A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994

Scottish Militant Labour

Um sentimento radical estava se desenvolvendo na Escócia, que, como alertamos, seria aproveitado pelo SNP a menos que um pólo de atração alternativo e socialista fosse construído. No passado, mesmo no começo dos anos 80, o Partido Nacional Escocês foi abandonado em seus postos avançados no norte escocês e das Ilhas Ocidentais. A esquerda tinha uma maioria na direção do movimento trabalhista tanto num nível britânico quanto escocês.O Partido Trabalhista organizou demonstrações de massas contra o desemprego, incluindo uma em Glasgow de uma centena de milhar. Como resultado disso, o Trabalhismo oferecia uma alternativa genuína aos trabalhadores escoceses, desempregados e estudantes.

Ao mesmo tempo, incapaz de fazer um avanço importante, o SNP se dilacerou numa guerra civil de 3 anos. O atual líder do SNP, Alec Salmond, foi expulso em 1982 junto com outros por sua militância no Grupo 79, da ala esquerda. Contudo, a degeneração do Partido Trabalhista sob Kinnock permitiu ao SNP recuperar o terreno que perdeu no começo dos anos 80.O SNP por conseguinte se moveu para a esquerda exigindo a re-nacionalização das indústrias privatizadas pelos Conservadores, a liquidação da divida de habitação da autoridade local escocesa, a construção de conjuntos habitacionais recém-formados, a reposição de cada casa que foi vendida na legislação Conservadora “direito de comprar”, a promessa de salário mínimo e um aumento da pensão estatal, a abolição das taxas de prescrição, etc. O Ministro Conservador Douglas Hurd acusou o SNP de defender um “Socialismo estatal do tipo do Leste Europeu”. Alguns comentaristas até mesmo acusaram o SNP de ser a “tendência escocesa do Militant”.

Face ao claro perigo posto pelo nacionalismo que ameaçava infectar uma camada da classe trabalhadora, especialmente a juventude no Oeste da Escócia, nós declaramos:

Os apoiadores do Scottish Militant mostraram na luta anti-poll tax como o nacionalismo pode ser barrado por uma campanha vigorosa em linhas de classe. Devemos fazer tudo que pudermos para afastar os melhores trabalhadores e jovens do radicalismo vazio do SNP para um programa socialista. (1)

A luta de Turnbull Street

Militants na Escócia impediram que qualquer venda judicial ocorresse. Atos de massa, combinados com ação direta disciplinada – incluindo ocupações – mantiveram os oficiais de justiça à distância. Em outubro de 1991, ironicamente durante uma conferência muito direitista do Partido Trabalhista, os apoiadores do Scottish Militant, liderados por Tommy Sheridan, demonstraram precisamente porque eles construíram uma posição tão poderosa de apoio na Escócia. 1 de outubro era a data que a primeira “venda judicial” escocesa ocorreria. A tensão foi sendo construída por dias, com funcionários municipais e ministros Conservadores acreditando que isso marcaria o fim da resistência ao poll tax. A imprensa de toda Grã-Bretanha se reuniu num centro de detenção policial no East End de Glasgow, onde uma venda foi marcada para 11 da manhã. Ele foi transformado numa fortaleza, com massas de policiais dentro. Os manifestantes anti-poll tax se reuniram nas instalações da Federação umas poucas jardas adiante. Quinhentas pessoas, com Tommy Sheridan à frente, andaram a curta distância até o centro de detenção. No dia anterior Tommy Sheridan recebeu um interdito (uma injunção) alertando-o que se ele se aventurasse duzentas jardas da venda judicial ele seria preso imediatamente.

A coluna da marcha chegou ao prédio e foi confrontada por enormes portões de ferro, mas procedeu para arrancá-lo e pô-lo para dentro do pátio, logo atrás. Dentro havia uma van alugada, dois oficiais de justiça em frente e uma pilha de mobília confiscada (legalmente roubada) atrás deles. Imediatamente esta van ficou sob cerco. Dentro de segundos, times de policia chegaram e uma enorme luta irrompeu entre a policia e os manifestantes. Completamente incapazes de remover os 500 do pátio e com a perspectiva de mais centenas se reunindo fora, a polícia formou cordões em frente da van para proteger os oficiais de justiça e a mobília. O impasse se estendeu por uma hora com ambos os lados enfrentando o outro. A polícia era claramente incapacitada de cumprir o papel que foi designado a ela. Dez minutos antes da venda judicial ser feita, à medida que reforços policiais aumentavam do lado de fora, Tommy Sheridan foi ajudado a romper a barreira. Rasgando sua injunção e atirando os pedaços de papel para o ar, ele disse que a Federação não queria ver algum problema mas alertava:

Não estou preparado para voltar atrás e ver este barbarismo ocorrer. Alerto a polícia agora que logo que estes bens forem libertos de trás da van, então eu, e acredito que falo por cada um aqui, farei tudo em meu poder para impedir esta venda. (2)

O resto foi encoberto por um aplauso estrondoso.Os 500 manifestantes permaneceram firmes em desafio à polícia e avançaram para as linhas policiais. Esta então tinha que escolher, enfrentar outro “Orgreave” no centro de Glasgow ou voltar atrás e abandonar a venda judicial. Consultas desesperadas ocorreram entre a polícia, oficiais de justiça e funcionários municipais, e um destes funcionários saiu detrás das linhas policiais com um megafone e disse: “A venda judicial programada para ocorrer às 11 horas de hoje foi agora cancelada.” (3)

Cenas de júbilo se espalharam entre os manifestantes – como se a Escócia tivesse ganho a Copa Mundial. Ela se espalhou para as ruas de fora, difundindo-se pouco a pouco. Mas Tommy Sheridan insistiu que a multidão não se movesse até que a van tivesse deixado as instalações, e isso se estendeu à polícia. Isso incidente foi um marco na luta contra o poll tax e no desenvolvimento do Militant na Escócia. Foi também o incidente que levou Tommy Sheridan depois a aparecer no tribunal e receber seis meses de prisão como sentença. Foi um pano de fundo apropriado à formação do Scottish Militant Labour no começo de dezembro. (Esta história foi contada mais detalhadamente no próprio livro de Tommy, A Time to Rage). Nós delineamos as razões para tomar esta iniciativa:

Doze anos depois do referendo da devolução inconcluso em 1979 o clima na Escócia mudou dramaticamente…O que levou o ideólogo Conservador escocês Alan Massie a admitir no Daily Telegraph: “A Escócia continua a ver a si mesma como socialista… muitas pessoas na Escócia vêem os Conservadores como colaboracionistas”.

Pontuando as condições sociais desesperadoras na Escócia, tiramos a conclusão:

Como resultado da maior campanha de desobediência civil na Grã-Bretanha neste século – na qual os apoiadores do Scottish Militant jogaram um papel decidido – o odiado poll tax foi destruído, ao lado da igualmente odiada primeira ministra, Margaret Thatcher.

Ao mesmo tempo, pontuamos que

em todas as grandes cidades os apoiadores e simpatizantes do Militant foram impedidos de se candidatarem como vereadores por um sistema de painel anti-democrático que dá aos burocráticos partidos locais o poder de vetar cada candidato. O setor de juventude do partido, os Labour Party Young Socialists, foram agora efetivamente fechados pela direção partidária em retribuição por seu apoio às políticas do Militant. A caça-às-bruxas foi estendida até o parlamento, com os MPs Dave Nellist e Terry Fields agora alinhados para a expulsão e Ron Brown [de Leith] e John Hughes [de Coventry North-West] desabilitados. (4)

Até mesmo os Conservadores, escrevendo no Glasgow Herald, eram capazes de ganhar pontos às custas dos líderes trabalhistas:

O cotidiano atual do Partido Trabalhista não permite uma votação livre nem sobre quando almoçar. Eu não conheço, nem me importo com Dave Nellist ou Terry Fields. Mas estou atônito que dois MPs que serviram diligentemente seus distritos possam ser julgados e expulsos por um tribunal canguru. Você não pode expulsar alguém de um clube de boliche tão facilmente. (5)

Ao mesmo tempo, organizações uma vez tão poderosas como o Partido Comunista declinaram drasticamente. Mas havia uma enorme necessidade como nunca antes de uma organização socialista combativa na Escócia, sobre os três pontos de John MacLean e os Red Clydesiders – educar, agitar, organizar! Contudo, estava claro que o Scottish Militant Labour não seria como uma organização política convencional, imersa apenas na luta eleitoral:

Enquanto táticas eleitorais devem ser necessárias em certas circunstâncias, Militant Labour devotará a maioria das suas energias para as lutas diárias do povo comum nos locais de trabalho e comunidades. (6)

Militants presos

A formação do Scottish Militant Labour foi recebida entusiasticamente não apenas na Escócia mas por toda Grã-Bretanha. Uma das suas lutas mais importantes ainda era contra o poll tax, que embora oficialmente declarado morto não tinha sido enterrado completamente. Além disso, oito meses depois do fim do poll tax, a perseguição dos não-pagadores por dívidas continuava. A Federação Anti-Poll Tax da Grã-Bretanha estimava que em novembro de 1991, 117 pessoas estavam presas por 46 municípios. Vergonhosamente, 26 destes eram municípios controlados pelo Trabalhismo, incluindo Burnley, que prendeu 23 pessoas. Trinta dos que foram presos estavam desempregados e três tinham pensões por invalidez. Pelo menos dez pensionistas receberam sentenças totalizando 366 dias e 10 mulheres foram presas. Entre estas havia Janet Gibson de Hull que se recusou a pagar seu poll tax e foi para a prisão por 2 semanas. Outros Militants que foram presos incluíam Eric Segal, Ruby e Jim Haddow e Anne Ursell (Kent);Mike O’Connell e Mark Winter (Londres); John McKay (Basildon); Jim Bates (Milton Keynes); Andy Walsh e Pete Boyle (Manchester); Ian Thompson (Jarrow); Debbie Clark (Stonehouse); Mick Quinn (Caerphilly).

Os tribunais estavam entupidos de casos do poll tax. 19.556 horas do tempo do tribunal foram desperdiçados até o fim de 1991 em casos do poll tax com 152.275 pessoas apresentando-se para oporem-se às ordens de pagamento contra eles. Um total de 4.258 pessoas foram convocados para audiências nos comitês e bem mais de 4 milhões de ordens de pagamento foram enviadas. Enquanto 2.000 autorizações foram expedidas para a prisão dos não-pagadores, três quartos das forças policiais da Inglaterra e Gales se recusando a cumpri-las.

O Militant lançou uma campanha de anistia para os não-pagadores. Algo em torno de £5 bilhões foram contraídos até o fim de 1991 nas câmaras locais por dívidas do poll tax acumuladas. Mas ainda demoraria um ano até o poll tax terminar. O fim do poll tax na verdade levou mais pessoas a se recusar a pagar. Portanto, 1991, o mais memorável ano na história do Militant, terminou contra o pano de fundo de cenas tumultuosas em Glasgow em oposição ao poll tax, crescente oposição em escala britânica, mostrada no aumento de pessoas se recusando a pagar esta taxa iníqua, e a formação do Scottish Militant Labour como um ponto de convergência onde todos os que procuravam uma direção socialista combativa poderiam se virar.

Suécia

Enquanto isso, na Suécia, nossa organização irmã, Offensiv, ganhou três assentos na câmara local de Umea. No curso da campanha eleitoral, 15.000 casas foram percorridas:

Os trabalhadores querem uma alternativa socialista às políticas pró-capitalistas defendidas pela atual direção da social-democracia. A eleição consolidou o Offensiv como a maior força no movimento trabalhista de Umea preparado para lutar por tal alternativa. (7)

Claramente, o marxismo enfrentava uma situação inteiramente diferente em 1991, não apenas na Grã-Bretanha, mas numa escala internacional.

Se preparando para a eleição geral

Em 1992 os Conservadores estavam para enfrentar o julgamento dos eleitores. Uma eleição geral não poderia ser adiada e os sinais pareciam ser agourentos para Major e seu governo. Com 80.000 casas reapropriadas em 1991, 48.000 companhias falindo e um índice de desempregos de pelo menos 60.000 ao mês, afirmações de que “resgate” estava a caminho soavam vazios.

A afirmação do chanceler Conservador Lamont de apenas 2 meses antes de que a economia poderia crescer em 2.25% em 1992 foi desmentida por um provável crescimento de 1.25%.Se seguiu um declínio exato de 2% em 1991. Todo o mundo capitalista estava agora à beira de uma recessão, com a Alemanha e o Japão se unindo se unindo à América e Grã-Bretanha num bebedouro econômico. A recessão no começo dos ano 90 foi o pagamento pelos excessos do boom de Reagan/Thatcher nos anos 80. Retrocedendo da ressaca inflacionária, os governos capitalistas recorreram à altas taxas de juros e controle rigoroso da impressão de moeda. Nós previmos: “A tendência da política nos próximos anos será deflacionária e o resultado será um crescimento baixo.” Lamont, como se confirmasse nossa análise, admitiu: “Recessões… são uma característica inevitável das economias de mercado.” (8)

Mas a direção Trabalhista abraçou totalmente o “mercado” quando estava patentemente óbvio que ele falhou em distribuir a renda. A tática de Kinnock de “não fazer nada, não dizer nada” como um meio de ganhar a eleição geral provou ser desastrosa. Esta eleição, quando ocorreu, teve lugar em circunstâncias totalmente diferentes de qualquer outra que o Militant enfrentou antes. O Scottish Militant decidiu, com o entusiástico apoio do Corpo Editorial do Militant e de uma conferência nacional de apoiadores, lançar Tommy Sheridan, o líder do movimento anti-poll tax escocês, como candidato em Glasgow Pollok.

Uma reunião foi chamada em Glasgow para mostrar oposição à sentença de seis meses de prisão imposta à Tommy por sua quebra da interdição o proibindo de comparecer à venda judicial de Turnbull Street. Contudo, o diretor financeiro Trabalhista pela região de Strathclyde, John Mullen, saudou a sentença original: “A justiça foi feita”.

Poll tax interrompido – caos legal

Precisamente quando Tommy Sheridan foi acusado de quebrar a lei, foi revelado que o governo tinha sistematicamente quebrado suas próprias leis ao procurar coletar o poll tax. Eles tentaram usar a Lei de Evidências de 1938 que cobria os tribunais locais. Mas esta lei tratava provas de computador como “rumores” e não permitia sua admissão. A lei de Evidência Civil de 1968, que algumas vezes permitia as provas por computador, nunca se estendeu aos tribunais locais. Nós comentamos:

Os Conservadores rasgam a lei. Quando não conseguem, eles a mudam. As câmaras no presente têm dois anos depois da data que o poll tax se tornou valido para começar a aplicar as ordens de responsabilidades contra os não-pagadores. Agora eles irão mudar para seis anos. Mas eles nunca se resolverão com 18 milhões de não-pagadores ou recuperar o £1 bilhão de receitas perdidas se mesmo eles se dessem 100 anos. (9)

O Ministro Conservador Heseltine realmente declarou que ele iria emendaria a legislação de impostos municipal através da inelegível Câmara dos Lordes par cobrir futuros casos. Apenas nesta questão, se a direção Trabalhista tivesse adotado uma posição principista, seria capaz de destruir os Conservadores na corrida para a eleição geral.

Dave Nellist sai Independente

Dave Nellist, enquanto isso, declarou no fim de janeiro que ele se candidataria como um “Trabalhista Independente” no distrito de Coventry South-East. Membros do seu diretório endossaram a decisão por uma maioria de 5 a 1. Um corpo de coalizão de trabalhadores em Coventry se reuniu em apoio a ele. Representantes do distrito regional do UCATT da West Midlands, diretores do MSF e APEX nos locais de trabalho, o secretário setorial da UCW Telecom, um líder sindical dos pensionistas, o vice-presidente do conselho sindical, e o secretário do Comitê de Delegados Sindicais da Rolls-Royce, expressaram apoio. Além disso, 10.000 eleitores foram visitados e 42% deles expressaram apoio a Dave Nellist. Setenta por cento dos eleitores trabalhistas estavam preparados para apoiá-lo.

George McNeilage preso

Em Glasgow, George McNeilage, outro proeminente líder anti-poll tax na Escócia, foi preso por supostamente obstruir e agredir os oficias de justiça. Ele deu uma explicação gráfica em nossas páginas da sua vida muito difícil de antes, mas também mostrou como ele foi recuperado:

Quando sai [da prisão] estava como antes – sem emprego, sem dinheiro e nenhuma luz no fim do túnel, até eu encontrar o Militant, que me deu uma meta na vida.

Na prisão, George

entrou num ciclo de discussão sobre tudo que eu conhecia: o poll tax, luta municipal de Liverpool, África do Sul, Irlanda, nacionalismo escocês, revolução russa, a ascensão do stalinismo, materialismo histórico, drogas, Red Clydeside…na cela à noite lia a História da Revolução Russa de Trotsky e debatia política… era bom ter uma TV na cela. Assistíamos os oficiais de justiça sendo botados para fora do East End de Glasgow, via Tommy Sheridan dizer que se candidataria para o Parlamento e anunciar a formação do Scottish Militant Labour. Boa publicidade! Na manhã seguinte as pessoas cantavam: “Libertem o grande George! Esmaguem os oficiais de justiça! Nenhuma venda judicial!” (10)

Conferência de fundação do SML

Em 29 de fevereiro de 1992, o Scottish Militant Labour realizou sua conferência de fundação gerando grande entusiasmo entre os presentes. Uma edição escocesa do Militant foi lançada com Alan McCombes como Editor. Dentro de um curto período de seu lançamento teve um efeito decisivo sobre a política escocesa, especialmente na região oeste. Mas no começo de março, Tommy Sheridan perdeu sua apelação e começou sua sentença de prisão. Minutos antes de ser sentenciado, declarou desafiadoramente:

Não aceito que um crime foi cometido. Contudo, você e eu sabemos que a justiça não será dispensada nesta corte. O que será feita é uma lei de classe e um preconceito de classe contra o povo trabalhador porque é um crime defender os pobres. (11)

Lords Ross, King-Murray e Marnoch então mantiveram a sentença de seis meses pelo “crime” de impedir uma venda judicial. Duzentos trabalhadores comuns lotaram o tribunal e mostraram seu desgosto com o tratamento dispensado a alguém que os defendia. Eles aplaudiram Tommy quando ele foi levado embora e um refrão foi levantado: “Nenhuma venda judicial”. Uma mulher que vivia em frente à prisão e declarou: “Diga a seus amigos e apoiadores que podem chamar para uma xícara de chá sempre que estiverem de visita.” (12)

 Em 7 de março, no placar eletrônico no Estádio Celta, durante o jogo Celtas X Morton, uma mensagem brilhou: “Feliz Aniversário, Tommy Sheridan, de três milhões de amigos e apoiadores. Você nunca andará sozinho.” O líder da Câmara Trabalhista de Strathclyde, Charlie Gray, ficou horrorizado: “Penso que o Celtas deveria reconsideram aceitar este tipo de propaganda política, já que é extremamente unilateral”. (13)

Contudo, fora do campo, fãs doaram um total de £145 para a campanha a favor da libertação de Tommy.

Campanha Contra a Violência Doméstica

No começo de março a Campanha Contra a Violência Doméstica (CADV) reuniu mais de 500 delegadas e visitantes numa vitoriosa conferência no Queen Mary College, Londres. A organização desta conferência, iniciada pelas apoiadoras do Militant como uma campanha para assegurar a libertação de mulheres como Sara Thornton, presa por assassinar seu violento parceiro, respondeu àqueles que diziam que o Militant ignorava os problemas da mulher. Afirmava-se, por alguns adversários, que enquanto o Militant reconhecia que havia problemas e condições especiais afetando as mulheres, a solução para estes seriam “adiados” até depois do “socialismo ser realizado”. Nenhuma organização lutou tão duro para defender e estender as condições de vida e trabalho às mulheres, enquanto ao mesmo tempo explicava a necessidade de uma sociedade socialista para completar a libertação das mulheres. A iniciativa sobre a violência doméstica foi apenas uma expressão disto.

Na conferência, Julie Donovan, que foi a secretária da campanha, falou sobre as leis medievais que enviavam mulheres para a prisão pelo crime da autodefesa. Os Juízes, ela disse, eram insensíveis e incapazes de entender a posição das mulheres em relacionamentos violentos:

O lar é o lugar mais perigoso para uma mulher.O local mais provável de uma mulher encontrar a morte é em seu próprio quarto nas mãos de seu parceiro. Rejeitamos a idéia que as mulheres gostam da violência doméstica. Elas não gostam de serem surradas, chutadas e estupradas. Muitas não têm lugar para ir. Precisamos de uma campanha política para obter recursos, refúgios e creches que precisamos.(14)

Muitos relatos foram dados de experiências angustiantes de mulheres que sofreram e sobreviveram à violência doméstica. Uma delegada de Liverpool disse:

Sou mãe de 7 crianças e tinha um marido bêbado e violento que regularmente me batia e destruía nossa casa. A violência era regular. Fui surrada inúmeras vezes e chamei a polícia inúmeras vezes. Eles chegavam e davam um pouco de serviço de lábia: “Está tudo OK. Você está bem agora.” Logo que eles saiam, ele me chutava de novo. Eu sabia disso e tentava dizer à polícia mas eles apenas saiam. Uma vez, três policiais vieram. O sargento encarregado era um homem de 50 anos e na verdade ele próprio cheirava a bebida. Ele veio, falou com meu marido e pareciam colegas. Eu pude ouvi-los do vestíbulo. Ele estava dizendo: “Oh você está certo, Stan. M… de mulheres. São todas iguais!”(15)

Naturalmente, algumas delegadas, especialmente aquelas que sofreram nas mãos de homens brutais, discutiram se a violência doméstica ocorria como resultado da sociedade de classes. Elas foram respondidas por outras delegadas, expressando as visões da maioria presente, que pensavam que embora a violência doméstica ocorresse em todas as classes, não obstante, suas raízes residiam na sociedade capitalista e das atitudes resultantes dos homens em relação às mulheres. A classe trabalhadora pode começar a mudar tudo isso.

Fiona O’Loughlin, da Irlanda, reportou o caso de uma jovem de 14 anos a qual foi recusado um aborto depois de ser estuprada: “Os juízes são totalmente insensíveis. Dois terços das pessoas na Irlanda dizem que deveria haver infra-estrutura para o aborto.” (16)

Ela falou da luta contra a influência da igreja sobre a lei de aborto na Irlanda. A conferência concluiu com o compromisso de levar a questão da violência doméstica para cada assento parlamentar da Grã-Bretanha com debates organizados pelos grupos locais. Uma organizadora da Campanha, Razina Boston, disse ao Militant:

Nossa tarefa e mudar para a melhor as condições enfrentados por homens, mulheres e crianças. Temos que tirar as relações pessoais da sarjeta e eleva-las ao nível da mútua cooperação, para criar uma sociedade sem violência doméstica. (17)

A CADV também lançou uma campanha contra a proposta Conservadora que se tornou a Lei de Apoio à Criança (em 1993).

1 Militant 1057 20.9.91

2 Militant 1059 4.10.91

3 ibid

4 Militant 1069 13.12.91

5 Glasgow Herald, citado ibid

6 Militant 1069 13.12.91

7 Militant 1059 4.10.91

8 Militant 1070 10.1.92

9 Militant 1073 31.1.92

10 Militant 1075 14.2.92

11 Militant 1079 13.3.92

12 ibid

13 ibid

14 ibid

15 ibid

16 ibid

17 ibid