A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994

A eleição geral de 1987

Os anos 80 têm sido pintados por alguns como anos severos para o movimento Trabalhista, como pouca combatividade e preparação para a luta por parte da classe trabalhadora, refletida no número reduzido de greves. Na verdade a primeira metade da década viu os mais amargos conflitos de classe da Grã-Bretanha desde a greve geral de 1926. Mesmo durante a última metade da década, com o “boom” de Reagan/Thatcher, a preparação da classe trabalhadora para a luta era evidente. Contudo, intimidada pelas leis anti-sindicais e pela derrota dos mineiros e gráficos, a liderança sindical nacional levantou a bandeira branca. Todos estes ingredientes estavam presentes durante a batalha para salvar Caterpillar na Escócia em 1987. Esta foi uma luta para salvar um dos últimos elementos remanescentes das manufaturas de base da economia escocesa. Face à ameaça de fechamento, os trabalhadores de Caterpillar na planta de Tanochside decidiram pela ocupação. Se tornaram um farol para os trabalhadores devastados pelo desemprego no oeste da Escócia. Uma grande movimento de solidariedade começou a se desenvolver, mostrado especialmente nas doações. Militant registrou a magnífica resposta operária à ação dos trabalhadores de Caterpillar. Também delineamos uma estratégia para a vitória. A abordagem dos sindicalistas era para “pressionar politicamente a gerência de Caterpillar até reverter o fechamento”. (1) Contudo, após uma reunião no escritório escocês da gerência acabou com qualquer perspectiva de reverter o fechamento.

Em vários artigos pontuamos que o argumento da gerência de que o fechamento era devido à “supercapacidade” era falsa: “A demanda por tratores no 3º mundo é enorme. Uma fábrica pública poderia fabricar o necessário para cobrir a demanda, sem visar ao lucro.” (2)

A solução,

que todos os socialistas precisam levantar, envolve a continuidade da ocupação para construir a campanha pela nacionalização da planta. Se Thatcher e os Conservadores podem nacionalizar o Banco Johnson-Matthey por £1 e imediatamente cancelar centenas de milhões em dívidas, como pode uma fábrica lucrativa e sua força de trabalho ser sacrificada? (3)

Nos meses que se seguiram à ocupação houve enormes demonstrações em apoio à ela. Uma marcha estimada em 8 mil pessoas saiu de Uddingston para Glasgow. Expectadores aplaudiram a demonstração e o contingente do LPYS, como sempre o mais ruidoso, recebeu intensos aplausos, refrões e canções; “Lute por empregos – Salve o Cat” e “Queremos nacionalização”. A ação inspiradora dos trabalhadores de Caterpillar provocou simpatia mundial, com os primeiros passos para a criação de um comitê internacional conjunto dos trabalhadores de Caterpillar. Uma demonstração de massas de 5 mil em Glasgow no final de março foi seguida por uma votação dos trabalhadores resolvendo, por uma pequena maioria, a continuar a greve. Mas eles não contavam com os líderes nacionais do Trabalhismo e dos sindicatos. Desgraçadamente, Neil Kinnock, que visitou o Oeste da Escócia em 30 de janeiros, era incapaz de colocar “dentro do seu horário” uma visita aos operários de Caterpillar. Ele na verdade estava na reunião da Executiva do Partido Trabalhista Escocês e então num “jantar a lenha” perto de Motherwell.

Mas a ação decisiva que terminou a ocupação veio dos líderes do sindicato de engenharia, o AEU. Em acordo com o Serviço de Consulta, Conciliação e Arbitragem (ACAS), eles forçaram o Comitê de Ocupação [JOC] a aceitar um acordo que deu a eles muito pouco. À medida que os trabalhadores voltavam, eles diziam: “Fomos vendidos pelo rio Jordão” (Bill Jordan era o presidente do AEU). (4)

A verdade é que o papel principal do fim da ocupação veio de Jimmy Airlie, diretor do AEU e então membro do Partido Comunista, que ameaçou arrancar à força o controle da disputa do JOC e conduzir uma votação secreta ou uma assembléia ele mesmo. Ameaçou os operários que a menos que aceitassem o acordo o sindicato os isolaria e removeria todo o apoio financeiro.

O papel dos líderes direitistas do movimento trabalhista em disputas como essa, e mais tarde no poll tax, era minar a confiança de um setor da classe trabalhadora escocesa no Trabalhismo, o que a jogou nas mãos dos nacionalistas. O Militant, pela tomada de posição principista, sustentado pelo energético apoio dos trabalhadores em luta, tomou o papel que o Partido Comunista no passado teve; mobilizar os lutadores de classe que também tinham uma idéia de como a luta dos trabalhadores pode ser vitoriosamente concluída.

Anúncio do empreendimento livre

Março de 1987 testemunhou a penetração do Anúncio do Empreendimento Livre, em Zeebrugge. Junto com os sentimentos do Militant de ultraje sobre a tragédia – devida inteiramente à ganância dos patrões por lucros – estava a notícia que Geoff Haney, um apoiador do Militant, foi assassinado. Em honra a Geoff, um “lutador marxista”, nós comentamos:

Não devemos ter nenhuma dúvida de que a verdadeira tragédia reside no fato de que aqueles magnatas das Linhas P&O que Geoff combateu foram responsáveis por esta e outras 130 mortes. (5)

Ele era um representante do Sindicato Nacional dos Marinheiros, pelo o que era constantemente vitimizado. Esteve no Chile onde testemunhou as horríveis condições enfrentadas pelos trabalhadores. Arriscou seu emprego para proteger três passageiros clandestinos do Partido Socialista Chileno que foram trazidos a bordo do navio e trancados dentro do porão. Escreveu um artigo expondo as bárbaras torturas destes jovens e a crueldade da companhia de navegação. Em linhas que ainda são relevantes, comentamos:

alguns marinheiros locais disseram que este “era um problema de ‘quando?’ não ‘porque?’”… o navio estava sobrecarregado para lucrar mais. O perigo da água no andar de carros é bem conhecido. Por que outra razão se informaria “Não abrir no mar”, referindo-se às tampas dos depósitos, com placas soldadas no andar de carros à plena vista de todos os empregados? (6)

Rumo à eleição

Face à aproximação da eleição geral a atenção da classe trabalhadora e do movimento trabalhista foi transferida do plano sindical para o político. O NEC direitista do Partido Trabalhista se preparava para ela planejando mais golpes na esquerda, especialmente contra a ala jovem do partido, os Labour Party Young Socialists. Ela propôs uma série de medidas que calculavam que poderiam minar nossa influência dentro dos LPYS.

Tudo isso acontecia quando estava claro que a eleição de um governo Trabalhista dependia de 6.2 milhões de jovens de 18-25 anos. 60% destes declaravam que não iriam votar, com apenas 1.1 milhão pretendendo votar no Trabalhismo.Uma das razões para isso foi a incapacidade da liderança Trabalhista de adotar um programa combativo para a juventude, como sugerido pelos LPYS: bolsas, educação em tempo integral para os menores de 16 anos e a demanda por um salário mínimo. Os ataques da direita não impediram outra conferência vitoriosa dos LPYS na Páscoa com mais de 2 mil jovens delegados e visitantes reunidos em Blackpool.

Ron Todd, secretario geral do Sindicato dos Transportes, declarou na conferência que os sindicatos não poderiam se abster de desafiar os Conservadores; fraqueza apenas encoraja pessoas como Thatcher. A Reunião dos Leitores do Militant foi banida do salão da conferência, mas embora tenha se deslocado para várias milhas mais longe, 1.600 vieram de ônibus, tendo sido outro sucesso, como mostrado pela coleta do fundo de luta de £7.000. A conferência se tornou um imã para todos os trabalhadores procurando ajuda para suas lutas. Grevistas de Caterpillar, Moat House, HFW Plastics, Salford Plastics, Ardbride, Keetons, Derby Trader, Hangers e uma enorme delegação de uma disputa do funcionalismo, todos atenderam à conferência.

Eleições – Militant vingado

Logo chegou o teste das eleições locais e da eleição geral. Entre maio de 1986 e maio de 1987 Kinnock e seus assistentes estavam obcecados com a necessidade de “extirpar” e destruir os Militants de Liverpool. Mas isso foi levado pela Conservadora Câmara dos Lordes, que cassou os vereadores trabalhistas, para botar o controle da câmara municipal de Liverpool temporariamente nas mãos da junta Conservadora/Liberal. Alguns sindicatos votaram a não colaborar com uma administração não eleita. A regime dominado pelos Liberais foram adiante com a restauração do cargo de prefeito, com Lady Doreen Jones, esposa do líder Liberal, Trevor Jones, recebendo este posto.

Ribald brincou sobre os “empregos para a família” que estavam se espalhando pela cidade. Os marxistas a apelidaram de “Doreen a Breve”. Apesar das afirmações de que a “era do Militant estava enterrada”, o resultado das eleições locais mostrou exatamente o oposto. Em Liverpool, a etiqueta da “esquerda moderada” não colou. A câmara consistentemente tinha se concentrado nas questões caras à classe trabalhadora da cidade: serviços municipais, educação, e o maravilhoso programa de construção residencial.

A verdadeira questão da eleição de 7 de maio: poderia o Trabalhismo, com seus líderes marxistas, ser justificado por sua histórica posição na cidade? Todos os comentaristas, sem exceção, estavam convencidos de que o Trabalhismo caminhava para uma sonora derrota, mas este, com os apoiadores do Militant numa posição proeminente, se lançou na campanha e o resultado em 7 de maio foi uma magnífica vitória para o Trabalhismo. Em alguns aspectos, eclipsou as vitórias trabalhistas nos quatro anos anteriores. Nós reportamos:

Na última sexta os telefones dos socialistas de Liverpool tocavam com chamados de toda Grã-Bretanha: Que resultado! Parabéns, vocês nos deram um verdadeiro estímulo em nossa área. “A última risada foi para o Trabalhismo”, foi a manchete do Daily Post. (7)

“Um salto espetacular depois da desqualificação de 47 vereadores Trabalhistas pela Câmara dos Lordes,” era a confissão pasmada do anti-socialista Liverpool Echo. (8) Até Norman Tebbit comentou: “Muito extraordinário. Eu tenho que pensar muito sobre tudo isso.” (9)

Na noite em que o Trabalhismo perdeu assentos para os Conservadores em Manchester, Blackburn, Crewe e as Midlands, ele foi espetacularmente vitorioso em Liverpool. O comentarista eleitoral Anthony King, falando no BBC’s Newsnight, observou: “Liverpool declarou uma UDI política.” (10)

O resultado foi 50.2%, 5% a mais do que no ano anterior e abaixo apenas de 1984, quando as eleições foram realizadas em meio a uma dramática luta e na véspera de uma famosa vitória. Em alguns distritos o resultado foi de 59 ou 60%, algo que era único naquele estágio para as eleições municipais de Liverpool. Os resultados mais espetaculares foram onde apoiadores bem conhecidos do Militant eram candidatos. Um número significativo de trabalhadores diferenciou conscientemente não apenas entre o Trabalhismo, os Liberais e os Conservadores, mas também entre o Trabalhismo de direita e os que permaneciam na esquerda. Não era incomum, nesta corrida eleitoral, se encontrar com a seguinte declaração: “Sou Trabalhista, mas sou Militant Trabalhista.” Outros exigiam saber do candidato qual era sua posição na questão da defesa dos vereadores cassados. Muitos comentaram que estavam relutantes em votar em candidatos impostos.

A “contra-revolução Liberal” durou apenas seis semanas em Liverpool. O que era suficiente. A direita do Partido Trabalhista tentou esconder o papel do Militant e dizia que não havia nada a fazer com esta esplêndida vitória. Mas não a imprensa patronal. The Economist comentou:

Liverpool produziu o mais paradoxal resultado. A Aliança teve a vantagem de 0.1% sobre o Trabalhismo, mas este conquistou o controle da câmara por uma maioria de três assentos. O aumento de 3 pontos da parte Trabalhista dos votos desde o último ano sugere que a maioria dos eleitores da classe trabalhadora de Liverpool aceitou a explicação do Militant para a crise financeira da cidade. O contínuo colapso do voto Conservador – apenas 9.5% dos eleitores votaram neles – mostra que a versão do governo foi rejeitada também pela classe média de Liverpool. O confuso sentimento local que Liverpool apresenta merece muito mais atenção do que tem recebido. Isso não pode confortar o sr. Kinnock. (11)

Uma vez que a eleição geral de 1987 foi declarada e as linhas de batalha traçadas os apoiadores do Militant se jogaram eles mesmos na guerra junto com o resto do movimento trabalhista. Havia 4 candidatos parlamentares que apoiavam nossas idéias concorrendo nesta eleição. Terry Fields estava concorrendo por Broadgreen em Liverpool e Dave Nellist em Coventry Sudeste. Pat Wall mais uma vez concorria como candidato trabalhista por Bradford North, mas desta vez com melhores chances de sucesso. Ao lado deles estava John Bryan, escolhido como candidato Trabalhista em Bermondsey. A conclusão do The Independent também era o da maioria da imprensa:

Richard Pine (candidato Liberal por Broadgreen), 34, virtualmente derrotará Terry Fields, MP Trabalhista e apoiador do Militant de Liverpool Broadgreen. (12)

Mas eles não contavam com o enorme efeito que as grandes lutas entre 1983 e 1987 causaram em todos os extratos da população, o principal fator da vitória acachapante do Trabalhismo em Liverpool e na área de Merseyside como um todo quando a eleição geral ocorreu em 11 de junho.

É verdade que o Trabalhismo parecia ter uma árdua tarefa em Broadgreen onde, diferente de 1983, os parceiros da Aliança fizeram uma campanha unificada. Além disso, os Liberais começaram de uma posição de controle de 13 das 15 cadeiras municipais do distrito. Seria exigida uma campanha eleitoral em um plano muito mais elevado mesmo do que 1983 para garantir a vitória do Trabalhismo. O Partido Trabalhista de Broadgreen esteve suspenso por mais de 12 meses antes da eleição, e seus diretores estavam sob ameaça de expulsão, então não poderia haver um grande contraste entre a campanha de Broadgreen e a desastrosa campanha nacional do Trabalhismo.

A liderança do Partido Trabalhista dava relevo predominantemente para as oportunidades da mídia. A campanha de Broadgreen foi um modelo, tanto em conteúdo político e de organização. Em todos os assentos onde os apoiadores do Militant eram candidatos uma campanha massiva cobria cada parte do distrito, com discussões detalhadas sobre política tendo lugar nas portas das casas. Todos os 4 distritos foram percorridos muito tempo antes do dia da eleição. Em geral não houve uma “guerra de cartazes” porque os partidos de oposição eram simplesmente esmagados pelo número superior de cartazes trabalhistas exibidos em cada canto dos distritos (com exceção talvez de Bermondsey).

Uma campanha não menos expressiva foi conduzida em apoio a Dave Nellist. Em uma semana 344 cópias do Militant foram vendidas na campanha e porta-em-porta em Coventry South East.

Em Bradford trabalhadores chegaram de toda Yorkshire e de mais além para apoiar Pat Wall. Havia uma determinação nesta época para impedir a divisão dos votos trabalhistas que o manteve fora da Câmara dos Comuns em 1983. Durante a campanha um cartaz de oito pés por vinte de Alan Hardman, retratando a demolição de Thatcher da indústria em Bradford North, foi afixada do lado da sede do Partido Trabalhista. Quando Kenneth Baker visitou Bradford e tentou fazer uma caminhada, uma demonstração de professores do NATFHE e do NUT (seus dois sindicatos) e dos LPYS o forçou a parar. Ele mostrou sua verdadeira visão dos professores chamando os manifestantes de “ralé”. Um limpador de ruas municipal que estava perto se aproximou para ver o que era aquela demonstração. Quando ele viu Baker começou a balançar seu punho e a gritar “Fora Maggie”. A Setorial de Mulheres organizou um comício eleitoral dirigido às mulheres asiáticas, com uma mesa só de mulheres; 20 mulheres trabalhadoras asiáticas e três outras do local atenderam.

Bermondsey

Em Bermondsey onde John Bryan teve a tarefa mais difícil de vencer a maioria de Hughes ele teve um desempenho brilhante nos debates com Hughes e em reuniões públicas. Á medida que John Bryan se tornava o favorito o “amável” Liberal Simon Hughes começou uma campanha de medo vermelho. Ele soltou um panfleto condenado o Trabalhista John Bryan como um “revolucionário perigoso e cruel”.

Não havia nenhum indício de sua fonte a não ser o nome do agente eleitoral de Simon Hughes no final do panfleto. Isso apenas serviu para fortalecer o apoio a John Bryan quando o Trabalhismo por sua vez indiciou os Liberais por seus antecedentes vergonhosos e políticas racistas em Tower Hamlets.

Durante a eleição 72 Bengalis foram despejados do conjunto habitacional de Tower Hamlets. Quando Hughes fazia campanha em um conjunto em Bermondsey, uma área com muitas famílias negras, o Partido Local e ativistas dos LPYS perguntaram a ele de um megafone sobre as políticas racistas de seus parceiros em Tower Hamlets. Uma assembléia de rua improvisada se seguiu, em apoio a John Bryan. Discursos foram feitos para apoiar veementemente os moradores. Hughes se tornou mais e mais rejeitado.

John Bryan dividiu ao meio a maioria Liberal com 2.6% dos votos indo para o Trabalhismo Mesmo o humilhado candidato Conservador parabenizou John pela “campanha profissional que facilmente ultrapassou os outros partidos”. Não foi apenas o “profissionalismo” que criou tal espírito na campanha, mas o fato de que o Partido Trabalhista de Bermondsey, sob a influência de nossos apoiadores, reacendeu o espírito do verdadeiro socialismo nas mentes do povo local. O resultado de Bermondsey foi um contraste completo daquele no resto de Londres. O Trabalhismo perdeu Walthamstow, onde câmara Trabalhista tinha aumentado os impostos em quase 60% (seguindo a estratégia da liderança nacional). O Trabalhismo também perdeu Battersea e Fulham, onde um candidato moderado, Nick Raynsford, tinha recebido muitos elogios por ganhar a pré-eleição do ano passado.

Mais de 200 novos membros se uniram ao Partido Trabalhista de Bermondsey durante a campanha. No último fim de semana da campanha eleitoral mais de 700 compareceram para uma campanha massiva. Um dos mais excepcionais sucessos foram os comícios de rua. Dezenas deles foram organizados pelo distrito. Os condomínios eram panfletados antes e então, na hora marcada, os “Batalhões de Ônibus” dos Young Socialists surgiam no meio do condomínio cantando a música tema do Trabalhismo: Rocky IV.

Uma indicação do efeito colossal das campanhas de massas conduzidas onde os apoiadores do Militant eram candidatos foi a recepção dada a Arthur Scargill em Liverpool e Tony Benn em Coventry Sudeste. Mil pessoas chegaram de última hora para um comício eleitoral em Broadgreen para escutar o presidente Scargill do NUM falar em nome de Terry Fields.

Nove dias antes um comício massivo similar em Broadgreen ocorreu dirigida por Tony Benn.

700 pessoas também afluíram em outro comício organizado em Coventry Sudeste para escutar Benn falar em nome de Dave Nellist. Dave denunciou a “tendência milionária” e seu governo e chamou por uma vitória Trabalhista. No fim do comício um pensionista comentou para um ativista, “Isso é o que todos os comícios deveriam ser. Um milhar de comícios como esse por todo o país e o Trabalhismo iria estourar, com ou sem TV.” (13) Mas o Trabalhismo não iria “estourar”. Os Conservadores ganharam de novo.

A responsabilidade por esta derrota se deve inteiramente a Kinnock e seus consortes. O Trabalhismo apenas aumentou seus votos por uma miserável percentagem. Inacreditavelmente, a fala de Kinnock atacando o Militant e os heróicos vereadores de Liverpool no infame congresso do Partido Trabalhista em 1985 e transmitida pela televisão, foi entendida como “golpe de mestre” que poderia assegurar a vitória Trabalhista. Todos os comentaristas capitalistas saudaram sua “brilhante” transmissão eleitoral de 1987. Naturalmente eles estavam muito felizes em ver Kinnock atacando seu próprio lado do que o inimigo Conservador. Houve, é claro, alguns pontos favoráveis para o Trabalhismo. Os principais entre eles foram as vitórias do Trabalhismo em Liverpool Broadgreen, Coventry Sudeste e Bradford Norte. Também, como comentamos:

A esplêndida campanha de John Bryan em Bermondsey também deu um vislumbre do que o Trabalhismo poderia ter conseguido nas bases de uma campanha de massas lutando por políticas socialistas. O Liberal Simon Hughes, apesar de usar cada dispositivo do departamento de truques sujos dos Liberais, viu sua maioria dividida ao meio. (14)

Terry Fields aumentou sua maioria por 60% com quase 13% vindo dos Conservadores para o Trabalhismo. Viradas rumo ao Trabalhismo foram registradas em todos os assentos de Liverpool. Não foi por acidente que os 5 MPs Trabalhistas de Liverpool – embora Bob Wareing hesitou e se opôs depois – tenham permanecido inflexíveis em defesa de seus camaradas da câmara. As vitórias da esquerda provocaram funcionários da Walworth Road a comentar à imprensa: “Está sendo uma boa noite para os loucos.”(15)

Os arquitetos da derrota Trabalhista foram os líderes do Partido Trabalhista. Nenhuma real alternativa foi sinalizada pelo Trabalhismo Nacional. Hattersley, o chanceler fantasma, concorria com o insano programa de: “Vote em nós e aumentaremos seus impostos.” A campanha Trabalhista, delineada para ganhar a classe média, teve exatamente o efeito oposto. Os trabalhadores qualificados e donos de casas próprias estavam alienados. O número de trabalhadores qualificados votando nos Conservadores aumentou de 38% em 1983 para 42% em 1987. A performance Trabalhista nacionalmente foi péssima.

Durante a eleição um rude controle foi exercido do topo. Houve muito poucas campanhas, com poucos panfletos e os comícios públicos eram reservados apenas a quem tinha bilhetes, com audiências meticulosamente vetadas pelos burocratas do Partido Trabalhista. Uma campanha de mídia, pouco diferente das conduzidas na América pelo Partido Democrata, era considerada suficiente para assegurar uma vitória Trabalhista.

Pat Wall

Logo após ocupar o Parlamento Pat Wall, continuando a tradição lançada por Terry Fields e Dave Nellist, fez uma fogosa fala inaugural. Comentou os esforços que os Conservadores fizeram para impedi-lo de ser eleito para o Parlamento. Apontando o governo e o capitalismo britânico pelo colapso das antigas áreas industriais do Norte, ele comentou:

Quando cheguei em Bradford 18 anos atrás, era a época da construção do M62… que estava trazendo prosperidade renovada para as áreas industriais de Lancashire, Oeste, norte e sul de Yorkshire. Agora é a temporada de desemprego em Liverpool, devido à industrialização de Lancashire e Yorkshire Oeste. Isto divide o norte e o sul de Yorkshire, com engenhos fechados e vilas mineiras vazias de duas gerações de MacGregor. Isso acaba no porto de desempregados de Hull, onde hoje não há nem mesmo barcos de pesca. (16)

Olhando para os anos 90 Pat Wall declarou:

Tive que dizer à boa gente de East Anglia e de Thames Valley, a maioria deles que votaram para o Partido Conservador nas duas últimas eleições, que uma crise maior bateria no Sul mais do que no resto do país. Alcançaria o setor de serviços e o financeiro. A boa gente daquelas áreas poderia descobrir que seus sonhos iriam virar cinzas amanhã, como os sonhos de Bradford, Liverpool, Manchester, Newcastle e outros trabalhadores nos últimos dez anos. Acredito que não devemos ver a morte e a abolição do socialismo. O povo do sudeste e das áreas mais prósperas irá aprender, como o de Bradford… que o socialismo é mais relevante que nunca. (17)

Pat iria fazer um grande impacto, especialmente na classe trabalhadora de Bradford e Yorkshire em geral, que só iria terminar com sua morte prematura em 1990. Pouco depois de ter sido eleito Pat Wall se viu sob ataque, ao lado de outros apoiadores em seu próprio distrito. Para a liderança trabalhista principios socialistas eram para se jogar fora pela janela, como o congresso do Partido Trabalhista em outubro demonstrou. Havia um inquérito sobre a falência Trabalhista na eleição geral. A direita atribuía sua derrota ao fato de que a classe trabalhadora, seduzida pelas vendas municipais de casas e “posse de ações”, se tornou seduzida ao capitalismo de Thatcher. Eles silenciaram completamente sobre as vitórias socialistas em Broadgreen, Coventry Sudeste e Bradford Nore. Eric Heffer lembrou ao congresso que ele foi um MP com uma maioria de 23 mil votos no que era um assento Conservador desde 1964. Ele atacou aqueles como Bryan Gould, que mascateava pretensas novas teorias de posse mista e moderação. Antigos eleitores Conservadores, “um bom número deles yuppies”, passaram honestamente para o Trabalhismo em Liverpool.

Podemos ganhar a próxima eleição geral se fizermos como em Liverpool… Construímos 5 mil casas, centros de esporte e colocamos 10 mil trabalhadores para trabalhar. Este é o caminho para derrotar os Conservadores. (18)

Tom Sawyer refutou que houve expurgos no partido que se encontrou com um gemido de incredulidade do congresso. Suas reações foram compreensivelmente dadas pelo fato de que a vereadora multada de Liverpool, Felicity Dowling, perdeu seu apelo contra a expulsão por 5 milhões a 750 mil votos.

Virtualmente todos os diretórios votaram por ela, especialmente quando ela desafiou Kinnock a “debater nossas diferenças em frente dos trabalhadores de Liverpool e se eles votarem por minha expulsão, só então eu a aceitarei”. (19) Depois, Eric Heffer a abraçou em frente de todo o congresso. Ele foi seguido por delegados se enfileirando para apertar sua mão.

A burocracia que fortaleceu sua dominação do Partido Trabalhista em meados dos anos 80 era totalmente incapaz de atrair camadas significativas da juventude em suas fileiras. Um setor significativo dela, especialmente porque o poll tax resultou numa recusa massiva de se registrar, se retirou do processo político, com uma grande maioria se recusando a votar. Na época da eleição geral de 1992 45% dos jovens de 18-25 anos não votaram.

O terceiro mandato de Thatcher – sua demissão prevista

A principal tarefa do Militant com o resultado da 3º sucesso eleitoral consecutivo dos Conservadores era apresentar um balanço do futuro. Todos os corações fracos estavam mais uma vez chorando ou tirando conclusões pessimistas. Nós comentamos:

A luz de uma maioria de 106, Thatcher pensa que ela agora tem uma posição privilegiada para continuar sua cruzada contra o socialismo e o marxismo e acabar finalmente com o “inimigo interno”. Mas, mesmo a eleição sendo um barômetro do sentimento da classe trabalhadora, para o marxismo é apenas um ‘momento na história’. (20)

A realidade sempre tem dois lados, como Karl Marx apontou. Impedida no plano parlamentar a massa da classe trabalhadora inevitavelmente irá procurar soluções para seus problemas fora do Parlamento no período pós-eleição. Se tendia a esquecer que Thatcher, apenas nove meses depois de seu triunfo de 1983, enfrentou a greve dos mineiros. Na França o governo Chirac não esteve no poder por mais de 8 meses quando um movimento de milhões de estudantes e trabalhadores saíram às ruas e o derrotou. Nós previmos:

Se Thatcher se retirasse após 2 mandatos, ela talvez fosse capaz de embasar a ilusão do seu ‘sucesso’. Agora, como Wellington, ela irá aprender que “nada exceto uma batalha perdida pode ser tão melancólico quanto uma batalha ganha”.

O cenário econômico, político e social que provavelmente se abriria na Grã-Bretanha, poderia fazer com que:

seja extremamente improvável que ela termine seu terceiro mandato. Muito antes o Partido Conservador irá enfrentar divisões que farão o Caso Westland parecer uma pequena dificuldade local. Ela irá ser forçada a ir para Dulwich (sua residência particular) antes de 1992. (21)

Sozinho entre jornais não-Marxistas assim como ‘Marxistas’, Militant corretamente predisse a queda de Thatcher. Além disso estava capaz de jogar um papel crucial, através da luta do poll tax, em tornar isso realidade.

1 Militant 833 6.2.87

2 ibid

3 ibid

4 Militant 845 1.5.87

5 Militant 838 13.3.87

6 ibid

7 Militant 847 15.5.87

8 Liverpool Echo 8.5.87

9 Militant 847 15.5.87

10 Newsnight 7.5.87

11 The Economist 15.5.87

12 The Independent 15.5.87

13 Militant 851 4.6.87

14 Militant 853 19.6.87

15 ibid

16 Hansard 1 July, 1987, Reprinted In Militant 856 10.7.87

17 ibid

18 Militant 867 2.10.87

19 ibid

20 Militant 853 19.6.87

21 ibid