A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994

Greve dos estudantes colegiais

O resultado da greve dos mineiros sem dúvida teve um efeito imediatamente disciplinador na consciência dos trabalhadores e em seus preparativos para a luta. Mas, como argumentamos na época, não do mesmo modo que em 1926. Aquela derrota desmoralizou os mineiros e minou a confiança dos trabalhadores por uma década ou mais. Após a derrota de 1926 a classe trabalhadora transferiu suas esperanças para o plano político, e a eleição do governo Trabalhista. Mais importante que o efeito psicológico da derrota da greve dos mineiros de 1984-85 foi que esta coincidiu com um crescimento da economia mundial. Isso permitiu aos capitalistas uma certa liberdade de ação, pelo menos nos mais avançados paises industriais. O número de greves declinou nos anos 80 em grande parte devido ao ‘boom’ de Reagan/ Thatcher. Aqueles afortunados de serem empregados eram capazes de conseguir aumentos salariais que os mantinham lado a lado com o custo de vida, e em alguns casos, através de horas extras, acordos de produtividade, etc, conseguir aumentos acima da taxa de inflação. O outro lado do boom dos anos 80 foi a enorme e crescente disparidade entre os ricos e pobres.

Longe de esmagar o espírito de revolta, a greve dos mineiros teve exatamente o efeito oposto, especialmente nas camadas frescas da classe trabalhadora. Isso foi mostrado na greve dos colegiais que estourou em março de 1985, apenas semanas após o fim da greve mineira. Os primeiros sinais de movimento vieram no meio de março com várias greves estudantis e marchas pelo país. É claro, a imprensa foi rápida em culpar a ação sindical dos professores que ocorria nesta época. Ela ampliou pequenos incidentes, tentando apresentar uma imagem de ‘crianças alvoroçadas’ deixadas soltas por professores ‘irresponsáveis’. As verdadeiras razões para o descontentamento dos jovens estavam em sua frustração, com nenhuma perspectiva de emprego real quando eles deixavam a escola; o desemprego ou a conscrição do YTS era o único futuro para eles. Em face a esse movimento dos colegiais a polícia foi empregada. Em Middlesbrough a polícia montada patrulhava diariamente. Militant detalhou uma série de greves na área de Portsmouth. Estas greves

eram inicialmente uma ação confusa contra os professores, porque eles temiam uma potencial “ameaça à ocasião dos exames”. [Mas] os LPYS imediatamente tomaram a iniciativa. Pelo menos em uma das escolas envolvidas havia 8 membros dos LPYS. Num panfleto de emergência a campanha dos professores por melhor pagamento foi forçosamente explicada… Os YS receberam apoio da maioria dos estudantes por se opor à violência insensata de uma pequena minoria. [A greve começou a ganhar apoio e] depois se espalhou pela escola de Bridgemary em Gosport, e desde o inicio a ação foi em apoio aos professores. (1)

Mas estes eram apenas pequenos movimentos antes da explosão que explodiu em Glasgow uma semana depois. Organizada pelos Labour Party Young Socialists, com apoiadores do Militant na liderança, “uma greve geral se espalhou pelas escolas de Clydeside, trazendo 20.000 alunos para a rua… Eles deram a Thatcher uma mensagem desafiadora – ‘Nós não estamos na conscrição do YTS’.” Um estudante do quarto ano da escola Sacred Hearts comentou ao Militant: “O comício foi tremendo. Se tivéssemos mais disto poderíamos ir mais adiante. Isso será como os mineiros. Eu penso que o YTS é trabalho escravo.” (2)

Mais de 10.000 estudantes lotaram o centro da cidade de Glasgow no que o Glasgow’s Daily Record chamou de o “maior show do poder estudantil já visto na Grã-Bretanha”. Oradores se espantaram quando escolares com faixas improvisadas marcharam para o comício para serem recebidos com estrondosos aplausos e gritos de “Aqui vamos nós”. Muitas faixas feitas em casa diziam “Não ao trabalho escravo” e “E o nosso futuro”. Bandeiras vermelhas flutuavam por todo o comício. Um senhor idoso se aproximou dos organizadores e disse:

Você sabe, depois da batalha de George Square em 1919, meu pai disse que iríamos nos levantar novamente. Eu sempre acreditei nele e estou vendo isso hoje. (3)

Previsivelmente, a magnífica mostra da oposição da juventude trabalhadora ao projeto de trabalho escravo do YTS foi condenada pelos líderes direitistas do Trabalhismo na Escócia. Eles condenaram, na conferência do Partido Trabalhista na Escócia, a “estreita natureza sectária” dos LPYS na Escócia. Mas como explicamos:

Agora os LPYS são condenados por liderar demonstrações de massas… Eles esperam entre 1.000 a 1.500 pessoas, que seria um retorno razoável de 10.000 panfletos em circunstâncias normais. Os organizadores dificilmente podem ser culpados pelas iniciativas de colegiais que odeiam Thatcher e que construíram o movimento eles próprios. De fato os organizadores merecem crédito pelo modo como a demonstração foi canalizada para formas aceitáveis de protesto quando o número de pessoas transbordou. (4)

Esta nova ‘Revolta de Clyde’ levou a um movimento ainda maior dos colegiais por toda a Grã-Bretanha dois meses depois. Os LPYS conscientemente prepararam este movimento. Eles usaram a conferência da Páscoa atendida por mais de 2 mil jovens como plataforma por uma paralisação nacional da juventude. 200 se reuniram numa reunião paralela, presidida por Frances Curran, para escutar Colin Baird de Glasgow e Nancy Taaffe de Londres, que localizou a agitação nas escolas contra o pano de fundo da greve dos mineiros, os ataques Conservadores contra a juventude e as greves estudantis passadas. Um Comitê de Ação Estudantil foi formado, um comitê de direção eleito e a decisão de chamar meio dia de greve nacional nas escolas (exceto na Escócia por causa dos primeiros exames) em 25 de abril.

Além disso, Jackie Galbraith, um dos principais organizadores, junto com Colin Fox, da greve de Strathclyde falou na Reunião dos Leitores do Militant. Esta conferência também elegeu Linda Douglas para o NEC, a primeira pessoa negra na executiva Trabalhista. Mas o sucesso da greve de 25 de abril excedeu todas as expectativas:

Um quarto de milhão de colegiais deu uma resposta esmagadora aos Conservadores, à imprensa e aos cínicos no movimento trabalhista… Thatcher a condenou. Também os Liberais. Infelizmente também o TUC e a liderança trabalhista a condenaram. (5)

Kinnock condenou os organizadores como “bestas” mas em seu próprio diretório 500 se uniram à greve. Nós declaramos:

Os marxistas no movimento trabalhista não fazem apologia por apoiar os estudantes plenamente. É essencial que a desesperança, frustração e raiva da juventude seja canalizada para uma direção positiva, ligando-a com o movimento trabalhista. Os próprios estudantes entendem isso – em Pontypridd os milhares de colegiais em passeata pediram ao líder dos mineiros de Gales do Sul para liderá-los até o centro da cidade, o que ele prontamente fez. (6)

Cada área do país parecia ter sido tocada pela greve. Mesmo na Irlanda do Norte, 3 mil saíram às ruas com apenas um anúncio na semana e apagaram completamente as divisões sectárias. Em Londres

milhares se uniram à greve… na escola Brent os estudantes fizeram piquetes volantes para construir a greve… em Southampton monitores e professores numa escola de meninas católicas botaram armas no portão para impedir a saída das estudantes. Igualmente na escola Portsmouth Grammar, estudantes foram barrados nos portões. Em Plymouth quatro membros dos LPYS foram ameaçados com expulsões do Partido Trabalhista por apoiar a greve (7)

Mas todas as ameaças não surtiram efeito:

10 mil colegiais marcharam por Liverpool. A atmosfera estava elétrica. (8)

A liderança trabalhista denunciou a greve, mas eles também estavam atentos de que uma das chaves para o futuro sucesso do Trabalhismo poderia ser a mobilização da juventude. A greve os convenceu do enorme descontentamento existente em todas as camadas da juventude. Então, ao mesmo tempo em que eles evitavam a Campanha por Direitos Sindicais da Juventude (YTURC), que estava por trás da greve, eles também precipitaram uma ‘Carta Jovem’. O sindicato gráfico SOGAT imediatamente interviu e ofereceu escritórios alternativos ao YTURC. O governo também aprendeu dos eventos de 25 de abril. Reconhecendo o sentimento de raiva entre os colegiais eles fizeram algumas concessões. Eles reagiram de modo similar em 1981 quando os Labour Party Young Socialists organizaram uma campanha massiva na questão dos direitos, treinamento, condições e salários contra o antecessor do YTS, o Programa de Oportunidades para a Juventude.

Logo que eles viram esse movimento se desenvolvendo eles aumentaram a ajuda de custo do YOP. Agora eles tomaram nota do sentimento dos jovens como mostrado em 25 de abril. Porta-vozes Conservadores retiraram a idéia da conscrição, por seguro-desemprego ou pagamento da seguridade social, para aqueles que se recusavam a ir ao YTS. A greve dos colegiais foi um marco. Serviu para sublinhar o enorme impacto que a greve dos mineiros fez na juventude.

Internacionalmente

Enquanto a cobertura do Militant em 1985 estava pesadamente concentrada nas questões domésticas as reportagens internacionais ainda traziam ao vivo para a audiência britânica eventos e histórias que eram encontradas em vários lugares. Em maio o jornal reportou a expulsão do Zimbábue de um grupo de marxistas, chefiados por David Hemson, associado com o jornal sul-africano Inqaba. O primeiro ministro do Zimbábue, Robert Mugabe, usou sua fala do Primeiro de Maio para denunciar a tendência Militant! David nos contou:

Ao longo do interrogatório, a Organização Central de Inteligência (CIO) (eles receberam este nome de Ian Smith, a propósito) defendeu a liderança sindical corrupta do Zimbábue e mostrou hostilidade ao socialismo, aos sindicatos britânicos e a Arthur Scargill em particular, e à esquerda do Partido Trabalhista… (9)

Mostrando a conexão entre a prisão destes marxistas e os eventos na Grã-Bretanha, David comentou:

Por volta da quinta-feira, 7 de março, percebemos que muitas de suas informações vinham diretamente da Grã-Bretanha. Eles estavam retransmitindo informações da esquerda trabalhista, incluindo detalhes da vida privada das lideranças das facções de esquerda, e mesmo detalhes das tensões dentro do Partido Trabalhista. Eles disseram que na verdade não éramos o Partido Trabalhista, éramos o Militant. (10)

1 Militant 741 22.3.85

2 Militant 742 29.3.85

3 ibid

4 ibid

5 Militant 747 3.5.85

6 ibid

7 ibid

8 ibid

9 ibid

10 ibid