A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994

Nosso trigésimo ano – luta, solidariedade e Socialismo

Em setembro a campanha de Alan Brown na pré-eleição de Dennistoun foi um triunfo menor. O SML saiu de lugar algum para ter 22% numa campanha de 3 semanas. Até então a maioria da imprensa tiva descrito o SML como uma organização de “subclasses”, restrita a planos periféricos nos subúrbios das maiores aglomerações urbanas. Era um assento onde o Trabalhismo e o SNP esperavam tirar o SML da disputa. De fato suas previsões era de um percentual insignificante para o SML. Mas nós tivemos 718 votos, vindo em 3º, mais uma vez deixando os Conservadores na 4ª posição. Michael Martin, MP pelo distrito de Springburn, na qual Dennistoun estava situado, gabava-se de que seu distrito era um: “zona livre do Militant.” Nós comentamos: “Com resultados como esse estamos batendo às portas da vitória em cada assento em Glasgow.” (1)

Espirrar o VAT

A questão chave que caracterizou esta campanha e outras foi a oposição ao VAT [imposto de valor adicional, semelhante ao IVA] dos combustíveis que acendeu uma raiva particular de 700 mil pensionistas que corriam o risco de morrer de frio. 249 pessoas morreram de hipotermia em 1991, 205 delas pensionistas. Numa carta a um MP Trabalhista, um pensionista disse como, se ele estivesse com muito frio, poderia “apenas fazer uma garrafa de água quente e se retirar para a cama”, porque “Preciso trabalhar dentro dos limites do que posso me permitir para pagar minhas contas de combustível.” (2)

Tal era a oposição que foi levantada nas fileiras do Militant a questão se seria possível realizar a uma campanha pelo não-pagamento do VAT nas linhas da campanha poll tax. Reconhecendo o perigo, as indústrias de gás e eletricidade fizeram todo tipo de concessões, incluindo absorver temporariamente o custo do VAT na tentativa de impedir tal movimento. A ameaça da campanha de não-pagamento, dado o registro do Militant Labour no poll tax, privatização da água na Escócia, etc, era, junto com outros fatores, uma importante questão que fez os chefes da indústria e gás temporariamente bater em retirada. O Militant esperava que se o Chanceler Conservador Clarke fosse adiante com o segundo aumento do VAT para 17.5% em 1994 a questão do não-pagamento voltasse à agenda do dia. Mas os Conservadores foram derrotados sobre o VAT.

No final de outubro o SML também teve um bom resultado na pré-eleição de Greenock, 284 votos, 31% do resultado. David Landells, o candidato do SML, ficou em 2º lugar, atrás do Trabalhismo com 404 votos. A questão da privatização da água assim como a oposição ao VAT de combustível foi um fator importante neste resultado.

O outro lado do quadro no final de 1993 foi a vitimização de sindicalistas e trabalhadores na indústria, realçada pela demissão de Amanda Lane e Steve Goldfinch, membros do ramo da CPSA, Bedminster, na área de Bristol.Havia um enorme simpatia por estes trabalhadores demitidos dado o fato que os servidores civis do Centro de Empregos de Bedminster que agiram em solidariedade com os gráficos de Arrowsmith em Bristol que sofreram locaute durante 3 meses nesta época. Steve Goldfinch e Amanda Lane foram demitidos por tomar ação em defesa dos gráficos. Isso não foi um evento isolado mas parte de uma ampla estratégia para minar os sindicatos fazendo os trabalhadores que eram representantes sindicais se sentissem vulneráveis.A CPSA a nível nacional, embora sob controle da direita, foi forçado a dar apoio oficial ao chamado de2dias de greve dos servidores civis em Bristol. Isto por sua vez enviou ondas de choque para a gerência e serviu como um alerta de que os sindicatos não estavam preparados para ver trabalhadores serem vitimizados. Não obstante, como os eventos subseqüentes demonstraram, uma ação decisiva não veio da direção do sindicato. Se os líderes sindicais estivessem preparados para dar uma direção então não haveria nenhuma questão de demissões como as de Amanda Lane e Steve Goldfinch. Isso era uma lição que os trabalhadores estavam absorvendo à medida que 1993 terminava.

Em memória: Janice Glennon

O ano, contudo, trouxe a perda de valorosos e queridos camaradas. Janice Glennon morreu súbita e tragicamente na sexta, 17 de setembro, com 30 anos. Janice jogou um papel chave no Comitê Nacional dos LPYS, à sua frente na região oriental.Ela organizou a manifestação anti-Conservadora dos LPYS em 1987, na qual 8 mil pessoas participaram. Ela também se tornou vice-presidente dos LPYS e levou 100 pessoas para o acampamento da União Internacional da Juventude Socialista na Espanha. Na Grã-Bretanha ela também falou ao lado de Peter Taaffe no congresso Trabalhista de 1988 com uma sacola de jornais sobre sua cabeça na tentativa de evitar a caça-às-bruxas. Quando foi expulsa uma das principais acusações contra ela foi que organizou um bazar para o funda de luta do Militant! O dia anterior a sua morte, ela estava militando contra a violência doméstica em sua área.

Houve enorme simpatia por seu filho Sean e companheiro Steve Glennon, que jogou um importante papel no Militant Labour. Mais de 200 pessoas compareceram a seu funeral em 14 de outubro; o funeral foi também uma celebração de sua vida, que foi dedicada à causa do movimento trabalhista, da classe trabalhadora e do socialismo. Sua morte foi sentida tão agudamente porque ela era tão jovem e sempre expressou a face mais otimista do Militant e do Militant Labour. Sua memória, os membros do Militant Labour insistiram, duraria, acima de tudo construindo uma poderosa organização para o socialismo na Grã-Bretanha.

Imperturbável fé no futuro Socialista

O Militant permaneceu firme em seu comprometimento com o socialismo e o marxismo nas barbas da enorme ofensiva ideológica conduzida pela burguesia no começo dos anos 90. Muitos da velha geração, desencorajados pelas dificuldades e pelo que parecia ser o adiamento da mudança socialista, sucumbiram ao pessimismo ou decaíram na inatividade, esperando por “melhores dias”. Tais sentimentos não são incomuns quando a história completa um ciclo e numa rota complicada ou a luta de classes parece estar parada. Não apenas a revolução em si mas a luta pela revolução é uma poderosa devoradora de energia humana, individuais e coletivas. Como Leon Trotsky comentou, “os nervos se retiram. Consciências são despedaçadas e o caráter se esgotado. Os eventos se desenvolvem rápido demais para que o fluxo de forças frescas substituam as perdidas.” (3) Enquanto cuidava e encorajava as velhas camadas que fizeram um excelente trabalho pela causa do marxismo e do Militant no passado,a maior tarefa que a direção do Militant Labour fixou para si mesma era ganhar, enrijecer e educar as novas camadas de jovens e trabalhadores que podiam se tornar o fermento para a ascensão de um novo e poderoso movimento marxista e operário.

De 1989 em diante, primeiro o Militant e depois Militant Labour argumentou que apesar do novo triunfalismo o capitalismo seria incapaz de resolver os problemas da classe trabalhadora. Isso era sublinhado pela recessão mundial de 1990-92. Não obstante, isso não parecia coincidir com a ressurreição de movimentos de massa dos trabalhadores, especialmente um com um caráter socialista.Pelo contrário,mesmo quando houve movimentos para derrubada de ditaduras, como na África, isso levou invariavelmente à subida do poder de regimes pró-burgueses, tal como na Zâmbia. No mundo colonial e semi-colonial um programa sem precedentes de privatização ocorreu. Foi uma tentativa de imitar a mais vulgar e catastrófica face do novo rumo do capitalismo nos países avançados nos anos 80. Socialismo, de acordo com toda uma gama de comentaristas, da direita à chamada ‘esquerda’, era uma distante memória. O Militant Labour dizia o contrário. Muito antes de Marx e Engels entrarem em cena a classe trabalhadora criou suas próprias organizações na forma de sindicatos e até incipientes ‘partidos’, os Cartistas. O socialismo também se desenvolveu espontaneamente nas fileiras da classe trabalhadora na Alemanha, Grã-Bretanha e acima de tudo a França. O grande mérito histórico de Marx e Engels foi generalizar a experiência da classe trabalhadora para desenvolver as idéias do socialismo científico e um programa claro relacionado à experiência concreta dos trabalhadores em cada estágio. Uma virada do pêndulo de volta à luta de classes e ao socialismo era inevitável.

Viva Marcos!

1994 esta para ver a justificação deste prognóstico na Europa e numa escala mundial. O ano começou com a revolta dos Zapatistas no México.Foi o primeiro movimento desde o colapso do stalinismo que era claramente socialista, Seus porta-vozes declararam que eles queriam uma sociedade “como Cuba só que melhor.” (4) Isso sem dúvida representava uma clara demanda por uma economia planificada mas talvez um modo confuso de oposição ao regime burocrático. Além disso, ela ocorreu no menos desenvolvido estado do México, num movimento em sua maioria baseado nos povos indígenas do interior que eram despojados pelos ricos latifundiários (caciques)de sua terra, em sua maioria trabalhadas de forma comunal. O México era um barril de pólvora, que a revolta de Chiapas acendeu ao longo de 1994. Mesmo no estado de Morelos, a terra natal de Zapata, a brutal atividade policial provocou várias revoltas semi-espontâneas. Inicialmente a classe trabalhadora foi inspirada e se moveu para a ação pelo exemplo dos Zapatistas. Antes do ano terminar ocorreram eleições que foram ganhas pelo PRI (Partido Revolucionário Institucional). Mas a situação subjacente permaneceu potencialmente explosiva.

Skrewdriver

Os eventos em 1994 sublinharam o caráter do Militant Labour como uma combativa organização envolvida em todas as maiores batalhas da classe trabalhadora, o que foi ilustrado na contínua luta contra o racismo e o fascismo na Grã-Bretanha. Logo que o ano começou os anti-fascistas liderados pela YRE mobilizaram 400 pessoas para marchar contra uma apresentação musical da “Skrewdriver” (uma banda fascista) em Dagenham, leste de Londres. Quando os fascistas chegaram, 150 anti-fascistas alcançaram o local, com um helicóptero da polícia circulando em cima e 20 vans da tropa de choque em prontidão. Os anti-fascistas marcharam para o campo ‘Sangue e Honra’ mas quando se aproximaram do lugar os fascistas fugiram do pub e se dispersaram. Os anti-fascistas chegaram para um comício vitorioso fora do pub deserto. 20 pessoas do local assinaram para se unir à YRE. Um anti-fascista comentou:

A polícia obviamente esperava para ocasionalmente atacar. Um falou sem pensar: “Estamos indo ter uma rusga com um monte de tipos de esquerda”; mas nós formamos linhas de organizadores e eles voltaram atrás. (5)

Janela de oportunidades

Os organizadores informaram a polícia que eles conseguiram seus objetivos e se as estações de metrô fossem abertas poderiam se dispersar. Cercados pela tropa de choque e a milhas de qualquer lugar, os anti-racistas decidiram embarcar num trem sob a supervisão da polícia. Todo mundo estava com a moral em alta, celebrando o impedimento do festival Nazi. Mas a polícia efetivamente seqüestrou o trem e levou os anti-fascistas através da plataforma lotada da estação do metrô de leste de Londres por todo o caminho até o oeste sem parar. Eles pararam apenas na Corte de Earl. Um correspondente reportou:

Quando paramos nas estações dizíamos ao povo pelas janelas de ventilação que éramos anti-Nazis que tínhamos dispersado uma gangue de 200 fascistas, Uma mulher bateu na janela e pediu-me por um Militant. Eu vendi por 50p através da janela – foi minha janela de oportunidade. (6)

A maioria dos ‘passageiros’ estavam alegres até o trem parar em Victoria. Uma vez mais a polícia recusou permitir aos manifestantes sair do trem. Mas quando eles emergiram na Corte de Earl, de repente, sem provocação ou alerta, a polícia atacou gritando abusos e dando porretada em todos que podiam. Eles bateram em Lois Austin na cabeça, que tentava proteger um jovem manifestante do ataque da polícia.Esta tentativa de intimidar os membros da YRE falhou completamente e é agora sujeito de uma ação legal contra a polícia.

Itália

A oposição ao racismo e fascismo foi também estimulada pela vitória da direita nas eleições gerais da Itália. O Militant admitiu que a curto prazo os neo-Nazis poderia ganhar:”Na Itália as eleições gerais deste mês podem ver a Aliança Nacional (a antiga MSI fascista) pode ganhar apoio significativo no sul.” (7) Parte da explicação para isso foi que Fini, o líder da MSI se distanciou a si e o seu partido de seu passado fascista. Foi o único meio para que a Aliança Nacional pudesse atrair eleitores da classe média que no passado apoiaram os Cristãos Democratas. Esta previsão foi confirmada nas eleições de 27 de março. Liderada pela Forza Italia uma coalizão amorfa de direita foi formada, que incluía a Liga do Norte e a neo-fascista Aliança Nacional. A principal razão para a vitória da direita foi a completa falência dos partidos de esquerda,especialmente o PDS, antigo Partido Comunista de elaborar uma alternativa viável.Antes das eleições ocorreram explosivas ocupações de escolas, demonstrações massivas de 500mil em Roma,uma greve ferroviária e até jornalistas saindo à greve durante as eleições. No sul houve enormes manifestações contra a Máfia. O “Bloco Progressista”, dominado pelo PDS era pela continuação das políticas do governo de saída que era liderado por Ciampi, (ex-chefe do Banco da Itália) e sua promessa de privatização. Berlusconi nunca hesitou de apelar para a demagogia grosseira prometendo pelo menos um milhão de empregos e cortes nos impostos. De um ponto de vista capitalista este programa era irresponsável. Daí a decisão da Confindustria, a organização patronal na Itália, de apoiar o Bloco Progressista contra Berlusconi. Não era possível, como ele logo aprenderia, a aumentar os empregos assim como um corte nos impostos. Pelo contrário, a classe dominante da Itália estava exigindo cortes massivos nos gastos estatais. Mas a chegada ao poder do governo Berlusconi inevitavelmente levantaria um movimento de oposição entre a classe trabalhadora. De novo este prognóstico seria confirmado antes que o ano terminasse.

Congresso do Militant Labour

Enquanto isso o Militant Labour realizou seu 1º congresso anual como organização independente. Foi um dos mais vitoriosos congressos na história da organização. O comitê de greve da planta da Timex em Dundee saudou o congresso:

Enviamos nossas calorosas saudações ao seu congresso. Nossa luta de 9 meses contra a multinacional Timex foi um grande evento… Houve vezes quando estávamos em baixa, que seus camaradas levantaram nossa moral com seu entusiasmo e idéias, não apenas sobre a greve da Timex mas sobre o socialismo. Desejamos a vocês todo o sucesso no futuro. (8)

A mais notável característica do congresso foi a participação daqueles pesadamente envolvidos nas maiores lutas dos trabalhadores britânicos. Amanda Lane, demitida pelo apoio de solidariedade que deu aos trabalhadores de Arrowsmith, detalhou a luta por sua readmissão. O ponto alto da conferência, foi, contudo, sessão sobre o trabalho de juventude e especialmente a YRE. E o congresso foi o lançamento da candidatura de 32 membros do Militant Labour por toda Grã-Bretanha nas próximas eleições locais. Esta campanha, apesar da precariedade dos recursos, foi extremamente vitoriosa.Conseguimos 18.300 votos. Como uma nova força, o Militant Labour não esperava fazer significativos ganhos eleitorais. Não obstante, em muitas áreas, a votação foi impressionante. Nós comentamos:

Adversários zombavam de nós: Não conseguiríamos eleitores suficientes para preencher uma cabine telefônica. Então, seriam cabines bastante grandes, porque em cada área recebemos votações respeitáveis. Não só, pois recrutamos para nossos núcleos, vendemos milhares de jornais extras e mais importante espalhamos nossa influência nas comunidades. Nestas eleições o Militant Labour ficou em 2º em 12 lugares, batendo Conservadores, Liberais e o Scottish National Party. Em 20 lugares recebemos 10-34% dos votos, espalhados por todo o país, de Inverness a Swansea – uma média de 17%. (9)

Na Escócia, o SML recebeu uma média de 23% dos votos nas áreas que disputamos, enquanto os Conservadores receberam meros 7%. Infelizmente, 2 destacados vereadores do SML, Willie Griffin e Christine McVicar perderam seus mandatos, mas como o Glasgow Herald reconheceu:

Um aspecto animador das perdas de quinta de uma perspectiva do Militant foi que o partido manteve sua média de votos que assegurou os assentos em 1º lugar. (10)

De fato, mais pessoas votaram no SML nestas áreas que nas estonteantes vitórias na pré-eleição em 1992. Isso demonstrou que o SML construiu num tempo muito curto uma sólida base eleitoral. Na Inglaterra e Gales, contudo, com nenhuma experiência eleitoral deste caráter antes, houve alguns resultados muito excepcionais. Em Sheffield, Ken Douglas, pelo Militant Labour, recebeu tremendos 682 votos, enquanto em Waltham Forest, em Londres, Louise Thompson, saiu do nada para receber 423 votos, 2 votos atrás dos Liberais.Mais de 400 cópias do Militant foram vendidos e 5 diferentes panfletos, incluindo 1 em Urdu, foram distribuídos pelo distrito. Em Swansea, 300a mais votaram pelo Militant Labour, enquanto 21% votaram em nós em Lambeth. Apoiadores do Militant foram eleitos não apenas sob nossa bandeira mas também como candidatos Trabalhistas. Por exemplo, em Hillingdon, Wally Kennedy, expulso do Trabalhismo a nível nacional, foi eleito vereador por este partido contra o candidato imposto. Ele aumentou seus votos de 1.188 a 1.223.

Contudo, um dos mais satisfatórios aspectos das eleições locais foi a derrota dos fascistas em Tower Hamlets e a derrota de seu porta-bandeira solitério, Derek Beackon. A morte súbita do líder Trabalhista John Smith, caiu como um choque e imediatamente abriu uma nova disputa de direção. Na efusão emocional que receberam a morte de John Smith, a maioria dos comentaristas ignorou o fato que ele continuou de onde Kinnock parou, tentando mostrar aos grandes negócios que o Trabalhismo era melhor administrador do capitalismo do que os Conservadores. Sua estratégia era esperar dos Conservadores que estes acabassem se destruindo, o que estreitaria dramaticamente a diferença entre os 2 partidos, em tal grau que muitas pessoas não poderiam ver nenhuma diferença real. A razão porque ele tocou um certo nota entre os trabalhadores era porque, diferente de Kinnock, ele não parecia estar em guerra constante com seu próprio partido.Não obstante, ele foi parte do time de Kinnock que desejava abandonar o socialismo e cortar os laços com os sindicatos. O congresso do Partido Trabalhista, antes de sua morte, o viu se unindo a Prescott para dramaticamente e significativamente, minar a influência sindical do congresso pelo abandono do “voto em bloco”. A disputa por um novo líder foi temporariamente deixada em aberto, pois as eleições européias se aproximavam.

Euro-Eleições

O Militant Labour e o Scottish Militant Labour decidiram nomear Tommy Sheridan como candidato para as eleições européias em Glasgow. Numa campanha organizada muito rapidamente, com apenas 2 semanas de propaganda, ele assegurou magníficos 12.113 votos, 7.6% do total. Ele bateu os Conservadores, Liberal Democratas, Verdes, Partido Socialista, Partido da Lei Natural e o Partido Comunista da Grã-Bretanha. Apenas o Trabalhismo, com 83.000 e o SNP com 40.000, obtiveram mais votos.

Portento em uma das maiores cidades da Grã-Bretanha, o partido governante da classe dominante britânica recebeu menos apoio que o candidato de uma organização abertamente socialista e marxista. Não admira que o Daily Record possa ter dito:

Para completar a noite de miséria para os Conservadores, o Scottish Militant Tommy Sheridan teve 12 mil votos em Glasgow, forçando os Conservadores a um humilhante 4° lugar. (11)

E este tremendo resultado foi obtido apesar do virtual bloqueio da mídia à campanha de Tommy Sheridan.Por exemplo,o Glasgow Evening News publicou um perfil de meia página do assento europeu de Glasgow, ao lado de fotos dos candidatos Trabalhistas, SNP, Liberal e Conservador. Mas nenhuma palavra sobre Tommy Sheridan ou o Scottish Militant Labour enquanto o mesmo jornal deu grande cobertura durante a campanha ao Partido da Lei Natural e ao Partido Comunista Internacional.Uma indicação do efeito da campanha do SML sobre o Trabalhismo e o SNP é mostrado pelos seus tristes resultados em Glasgow, comparados ao resto da Escócia. Enquanto o voto nacionalista aumentou pela Escócia, seu apoio em Glasgow despencou para 8.000. Mais uma vez, os críticos se confundiram, especialmente dos que dogmaticamente diziam que o SML não poderia nem barrar a virada rumo ao nacionalismo ou amassar os “leais e sólidos votos Trabalhistas”. Esta conquista de Tommy Sheridan, SML e o Militant Labour é ainda maior, dado o fato que não fizemos nenhuma campanha de porta em porta devido ao tempo. Foram reuniões em ruas e fábricas, assim como panfletos, que levou a nossa mensagem à classe trabalhadora de Glasgow.

A euro-campanha eleitoral de Glasgow coincidiu com o lançamento do livro de Tommy Sheridan, Time to Rage, co-autorado com Joan McAlpine. Foi uma descrição muito gráfica da luta contra o poll tax, especialmente na Escócia. Uma introdução de John Pilger sublinhou o impacto que o autor, o Militant e o Scottish Militant Labour tiveram sobre o movimento trabalhista:

Estou honrado em escrever estas palavras no inicio do livro de Tommy. Ele exemplifica o tipo de oposição política que o Partido Trabalhista abandonou e ele é uma fonte de inspiração para os jovens, e o resto de nós, que algumas vezes somos consumidos por um senso de impotência política. Isso não significa elevar uma única personalidade; Tommy Sheridan fala por muitos como ele, que combateram a crueldade do sistema britânica de vários modos, tais como legiões de trabalhadores, incluindo os velhos e sozinhos, os inválidos e desempregados, que reuniram sua coragem e se recusaram a pagar o poll tax. (12)

Ferroviários

E a mensagem de luta de classes sem compromissos, da inevitabilidade dos trabalhadores irem para a ação, foi logo demonstrada em junho como um sinal para os sinalizadores começarem uma luta titânica com a British Rail [Cia. Ferroviária]. Houve enormes aumentos na carga de trabalho dos sinalizadores, enquanto seus efetivos foram reduzidos à metade desde 1980. Ao mesmo tempo, estavam furiosos porque Bob Horton, o presidente da Railtrack, recebia £120.000 por ano por uma semana de 3 dias, enquanto o salário básico semanal de um sinalizador era de £183. Num comparecimento de 80%, os trabalhadores votaram por 4 a 1 pela ação grevista. Estava claro desde o inicio da greve que a mão do governo estava por trás da intransigência da gerência da Ferrovia .

Como Reagan no inicio dos anos 80 com os controladores de tráfego aéreo, os Conservadores procuravam fazer do exemplo dos trabalhadores da Ferrovia um meio de intimidar os trabalhadores do setor público em geral.A disputa dos sinalizadores iria ter um significado considerável para todo o movimento trabalhista.A situação começou a mudar na Grã-Bretanha comparado aos dias de Thatcher, que resultou num colossal erro de cálculo de Major e da gerência da Ferrovia. Apesar do bombardeio da mídia alegando a cada estágio que a greve tinha sido furada, ela de fato era sólida. Diferente de recentes disputas sindicais, a imprensa e TV dificilmente acharam qualquer passageiros contra ela. O governo estocou tal oposição que mesmo aqueles afetados pela greve pareciam automaticamente simpatizar com os trabalhadores da Ferrovia. Além disso, a tentativa de descarregar a responsabilidade da deterioração das condições de segurança sobre os trabalhadores ricocheteou completamente na gerência A esmagadora maioria dos passageiros a culpavam e aceitavam os argumentos dos trabalhadores, que a gerência estava arriscando as vidas e segurança dos passageiros. Isso por sua vez resultou num boicote dos trens em dias de greve, mesmo onde estavam disponíveis. A própria gerência da Ferrovia afirmou que apenas 7% dos trens estavam operando..

Apesar do sucesso relativo da luta, o Militant Labour,cujos membros se jogaram totalmente em apoio aos ferroviários, tanto politicamente quanto materialmente, chamou por uma ação decisiva dos ferroviários. A pretensão de Frank Dobson, representante Trabalhista de transportes, de que a disputa não era “política” não colou. Os ferroviários instintivamente entenderam que era uma disputa política, com os Conservadores querendo esmagar o seu sindicato e limpar o caminho para as companhias privadas crescerem. O Militant Labour, especialmente seus apoiadores e membros na indústria, diziam que o sindicato “deve preparar uma ação de greve total dos sinalizadores se a Ferrovia continuasse a se recusar a ceder.”(13) Também chamou por uma reunião conjunta com o ASLEF, sindicato de condutores de trem, para discutir a questão crucial da segurança da ferrovia e advogar que os condutores fossem instruídos a não trabalhar durante a greve, pela saúde e segurança: “Um dia de greve de todos os ferroviários deve ser preparada.”

O Militant acreditava que a correlação de forças entre as classes era decisivamente contra o governo e a favor dos ferroviários. Provavelmente não levaria uma derrota, mas no pior um “empate”. Contudo, a possibilidade de uma completa vitória não estava descartada. Depois de uma épica luta de 16 semanas, a mais longa disputa na história da indústria ferroviária, os trabalhadores foram vitoriosos. A British Rail, apoiada pelo governo, tentou apresentar o acordo como uma vitória para os patrões.De fato a oferta total foi no valor de £10.8 milhões – mais de 2 vezes que os originais 5.7% oferecidos pela Ferrovia em junho. O Militant comentou:

Se o governo Conservador não tivesse intervido para parar a Ferrovia, fazendo 5.7% de oferta para reestruturação em junho então seria improvável ter uma greve. A ala direita da executiva nacional sindical e os negociadores full-time provavelmente aceitariam tal acordo… Mas agora eles fizeram um acordo de 2 vezes maior, que viu aumentos substanciais para todas as classes dos sinalizadores. (14)

A extensão que a classe dominante estava preparada par ir foi mostrada pelo custo da greve ferroviária, £200 milhões para a indústria ferroviária e um mínimo de £500 milhões para os capitalistas como um todo. Nós comentamos:

No total, foi uma vitória e será percebida como tal por amplas camadas da classe trabalhadora,que tirará confiança ao ver a ação grevista vitoriosa.Será vista como um ponto de inflexão que inclina as coisas a favor dos trabalhadores na indústria ferroviária e em geral… A idéia que a militância não compensa, que a direita no movimento trabalhista fomentou, foi finalmente desmentida. Esta greve mostrou acima de tudo que a solidariedade entre os trabalhadores e determinação pode forçar os patrões a um retirada. (15)

A esquerda na executiva nacional do RMT enviou-nos uma carta parabenizando o jornal e os membros do Militant Labour pelo apoio que deram aos sinalizadores durante a disputa. Todas as indicações era de que o resultado mais provável de qualquer eleição geral seria uma vitória do Trabalhismo. Contudo, dado o contínuo giro a direita da direção Trabalhista, isto não estava garantido. A disputa pela liderança do partido, mais um “idílio” do que uma verdadeira luta de idéias, se desenvolveu imediatamente após as Euro-eleições. Havia pouco a escolher entre Blair, Prescott e Beckett. A maioria da esquerda votou por Prescott ou Beckett, em grande parte porque não eram Blair, o candidato da imprensa capitalista e dos parlamentares Trabalhistas de direita. A vitória de Blair significou uma maior guinada à direita, o que por sua vez levou a um maior apoio ao Militant Labour e ao Scottish Militant Labour entre eleitores Trabalhistas. O Glasgow Herald declarou em julho de 1994:

O Scottish Militant Labour mais uma vez demonstrou seu potencial em áreas carentes, alcançando 519 votos e relegando o SNP ao 3º lugar. (16)

O SML Harry Brown ganhou 28% dos votos depois de 10 dias de campanha no distrito de Sighthill/Possil de Glasgow, numa área onde o Scottish Militant Labour não tinha um núcleo seis semanas antes. O Trabalhismo ganhou o assento com 997 votos, mas o sucesso do SML, não apenas eleitoralmente mas também com a adição de 30 novos pessoas se unindo a nossas fileiras, foi a característica mais decisiva desta pré-eleição.

Tour nos EUA

Apropriadamente,nos últimos meses dos primeiros 30anos do Militant, relatos internacionais de primeira mão foram uma característica do jornal. Fui convidado pelos correligionários do Militant nos EUA e Canadá, apoiadores do Labor Militant, a fazer um tour em meados de 1994. Falei em reuniões e discuti com trabalhadores em Nova Iorque, Filadélfia, Bóston, Chicago, São Francisco, Oakland e Seattle nos EUA; assim como Toronto no leste e Vancouver no oeste do Canadá.Uma indicação da radicalização que se aproximava nos EUA são os desenvolvimentos dentro das prisões. Mais de um milhão de pessoas estão presas nas cadeias dos EUA hoje. Um destes era “Jack” condenado por assassinato envolvendo uma disputa de drogas e agora no Corredor da Morte numa prisão americana. Entrevistei este jovem que era típico de uma camada de pobres e desescolarizados americanos presos na espiral de violência, drogas, desemprego em massa e um caminho levando a nada exceto à rejeição da pobreza ou da cadeia. Em 1ª mão vi as horríveis condições dos prisioneiros do Corredor da Morte. A mais notável característica da discussão com Jack era que

apesar dos seus arredores este jovem bem constituído mostra uma sede de saber e um intelecto aguçado sobre as lutas da classe trabalhadora que me surpreendeu.

Ele seguiu a campanha da Juventude contra o Racismo na Europa e convenceu outros prisioneiros da necessidade de solidariedade racial no combate ao racismo e fascismo. No passado uma camada de jovens negros passou na prisão pelas “universidades da revolução”.

Algo similar tem acontecido nas prisões dos EUA. Mas aqui a prisão tem criado socialistas e revolucionários a partir de ‘criminosos’, que normalmente não estão abertos às idéias socialistas. Vários prisioneiros negros, influenciados pela revolta negra dos anos 60 e 70, se tornaram fervorosos adversários do capitalismo. Agora isto está acontecendo com uma pequena mas significativa camada de prisioneiros brancos como Jack.(25)

Estes prisioneiros vêem o bárbaro sistema penitenciário, sofrem nas mãos do violento regime autoritário, e têm tempo de ler e explorar as causas. Isso os leva a questionar as bases da sociedade capitalista, a procurar por conclusões socialistas. Isso em si é uma aniquilante condenação do capitalismo americano. Entre os que Marx chamou de “lumpen proletariado”, que normalmente apóiam a reação, há alguns como Jack, procurando por idéias marxistas. Ele comentou:

“É uma tragédia para mim ter me tornado socialista apenas na prisão”.

De fato ele evoluiu no Corredor da Morte para se tornar um eloqüente advogado das idéias socialistas. Na busca pela verdade ele leu tudo de caráter socialista e “comunista” que pode encontrar. Isso o levou ao Labor Militant,o jornal produzido pelos correligionários nos EUA do Militant Labour. Os EUA, Leon Trotsky uma vez disse:

é a bigorna sobre a qual o destino da espécie humana será forjado.(27)

Em agosto um representante dos correligionários do Militant Labour do Comitê por uma Internacional Operária (CIO) estava presente na Convenção Nacional do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Portanto em todos os importantes desenvolvimentos internacionais em 1994 o Militant Labour ou seus correligionários estavam presentes e isso refletiu nas páginas do Militant, que teve uma incomparável cobertura internacional. Não apenas comentar mas agir é a marca do Militant Labour nas condições em mudança dos anos 90. Isso foi exemplificado pelo magnífico acampamento de mil pessoas organizada no sul da Alemanha em agosto pela Juventude Contra o Racismo na Europa. Jovens de 16 países compareceram a este evento. Um total de 800 pessoas apenas da Alemanha. Isso indicou o tremendo sucesso da YRE na Alemanha. Também presentes estavam representantes da Holanda, Bélgica, Suécia, Itália, Espanha, Portugal, Grã-Bretanha, República Tcheca, Polônia, Irlanda do Norte e do Sul, França, Áustria, Finlândia e Ucrânia. Tão efetivo foi o acampamento que o canal de músicas MTV deu extensa cobertura, que por sua vez gerou muitas perguntas sobre a YRE e estimulou a militância.

Em outubro e novembro Tommy Sheridan e eu fizemos um extenso tour nacional em várias cidades para celebrar nosso 30° aniversário. Duas coisas destacaram-se destas vitoriosas e festivas reuniões. Primeiro, que o movimento trabalhista e sindical organizado estava em sua maré baixa, com pouca atividade e poucos comparecimentos talvez os mais baixos em 20 ou mesmo 30 anos.De outro lado, o Militant Labour construiu uma forte organização nacional com um tremendo potencial para crescer e se desenvolver na situação em mudança que começa a tomar forma na Grã-Bretanha.Rumo ao fim de1994o Militant Labour interviu vitoriosamente na luta contra o Ato de Justiça Criminal. A maré contra o governo foi mais pronunciada à medida que foi derrotado em 3 questões chaves, a privatização dos correios, a disputa da RMT, e o VAT sobre combustíveis.Apesar das heróicas realizações do Militant Labour em 30 anos, ainda maiores oportunidades, talvez a maior neste século, agora se aproxima para as forças do marxismo. Mas com uma condição: que a mesma intransigência em defesa das idéias básicas do marxismo, combinada com flexibilidade tática nos slogans e organização continue a ser a marca do Militant Labour.

1 Militant 1151 1.10.93

2 Militant 1155 29.10.93

3 Trotsky, Revolution Betrayed, P88

4 Militant 1164 14.1.94

5 Militant 1165 21.1.94

6 ibid

7 Militant 1173 18.3.94

8 Militant 1176 8.4.94

9 Militant 1181 13.5.94

10 The Herald 7.5.94

11 Daily Record 6.6.94

12 Tommy Sheridan With Joan Mcalpine, “A Time To Rage”, Foreword By John Pilger P vii

13 Militant 1189 8.7.94

14 Militant 1200 7.10.94

15 ibid

16 The Herald 1.7.94