram bem recebidos pelos governos europeus, incluindo o Reino Unido, Alemanha e França, bem como a Turquia e Israel. A milícia de oposição islâmica na Síria, Ahrar al-Shamm também saudou o “ataque cirúrgico”.

Assad usará os ataques dos EUA para tentar reforçar suas credenciais anti-imperialistas. Mas os socialistas não dão apoio algum ao regime de Assad, que não demonstrou nenhuma preocupação com a vida de civis inocentes durante a longa e sangrenta guerra civil da Síria. Assad é um ditador brutal, preparado para usar medidas cruéis para permanecer no poder. No entanto, até agora, não há provas concretas para dizer que o regime de Assad foi responsável pela morte de civis a partir do ataque químico. Dado que Assad, com a ajuda crucial de Putin, está ganhando a guerra, parece contraproducente, do seu ponto de vista, lançar um ataque químico indiscriminado, plenamente consciente de que seria um pretexto para um possível ataque militar liderado pelos EUA.

Moscou insistiu que a força aérea síria atingiu um depósito de armas químicas produzidas por rebeldes que combatem forças governamentais. Günther Meyer, diretor do Centro de Pesquisa para o Mundo Árabe da Universidade Johannes Gutenberg em Mainz, vai mais longe: “Somente grupos armados de oposição poderiam se beneficiar de um ataque com armas químicas. Com suas costas contra a parede, eles não têm quase nenhuma chance de se opor ao regime militarmente. Como mostram as recentes declarações do Presidente Trump, tais ações tornam possível que os grupos anti-Assad recebam mais apoio”. (Citado pela emissora alemã, Deutsche Welle, 06/04/2017).

Contrarrevolução

Nesse momento, a única certeza sobre as terríveis cenas desta semana em Khan Sheikhun é que matou dezenas de civis, agregando às centenas de milhares de outras mortes relacionadas à guerra. Isto é, fundamentalmente, o resultado da contrarrevolução que se desenrolou na Síria após uma verdadeira revolta em massa contra o governo de Assad em 2011, inspirado por movimentos revolucionários na Tunísia e no Egito. Mas, na ausência de fortes organizações unificadas da classe trabalhadora e de uma liderança socialista, as forças sectárias e islâmicas foram capazes de entrar nesse vácuo, auxiliadas pelos países reacionários do Golfo, pela Turquia e pelas potências ocidentais, levando à degeneração da revolta das massas, que se transformou em uma guerra civil multifacetada.

Não está claro se os ataques aéreos dos EUA são uma demonstração de força e ação limitada ou se são o primeiro passo de uma intervenção militar mais ampla na Síria. A base aérea de Shayrat é um importante posto para as operações militares sírias e russas contra a oposição armada, em grande parte islâmica, e os ataques dos EUA são um golpe contra essa estrutura.

A Rússia condenou os ataques aéreos dos EUA como um “ato de agressão” e uma “violação do direito internacional” e suspendeu seu canal de comunicação de ações militares na Síria com Washington, usadas para evitar conflitos acidentais.

Estes desenvolvimentos deixam aberta a possibilidade de choques diretos entre as forças militares lideradas pelos EUA e da Rússia na Síria, com consequências de longo alcance na região e internacionalmente.

O Irã, que tem milícias lutando ao lado das tropas de Assad, também condenou fortemente as ações dos EUA. Além das perigosas complicações no terreno, as forças iranianas também estão no Iraque, nominalmente lutando ao lado das tropas do regime de Bagdá, apoiadas pelos EUA contra o Estado Islâmico.

Trump apareceu para ordenar os ataques aéreos enquanto conversava com o presidente chinês, Xi Jinping, em visita aos EUA, que só servirá para aumentar as tensões com o regime de Pequim. No início desta semana, Trump indicou que estava preparado para tomar uma ação militar “unilateral” contra a Coréia do Norte e também fez comentários ameaçadores sobre a “construção de ilhas” no mar da China Meridional. De acordo com o Financial Times (07/04/2017), “Liu Binjie, que faz parte do comitê permanente que supervisiona o parlamento chinês, advertiu contra a ação unilateral contra a Coreia do Norte: “Todo o Estado está militarizado”, disse ele. Se você os ameaça com força, isso pode se voltar contra você. ‘”

Como advertiu o CIT, a posse do governo de Trump marca uma mudança para relações mundiais mais perigosas e imprevisíveis. Nesta situação, a classe trabalhadora e a juventude do Oriente Médio, dos EUA e de todo o mundo precisam de um movimento anti-guerra de massas e do desenvolvimento de poderosos partidos de trabalhadores, com políticas socialistas ousadas, para combater a guerra, o terror e a pobreza gerada pelo capitalismo e o imperialismo.

  • Não os ataques de Trump contra a Síria – contra a interferência de todas as potências externas na região
  • Pelo fim da guerra e o terror na Síria, no Iraque e no Oriente Médio
  • Não ao racismo e uso de imigrantes e refugiados como bodes expiatórios
  • Pela unidade dos trabalhadores e pelo socialismo

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