A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994
Militant enfrenta uma divisão
O mês de abril de 1991 provou ser decisivo na evolução do Militant. A direção nacional unanimemente decidiu apoiar a criação de uma organização independente na Escócia para dar conta da situação extremamente favorável que se desenvolveu para nós lá. Visto que a minoria liderada por Ted Grant e Rob Sewell subsequentemente usaram esta decisão como a principal razão para se separarem do Militant, é importante lembrar que tanto Ted Grant quanto Rob Sewell votaram a favor desta decisão.
Numa reunião do comitê executivo do Corpo Editorial Nacional realizada em 10 de abril de 1991 os presentes eram Mike Waddington, Brian Ingham, Ted Grant, Rob Sewell, Jeremy Birch, Nick Wrack, Lynn Walsh, Peter Taaffe, Keith Dickinson, e Frances Curran. A minuta sobre esta questão diz:
Peter Taaffe reportou que na discussão com os camaradas escoceses, foi acordado que poderia haver uma grande vantagem para nós criando alguma organização independente que teria um apelo para milhares que se aproximaram de nós durante a campanha contra o Poll Tax. Depois de alguma discussão, foi acordado que isto seria posto na reunião do Corpo Editorial Nacional em vista da urgência e das mudanças que ocorriam na campanha Poll Tax no momento. O nome e detalhes do lançamento seriam trabalhados com eles, mas geralmente, deveríamos primeiro ter a aprovação do Corpo Editorial Nacional.
Nenhum membro do Comitê Executivo votou contra a proposta. Na reunião do Corpo Editorial Nacional que ocorreu no mesmo dia Ted Grant entusiasticamente endossou a proposta apesar da oposição de outros membros do NEB. Além disso, Rob Sewell, lhe faltando um senso de proporção, transmitindo sua visão de que um “partido revolucionário” poderia ser lançado imediatamente não apenas na Escócia mas em toda Grã-Bretanha! Militant tomou esta decisão contra o pano de fundo do fim do poll tax.
Durante a reunião do Corpo Editorial e em minhas discussões com os camaradas da Escócia se colocou que sem algum tipo de organização independente aqueles que se aproximaram de nós através da campanha poll tax não entrariam em nossas fileiras. Havia o perigo real de que toda uma camada que era inteiramente simpática aos nossos objetivos estratégicos, programa e organização poderiam ser sugadas para o Partido Nacional Escocês. Portanto, a posição comum que nasceu desta consulta era fazer a recomendação ao Comitê Executivo para uma partida radical, especialmente na Escócia, do caminho que o Militant tradicionalmente se organizou. A proposta do Comitê Executivo foi feita a todo o Corpo Editorial Nacional.
Na reunião de todo Corpo Editorial Nacional em 10 de abril, a minuta que se discutiu isso se lê: “Candidatos independentes: a discussão era se podia ou não o Militant poderia apoiar candidatos independentes da Esquerda Ampla em Liverpool se posicionando contra o Partido Trabalhista Oficial. Peter Taaffe introduziu a discussão. Contribuições de Helen Redwood, Ronnie Stevenson, Richard Venton, Alan McCombes, Ted Grant, Ray Apps, Peter Jarvis, Dave Cotterill, Tommy Sheridan e Bill Mullins. Peter Taaffe respondeu:
O informe e propostas do Comitê Executivo foram aceitos com uma abstenção (Ray Apps) e nenhum voto contra. No Comitê Executivo subseqüente sob o título de Informe do NEB, a minuta diz:
Rob Sewell introduziu a discussão, se referindo à histórica decisão sobre o trabalho em Liverpool e na Escócia;… apontar para produzir um material especial sobre o giro na Escócia, para a discussão no Corpo Editorial Nacional em junho. Se concordou que o Comitê Executivo deveria encontrar os membros do NEB escocês antes disso.
Ficou muito claro que dois dos mais proeminentes oponentes do que subsequentemente se tornou conhecido como o “Giro Escocês” do Militant, que eram Ted Grant e Rob Sewell, entusiasticamente falaram a favor desta proposta e votaram por ela. Se subsequentemente mudaram de opinião não foi por razões políticas principistas, como procuram dizer, mas porque Ted Grant em particular e Alan Woods entraram em colisão em grande parte por questões organizacionais secundárias e pessoais comigo e com aqueles em maioria no Militant. Eles tentaram fomentar a lenda de que esta decisão sobre o Giro Escocês foi “atropelada pelo NEB e pelo EC do Militant.” Se era esse o caso como foi que dois experientes e “espertos” operadores como Ted Grant e Rob Sewell puderam se apressar em tomar uma decisão tão importante que afirmaram posteriormente que era uma ameaça à “40 anos de trabalho”? A verdade da questão é que esta decisão foi amplamente acordada pela direção nacional do Militant, e depois pela grande maioria da militância, porque fluía da situação objetiva com que nos defrontávamos.
O pano de fundo
Por meses e anos antes desta decisão, de várias partes a questão estava posta que, dado o completo esvaziamento do Partido Trabalhista, porque não poderíamos tomar o passo de lançar uma organização independente? Estava claro que tal iniciativa poderia encontrar um eco entre os trabalhadores avançados da Grã-Bretanha, repelida pela direção sindical e o Trabalhismo, crescentemente direitistas.
Nossa decisão de apoiar candidatos Trabalhistas não-oficiais em Liverpool era em si mesma uma antecipação da decisão de criar o Scottish Militant Labour depois. Explicamos porque esta decisão foi tomada:
A panelinha direitista que monopolizou a câmara de Liverpool dramaticamente aumentou seus ataques aos trabalhadores municipais. Os vereadores Trabalhistas de direita Frank Anderson e Frances Kidd (ambos patrocinadores do GMB) ameaçaram enviaram empreiteiros privados para remover o lixo. “Se nossos lixeiros não fazem, encontraremos pessoas que façam”… Ação grevista seletiva começou… envolvendo 310 membros do NALGO e 170 trabalhadores do Ramo 5 do GMB. Mais estão se preparando para se unir à ação. (1)
Kilfoyle estava apoiando a demissão dos trabalhadores. A eleição em maio resultou numa derrota estonteante para o Trabalhismo “oficial”. Onde quer que os candidatos de direita concorreram o voto do Trabalhismo oficial colapsou. Abstenções em massa e aumento de votos para os Liberais impediram o Trabalhismo de ganhar assentos marginais. E estes assentos tiveram uma massiva maioria Trabalhista quando o partido de Liverpool concorreu com um programa socialista nos anos80. Nos dias finais antes da votação o Partido oficial colocou enormes anúncios na imprensa local para apelar aos eleitores Trabalhistas. O editorial do Liverpool Echo implorava apoio para Rimmer, o novo líder Trabalhista da câmara. Neil Kinnock enviou uma mensagem pessoal. Tudo isso perdeu votos para os “moderados”. Os cinco candidatos da Esquerda Ampla apoiados pelo Militant triunfaram contra o Trabalhismo oficial, justificando completamente a posição do Militant nacional e a direção local em apoiar a decisão de se posicionar independentemente.
Pré-eleição de Walton
Isso foi seguido pela pré-eleição de Walton na qual Lesley Mahmood era a candidata do “Verdadeiro Trabalhismo”. Militant apoiou inteiramente a decisão dos trabalhadores avançados do distrito de Walton e por toda Liverpool de apoiar uma candidata que permanecia nas melhores tradições da esquerda, uma marca deste distrito. Walton sempre foi um baluarte do marxismo em Merseyside. O assento foi mantido por Eric Heffer que foi firme em seu apoio à câmara municipal de Liverpool e dos heróicos 49.
Eric morreu em maio de 1991 e sua popularidade foi demonstrada pelas milhares de pessoas que compareceram a seu funeral. O pátio da igreja foi coberto com faixas dos sindicatos, uniões anti-poll tax e dos vereadores suspensos e multados de Liverpool. As ruas em volta estavam cheias de pessoas comuns para despedirem-se de um herói da classe trabalhadora. Tony Benn falou no funeral e disse que a imprensa tentou retratar Eric Heffer como um socialista dos velhos tempos, uma voz do passado: “Mas isso não é verdade. Eric era a voz do futuro das idéias socialistas.” (2)
Contudo, Neil Kinnock estava movendo montanhas para impor um serviçal ao partido de Walton, na forma de Peter Kilfoyle. Kinnock nunca perdoou Eric Heffer por sua posição no congresso do Partido Trabalhista em 1985 e nem mesmo compareceu a seu funeral. Isso apesar do fato de que Eric poderia ter sido um alto funcionário no partido e lutou pelo socialismo toda sua vida. O sentimento de repugnância com a perspectiva de Kilfoyle substituir Eric Heffer provocou sua viúva Doris a declarar, numa entrevista ao The Observer, que a escolha de Kilfoyle “pode ser vista como uma deslealdade à memória de Eric” e que “ele não é o candidato que Eric gostaria.”Kilfoyle foi escolhido para substituir Eric Heffer apenas porque a direita recorreu a massivas manobras organizacionais durante o procedimento de escolha. Queixas de manobra dos candidatos, mesários, fiscais, secretários locais e outros membros do partido foram completamente ignoradas pelo comitê executivo nacional do Partido Trabalhista para que eles pudessem endossar Kilfoyle.
À luz disso, a Esquerda Ampla convencionou numa reunião em 9 de junho tomar a decisão de lançar Lesley Mahmood como candidata do “Verdadeiro Trabalhismo”. O Militant endossou esta decisão, com apenas Ted Grant e Rob Sewell no NEB e um punhado de outros nas fileiras do Militant se opondo à decisão.
Isso foi, contudo, o sinal para os mentirosos alugados da Fleet Street descer em Liverpool para regurgitar toda a feroz campanha anti-Militant do passado.Lesley Mahmood, seu agente Mike Morris e o Militant eram chamados “Bandidos fascistas… mais parecidos com os Camisas Pardas de Hitler… Bárbaros… A Besta é o Militant, o mutante político que tumultuou toda Liverpool por uma década.” (3)
Killroy-Silk no The Express chamaram o Militant: “Uma lata de larvas, o fedor o qual vai estar em torno por muito tempo.” (4)
Uma magnífica campanha foi conduzida pelos apoiadores de Lesley Mahmood, mas o desespero dos trabalhadores de ver o fim do governo Conservador significou que enquanto milhares concordavam e simpatizavam com os argumentos e o programa de Lesley Mahmood, a maioria, muitos tapando seus narizes, votaram no Trabalhismo. Lesley Mahmood recebeu 2.613 votos e surrou o candidato Conservador, uma conquista louvável nas circunstâncias. É claro, Kinnock, Kilfoyle e a direita Trabalhista estavam triunfantes. Contudo, eles manejaram para reduzir a maioria de Eric Heffer de 23.000 para 7.000! Alastair Campbell, na época um colunista do Sunday Mirror e agora porta-voz da imprensa de Tony Blair, demonstrou sua “neutralidade”: “M posição para Mahmood, Militant e as larvas”.Ele apelou ao povo de Walton para votar em “Kilfoyle para ajudar a matar as larvas”. (5) É claro, nos comentários subsequentes de Campbell e seus parceiros não houve menção ao fato de que na pré-eleição de Walton houve uma virada de 13% contra o candidato Trabalhista oficial, Kilfoyle. O voto Liberal subiu 11%. Contudo, na confusão da propaganda anti-Militant até mesmo Kilfoyle foi obrigado a admitir que a direita teve dificuldades em derrotar o Militant em Liverpool, “militância… e parte e parcela da crença que o povo tem nesta cidade.” (6)
Lesley Mahmood
A posição de Lesley Mahmood foi inteiramente justificada dadas todas as circunstâncias na qual ocorreu a pré-eleição. Comentaristas superficiais uma vez mais desconsideraram o Militant, descartando os 2.613 votos no socialismo como “irrelevantes”. Surpreendentemente, um elogio e uma avaliação mais sóbria da performance de Lesley Mahmood veio de uma fonte normalmente pronta a criticar o Militant. Paul Foot escreveu no Socialist Worker:
Leio em todo lugar que Lesley Mahmood foi ‘humilhada’ na pré-eleição de Walton, mas posso escrever de uma longa experiência de humilhações em pré-eleições. Em março de 1977 concorri pelo recém-formado Socialist Workers Party na pré-eleição no assento Trabalhista ‘seguro’ de Stechford, Birmingham. Os Conservadores levaram a vaga, o que causou muito alvoroço. Meus votos não causaram nenhum alvoroço, foram 377 votos. O que foi substancialmente pior do que os 550 votos que Jimmy McCallum conseguiu para o SWP na pré-eleição de Walsall. Incitado, talvez, por estes triunfos, o SWP pôs mais três candidatos parlamentares nos meses seguintes: em Grimsby, Ashfield (Notts) e Glasgow, Garscadden. Não posso dar os números exatos de cada distrito por medo de humilhar os camaradas – mas posso dizer que o total de votos de todos 5 candidatos foi menos do que os 2.600 que Lesley Mahmood ganhou em Walton. Penso que é uma boa votação nas circunstâncias. É uma base razoável para continuar a luta por empregos em Liverpool. (7)
O veredicto da campanha de Lesley Mahmood não pode ser medida meramente pelo número de votos. A campanha alcançou todas as partes do distrito e todas as seções da comunidade de Walton. Levou o caso do socialismo para os trabalhadores e evocou uma resposta entusiástica.
Em Dublin
Na Irlanda na época, o apoiador do Militant Joe Higgins, concorreu como candidato Trabalhista independente, alcançando uma vitória espetacular nas eleições para a câmara do condado de Dublin em 27 de junho. Em Mulhuddart, uma das 3 “novas” cidades nos arredores de Dublin, ele liderou a votação com 1.281 votos. O candidato mais próximo estava 400 votos atrás. Joe, como Lesley Mahmood, foi expulso do Partido Trabalhista depois de ser democraticamente escolhido pelo partido local. Este desdobramentos provocaram a ira dos “tradicionalistas” Trabalhistas. Também levaram ao mais sério debate e discussão internas dos 30 anos do Militant. O argumento de Ted Grant e seus apoiadores era que a decisão de lançar candidatos “independentes” em Liverpool ou Dublin, e criando uma organização independente na Escócia ameaçava “40 anos de trabalho”.
Uma “ameaça a 40 anos de trabalho”?
Eles o resumiram num extenso documento submetido para discussão dentro das fileiras do Militant. [Estes documentos podem ser avaliados em www.marxist.net rapidamente.] Eles disseram “Nosso trabalho nas organizações de massa da classe trabalhadora britânica é de um caráter de longo prazo”, e deveria continuar. (7) Era nossa visão que Ted Grant e Co. Falharam em considerar as mudanças que ocorriam no ponto de vista de significativos setores da classe trabalhadora sobre o que sempre consideramos serem as “organizações tradicionais” da classe trabalhadora.
Os anos 80 viram importantes mudanças ocorrendo dentro da classe trabalhadora. Uma certa estratificação se desenvolveu, economicamente e politicamente. Os com empregos em geral tratavam de manter suas cabeças acima da água, na base de hora extra, aumento de salários ao preço do custo de vida, etc. Ao mesmo tempo, um vasto exército de pobres resultou das ruinosas políticas de Thatcher.Esta camada era constituída de desempregados, trabalhadores empobrecidos pelos baixos salários, sem-teto, um grande setor da juventude alienada, trabalhadores negros e asiáticos. Eles não apenas estavam alienados do capitalismo mas olhavam com aversão para os líderes oficiais do movimento trabalhista que se moveram em grande parte para a direita. Os laços entre a massa da classe trabalhadora e sua organização “tradicional”, o Partido Trabalhista, foram consideravelmente perdidos. Dentro do partido não havia chance de projetar idéias socialistas ou, igualmente importante, intervi no movimento em nome da classe trabalhadora, como o poll tax. Advogar o “não-pagamento” do poll tax era em si suficiente razão para a expulsão do partido.
A minoria de Ted Grant dizia que
nos anos 50. o regime interno era marcado pela caça-às-bruxas contra a esquerda Bevanista, banimentos e proscrições, o repetido fechamento da organização de Juventude Trabalhista. (8)
Mas a maioria mostrou que o Partido Trabalhista dos anos 90 estava muito mais à direita do que nos anos 50. Enquanto ataques eram feitos à esquerda neste período a direita nunca teve sucesso em destruir completamente a esquerda dentro das organizações de base. Além disso, no período de 1952 a 1956 a esquerda Bevanista dominava a maioria dos postos de base do Partido dentro do Comitê Executivo Nacional. Em 1956, a esquerda de fato ganhou todos os postos deste setor e em 1957 Aneurin Bevan ganhou a tesouraria do partido com o apoio de vários sindicatos, incluindo o Sindicato Nacional dos Mineiros, os lojistas, Ferroviários, Eletricistas, e o Sindicato Nacional dos Servidores Públicos, etc. A direita além disso falhou em expulsar Bevan em 1955 por causa da resistência vinda debaixo.
O período dos anos 50 era inteiramente diferente daquele que o marxismo enfrentava nos anos 90. Primeiro, com Kinnock, depois com Smith e agora com Blair, a democracia interna do Partido Trabalhista especialmente a nível local, foi claramente destruída. Peter Hain, no Labour Party News de outubro de 1990, descreveu o Partido Trabalhista como sendo dominado “homens medievais, trabalhando numa ocupação profissional, no setor público da economia.”
A militância do partido era cada vez mais velha; sua média era de 46 anos. A juventude o desertou às levas, atraída para causas mais radicais como os movimentos anti-poll tax e anti-racismo, e a luta mais recente contra a Lei da Justiça Criminal. A liderança Trabalhista ‘respeitável’ de Kinnock, Smith ou Blair estava a quilômetros destas questões, especialmente quando entravam em ação. Ted Grant e co, de outro lado, diziam que
com a perspectiva mais provável de um governo trabalhista[!], nossa tarefa não é dar às costas ao Partido Trabalhista, pelo contrário, começar a fortalecer nosso trabalho nele em preparação para as batalhas que ocorrerão nos sindicatos e serão refletidos no partido. Isso de nenhuma maneira significa nos enterrar no partido, seria um erro fundamental. Mas precisamos urgentemente corrigir a flutuação de camaradas fora do partido ao falhar renovar seus cartões. Porque fazer o trabalho da direita e nos auto-expulsar? (9)
Isso não coincidia com a verdadeira situação.
O Partido Trabalhista perdendo membros
Não eram os apoiadores do Militant mas milhares de trabalhadores estavam votando com seus pés e deixando o Partido Trabalhista nos anos 90. A eleição de Blair à direção do partido além disso apenas serviu para acentuar este processo. No plano eleitoral é claro que a única alternativa viável para os trabalhadores que queriam se livrar dos Conservadores é votar no Trabalhismo.Mas muitos faziam isso “tapando seus narizes”,devido à sua implacável oposição às políticas da direita Trabalhista. De outro lado, há uma significativa camada de trabalhadores e jovens procurando por uma nova alternativa radical, socialista e revolucionária. Um levantamento em 1993 encomendado pela Red Pepper mostrou que havia 3 milhões de pessoas que se consideravam socialistas e “à esquerda” do Partido Trabalhista.
Um dos propósitos de lançar o Scottish Militant Labour (e o Militant Labour em outro estágio), era explorar este sentimento socialista e radical. Independente do tempo, lugar ou circunstância a tarefa para os marxistas, dizia Ted Grant, era meramente sentar no Partido Trabalhista esperando um apoio se materializar quando as condições “objetivas” estivessem suficientemente maduras. Qualquer coisa que ameaçasse a posse de um “precioso” cartão do Partido Trabalhista era vista como um “desvio sectário”.Nesta e em outras questões, Ted Grant e seus apoiadores estavam preparados para dividir e se separarem da mais bem-sucedida organização trotsquista desde o colapso da Oposição de Esquerda.
Um debate completo e democrático se desdobrou dentro das fileiras do Militant na qual as opiniões da maioria foram esmagadoramente endossadas. Numa conferência especial do Militant em novembro de 1991 as opiniões da minoria receberam apenas 7% dos votos.
Derrotados nesta e em outras questões, a minoria retirou todo o apoio financeiro do Militant, começou a coletar fundos para criar sua própria imprensa, instalações de publicação, e uma organização separada.
Terry Fields vai para a prisão
Terry Fields e Dave Nellist se comportaram de um modo exemplar no Parlamento. Eles estiveram na proa da campanha de não pagamento do poll tax. Eventualmente enfrentaram a escolha, que muitos outros antes deles e depois, também enfrentara, sucumbir, pagando o poll tax ou, numa importante questão de princípio, se posicionar com aqueles que não podiam e não iriam pagar. A maioria dos apoiadores do Militant endossou inteiramente a posição de Terry Fields e também de Dave Nellist depois.Isso foi feito com o conhecimento de que a prisão de Terry, que ocorreria em julho, poderia ser tomada por Kinnock como uma desculpa para removê-lo como MP Trabalhista e expulsá-lo do Partido Trabalhista. Kinnock escandalosamente declarou:
O Partido Trabalhista não apóia e nunca apoiará a quebra da lei. O sr. Fields escolheu quebrar a lei e precisa arcar com as consequências. Ele está por sua conta. (10)
Ao fazer esta declaração Kinnock não apenas se distanciou de Terry Fields mas da história do movimento trabalhista que era de desafiar leis injustas. Quatro anos antes num congresso do partido Kinnock apresentou um prêmio de mérito Trabalhista a um Sufragista de 102 anos que “que foi preso por um dia por desobedecer a Câmara dos Lordes”. Naquele congresso este “gesto” heróico recebeu “aplausos e ovações”. Agora Kinnock desdenhava sobre as cabeças daqueles como Terry Fields que estavam se posicionando por sua classe. Perguntamos: E sobre os Cartistas ou os mártires de Tolpuddle, ou os estivadores que foram para a prisão em desafio à Lei anti-Sindicatos de Heath no começo dos anos 70? “Poderia Kinnock dizer que eles estavam por sua conta?” (11)
Ele teria encontrado dificuldades em 1972 com milhões das fileiras sindicalistas do lado dos estivadores e ameaçando uma greve geral. O dia seguinte após Terry Fields ser preso o Daily Mail escreveu:
A campanha contra o pagamento foi inspirado pelo Militant e se tornou popular, uma campanha nacional que contribuiu para matar a taxa e sua substituição pela nova taxa municipal. (12)
A punhalada nas costas de Kinnock para Terry Fields foi um dos mais vergonhosos incidentes da época de Kinnock como líder partidário. Terry Fields recebeu enorme apoio de todo o país por sua posição. Um trabalhador da área de Old Swan de Liverpool escreveu para ele: “Não somos membros ou apoiadores do Militant mas votamos para você como um homem principista e preocupado”. (13) Outro trabalhador de Tuebrook declarou sem rodeios:
A história provará que a gangue de Kinnock são traidores, e os poucos com princípios e integridade como você e Eric Heffer e Tony Benn serão lembrados com afeição e respeito depois que a outra gangue for jogada na obscuridade. (14)
Mais de 1.000 marcharam para o comício “Terry Fields Livre” fora da prisão de Walton. Arthur Scargill foi o principal orador. Terry foi solto em setembro depois de cumprir 60 dias. Mais menos de duas semanas depois de sua libertação ele enfrentou outro “processo” criado pelo comitê executivo nacional Trabalhista, que o interrogou em 25 de setembro como primeiro passo para removê-lo como MP Trabalhista. No mesmo dia o NEC tomou um passo similar contra Dave Nellist. Sua suspensão como membro às vésperas do congresso do Partido Trabalhista foi um passo rumo à expulsão e uma medida de mordaça para impedi-los de apelar ao congresso e usá-lo como uma plataforma de oposição às políticas da direção.
NEC se move contra Terry e Dave
A ‘evidência’ contra Terry Fields era de que ele fez um chamado ao Trabalhismo para “nacionalizar os setores chave da economia”. Contudo, a verdadeira razão para as medidas precipitadas de Kinnock contra os dois foi revelada sem querer por Ray Powell, líder da bancada, direitista, que disse que: “a perspectiva de 2 MPs mudando a balança do poder se o Trabalhismo for eleito com uma pequena minoria, enchia a direção de terror.” (15)
O comitê executivo nacional queria que Dave Nellist repudiasse o Militant como o preço para permanecer no partido. Ele se recusou a fazer isso. No congresso partidário em outubro, 350 sindicalistas e socialistas liderados por Dave Nellist e Terry Fields marcharam contra a caça-às-bruxas. Ao fim da manifestação uma vitoriosa reunião foi realizada numa escola local com acolhidas extasiadas para Dave e Terry. Tony Benn declarou:
Precisamos de uma corrente marxista no Partido Trabalhista. Karl Marx não é mais responsável pelo que acontece na Rússia do que Jesus Cristo pela Inquisição Espanhola. (16)
Dennis Skinner, antecipando a fala do secretário geral Larry Whitty no dia seguinte, disse que Terry Fields estava sendo atacado por não apoiar Peter Kilfoyle em Walton! Mas e os 130 MPs que não foram à Walton? Ele perguntou. Skinner também pontuou que o NEC que tomou ação contra Dave Nellist, Clare Short estava “atormentando Dave” exigindo, “queremos uma resposta, sim ou não,” quando queriam que ele renegasse suas idéias. Antes do ano Terry Fields foi expulso do Partido Trabalhista, o primeiro MP Trabalhista em 50 anos a ser descartado desta maneira pelos líderes do partido. Nós comentamos: “Isso não vai ganhar um voto Trabalhista extra. Pelo contrário, desapontará milhares.” (17)
Deputado Apagado do Ano
A decisão de expulsão foi atrasada no caso de Dave Nellist parcialmente porque a direção estava embaraçada por ele ter recebido o prêmio “Deputado Apagado do Ano” pela revista Spectator. Dave Nellist pagou uma rara visita ao Savoy Hotel em Londres para receber o prêmio. Poucos dias depois, como ele apontou na recepção do Savoy, ele enfrentou um chamado do Partido Trabalhista na qual se fez a acusação de que ele era culpado de “um curso sustentado de conduta levando o partido ao descrédito.” (18) Num almoço no Spectator Dave disse: “Há provavelmente muitos poucos em casa que pensariam que hoje eu viria a este lugar e sentaria com todos vocês, capitalistas inchados! (19)
1 Militant 1039 3.5.912 Militant 1044 7.6.91 3 Militant 1046 21.6.91 4 Quoted In Militant, ibid 5 Quoted In Militant 1048 5.7.91 6 ibid 7 Socialist Worker 13.7.91 8 Minority Document – “The New Turn – A Threat To 40 Years Work”, Para 96 9 ibid, Para 32 10 Militant 1050 19.7.91 |
11 ibid12 Daily Mail 13.7.91 13 Militant 1052 9.8.91 14 ibid 15 Militant 1059 4.10.91 16 ibid 17 Militant 1068 6.12.91 18 ibid 19 ibid |