No 20º aniversário de 1989 – a queda do stalinismo

No vigésimo aniversário de 1989 os ideólogos, políticos e a mídia do capitalismo mundial desejam reforçar na consciência popular que os eventos daquele tumultuoso ano significam apenas uma coisa: a “derrota final” do marxismo, do “comunismo” e do próprio socialismo, enterrados para sempre sob o entulho do Muro de Berlim. Eles também significam a vitória final do capitalismo, que “encerrou a história” de acordo com Francis Fukuyama, e estabeleceram esse sistema como o único modelo possível de organização da produção e gestão da sociedade.

Um paradigma econômico, que aboliria até mesmo os ciclos de crescimento e queda do capitalismo, estabelecera uma escada dourada que levaria a uma existência cada vez mais humana, justa e civilizada. A crise econômica da primeira metade dessa década, acompanhada pelas guerras do Iraque e Afeganistão, afetou severamente esse prognóstico. A atual e devastadora “grande recessão” o desacreditou totalmente. Além disso, foi o marxismo – como os membros e apoiadores do Partido Socialista e de seu jornal – que previu isso. Mas nós deveríamos ter sido relegados às margens, destinados a nunca mais exercermos qualquer influência.

O resultado dos momentosos eventos de 1989 foi de fato uma ‘revolução’, mas uma contra-revolução social, que resultou no final na liquidação do que restava das economias planejadas da Rússia e Leste Europeu. Mas esse movimento, que varreu um país a outro, não começou com esse objetivo, especialmente por parte das massas. Nem os capitalistas – através de seus representantes como a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e o presidente francês François Mitterrand – esperavam ou, no início, saudaram de todo o coração os movimentos de massas que acompanharam o colapso dos regimes stalinistas.

O brutal órgão do capital financeiro americano, o Wall Street Journal, comentando a competição entre o capitalismo e os regimes “comunistas” do Leste Europeu, declarou simplesmente no início de 1990: “Nós ganhamos”. Um não menos exultante Independent (8 de janeiro de 1990) falava da “confiança de que – como sistema – o capitalismo é um vencedor”. A impressão dada desde então é que os adivinhos olímpicos do capitalismo previram os eventos de 1989. Mas o Financial Times – o porta-voz do capital financeiro na época e agora – escreveu: “A Alemanha Oriental ainda não possui nenhum movimento de massas no horizonte, a liderança da Tchecoslováquia não pode permitir o questionamento da fonte de sua legitimidade na invasão soviética de 1968, a Hungria enfrenta dissidentes, mas ainda não é um proletariado em ascensão. A Bulgária introduzirá reformas ao estilo soviético, mas sem o caos ou a democracia imatura soviética, a Romênia e a Albânia estão encerradas em aço”. Isso foi escrito por John Lloyd, que antes era do New Statesman, não três décadas antes, mas em 14 de outubro de 1989, menos de um mês antes do colapso do Muro de Berlim!

Entendendo o stalinismo

Mitigando esse “lapso” nas “perspectivas”, o finado Hugo Young escreveu no jornal The Guardian (29 de dezembro de 1989) que “ninguém jamais previu” os momentosos eventos daquele ano. Isso não é verdade. Foi precisamente o teórico marxista Leon Trotsky, com seus métodos “antediluvianos”, que mais de meio século atrás previu a inevitável revolta da classe trabalhadora contra o stalinismo (naquela época confinado à “União Soviética”). Ele previu um movimento de massas para derrubar os usurpadores burocráticos que controlavam o estado e uma revolução política para estabelecer a democracia dos trabalhadores. Mas ele também escreveu nos anos 1930, em sua obra monumental, A Revolução Traída, que uma ala da burocracia poderia presidir um retorno ao capitalismo.

Essa idéia não foi tirada da cabeça de Trotsky mas se baseou em uma meticulosa análise das contradições do desgoverno stalinista e das forças que ele inevitavelmente iria conjurar. Karl Marx pontuou que a chave para a História era o desenvolvimento das forças produtivas – ciência, técnica e a organização do trabalho. Ele também disse que nenhum sistema desaparece sem esgotar todas as possibilidades latentes dentro dele. O capitalismo, um sistema econômico baseado na produção pelo lucro – o trabalho não pago da classe trabalhadora – como sua razão de ser, ao invés da necessidade social, enfrenta um ciclo de crescimento e queda, que até Gordon Brown agora é forçado a reconhecer. Mas, como Trotsky analisou, o stalinismo – por razões diferentes do capitalismo – ao exercer uma camisa de força burocrática, se tornaria um freio absoluto ao desenvolvimento econômico da sociedade em uma certa etapa.

No período que vai provavelmente até o fim dos anos 1970, apesar das monstruosidades de Stalin e do regime que ele presidiu – os processos de expurgo, o trabalho escravo dos gulags – a indústria e a sociedade se desenvolveram. Nesta etapa, apesar dos custos colossais do desgoverno burocrático, o stalinismo jogou um papel relativamente progressista. Há algumas analogias com o capitalismo em sua ascensão no século 19 até 1914, quando ele se tornou uma barreira ao progresso, como mostraram os horrores da primeira guerra mundial. Face à estagnação, regressão e até desintegração, que é o que ocorreu nos estados stalinistas – especialmente na Rússia a partir do final dos anos 1970 – os regimes foram de um expediente a outro. Eles se moveram da centralização à descentralização, e depois para a recentralização, em vãs tentativas de escapar do beco sem saída burocrático.

Os métodos do governo burocrático, do comandismo, poderiam ter algum efeito quando a tarefa na Rússia era copiar as técnicas industriais do Ocidente, desenvolver uma infraestrutura industrial etc., e quando o nível cultural da massa da classe trabalhadora e do campesinato ainda era baixo. Mas nos anos 1970 a Rússia se tornou altamente industrializada e, mesmo que algumas afirmações de sucesso fossem exageradas, um rival industrial dos EUA. Em uma etapa, ela produziu mais cientistas e técnicos do que até mesmo os EUA. Mas a própria criação de uma força de trabalho culturalmente mais avançada – altamente educada em alguns sentidos – fez com que o governo da cúpula entrasse em colisão com as necessidades da industria e da sociedade. Os preços para milhões de mercadorias, por exemplo, eram fixados burocraticamente nos ministérios centrais em Moscou, enquanto o regime se tornava cada vez mais um obstáculo. O descontentamento das massas cresceu e se refletiu não apenas nas tentativas de revolução política na Hungria em 1956, Polônia, Tchecoslováquia em 1968 etc., mas também na Rússia. As greves de 1962 em Novocherkassk, por exemplo, mostraram o perigo que ameaçava a continuidade do governo da burocracia.

Levantando a tampa

Foi essa situação que Mikhail Gorbachev, que chegou ao poder na União Soviética representando uma ala mais ‘liberal’ da burocracia, empenhou-se em mitigar através da perestroika (reestruturando a política e a economia) e da glasnost (abertura). Nos relatos históricos subsequentes, Gorbachev tornou-se a figura que presidiu o retorno ao capitalismo na Rússia e a liquidação da antiga URSS. Contudo, ele não começou com essa intenção. Como todas as classes ou elites dominantes, e na tradição dos antigos dirigentes burocráticos, de Stalin em diante, sentindo os murmúrios e descontentamento em massa vindos de baixo, Gorbachev tentou desesperadamente introduzir reformas como um meio de impedir a revolução. Inevitavelmente, uma minúscula abertura da panela de pressão produz o resultado da revolta em massas que ela pretendia evitar.

Ao comentar 1989, os representantes capitalistas abandonaram sua hesitação usual de até mesmo proferir a palavra “revolução”. Isso contrasta com sua descrição – repetida ad nauseam, especialmente na recente biografia de Trotsky por Robert Service – da Revolução de Outubro na Rússia de 1917 como um “golpe”. Ao descrever 1989 como uma revolução, eles estão pelo menos meio corretos. Houve o início de uma revolução – para ser mais preciso, elementos de uma revolução política – na Alemanha Oriental, Romênia, Tchecoslováquia, China com os eventos da Praça Tiananmen (Praça da Paz Celestial), e mesmo na própria Rússia, embora com um movimento de massas que não alcançou as mesmas alturas. Em todos esses países houve inicialmente uma inquestionável expressão por reformas democráticas dentro do sistema, uma aceitação implícita da continuidade da economia planificada. Esse movimento varreu os países com uma tremenda velocidade, como fogo na pradaria. Um cartaz em Praga na época dizia: “Polônia – 10 anos. Hungria – 10 meses. Alemanha Oriental – 10 semanas. Tchecoslováquia – 10 dias. Romênia! 10 horas”.

Além disso, os métodos usados para derrubar os regimes stalinistas foram manifestações em massa e greves gerais – não os métodos usuais da contra-revolução burguesa – com demandas que tinham como objetivo reduzir ou abolir os privilégios da burocracia. Em uma das muitas reportagens do Militant (predecessor do The Socialist) antes do colapso do regime stalinista na Alemanha Oriental, a demanda por democracia era evidente. Em 24 de outubro, nós reportamos: “Alguns milhares de jovens marchavam pelas ruas. Eles foram bloqueados por fileiras policiais, com os braços entrelaçados. Os jovens marcharam até eles e começaram a cantar: ‘Vocês são a polícia do povo. Nós somos o povo. Quem vocês estão protegendo?’ Eles cantaram a Internacional e então começaram uma canção das lutas contra o fascismo chamada ‘A Frente Unida dos Trabalhadores’. Suas palavras tiveram um particular efeito sobre a polícia: ‘Vocês também pertencem à frente unida dos trabalhadores, pois vocês também são trabalhadores’. A polícia simplesmente ficou parada e foi varrida de lado enquanto os jovens iam adiante. Nos bares, tropas de soldados discutiam abertamente com os trabalhadores e jovens. Um grupo discutia a perspectiva do regimento receber ordens de atirar nos manifestantes. Um conscrito exclamou: ‘Eles podem ordenar, mas nós nunca atiraremos no povo. Se eles fizerem isso vamos voltar as armas contra os oficiais’.”

Na Rússia apareceram cartazes: ‘Não o povo para o socialismo, mas o socialismo para o povo; abaixo os privilégios especiais para políticos e burocratas, os servos do povo devem ter de ficar nas filas”. Nesta etapa, uma pesquisa de opinião na Rússia mostrou que apenas 3% votariam em um partido capitalista nas eleições multipartidárias. Os representantes sérios do capitalismo temiam que as demandas por uma revolução política tomariam precedência sobre o sentimento pro-capitalista que sem dúvida existia em algumas camadas. Um, talvez dois milhões de trabalhadores estavam nas ruas de Beijing, com meio milhão saudando Gorbachev em maio. Depois da sangrenta supressão da Tiananmen, o antigo primeiro-ministro conservador britânico Edward Heath apareceu na TV ao lado de Henry Kissinger, o notório braço direito do presidente Nixon nos bombardeios do Vietnã e do Camboja. Heath declarou: “Os estudantes e trabalhadores chineses não estavam atrás do tipo de democracia que defendemos… eles estavam cantando a Internacional”. Kissinger queixou-se de era “uma pena” que o movimento de massas tivesse manchado o fim da carreira do líder chinês Deng Xiao-Ping.

Para o registro, ambos se opunham ao derramamento de sangue. Mas mais importante para eles era a manutenção das relações comerciais com a burocracia chinesa. De forma nauseante, o deputado trabalhista de direita Gerald Kaufman – famoso recentemente pelo seu envolvimento nos escândalos das despesas indevidas de deputados – então porta-voz trabalhista de assuntos internacionais, declarou: “Pode-se entender que o governo chinês quisesse retomar o controle da praça, embora ele tenha ido exageradamente longe demais para isso”.

Alarme no Ocidente

Thatcher também expressou alarme com os eventos no Leste Europeu, especialmente com a perspectiva da reunificação alemã após o colapso do Muro de Berlim. Documentos recentemente contrabandeados da Rússia e publicados no The Times em setembro mencionam que Thatcher “dois meses antes da queda do muro… disse ao presidente Gorbachev que nem a Grã-Bretanha nem a Europa Ocidental queriam a reunificação da Alemanha e deixou claro que ela queria que o líder soviético fizesse o que pudesse para detê-la”. Ela declarou: “Não queremos uma Alemanha unida… Isso levaria a uma mudança nas fronteiras do pós-guerra, e não podemos permitir isso porque tal acontecimento minaria a estabilidade de toda a situação internacional e colocaria em risco nossa segurança”.

Em uma reunião com Gorbachev ela insistiu que a gravação fosse desligada. Infelizmente para ela, foram feitas notas de seus comentários. Ele não se importava com o que estava acontecendo na Polônia, onde o Partido Comunista foi derrotado na primeira eleição aberta no Leste Europeu desde a tomada stalinista, “apenas algumas das mudanças na Europa Oriental”. Incrivelmente, especialmente com as subsequentes declarações belicosas do presidente dos EUA George Bush pai sobre o Pacto de Varsóvia, ela queria que ele “continuasse existindo”. Ela expressou especialmente sua “profunda preocupação” com o que acontecia na Alemanha Oriental.

Mitterrand também estava alarmado com a perspectiva da reunificação alemã e até mesmo considerou uma aliança militar com a Rússia para “impedi-la”. Ele estava preparado para camuflar isso como “uso conjunto dos exércitos para combater desastres naturais”, usado, de fato, como um alerta casa as massas da Alemanha Oriental fossem longe demais. De um lado, a posição de Thatcher e Mitterrand expressavam o medo de um capitalismo alemão fortalecido, mas também de que as repercussões destes eventos pudessem acionar um incontrolável movimento de massas na Europa Ocidental e outros lugares. Um dos conselheiros de Mitterrand, Jacques Attali, até mesmo disse que ele “iria viver em Marte se a unificação [alemã] ocorresse”. Thatcher escreveu em suas memórias: “Se há um exemplo no qual a política externa que eu conduzi encontrou um fracasso explícito, foi minha política sobre a reunificação alemã”.

Gorbachev e seu séquito do Kremlin, embora lisonjeados com os louvores dirigidos a eles por círculos capitalistas ocidentais, estavam em pânico com o ritmo e a sequência dos eventos na Europa Oriental. Gorbachev ingenuamente acreditava que com concessões parciais e a recusa de sustentar os dinossauros stalinistas na Alemanha Oriental (ele pensava que Erich Honecker, o intransigente autocrata deste país, era um ‘idiota”), as massas seriam gratas e satisfeitas. Gorbachev não tinha intenções, no início, de ‘liberalizar’ o stalinismo da existência. Ele certamente não tinha intenções declaradas de desencadear o capitalismo. Mas, como o resto dos regimes stalinistas, ele foi arrastado pelos eventos. Não foram apenas Honecker, os Ceaucescus na Romênia, as gangues stalinistas dirigentes na Bulgária e em outros lugares que foram derrubados. Eventualmente, os movimentos no Leste Europeu – na “periferia” do stalinismo – se espalharam para o coração russo. O resultado final foi o retorno ao capitalismo na Europa Oriental e na própria Rússia.

A restauração capitalista era inevitável?

Esse resultado era inevitável? Não há “inevitabilidade” na história se, quando as condições para a revolução estiverem maduras, o “fator subjetivo” estiver presente na forma de uma direção e partidos revolucionários testados e temperados. Isso claramente faltava em todos os estados stalinistas, especialmente na própria Rússia. Havia uma repulsa generalizada com o governo desenfreado da burocracia, e também demandas para reduzir os privilégios e a corrupção em larga escala. Havia um anseio e uma busca das massas pelo programa da democracia dos trabalhadores em todos os estados. Além disso, os eventos estavam sendo feitos nas ruas, nas fábricas e nos locais de trabalho. Anteriormente, os marxistas esperavam e acreditavam que era possível, logo após uma revolta em massa, mesmo com um número limitado de quadros marxistas, a criação de um partido de massas. Então, com a direção necessária, isso poderia ajudar as massas a implementarem as tarefas da revolução política: mantendo a economia planificada mas renovando-a com base na democracia dos trabalhadores. Mas eles trabalhavam em sua maioria no escuro, sem raízes ou uma presença real nos estados stalinistas. Dado a presença de “estados fortes” de caráter totalitário no período que levou direto aos eventos de 1989, um trabalho de massas sério era problemático.

A situação era um pouco diferente na Polônia, onde pronunciadas tendências pró-capitalistas estavam evidentes por todos os anos 1980, especialmente após o fracasso do movimento Solidariedade de 1980-81. Naquela época, os elementos de uma revolução política existiam até mesmo no programa do Solidariedade, embora sob a direção de Lech Walesa ele estivesse sob o signo da religião, da Igreja Católica. Já coexistindo ao lado desses elementos havia sentimentos pró-capitalistas. O esmagamento militar do movimento Solidariedade em 1981 foi realizado não pelo Partido “Comunista” Polonês – cuja autoridade já tinha evaporado completamente – mas pelo regime militar-bonapartista stalinista do General Jaruzelski. Isso, aliado ao crescimento econômico do capitalismo dos ano 1980, empurrou para o último plano a esperança da democracia dos trabalhadores e da manutenção da economia planificada. O sentimento das massas se voltou para outras alternativas, especialmente o retorno ao capitalismo, revelado durante as visitas de Thatcher e Bush à Polônia em 1988. Eles receberam uma enorme saudação nas ruas de Varsóvia, com as massas, ingenuamente como foi revelado, esperando melhores resultados, em termos de maiores padrões de vida, do que os do desacreditado modelo stalinista desabando ao seu redor.

Esse processo não foi tão pronunciado em outros lugares, certamente não na Rússia. Lá, a esperança de uma revolução política não se extinguiu inteiramente entre os marxistas da Rússia e internacionalmente, mesmo com os eventos na Polônia. Afinal, a revolta do povo húngaro em 1956 foi acompanhado pela criação de conselhos de trabalhadores no modelo da Revolução Russa. Isso depois que as massas foram mantidas na noite escura dos 20 anos do terror fascista de Horthy, seguidos pelos dez anos do terror stalinista. Não havia uma tendência dominante pró-retorno ao capitalismo em 1956. O mesmo era verdade na Polônia no mesmo ano, em 1970 e 1980-81. Em 1968 na Tchecoslováquia havia forças que defendiam o retorno ao capitalismo, mas elas estavam em minoria, com a esmagadora maioria das massas buscando as idéias de democracia dos trabalhadores, resumidas na frase do primeiro-ministro Alexander Dubcek, “Socialismo com face humana”.

O esmagamento da “Primavera” tchecoslovaca de 1968 – antes que pudesse florescer no verão de uma revolução política – desferiu um golpe pesado na perspectiva de uma democracia dos trabalhadores como uma saída do impasse do stalinismo moribundo. A História não fica parada; a agonia de morte do stalinismo por mais de uma década, combinada com os aparentes fogos de artifício econômicos do boom capitalista mundial dos anos 1980, geraram a ilusão de que o sistema “do outro lado do muro”, o capitalismo ocidental, oferecia um modelo melhor para o progresso do que o sistema frustrante da Europa Oriental e da Rússia.

 
Por que a resistência limitada?

Uma das questões mais perturbadoras que confrontam os marxistas desde então foi a pouca resistência aparente entre as massas da população quando a Rússia tomou passos na direção do capitalismo. Contudo, uma resposta a esse enigma pode ser encontrada na história do stalinismo, especialmente nas diferentes fases pelas quais ele passou. Em particular, os processos de expurgo organizados por Stalin em 1936-38 representaram um ponto de inflexão decisivo. Ao aniquilar os últimos remanescentes do Partido Bolchevique – destruindo até capituladores como Zinoviev e Kamenev – Stalin esperava anular a memória da classe trabalhadora da URSS. Até então, duas gerações ainda estavam ligadas à Revolução Russa e seus ganhos, na forma da nacionalização das forças produtivas e de um plano de produção.

Além disso, havia um apoio generalizado entre as camadas desenvolvidas da classe trabalhadora internacional para as vantagens e principais conquistas da Revolução Russa. Isso apesar do fato de que, já na Rússia nos anos 1930, como Trotsky pontuou, havia uma crítica generalizada do regime burocrático presidido por Stalin. O advento da revolução espanhola também teve um efeito eletrizante na Rússia, ao gerar esperanças do triunfo da revolução mundial e agitar a memória do que aconteceu na Rússia duas décadas antes. Stalin, portanto, conduziu uma “guerra civil unilateral” para destruir os últimos vestígios do Partido Bolchevique. Mas os expurgos foram muito mais longe do que isso. Ele também usou a situação – no processo vilificando Trotsky e a Oposição de Esquerda Internacional como agentes da contra-revolução estrangeira na URSS – para eliminar na burocracia todas as reminiscências ligadas à memória da revolução. Não foram apenas os Oposicionistas de Esquerda que foram assassinados, mas centenas de milhares de trabalhadores e camponeses, incluindo setores significativos da burocracia. Por meio desses métodos bárbaros, Stalin construiu uma máquina burocrática que não estava ligada de nenhuma maneira com o período heróico da Revolução de Outubro. Pessoas como Nikita Khrushchev, Yuri Andropov e o outros que dominaram o estado nas próximas décadas não participaram da clandestinidade bolchevique ou na revolução de Outubro e, em certo sentido, “não tinham história”, certamente não a rica história revolucionária da Rússia. Todos os elementos críticos dentro da classe trabalhadora também foram eliminados nesta etapa.

Apesar dos monstruosos crimes do stalinismo – incluindo a execução dos altos comandantes militares do Exército Vermelho, o que facilitou a invasão de Hitler em 1941 – as vantagens da economia planificada ainda eram presentes. Além disso, o capitalismo estava assolado por crises, com o desemprego em massa da grande depressão dos anos 1930. Como Trotsky pontuou, havia uma oposição de massas ao stalinismo, mas a mão da classe trabalhadora absteve-se de derrubar o regime por uma combinação de fatores. Não menor era o medo de que um movimento contra Stalin e a burocracia abriria as portas para a contra-revolução capitalista. Ao mesmo tempo, a indústria e a sociedade em termos bastante gerais – e em certa medida os padrões de vida das massas – continuavam avançando apesar da burocracia.

A morte de Stalin, contudo, levou às revelações de Khrushchev no 20º congresso do Partido Comunista da União Soviética e ao chamado “degelo”. Khrushchev denunciou Stalin e alguns de seus crimes, mas, na realidade, apenas doses “admissíveis” de algumas verdades foram permitidas. Mesmo essas verdades parciais misturadas com mentiras não tocavam nos mitos e falsificações stalinistas. Khrushchev temia ir longe demais e os líderes stalinistas russos como Leonid Brejnev, que derrubaram Khrushchev, proibiram quaisquer novas “revelações” reais dos crimes de Stalin e das causas do próprio stalinismo. Depois, eles até mesmo aceitaram sua reabilitação parcial. Portanto, à medida que o sistema começou a se despedaçar, não existia na Rússia nenhuma alternativa marxista real, sem falar de uma consciência de massas desenvolvida que apresentasse um programa de democracia dos trabalhadores.

Teria sido inteiramente possível na época do colapso do stalinismo, desde o final dos anos 1980, apresentar um quadro claro das razões dos expurgos, os processos, as causas do stalinismo e a alternativa a esse sistema desacreditado. Mas, ironicamente, os expurgos e a máquina repressora dizimaram qualquer “fator subjetivo” que pudesse se desenvolver e jogar um papel decisivo. Contudo, seria um erro concluir que não havia elementos na Rússia que buscassem um programa de democracia dos trabalhadores. Mas estes eram muito fracos para conter a atração do ocidente capitalista, especialmente para uma nova geração completamente despreparada, seduzida pela aparente abundância dos bens de consumo que foram levados a acreditar que estavam lá para quem quisesse.

Capitalismo gangster

O retorno do capitalismo barrou qualquer tentativa de investigar honestamente as raízes e razões do stalinismo, na preparação para a restauração da economia planificada com base na democracia dos trabalhadores. Os poucos que tentavam eram esmagados por uma onda da maliciosa propaganda anticomunista dos chamados jornais “democráticos” a serviço da burguesia emergente. Eles eram o espelho burguês da escola stalinista de falsificação. O totalitarismo stalinista, diziam, surgiu do caráter “criminoso” do bolchevismo; a revolução russa foi um “golpe” etc.

O que se seguiu foi uma orgia de propaganda capitalista que inundou a Rússia pós-1989, acompanhada pelas promessas do que o então chanceler alemão Helmut Kohl previu “paisagens florescentes” em um mundo pós-stalinista. Na estrada do retorno ao capitalismo, as massas nestes estados eventualmente chegariam aos padrões de vida alemães, se não americanos. “Passando por Bangladesh”, replicava o pequeno bando de marxistas na Europa Oriental. No melhor, o que se poderia esperar para a classe trabalhadora da Rússia e Leste Europeu, dizíamos, era talvez que ela afundaria nos padrões de vida latino-americanos. Isso, temos que confessar hoje, era uma perspectiva desesperadamente otimista. A Rússia experimentou um colapso sem precedentes em suas forças produtivas que excedia em alcance e profundidade a grande depressão dos anos 1930.

Entre 1989-98 quase metade (45%) de sua produção foi perdida. Isso foi acompanhado por uma desintegração sem precedentes em toda a antiga URSS nos elementos básicos de uma sociedade “civilizada”, com as taxas de homicídio e crimes dobrando. Em meados dos anos 1990 a taxa de assassinatos era de mais de 30 por 100.000 pessoas, contra um ou dois na Europa Ocidental. Apenas dois países na época tinham taxas mais altas: África do Sul e Colômbia. Mesmo no Brasil e México, com alta criminalidade, os dados eram 50% mais baixos do que a Rússia. A taxa de homicídios dos EUA, o mais alto no mundo “desenvolvido”, de 6-7 por 100.000, não era nada em comparação. Em 2000, um terço da população russa vivia abaixo da linha da pobreza oficialmente definida. A desigualdade triplicou.

A taxa de homicídios foi um produto e um sintoma do irrefreável capitalismo gangster. Ex-membros da Liga da Juventude Comunista, como o proprietário do Chelsea Futebol Clube, Roman Abramovitch, apoderaram-se da parte lucrativa das antigas empresas estatais – como as do petróleo – para si mesmos. Um tiroteio ao estilo dos gangsteres de Chicago nos anos 20 a uma escala nacional ou mesmo continental ocorreu entre os diferentes grupos sobre a divisão do bolo estatal. A economia russa foi efetivamente partida ao meio por causa da destruição forjada pelo retorno ao capitalismo. As rendas reais nos anos 1990 afundaram em 40%. Em meados do fim dos 1990 mais de 44 milhões das 148 milhões de pessoas da Rússia viviam na pobreza – definida como menos de 32 dólares por mês. Três quartos da população viviam com menos de 100 dólares por mês. Os suicídios dobraram e as mortos por excesso de álcool triplicaram em meados dos 1990. A mortalidade infantil caiu a níveis de terceiro mundo enquanto a taxa de natalidade colapsou. Em meros cinco anos de “reforma”, a expectativa de vida das mulheres caiu em dois anos para 72, e em quatro anos para 58 entre homens. Incrivelmente, para os homens isso era mais baixo do que há um século antes! Se a taxa de homicídios tivesse continuado, a população russa teria colapsado em um milhão por ano, caindo para 123 milhões, um colapso demográfico não visto desde a segunda guerra mundial, quando a Rússia perdeu de 25 a 30 milhões de pessoas. No fim de 1998 pelo menos dois milhões de crianças russas estavam órfãs – mais do que em 1945. Apenas 650.000 viviam em orfanatos, enquanto o resto dessas infelizes crianças não tinham lar!

A nova burguesia, no que foi descrito como um infernal e irrefreável saqueio, de fato roubou tudo o que podia agarrar. Ela saqueou a riqueza e os recursos naturais da nação, vendeu o ouro, os diamantes o petróleo e o gás estatais. Os horrores da revolução industrial – o nascimento do capitalismo moderno – descrito graficamente no Capital de Marx – não foram nada comparados com os monstruosos crimes com que a nova burguesia russa celebrou sua entrada no mundo. Esse inferno na Terra diminuiu um pouco no fim dos anos 1990 com o crescimento da renda nacional abastecido principalmente pela exportação de petróleo e gás, amparado no boom capitalista mundial que agora chegou ao fim. Politicamente, o caos dos anos 1990 foi substituído pela “ordem” de Vladimir Putin e Dmitri Medvedev. Mas a Rússia ainda não alcançou, na produção manufatureira pelo menos, o nível de 1989-90. Essa é um devastador veredicto ao “renascimento” do capitalismo na Rússia. Comparada com a criança saudável e robusta da revolução industrial no nascimento do capitalismo, a Rússia moderna ainda está lutando para respirar, sem falar de caminhar e correr. As massas de todos os ex-estados stalinistas carregam um terrível fardo com o retorno do capitalismo.

Consequências de longo alcance

A classe trabalhadora internacional também pagou um preço pesado. O colapso desencadeado em 1989 não foi apenas do aparato stalinista mas, com ele, das economias planificadas, o principal ganho herdado da própria Revolução Russa. A contra-revolução social que fez a roda da história voltar atrás nestes estados também mudou decisivamente as relações mundiais por um período. Sozinho entre os marxistas, o Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) reconheceu o que esse reverso representava. Foi uma derrota histórica para a classe trabalhadora. Antes disso um modelo alternativo para a gestão da economia – apesar das monstruosas distorções do stalinismo – existia na Rússia, Leste Europeu e, em certo sentido, também a China. Isso agora era eliminado. Fidel Castro comparou o fim destes estados como equivalente ao ‘sol sendo apagado’. Para os marxistas, essas sociedades não representavam o sol. Mas elas, pelo menos em sua forma econômica, representavam uma alternativa que, com base na democracia dos trabalhadores, poderia levar a sociedade adiante.

Embora reconhecendo o que tinha ocorrido, também mostramos que essa derrota não era da escala dos anos 1930, quando Hitler, Mussolini e Franco esmagaram as organizações dos trabalhadores, lançando assim as bases para a catástrofe da 2ª Guerra Mundial. A derrota do fim dos anos 1980 foi mais de caráter ideológico que permitiu aos ideólogos capitalistas ridicularizar qualquer projeto socialista futuro.

Entretanto, embora o colapso do stalinismo fosse em grande parte um golpe ideológico na classe trabalhadora internacional, ele também teve sérias repercussões materiais. Isso levou ao completo colapso político dos líderes das organizações de trabalhadores, que abandonaram o socialismo mesmo como um objetivo histórico, e abraçaram as idéias capitalistas de uma forma ou outra. Não apenas na Grã-Bretanha, com o advento do Novo Trabalhismo, mas internacionalmente os antigos partidos de trabalhadores implodiram em formações capitalistas. Eles apenas diferiam dos partidos abertamente burgueses da mesma forma que os partidos capitalistas liberais ‘radicais’ diferiam no passado e ainda diferem nos EUA, na forma dos Democratas e Republicanos – diferentes lados da mesma moeda capitalista. Nos sindicatos, as direções em sua maioria abandonaram qualquer idéia de uma alternativa ao capitalismo. Eles portanto procuravam se acomodar ao sistema, barganhando entre o trabalho e o capital, ao invés de oferecer um desafio fundamental.

Se você aceita o capitalismo, você aceita sua lógica, suas leis, especialmente a busca dos patrões em maximizar a lucro em nome dos capitalistas em detrimento da classe trabalhadora. Isso vai de mãos dadas com a “parceria social”. Isso pode levar ao “sindicalismo empresarial”, que limita qualquer movimento militante da classe trabalhadora para obter mais do que os patrões supostamente podem dar. De fato, o desenvolvimento dos líderes sindicais domesticados, acomodando-se aos limites do sistema, junto com o abandono de qualquer objetivo histórico do socialismo pelos líderes das organizações dos trabalhadores, encorajou enormemente a confiança e o poder dos capitalistas. Isso facilitou – sem qualquer resistência real dos líderes sindicais – uma massiva disparidade de renda em uma escala não vista desde antes da primeira guerra mundial. O capitalismo desenfreado não foi contido pelos líderes sindicais. Pelo contrário, isso deu a eles pleno alcance para que espremessem impiedosamente a classe trabalhadora a fim de obterem um maior rendimento – com uma fatia cada vez menor indo para os salários – tudo no altar de um capitalismo reanimado.

Teste para a esquerda

Os eventos de 1989 e suas consequências foram testes para os marxistas e aqueles que afirmavam estarem na posição trotskista. Com a exceção do CIT, a reação da maioria das organizações marxistas deixou a desejar, para dizer o mínimo. Os morenistas na América Latina (a Liga Internacional dos Trabalhadores, LIT) procurou enterrar suas cabeças na areia, recusando-se a reconhecer que o capitalismo tinha sido restaurado. Eles apenas mudaram de posição os eventos os acertaram na cabeça e não era mais possivel negar a realidade. Os “capitalistas de estado” – a direção da Tendência Socialista Internacional (IST, em inglês), incluindo o SWP britânico – acreditavam que a Rússia e o Leste Europeu não eram estados operários deformados, mas capitalismos de estado. O retorno do capitalismo não foi considerado uma derrota, mas um “movimento lateral”. Na Alemanha Oriental, o IST apoiou a reunificação da Alemanha em uma base capitalista. Essa abordagem foi acompanhada pela desastrosa teoria de que nada tinha mudado fundamentalmente no mundo e que, portanto, os anos 1990 eram favoráveis ao marxismo por serem “os anos 1930 em câmera lenta”.

Ao outro lado, os partidários do Secretariado Unificado da Quarta Internacional também tiraram conclusões pessimistas. Seu principal teórico, Ernest Mandel, confessou a Tariq Ali pouco antes de morrer que o “projeto socialista” estava fora da agenda por pelo menos 50 anos!

Todos os que previram o aumento colossal do ciclo de vida do capitalismo, junto com o enterro do socialismo por gerações, foram respondidos na teoria com os argumentos e idéias apresentados pelo genuíno marxismo nas últimas duas décadas. Mas o impacto dos eventos tem sido a maior resposta aos céticos, especialmente a atual e devastadora crise mundial do capitalismo. A intervenção econômica dos governos capitalistas mundialmente conseguiu evitar uma repetição imediata, talvez apenas temporária, da depressão mundial dos anos 1930. Ao mesmo tempo, a consciência da classe trabalhadora sobre a gravidade da situação ainda não alcançou a situação objetiva. Isso restaurou parcialmente a confiança anteriormente despedaçada dos porta-vozes do capitalismo mundial, que temiam que levantes em massa desafiando as próprias bases de seu sistema se desenvolvessem em conseqüência da crise.

Em geral, o pensamento humano é muito conservador; a consciência da classe trabalhadora sempre esteve atrás dos eventos. Isso é reforçado quando a classe trabalhadora não possui organizações de massas que podem agir como um ponto de referência na luta contra o capitalismo. A direita, mesmo a extrema-direita, parece ter sido a principal grande beneficiária política desta crise. Isso não é único ou excepcional na primeira fase de uma crise econômica. Algo similar também se desenvolveu em alguns países nos anos 1930, como pontuou recentemente o comentarista político britânico Seumus Milne no The Guardian. Contudo, ele foi muito generalizante ao dar a impressão de que isso era a reação imediata em todos os países. A crise de 1930 também testemunhou uma radicalização política entre a classe trabalhadora numa extensão muito maior do que se desenvolveu até agora nesta crise.

É verdade que houve o fortalecimento dos nazistas na Alemanha, como resultado da crise dos anos 1930. Mas também a revolução espanhola começou a se desdobrar e as massas entraram em ação, tardia mas decisivamente na França de 1931 em diante. O fato que estava presente, embora de forma imperfeita, nos anos 1930 e ainda não está hoje, eram partidos e organizações comunistas e socialistas de massas da classe trabalhadora que, formalmente pelo menos, se opunham ao capitalismo. Mesmo nos EUA durante a crise de 1929-33, embora a classe trabalhadora estivesse paralisada sindicalmente, setores significativos foram radicalizados politicamente e mesmo o Partido Comunista, por exemplo, engordou com novos membros. Isso ainda não aconteceu em uma escala significativa, em grande parte resultado da ausência de partidos de massa, ainda que pequenos, da classe trabalhadora, cuja criação continua sendo uma tarefa urgente para os socialistas, marxistas e do movimento dos trabalhadores. Contudo, mesmo então, embora as tentativas de criar tais organizações já tenham sido esboçadas, sem um firme núcleo marxista que forneça a espinha teórica para essas formações, muitos destes novos acontecimentos podem tropeçar, alguns abortarem e até mesmo colapsar. Não obstante, permanece uma tarefa fundamental criar a base de tais formações no próximo período.

1989 foi um ponto de inflexão em geral e também para o marxismo. Como a mais otimista mas também a mais realista tendência dentro do movimento dos trabalhadores, reconhecemos que o que ocorreu foi um retrocesso significativo para o movimento dos trabalhadores. Mas não perdemos a cabeça. O colapso do stalinismo não eliminou as contradições inerentes do capitalismo. É verdade, o sistema recebeu um estímulo, reforçando o processo de globalização através do fornecimento de mão de obra barata, como a nova fonte de exploração, até de super-exploração, do capitalismo. Mas a própria fraqueza do movimento dos trabalhadores encorajou a confiança, de fato a presunçosa arrogância da classe dominante, que excedeu a si mesma nas economias bolhas das últimas duas décadas. O húbris foi seguido pela nemesis desta crise. A paisagem do capitalismo mundial não é de forma alguma “florescente”, mas está empestado de milhões de trabalhadores desempregados descartadas e com o crescimento do exército dos pobres.

A classe trabalhadora está se movendo e respondendo. O marxismo, relegado pelos ideólogos capitalistas à marginalidade, ao enfrentar diretamente essa situação demonstrou sua viabilidade neste difícil período. Mas não é apenas em períodos de derrota que suas vantagens são mostradas através de uma análise sóbria. Seu programa e políticas, através do Partido Socialista e do CIT, neste novo período de crescente mobilização das massas contra o capitalismo, também mostrará sua validade. 1989 não enterrou o socialismo ou o marxismo. Ele ofuscou temporariamente a visão da classe trabalhadora, que está agora sendo esclarecida com a atual crise e a incapacidade deste sistema de resolver mesmo as exigências básicas da massa dos povos do planeta. 

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