10° Congresso Mundial do CIT 2010: “Ásia”

Esse é o segundo de seis documentos votados no 10° Congresso Mundial do CIT, realizado nos dias 2-9 de dezembro na Bélgica.

1. A Ásia-Pacífico é uma vasta área do mundo, com mais da metade da população mundial distribuída por várias regiões e sub-regiões. Ela inclui duas das chamadas economias “emergentes” dos BRICs, Índia e China, e também os países capitalistas “avançados” da Austrália e Japão.

2. A pior recessão econômica mundial em décadas afetou os países da região de forma diferente. Vários mal foram atingidos, pelo menos inicialmente, pela queda na demanda nos mercados da Europa e EUA. A maioria até agora não teve grandes quedas no PIB, mas todo o impacto ainda pode ser sentido. Os governos da região continuam temerosos de uma crise social e econômica como a que se seguiu ao crash financeiro asiático de 1997.

3. A crise “asiática” daquele ano acarretou grandes crises políticas e econômicas em vários países. Enormes somas foram despejadas pelo FMI para restaurar a “estabilidade” monetária e salvaguardar os interesses financeiros dos credores americanos, japoneses e outros na Tailândia, Coreia do Sul, Indonésia e Filipinas. A intervenção do FMI foi condicionada com ataques contra a classe trabalhadora e os pobres que resultaram em ódio e oposição generalizados das massas contra o FMI. A Coreia do Sul já havia experimentado “a primeira greve geral contra o neoliberalismo” quando anunciou um programa de desregulamentação em 24 de dezembro de 1996. No ano seguinte, um movimento de massas na Indonésia derrubou a ditadura de Suharto. Um movimento ‘reformasi’ similar se desenvolveu na Malásia, apesar das medidas protecionistas adotadas pelo antigo primeiro-ministro, Mahathir Mohammad, para desgosto da classe capitalista internacional.

4. Tentando evitar as armadilhas que levaram à crise de 1997, muitos países capitalistas da Ásia acumularam reservas de capital. As medidas pareceram dar resultado. As taxas de crescimento do PIB apenas caíram ligeiramente na maioria dos países asiáticos.

5. Algumas economias na região foram mais severamente atingidas do que outros. A Coreia do Sul, uma economia exportadora e número 15 no mundo, entrou em “crescimento negativo” ano passado como resultado direto da desaceleração do comércio mundial. Desde então, ela passou a crescer, mas em apenas pouco mais que 2% ao ano. As enchentes devastadoras no Paquistão cortaram pela metade a taxa de crescimento de sua já fraca economia – de 4% para aproximadamente 2%.

6. Cingapura, o maior porto do mundo, viu uma queda de cerca de 12% em seu PIB no fim de 2008, e então começou a se recuperar. A queda de 20% no terceiro trimestre desse ano é vista em si como um sinal de uma dupla recessão mundial iminente. As economias da Tailândia e Taiwan também mostraram números negativos e se recuperaram. Os altos e baixos febris de algumas economias da Ásia são sintomáticos de situações econômicas instáveis que podem abalar governos da região. A Indonésia passou abruptamente de um crescimento de quase 4% no fim de 2008 para uma contração de quase 4% no início de 2009.

7. A maioria das economias está reportando taxas de crescimento rápidas, até inéditas, esse ano, embora partam da base baixa de 2009. Lideradas pela China e Índia, com crescimento previsto de 10% e 9,4% respectivamente, como estimam o FMI e o Banco Mundial, mesmo a Tailândia politicamente fraturada e as Filipinas, estão no rumo a 7%. Estima-se que a economia de Cingapura se expandirá em torno de 13% esse ano (embora tenha girado de 46% positivos em março para 19% negativos no último trimestre. Coreia do Sul, Malásia e Indonésia podem crescer em 5-6%.

8. Um fator adicional por trás da atual expansão econômica da Ásia é o tsunami de “dinheiro quente” especulativo que foge do dólar em declínio, desvalorizado pelo “afrouxamento quantitativo” e a política taxas de juro zero do governo Obama. Os especuladores – i.e., grandes bancos e instituições financeiras como os fundos hedge – estão emprestando quase sem custos em dólar para comprar todo tipo de ativo asiático, incluindo títulos, ações, commodities e propriedades. Isso está valorizando as moedas locais, do dólar australiano ao baht tailandês (ambos se valorizaram em 11% contra o dólar americano esse ano), exacerbando assim a “guerra cambial” mundial. Ao mesmo tempo, o influxo de “dinheiro quente” para as economias da Ásia está inflando gigantescas bolhas financeiras que irão estourar no futuro.

9. E economia chinesa é pesadamente voltada para exportações à Europa e aos EUA com quem ela tem um enorme superávit comercial. Mas o pacote de estímulo gigante de 4 trilhões de renminbi (US$ 586 bilhões) do ano passado, com grandes projetos de infraestrutura, criou uma certa demanda doméstica. A onda de greves altamente significativas no início desse ano também levou a alguns aumentos salariais substanciais em partes do setor manufatureiro, embora muitos trabalhadores se queixem que mesmo esses aumentos estão sendo erodidos rapidamente pela inflação.

10. Até agora o desequilíbrio fundamental entre o investimento e o consumo na China não tem sido corrigido pela política do regime dos últimos dois anos. As medidas de estímulo sem precedentes e a expansão do crédito na China, embora até agora tenham protegido a economia dos efeitos da crise global, falharam em lançar as bases para qualquer estabilidade econômica duradoura. De fato, essas políticas ajudaram a gerar uma enorme bolha no setor imobiliário, aumentando a inflação, e um problema cada vez mais sério de endividamento para os governos locais, que foram o principal canal para as medidas de infraestrutura e estímulo do regime. Esses problemas ameaçam a continuidade do rápido crescimento da economia, embora o rápido aumento dos preços dos alimentos e das habitações podem também se tornar um foco para o descontentamento em massa.

11. O Japão, de outro lado, não conseguiu sair de suas duas décadas de estagnação apesar das enormes tentativas estimular a economia através de injeção de dinheiro, taxas de juros mínimas etc. Recentemente, o governo ordenou ao Banco Central que intervenha contra a especulação, que estava valorizando o iene. Depois, em outubro, US$60 bilhões foram injetados na economia como mais uma tentativa de estimular empregos, crescimento e gastos.

12. Como na Europa e EUA, liquidez não leva automaticamente a investimentos, se há incertezas sobre os retornos do capital. Mercados são vitais. A queda nas exportações irão impactar até mesmo as economias asiáticas mais fortes e ainda pode se tornar o calcanhar de Aquiles da economia chinesa. A campanha internacional para que a China valorize o renminbi está sendo ferozmente combatida pelo regime chinês. Para evitar um enfrentamento, ele pode admitir pequenas valorizações. Uma grande contração na economia e o crescimento do desemprego e pobreza podem significar uma nova eclosão de revolta… dessa vez política e ameaçando a própria sobrevivência da ditadura unipartidária “comunista”. Como o crescimento econômico da China manteve outras economias da região funcionando, se ela desacelerar, elas também sofrerão graves efeitos sociais e econômicos.

13. O choque cambial, comparável a uma pequena “guerra” – que pode ampliar – é uma tentativa das principais potências envolvidas para descarregar o custo da crise para outros. Potencialmente, isso poderia levar a um pequeno Smoot Hawley [lei protecionista estadunidense implementada em 1930 que levou a uma onde de medidas semelhantes pelo mundo]– ou uma situação de “empobrecer meu vizinho” entre o dólar norte-americano, o iene e o renminbi e que afetaria todas as maiores economias do mundo. A China alertou os EUA de que não está disposta a seguir pelo caminho do Japão nos anos 1980, quando o Acordo Plaza levou à valorização de sua moeda e mais de duas “décadas perdidas” das quais o país ainda não se recuperou. A China alertou que se for forçada a uma valorização significativa, isso afetaria seu crescimento e teria repercussões mundiais.

14. Os EUA enfrentam um enorme déficit comercial e pressões do Congresso para adotar ações protecionistas. Essa situação poderia resultar em mais exacerbação dessa guerra comercial e reforçar as tendências recessionárias-depressionárias mundiais, que poderiam afundar a região da Ásia-Pacífico no mesmo tipo de recessão.

15. Nos últimos anos foram feitas várias tentativas para formar um bloco regional de nações asiáticas como a União Europeia. Mas esse processo é ainda mais complicado e cheio de rivalidades nacionais do que na Europa. Uma luta pelo poder entre os gigantes do imperialismo americano, China, Japão e Índia está em andamento pela dominação dentro da região. Um bloco econômico asiático é a ideia das elites dirigentes da região para superar as limitações dos mercados nacionais e criar uma base mais ampla para suas próprias multinacionais para competir com os capitalistas europeus e dos EUA, enquanto ao mesmo tempo acelera a “corrida para o fundo do poço” em relação aos direitos, salários e segurança dos trabalhadores. Mas a crise capitalista aprofundará as contradições nacionais, destruindo a ideia de integração capitalista “harmônica”. 

Permanente crise para os trabalhadores e pobres

16. Mesmo dados aparentemente saudáveis para o crescimento do PIB não contam toda a história. Em muitos países da Ásia, a massa da população não experimentou nenhum benefício. De fato, ela caiu ainda mais nas escalas globais de renda, emprego, saúde, nutrição e habitação. A corrupção é comum, liberdade de imprensa rara. Mesmo as supostas democracias, incluindo Índia e Malásia, usam leis antiterroristas e outras leis repressivas para suprimir a oposição e o movimento dos trabalhadores.

17. O fato de que a economia de muitos países asiáticos continua a crescer ajuda esconder que dentro de cada um deles o fosso entre ricos e pobres está se ampliando. Esse é um fenômeno mundial, mas a Ásia tem quase 75% da população mundial que vive abaixo dos níveis de subsistência.

18. O desastre “natural” das enchentes no Paquistão causado pelos esquemas míopes de irrigação e construção de represas, deixou dezenas de milhões lutando pela sobrevivência. Os preços foram aumentados pela escassez e especulação. As greves realizadas num momento de emergência nacional, sentida por todos, indicam o desespero dos trabalhadores organizados, assim como sua determinação de não pagar pela crise social e econômica em seu país.

19. Na Índia, a inflação é a pior entre as nações do “G-20”. Ela está por trás do bandh (paralisação) organizada por partidos de oposição em julho desse ano, e na enorme greve geral de 100 milhões em setembro – dez vezes o número de outras greves anteriores. A poderosa classe trabalhadora indiana entrando em ação é a chave para a transformação das vidas de mais de um bilhão de pessoas.

20. Há mais pobres em seis estados indianos do que em toda a África Sub-saariana, e apenas uma pequena camada da sociedade se beneficiou do muito celebrado “brilho” da Índia como um todo. Não mais de 10% – classe média e trabalhadores qualificados – viram suas vidas melhorarem. Eles forneceram mercado para alguns bens, mas no outro lado da escala, pequenos agricultores caíram no desespero. Na década passada, 163 mil agricultores em toda a Índia, incapazes de sustentar suas famílias, cometeram suicídio.

Onde o CIT está

21. Taxas de crescimento estáveis não são garantia de estabilidade política e uma deterioração verá ressentimentos profundamente arraigados expressados em revoltas de massa por toda a região. As oportunidades para a construção do CIT na Ásia já são grandes e crescerão à medida que as crises sociais e econômicas aumentarem. Tivemos importantes avanços na China, Hong Kong e Taiwan. No sul e Sudeste da Ásia, nossas forças estão concentradas em quatro países – Sri Lanka, Índia, Malásia e Paquistão.

22. A taxa de expansão da economia chinesa ainda é fenomenal. Isso por causa do desenvolvimento e caráter único do atual regime, que combina um importante setor capitalista com seções significativas da antiga economia estatal ainda remanescentes. O que permanece do Estado e da capacidade econômica de intervir tem sido um grande fator para que a China até agora escapasse de todos os efeitos da crise mundial. Contudo, as bolhas econômicas nos setores imobiliário, bancário e outras podem leva-la a uma paralisia. Isso teria consequências devastadoras para o capitalismo mundial e acabaria com a situação “especial” da Ásia, onde muitas economias foram estimuladas pelas demandas da China. Isso teria um imediato efeito na capacidade da China de se expandir para outros continentes (América do Sul, África) e teria grandes repercussões na estabilidade do já temeroso regime chinês.

23. Dentro da China, o Partido “Comunista” continua a cavalgar um tigre. Mesmo com a economia avançando, as tensões nacionais e sociais se intensificaram. Os trabalhadores podem se sentir justificados ao exigir uma parte maior do PIB. Se a economia se desacelerar, será impossível impedir uma revolta de baixo. O regime emite sentenças pesadas para “dissidentes”, incluindo o ganhador do Prêmio Nobel, Liu Xiaobo e ativistas de esquerda e sindicalistas, embora esses últimos não recebam quase nenhuma atenção dos governos ou da mídia capitalista. A negação da liberdade de imprensa e as constantes tentativas de bloquear a internet indicam o medo do regime.

24. A maior ameaça veio da corajosa greve feita no início do ano nas fábricas de carros e outras de propriedade estrangeira. Tentativas de eleger representantes legítimos nos locais de trabalho e sindicatos independentes continuarão a se espalhar para as empresas chinesas e estatais. Cedo ou tarde o Estado será forçado a fazer concessões ou enfrentar uma revolta em massa… ou ambos! O regime foi incapaz de suprimir as notícias das condições de trabalho escravo na Foxconn, que estava causando uma epidemia de suicídios. Ele não será capaz de esconder a revolta que se desenvolve, primeiro em movimentos esporádicos e depois de um modo mais generalizado.

25. A vingança das massas após décadas de aspirações suprimidas e privações em nome do “socialismo” e “progresso” será implacável. A forma política que ela tomará ainda é incerta. O regime tenta manipular a indignação nacionalista contra o Japão ou Taiwan, mas teme que manifestações “patrióticas” nas ruas possam se virar contra ele, como já aconteceu no passado. Beijing também está tentando tirar proveito político do crescente clamor da classe dominante de Taiwan para uma integração maior. Ao mesmo tempo, o cortejo de Beijing ao governo do Kuomintang de Taiwan é uma faca de dois gumes, aumentando a estatura e popularidade desse partido dentro da China, onde no futuro pode se tornar um veículo para sentimentos antigoverno. 

26. O regime de Beijing teme a contaminação dentro da China da crescente radicalização política em Hong Kong, e a impaciência com a falta de progressos na abolição do sistema político colonial antidemocrático. Também em Taiwan, Beijing teme a emergência de uma alternativa de massas genuína que desafie o Kuomintang, que ele vê como um aliado na “administração” da questão de Taiwan. O DPP, pró-independência apenas em palavras, não desafia de forma fundamental as políticas do Kuomintang. Sob pressão dos capitalistas, nem os líderes do DPP veem qualquer alternativa senão estreitar os laços econômicos com a China, embora não possam admitir isso abertamente. A luta pela mudança socialista na China e em toda a região deve ser acompanhada pela luta por direitos democráticos básicos assim como por um programa claro sobre a questão nacional, e as novas forças do CIT na China, Hong Kong e Taiwan se mostraram lutadores dedicados e corajosos.

27. A China tem enormes investimentos na maioria dos países asiáticos. Seu relacionamento comercial com eles, diferente dos EUA e Europa, é deficitário – sugando as matérias primas e componentes vitais para sua economia exportadora e em expansão. Sua influência política e militar cresce em paralelo com seu poder econômico.

28. A China é o segundo maior parceiro comercial da Índia, com US$60 bilhões de comércio bilateral. Mas também é um rival para os Investimentos Estrangeiros Diretos, que caiu para ambos no período recente. A Índia tem uma população quase igual à da China, mas uma economia com pouco mais de um quarto de seu peso. Ambas são potências nucleares lutando por influência política na Ásia e no resto do mundo. Elas têm dois dos maiores exércitos do mundo, com quase quatro milhões de soldados entre elas.

Sri Lanka

29. Como observamos em nosso material público, Índia e China jogaram um papel decisivo para acabar com a guerra civil de 26 anos no Sri Lanka e consolidar o regime de Rajapakse, que poderia consequentemente manobrar sem o apoio político, militar e financeiro das potências imperialistas ocidentais.

30. A Índia já possui uma grande parte das plantações de chá do Sri Lanka. Ela capturou o mercado de carros, motocicletas e riquixás. Ela investiu no Norte de língua tâmil, onde está reconstruindo a ferrovia, desenvolvendo um aeroporto, construindo 50 mil casas e uma estação de energia de 500 MW dentro de uma Zona Econômica Especial. Importou 30 mil trabalhadores indianos para realizar o trabalho de construção.

31. A China foi a maior fonte de financiamento estrangeiro do Sri Lanka no ano passado, com US$1,2 bilhão. Para construir seu megaporto em Hambantota, ela importou suas próprias matérias primas e o que na prática era força de trabalho escrava de 20 mil chineses, a maioria condenados. Embora esses investimentos abasteçam um crescimento do PIB do Sri Lanka em torno de 6% ao ano, também abastece a inflação e fornece poucos empregos para a classe trabalhadora do Sri Lanka.

32. Depois da sangrenta derrota dos Tigres Tâmeis (LTTE) há um ano, o povo tâmil no Norte e Leste ainda vive em condições atrozes. Muitos não têm casas ou empregos. O governo Rajapakse, apoiando-se em ex-apoiadores e até líderes dos Tigres, e encorajado pelo envolvimento indiano no Norte, está inundando a terra tâmil com soldados e colonos cingaleses. No sul da Índia – Tamil Nadu – ainda há um ardente ressentimento com o destino do povo tâmil no Sri Lanka.

33. Como sempre afirmamos, se as aspirações nacionais do povo tâmil no Sri Lanka não forem realizadas, a atual aceitação resignada de seu destino eventualmente dará lugar a uma nova eclosão de resistência, especialmente entre os jovens. Mas essa não é a perspectiva imediata. O voto substancial para partidos de oposição ao governo nas eleições de abril foram um pequeno reflexo do ressentimento que pode se acender no futuro. A decisão de Rajapakse, de “pôr a consolidação do poder de sua família à frente de uma reconciliação nacional dolorosamente necessária com uma minoria tâmil amargurada é uma decisão da qual o Sri Lanka irá se arrepender”. (The Economist, 11/09/2010).

34. Numa base capitalista não há solução para a questão nacional no Sri Lanka. É um desafio para nossas pequenas forças, com a ajuda da Internacional, construir pontos de apoio no Norte tâmil e reconstruir nossas forças enfraquecidas no Sul.

35. O CIT há muito descreveu o regime Rajapakse como uma “ditadura velada” ou uma com uma folha de figueira de democracia. O fim da guerra não foi visto como um alívio, mas como uma intensificação da ditadura. Agora há mais pessoas armadas nas ruas da capital do que durante os longos anos de guerra civil. O principal adversário nas eleições presidenciais, Fonseka, continua preso, enfrentando acusações que têm o objetivo de mantê-lo trancado pelo resto da vida.

36. A “18ª Emenda” à constituição do país foi aprovada pelo parlamento em 8 de setembro – um “dia sombrio” para a democracia do Sri Lanka, marcada por manifestações por parte de todas as forças de oposição, incluindo, separadamente, do cingalês JVP, que antes estava em coalizão com o governante Partido da Liberdade do Sri Lanka. O JVP, que ainda se diz marxista, mas se opõe à autodeterminação do povo tâmil, diminuiu sua propaganda comunal cingalesa numa tentativa de reunir apoio tâmil – argumentando que o LTTE não trouxe nada de bom para eles.

37. O principal partido capitalista de oposição, UNP, está passando por uma grande crise interna no momento. No movimento de oposição que se desenvolveu, ele não oferece nenhuma esperança de saída. Na votação da 18ª Emenda no parlamento ele apenas se absteve. Parlamentares de oposição votaram com o governo, seja por dinheiro ou benefícios pessoais, o suficiente para que ela fosse aprovada. Até os líderes dos restos dos partidos dos trabalhadores de esquerda votaram a favor – contra a decisão de seus próprios comitês centrais.

38. A emenda, que permite Mahinda Rajapakse de concorrer à presidência quantas vezes quiser, recebeu a maioria de dois terços necessária, mas não foi, como era exigido anteriormente pela lei, submetida a um referendo. Juízes, claramente sob o tacão do presidente, decidiram que era desnecessário. Essa emenda dá ao presidente poder sobre não menos do que 90 instituições e autoridade final sobre todas as nomeações no funcionalismo público, judiciário e polícia.

39. Rajapakse significa literalmente “o partido do rei”! Com seus irmãos e outros parentes firmemente instalados no poder, Mahinda ordenou a retirada de mais de 60 mil das pessoas mais pobres da capital, Colombo. Eles estão sendo despejados no interior com nenhum meio de subsistência. Isso é um tipo de limpeza social.

40. Desde que o governo Rajapakse chegou ao poder, o maior protesto que ocorreu foi em outubro em Colombo, contra a prisão do candidato presidencial de oposição, o antigo general Sarath Fonseka. Mais de 10 mil pessoas se manifestaram e marcharam até a maior prisão de Colombo, onde Fonseka está sendo mantido. Fonseka foi julgado não por um tribunal normal do Sri Lanka, mas por uma corte marcial especial nomeada pelo presidente Rajapakse.

41. Universitários saíram às ruas numa campanha corajosa contra a introdução de universidades privadas pelo regime. Rajapakse lançou uma guerra total contra o movimento estudantil, usando a polícia. Estudantes foram presos e centenas suspensos das universidades. Nessa situação, foi criada uma oposição conjunta – uma frente de ação para lutar contra a ditadura policial militar de Rajapaksa e defender os direitos democráticos dos trabalhadores e estudantes.

42. Com os preços ainda disparando, empregos não se materializando e salários caindo, cedo ou tarde a classe trabalhadora do Sri Lanka voltará à ofensiva. Apenas um movimento de massas pode derrubar essa ditadura. Nosso Partido Socialista Unido tem passado por um dos períodos mais difíceis de sua existência – enfraquecido em números mas mais forte do que nunca em ideias políticas e combatividade, e imaculada em sua reputação de defender os direitos de todos os trabalhadores e pobres.

Paquistão

43. No Paquistão, as piores enchentes de que se tem notícia expuseram tudo o que é podre no governo Zardari. Em um país de 170 milhões de pessoas, 40% agora estão abaixo da linha de pobreza. A inflação disparou para uma média de 20%, mas muito maior nos itens básicos. Pelo menos oito milhões de pessoas agora estão totalmente dependentes de doações para sobreviver. A economia passou de um crescimento de 4% para zero e o produto global esse ano pode cair para 2%.

44. A agricultura, no terceiro maior produtor de trigo da Ásia e quarto maior produtor de algodão, pode cair em 20% ou 30%. Ela responde por mais de 21% do PIB, empregando quase metade da força de trabalho do país. Segundo um antigo ministro das finanças e alto funcionário do Banco Mundial, Shahid Javid Burki, o Paquistão hoje é a economia “mais doente” da Ásia e continuará assim até que os elaboradores de política ajam de forma decisiva.

45. O Financial Times de setembro escreveu que “Intensificaram-se os maus presságios com a perspectiva de um golpe militar iminente, uma sangrenta revolução e partes do país escapando ao controle”. O CIT há muito apontou para a crescente “talibanização” do país. Se a classe trabalhadora não ascender como a principal força combativa do Paquistão, há uma perspectiva muito real de implosão e ruptura do país.

46. Numa pesquisa feita antes do transbordamento do rio Indo, 95% dos paquistaneses disseram que o feudalismo deveria ser destruído. Com o modo como os latifundiários e políticos super-ricos se comportaram durante a enchente, sentimentos revolucionários muito raivosos podem e irão se desenvolver maus uma vez. A revolta pode ser ainda mais inflamada pelas ações dos militares estadunidenses em relação ao Afeganistão e do Exército Indiano na tentativa de esmagar a revolta na Caxemira.

47. Os recentes eventos no Paquistão mostraram que o fraco regime capitalista é incapaz de se livrar das relações feudais e pré-feudais. O abjeto fracasso do governo do PPP de organizar ajuda efetiva para os 20 milhões de pessoas afetadas pelas enchentes devastadoras trouxe novos ressentimentos e raiva contra ele. Ele descaradamente veio em ajuda dos maiores latifundiários enquanto seu líder, presidente Zardari, estava relaxando em seu castelo na França.

48. A oposicionista Liga Muçulmana do Paquistão (N) de Nawaz Sharif até agora falhou em oferecer qualquer alternativa ou mobilizar o descontentamento contra Zardari e o PPP durante a crise. Onde organizações de caridade religiosa entram com sua ajuda, elas podem ganhar apoio entre uma população que em geral não é atraída por suas filosofias reacionárias.

49. O Exército, sob Ashfaq Kayani, está fora da política desde o fim da ditadura de Musharraf há mais de dois anos, também ofereceu uma ajuda relativamente eficiente. Ninguém no país ou no estrangeiro confia no governo para distribuir a ajuda de dentro ou fora do país.

50. A demanda pelo não pagamento dos empréstimos de US$10 bilhões ao FMI faz parte da propaganda conduzida por nossa seção no Paquistão, junto com a demanda para que sejam anuladas as dívidas de todos os pequenos agricultores e pobres. Ela foi transmitida à Europa pelas intervenções parlamentares de Joe Higgins, membro do Parlamento Europeu. Os camaradas do CIT do SMP realizaram um trabalho heroico na luta para dar ajuda prática aos sindicalistas e trabalhadores atingidos pelo desastre. Eles também organizaram apoio para várias greves importantes que continuaram nessa situação desesperada e apresentaram um programa combativo para derrubar o governo Zardari.

51. O exército tem sido o verdadeiro poder supremo no Paquistão nos 63 anos desde a independência e governou diretamente por metade desse tempo. Isso por causa da inviabilidade básica do Estado desde sua construção. Embora a situação atual do Paquistão seja desesperada, a chegada ao poder de um regime militar não teria a simpatia do imperialismo na atual situação internacional, na qual ele teria dificuldade de justificar à opinião pública apoio para regimes ditatoriais e semiditatoriais. A crise no Paquistão significa que uma tentativa de intervenção militar, embora provavelmente não uma perspectiva imediata, não pode ser excluída. Contudo, se acontecer, o imperialismo, é claro, iria relutantemente aceitá-la.

52. A devastação das enchentes levará anos, se não décadas, para ser superada com base no podre sistema feudal-capitalista do Paquistão. A propriedade pública e o planejamento socialista estão postos diretamente na agenda, para levar a sociedade adiante. Uma talibanização do país, mais bombas e balas, um colapso da autoridade central, barbarismo e uma ruptura do país são uma alternativa sombria.

53. Os camaradas do CIT no Paquistão ganharam o maior respeito do movimento dos trabalhadores no país e da Internacional no trabalho heroico que realizaram. Eles alcançaram centenas de ativistas e sindicalistas cujas vidas foram arruinadas pelas enchentes. Também continuaram com a maior energia e determinação a construir as forças do Movimento Socialista Paquistanês e da Federação Progressista dos Trabalhadores.

Bangladesh

54. Em Bangladesh, o país que antes era o Paquistão do Leste, ocorreram importantes eventos recentemente, e há oportunidades para a construção do CIT. Metade da população vive na absoluta pobreza, com menos de US$40 por mês. A ferocidade dos recentes choques entre operários têxtil em greve e a polícia é explicada pela constante ameaça a seus empregos de outras economias com salários ainda mais baixos da região (Mas no Laos e Camboja, operários lutaram por salários maiores após o exemplo dos operários das firmes estrangeiras da China).

55. Bangladesh está sob pressão do imperialismo americano para jogar sua parte na “guerra ao terror” enviando tropas ao Afeganistão. O governo recentemente removeu todos os artigos islâmicos da constituição e baniu livros fundamentalistas islâmicos das livrarias. A Suprema Corte também baniu o uso “forçado” do véu. O papel das mulheres na greve de 800 mil trabalhadores têxteis em 700 fábricas foi especialmente significativo. Ao mesmo tempo, o governo empregou o exército para reprimir os portuários, que entraram em greve em outubro de 2010. Pela primeira vez desde que o novo governo chegou ao poder, a oposição de direita foi capaz de organizar uma greve empresarial. Esses significativos eventos revelam a explosiva situação que se abre em Bangladesh.

56. Na cúpula, há a constante rivalidade entre os dois partidos, cujas diferenças são dificilmente discerníveis e eles não têm soluções para os problemas urgentes que os trabalhadores e suas famílias enfrentam. Sua frustração pode rapidamente se transformar em raiva e agitação que podem começar a tomar um caráter revolucionário.

Índia

57. O crescimento econômico da Índia retraiu-se ligeiramente, mas continua a 8.5-9%. Certas camadas de trabalhadores qualificados se beneficiaram e viram seus padrões de vida aumentarem… especialmente aqueles nos serviços de informática, telecomunicações e suporte para empresas com sede nos EUA e Europa. Isso teve um efeito em suas consciências, mas os efeitos da recessão mundial já são sentidas por essas camadas.

58. Depois do abandono de décadas de política de autossuficiência no final dos anos 1990, políticos nacionais e nos estados (de todas as nuances) buscaram companhias multinacionais para desenvolver a economia indiana, não sem benefícios pessoais para eles mesmos. Subornos e corrupção são comuns, não menos no Partido Comunista da Índia (Marxista) – no poder em Bengala Ocidental, Kerala e na minúscula Tripura – pelo menos até as próximas eleições!

59. Eles deram o sinal verde para grandes companhias em Bengala Ocidental, como a metalúrgica coreana POSCO, a mineradora de bauxita Vedanta e o maior conglomerado indonésio, o Grupo Salim, para entrarem e destruírem os lares e meios de vida de dezenas de milhares de agricultores pobres e adivasis (povos indígenas). Eles destruíram florestas e até montanhas na busca por matérias primas.

60. Em muitos casos, os maoístas (ou “naxalistas”) interferiram para tentar ganhar apoio Eles fizeram importantes incursões em 200 dos 626 distritos da Índia, comparados com 56 em 2001. Eles atacam ricos latifundiários e a polícia, mas quando descarrilham trens de passageiros e trabalhadores e pobres comuns são mortos, inevitavelmente alienam as pessoas cujos direitos eles afirmam defender. Em Chattisgarh, Jharkand, Orissa e Bengala Ocidental, milhares de policiais se envolveram em uma ofensiva contra os “insurgentes” – “Operação Caçada Verde” – que viu civis comuns mortos e feridos.

61. Uma união consciente da luta do interior com a da classe trabalhadora das enormes cidades da Índia poderia fornecer uma força invencível capaz de transformar a sociedade, mas essa não é a abordagem dos naxalistas. Em Orissa, onde os planos da Vedanta receberam um baque com a ação de massas e uma decisão judicial, tem sido em sua maioria ONGs e ativistas, incluindo apoiadores nossos, que organizaram a resistência tentando envolver as pessoas locais.

62. Em Bengala Ocidental, governada há décadas pelo Partido Comunista da Índia (Marxista), o emprego de forças estatais e bandidos para dispersar violentamente pequenos agricultores de sua terra resultou na dramática queda no apoio ao PCI(M) nas eleições locais e ajudou o populista de direita Trinamul. Esse ano, nas eleições municipais de junho, o PCI(M) perdeu metade dos seus cargos e o controle de Kolkata. No ano que vem ele pode perder a maioria de seus assentos na Assembleia Estadual. Em Kerala, também, o PCI(M) está perdendo apoio dramaticamente.

63. A teoria stalinista das duas etapas está por trás das políticas do PCI(M) nos estados que ele controla, especialmente Bengala Ocidental. Mesmo que ela não esteja mais formalmente incluída no programa do partido, continua sendo uma ideia importante que ainda precisamos responder. Ele justifica seus ataques aos direitos dos trabalhadores e fazendeiros pobres – criando Zonas Empresariais Especiais livres de sindicatos e usando bandidos armados para limpar a terra etc. – com base na necessidade de “industrialização”/“modernização”. Eles não cortejaram apenas “bons” capitalistas, para usar a fraseologia stalinista, mas também capitalistas muito implacáveis – conglomerados nacionais e estrangeiros.

64. O governo central da Índia é fraco – um conglomerado de partidos, o maior sendo o Partido do Congresso de Sonia Gandhi. Manmahon Singh como primeiro ministro não é popular (O ‘India Today’ mostrou que apenas 1% dos indianos votariam nele como sua primeira opção para o cargo!). A fraqueza do governo central se reflete no conglomerado de partidos que constituem o governo e refletem a erosão dos principais partidos. Singh e seu ministro das finanças, Pranab Mukherjee, têm tomado apenas meias medidas – deixando de satisfazer a grande burguesia e o imperialismo, mas deixando a esmagadora maioria da população na penúria.

65. A principal oposição nacionalista hindu, o BJP, passou por uma prolongada crise interna depois de perder a última eleição. Ele não foi capaz, até agora, de capitalizar os sentimentos anti-muçulmanos após os bombardeios de Mumbai e outras cidades por extremistas islâmicos apoiados pelo Paquistão, nem os ataques na Caxemira e outros lugares contra o exército indiano.

66. Na Caxemira ocupada pela Índia (IOK), a ‘intifada’ não tem líderes – maoístas ou islâmicos. 700 mil soldados indianos enfrentam protestos com lançamentos de pedras, organizados via SMS e Twitter. (Mesmo o Primeiro Ministro do IOK, Omar Abdullah, reconheceu que nem ele nem o octogenário líder separatista, Geelani, estão em sintonia com o espírito de luta da juventude). A AFSPA (Lei de Poderes Especiais das Forças Armadas) é usado para proteger as tropas de processo por suas muitas violações dos direitos humanos. Isso enraivece os combatentes Azadi (‘Liberdade’), que perderam mais de 100 pessoas nos dois meses de combates de rua após a eclosão da luta em 11 de julho. Os eventos na IOK estão destinados a aumentar as tensões entre soldados indianos e paquistaneses dos dois lados da Linha de Controle e pode iniciar uma agitação política e social no lado paquistanês.

67. A primeira campanha na Índia expressando solidariedade com os trabalhadores e jovens na Caxemira foi iniciada por camaradas do CIT com uma campanha de panfletos. Nossos camaradas que têm contatos com jovens da IOK levantaram a necessidade vital de lutar por uma Assembleia Constituinte para varrer todos os falsos amigos dos trabalhadores e pobres no Vale da Caxemira.

68. A Índia é um país que abarca numerosas nacionalidades e grupos étnicos. É formado por 28 estados, alguns com uma população em grande parte a favor do rompimento com Delhi. Diz-se que a maioria do país já está fora do controle do governo central. É preciso um programa claro de democracia socialista que luta pelo direito de todas as nacionalidades à autodeterminação, enquanto ao mesmo tempo enfatiza a importância de uma luta unificada dos trabalhadores contra as divisões étnicas e comunais. Apenas tal abordagem pode, como com Lenin e os bolcheviques depois de Outubro, deter as tendências centrífugas na sociedade Indiana.

69. A luta por uma nova voz política para a classe trabalhadora e os oprimidos da Índia é mais urgente do que nunca. Abriu-se um novo período mais favorável para o CIT, que agora tem um ponto de apoio em várias cidades e está começando a se tornar uma organização nacional.

Malásia

70. Na Malásia o CIT desenvolveu a capacidade de publicizar nossas ideias e começou a se construir entre camadas de trabalhadores e jovens de diferentes origens étnicas e nacionais. O PSM, enquanto isso, afirma ter crescido mas falhou em se diferenciar claramente de seus aliados da Pakatan Rakyat (PR ou Coalizão do Povo) como uma organização socialista dos trabalhadores. A PR forma a principal oposição a nível nacional e local e é constituída do PKR (Partido da Justiça do Povo), PAS (Partido Islâmico Malásio) e o predominantemente chinês DAP (Partido da Ação Democrática).

71. Após sofrer pesados retrocessos na última eleição geral, o governo agora não é desafiado seriamente por essa oposição “oficial”. O crescimento do PIB está em torno de 5 a 6%, ajudado principalmente por atividades econômicas domésticas encorajadas por medidas de estímulo, assim como com o aumento do comércio com a China e outras economias regionais que tomaram o lugar do comércio declinante com os EUA. Agora a coalizão PR diz que o primeiro ministro Najib Razak e a coalizão governante BN (com o UMNO ainda a força dominante) roubaram suas políticas.

72. É claro, elas não incluem o favoritismo indireto aos malaios – uma política que iniciou o movimento pró-indiano Hindraf no fim de 2007. O governo também deu apoio tácito a grupos de ultra-direita como o PERKASA (Empoderamento) para defender a hegemonia malaia. Isso minará ainda mais o apoio de não-malaios ao BN, apesar da propaganda governamental de “Uma Só Malásia” e pode ser usado para instigar choques raciais em meio a conflitos políticos e econômicos piorados. O Novo Modelo Econômico do governo também envolve políticas de privatização, desregulamentação – quer dizer, “liberalização” total da economia – que a coalizão de oposição não se opõe. A maior ênfase está em que as práticas do governo não são “transparentes” e na corrupção endêmica dos acordos governamentais.

73. O líder do PKR – Anwar Ibrahim – enfrenta novos processos judiciais que podem resultar em uma nova prisão. Mas é mais provável que a ameaça seja mantida pairando sobre ele para que se abstenha de encorajar demais uma oposição na época das eleições. O governo também teme uma repetição do movimento ‘reformasi’ que Anwar liderou no final dos anos 1990, quando milhares saíram às ruas exigindo o fim da corrupção e do domínio de um só partido na política.

74. Najib adotou um grande pacote de estímulos e pode até mesmo adotar medidas protecionistas ao estilo de Mahathir quando a crise mundial atingir a Malásia com mais força. Menos provável que faça isso é Anwar Ibrahim, de ardente formação neoliberal nos EUA. Como ministro das finanças em 1997, ele apoiou o plano de recuperação do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele também instituiu um pacote de austeridade que cortou os gastos governamentais em 18%. Contudo, em face de uma desaceleração da economia, medidas protecionistas não podem ser descartadas. Nem o surgimento de um novo movimento do tipo reformasi.

75. Najib poderia muito bem chamar uma eleição “enquanto as coisas vão bem”. Nunca está longe a possibilidade de escândalos de corrupção estourarem na cara de seu governo aparentemente estável, que não obstante envolve parceiros de coalizão consideravelmente enfraquecidos. O fracasso da economia mundial de se recuperar começará a ter um grande efeito na economia malaia. 60% de suas exportações para China se destinam ao G3 – América, Europa e Japão.

76. Os Investimentos Estrangeiros Diretos não chegaram ao nível que eram antes da crise econômica mundial e a competição por IED entre os países da região se tornou intensa. A tendência dos investidores estrangeiros de procurar economias com salários ainda mais baixos continuará, apesar da recente onda de aumentos salariais por causa de greves no Laos, Camboja e Vietnã.

A região

77. No passado, em toda a Ásia, os países experimentaram processos muito diferentes – tanto sob ocupação colonial quanto depois. Alguns, por razões especiais que explicamos, viram períodos de desenvolvimento muito rápido. O Japão, em bases capitalistas, mas sem gastos militares e enorme assistência dos EUA, teve uma taxa de crescimento muito alta nos anos 1950 aos 1970. A China, com base na propriedade estatal e no planejamento, estima-se que tenha alcançado mais de 20% de crescimento anual por vários anos durante o mesmo período.

78. No final dos anos 1970 e 1980, quando o capitalismo na Europa e EUA passava por sua primeira crise pós-guerra, a Coreia do Sul e outros “Tigres” experimentavam um crescimento fenomenal. A economia da China passou à frente nos anos 1990 e por toda a década passada.

79. Agora o Japão, com sua economia estagnando e o governo dividido, não é mais a segunda maior economia do mundo. Ele foi superado pela China. As tensões reaquecidas entre Japão e China sobre águas e ilhas em disputa, assim como sobre Taiwan, são pontos críticos em potencial. Felizmente, o medo das consequências de choques abertas segura ambos os lados. Um colapso do regime do norte da península coreana apresenta um pesadelo em potencial para a China, mas especialmente para a Coreia do Sul.

80. Esse ano, a China se tornou o maior parceiro comercial da Austrália. Seu crescimento continuado, em parte devido a medidas de estímulo, até agora protegeu a economia australiana contra os piores efeitos da recessão mundial. Essa “vantagem” não vai durar para sempre. O instável parlamento sem maioria definida de Julia Gillard despertará a ira do eleitorado quando impor suas medidas de austeridade, como na Europa e outros lugares. 400 companhias australianas operam na Indonésia e as companhias mineiras e energéticas extraem grandes lucros de lá, assim como das Filipinas e outros países vizinhos. Esses investimentos e comércio determinarão a política externa da Austrália no caso de uma nova faze de abado econômico e social atingir esse país.

81. O impasse que se desenvolveu no Nepal demonstra claramente que uma revolução que para a meio caminho não terá sucesso em mudar as condições da massa da população. Os maoístas, após ganharem o controle da maioria do interior e das cidades por meio da luta de massas, poderiam ter tomado o poder se, com um programa e métodos corretos, tivessem se vinculado aos trabalhadores em greve na capital. A monarquia foi removida e existiam as condições “clássicas” para a revolução socialista. Mas os líderes viam a luta pelo socialismo como uma etapa posterior da luta.

82. Permitindo que os políticos pró-capitalistas e pró-governo indiano se recuperassem, os maoístas agora estão no limbo. Eles se opuseram às propostas de dissolução de suas forças guerrilheiras, mas não colocaram nenhuma alternativa que levasse a luta a um plano socialista e internacionalista. Há a necessidade de organizar comitês democraticamente eleitos nas cidades e interior para dirigir a sociedade e apelar aos trabalhadores e pobres da Índia e região para apoiá-los, se organizarem e seguirem o exemplo.

83. Uma forma de guerra civil revolucionária estourou na Tailândia esse ano, com algumas similaridades com os eventos do Nepal. Nepal. Embora não lutassem há anos como forças guerrilheiras, como os maoístas, quando os “vermelhos” saíram do interior e ocuparam o centro comercial de Bangkok por semanas, mantinham um parlamento contínuo nas ruas, e atraíram camadas de trabalhadores para o seu lado. Thaksin Shinawat, o homem pelo qual os vermelhos estavam literalmente arriscando suas vidas, é um magnata bilionário. Seu apoio vem principalmente das reformas que aprovou como presidente e que beneficiaram agricultores pobres no interior. Ele combinou um programa de reformas na zona rural enquanto ao mesmo tempo apoiava políticas neoliberais e racismo e repressão da minoria muçulmana. Mas seus apoiadores paralisaram a capital e atraíram certas camadas das forças do exército para seu lado.

84. Por trás das barricadas havia longas discussões sobre como derrotar os “amarelos”, vistos como representantes dos ricos e privilegiados da sociedade. Revolucionários conscientes teriam encorajado a união das lutas do interior com as da classe trabalhadora nas cidades para exigir um governo dos trabalhadores e agricultores pobres. Os camisas amarelas, ou Aliança dos Povos pela Democracia (PAD), chegaram eles mesmos ao poder com base em manifestações de rua e bloqueios de aeroportos em 2008, e não tinham nenhum programa para levar a sociedade tailandesa adiante.

85. A junta de generais na vizinha Myanmar é apoiada pela China, em termos comerciais e de ajuda. O apoio de Beijing à ditadura é um grande elemento para sua sobrevivência. Mas uma nova geração de lutadores sem dúvida está se formando. Como em outras partes da região, o aparentemente todo-poderoso regime, que se esconde por trás de sua capital administrativa especialmente construída, Naypyitaw, pode se ver enfrentando não apenas novas manifestações de rua, mas greves de trabalhadores. Um levante revolucionário em Myanmar, com uma direção que tire lições da experiência de 1986, poderia abalar toda a região.

86. Na Indonésia, o governo Yudhoyono fixou como sua principal política a erradicação das drogas e do crime, mas está perdendo a batalha. A economia se arrasta cautelosamente, apoiada pelo imperialismo ocidental e australiano. Acumulando dívidas externas, a Indonésia pode rapidamente cair numa estagnação econômica, semeando descontentamento e uma nova onda de protestos de massa em Jacarta, Surabaya e Jogjakarta, como no final dos anos 1990. Mais da metade da população da Indonésia tem menos de 25.

87. As organizações políticas e sindicais na Indonésia, lutando para se unirem contra os capitalistas estrangeiros e locais, e para construir um partido dos trabalhadores, merecem o apoio dos socialistas e trabalhadores de todo o mundo. Mas a melhor ajuda que o CIT pode dar é alertar contra os perigos da unidade pela unidade, e ajudar a desenvolver uma análise classista e um programa socialista independentes.

88. Como nas Filipinas. O novo presidente, Benigno Aquino, utilizava a memória de sua mãe, Cory Aquino, que foi alçada à presidência em 1986 pela revolução “Poder Popular” que derrubou a ditadura de Marcos. ‘Noynoy’ é visto como um “par de mãos limpas” depois do corrupto e ineficiente “reinado” de Gloria Macapagal Arroyo, mas sua família vem da mesma elite da sociedade filipina. Ele já está esgotando quaisquer esperanças e ilusões como o sucessor da odiada Gloria Macapagal Arroyo. Ele é casado com o capitalismo e o latifúndio e não oferece nenhuma solução ao flagelo da corrupção, terrorismo e pobreza em massa. Sob seu governo continuam a repressão sumária e assassinatos extrajudiciais de ativistas de esquerda pelos militares.  

89. As Filipinas são uma das economias asiáticas mais afetadas pelo colapso das “remessas” do exterior. Famílias pobres dependem dos rendimentos de pelo menos um membro que consegue trabalhar no exterior. Agora seus empregos desapareceram quando a recessão atingiu a Europa, EUA e Oriente Médio. Os socialistas e sindicalistas das Filipinas, com suas organizações potencialmente poderosas, precisam defender uma ação decisiva contra o capitalismo e o latifúndio – nenhuma frente única com as camadas menos corruptas da classe dominante, mas uma luta socialista clara, que possa atrair as camadas jovens radicais no exército, que são repelidas pelo elitismo e exploração.

90. Crises sociais, econômicas e políticas estão se desenvolvendo por toda a Ásia. Elas mostram a importância vital das ideias e do programa do CIT e a tarefa urgente de desenvolver os quadros para a construção de futuros partidos revolucionários de massa. Um grande sucesso para a revolução socialista nessa região altamente inflamável, com a intervenção consciente de nossas forças, pode se espalhar como o proverbial fogo na pradaria. Nossa tarefa é nos preparar e trabalhar generosamente por esse objetivo.

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