A ascensão do Militant: Trinta anos do Militant 1964 – 1994

Rumo à Ilegalidade em Liverpool

29 de março de1984 foi uma data decisiva na história de Liverpool. A câmara foi chamada a se reunir para discutir o alegado ‘orçamento ilegal’ trabalhista. Coincidindo com isso, a cidade viu uma das maiores greves gerais municipais da história da Grã-Bretanha. 50.000 trabalhadores e jovens entupiram o centro da cidade. Isso mostrou a profundidade do apoio às posições tomadas pela Câmara Trabalhista de Liverpool contra os cortes Conservadores. A rua Castle em frente à prefeitura estava obstruída com manifestantes gritando apoio aos vereadores lá dentro. A multidão cantava em ritmo de futebol: “Vereador Trabalhista, Vereador Trabalhista, apoiamos você para sempre”.

Lá dentro, a reunião terminou em uma vitória tática para o Trabalhismo. Os Conservadores, Liberais e Trabalhistas Direitistas falharam em impor um orçamento de cortes. Ao se levantar para responder aos Liberais, o deputado líder Derek Hatton foi agradecido com ovações da galeria pública, e aplausos para sua fala.

A escolha para o povo de Liverpool estava clara. Ou voltar para o orçamento Trabalhista ou voltar para a Era das Trevas da aliança Liberal-Conservadora. A Câmara estava apenas pedindo por £30 milhões dos fundos de contingência do governo. No recente orçamento, os Conservadores deram £35 milhões para 650.000 já ganhando mais de £15,000 por ano. (1)

A posição de Liverpool não veio de um caminho fácil ou sem controvérsias tanto dentro do movimento trabalhista e também dentro das fileiras do próprio Militant.

Militant debate

Nós debatemos nossa abordagem em cada estágio. Isso não era incomum no movimento trabalhista apesar dos berros da ala direita sobre ‘panelinhas secretas’ da esquerda. A direita e a esquerda sempre discutiram suas diferenças. Militant não era diferente. Quando a direita, e um crescente setor da ‘esquerda carreirista’, nos criticava por ser um ‘partido-dentro do partido’, era porque os apoiadores do Militant eram melhor organizados que eles.

Em janeiro de 1984 um Conselho Editorial Nacional do Militant foi lançado em Londres, com Tony Mulhearn e Derek Hatton comparecendo. A batalha de Liverpool, que entrava agora em uma fase decisiva, foi o principal item da discussão. Ao contrário do mito da imprensa de que o Militant era ‘monolítico’, então e depois, havia diferentes visões de como abordar questões. Na discussão do CEN havia a opinião de Ted Grant de que a unidade do Grupo Trabalhista de Liverpool poderia fraturar sob a pressão da situação. Ele argumentou veementemente que vereadores da ala direita poderiam desertam para o campo Conservador/Liberal, em número suficiente para impedir a aprovação do ‘orçamento ilegal’. A visão contrária foi defendida por Tony Mulhearn e Derek Hatton, apoidos por mim, Lynn Walsh e outros na reunião. Eles argumentaram que a pressão esmagadora do movimento trabalhista e da classe trabalhadora era tal que mesmo direitistas nominais poderiam ser empurrados a apoiar a posição da esquerda. Tal visão era negada por Ted Grant. Ele argumentou que deveríamos nos preparar para as deserções da ala direita em Liverpool. A incapacidade em fazer isso desmoralizaria os apoiadores do Militant.

A visão de Ted Grant de que o orçamento ilegal não seria aprovado provou ser errada. É verdade, alguns direitistas desertaram – os ‘sete fura-greves’ – mas gente suficiente se reuniu do lado trabalhista para impedir o orçamento Liberal/Conservador passasse em março.

Vitória de 95%

Após uma série de escaramuças com o governo Conservador, incluindo negociações com o Secretário de Meio Ambiente, Patrick Jenkin, um acordo foi alcançado, que era uma “vitória de 95%”. Uma variedade de oponente de Liverpool e do Militant – o chamado Partido Comunista, as diferentes seitas ultra-esquerdistas, junto com o governo Conservador – tentaram minimizar a derrota de Jenkin e Thatcher. Na câmara de vereadores um desmoralizado Trevor Jones no debate sobre o pacote “citado pelo Partido Socialista” que acusou a câmara Trabalhista de “vendidos”. (2)

Contudo, a reação dos capitalistas à concessão de £60 milhões ganhos por Liverpool disse tudo sobre a vitória. The Times gritou: “Danegeld em Liverpool” (Danegeld era o tributo pago pelos reis ingleses no século X para aplacar os invasores dinamarqueses). Além desta fúria, continuou:

Hoje em Liverpool, a militância municipal está justificada… um político provinciano de terceira, um revolucionário alto-promovente… o sr. Derek Hatton tem feito o governo ceder… o sr Hatton e seus colegas ameaçaram a direção de uma perturbadora ação. Sua recompensa é a anulação dos alvos financeiros que 400 outras autoridades locais disseram que são imutáveis… na tentativa de subornar o Militant. (3)

Esses foram dias pesados para os apoiadores do Militant em Liverpool. A campanha foi marcada em abril com uma enormemente vitoriosa reunião pública do Militant, atendida por 500 trabalhadores, seguida em maio com outra estonteante vitória para o Trabalhismo nas eleições municipais. A reunião de 9 de abril em St George’s Hall recebeu os oradores da plataforma entusiasticamente: estes incluíam eu, Steve Sullivan, um mineiro da greve em Sutton Manor, Tony Mulhearn, recém-eleito para a câmara da cidade, Derek Hatton e Terry Fields, MP. Na tarde de 29 de março, quando a câmara tomou o primeiro passo rumo ao caminho da ameaça do ‘orçamento ilegal’, as instalações do Militant em Lower Breck Road foi inundado por pessoas querendo se filiar. Apoiadores comprometidos do Militant foram retirados do prédio até que os novos ‘recrutas’ pudessem ser juntados numa reunião dirigida pelos líderes do Militant. Mais de 40 pessoas concordaram em se juntar a nós apenas naquela noite.

Dado o rápido crescimento do Militant não era de se espantar que ao lado de milhares de itens diários na imprensa, um esforço ‘mais sério’, mais intenso fosse feito para detalhar o crescimento de nosso apoio. O primeiro a entrar em campo foi Michael Crick, jornalista do Channel Four News. Seu livro chamado Militant e a segunda edição, A marcha do Militant, pretendiam mostrar: “as origens, organização e objetivos do Militant, que é agora o quinto mais forte partido político britânico”. (4)

A primeira edição do livro de Crick saiu em 1984 mas a segunda edição foi produzida em 1986 quando a caça-as-bruxas estava a todo o vapor. Em 1984, em sua primeira edição Crick foi forçado a admitir “Militant está aqui para ficar”, assim como suas idéias e influência continuaram a crescer. Seu livro também nos trouxe recrutas na Austrália e Canadá! (5)

Wembley, três anos a fio

Se havia qualquer dúvida que o Militant estava em uma curva ascendente, ela foi respondida pelos 3 mil apoiadores que uma vez mais apareceram em Wembley para o que era agora o comício anual do Militant. Nós comentamos:

Tal era a atmosfera e o humor que os transeuntes tiveram que ser perdoados por pensar que a multidão estava retornando da Copa Final de Wembley. Talvez um pouco menor do que naquele momento, mas nós iremos reservar o Albert Hall para o próximo ano – (3 de Novembro). (6)

Frances Curran, então representante dos LPYS no NEC Trabalhista, tinha apenas três anos quando o primeiro Militant foi produzido! Ele se dirigiu ao comício de 1984 pontuando que

Meus pais não acreditariam o que está acontecendo hoje com a juventude. Um terço das crianças das escolas secundárias tomam drogas, e há pessoas de 20 anos que nunca conseguiram um emprego.

Ele também pontuou que

os YS coletaram de £250,000 a £300,000 para os mineiros. Eles organizaram a primeira demonstração na área de Notts em Mansfield e Steve Morgan, o antigo representante dos YS no NEC, propôs a cota de 50p a todos os membros do partido. (7)

Tony Benn, entre muitos outros falaram neste comício e 11 MPs Trabalhistas enviaram saudações. Outra vez a coleta do fundo de luta excedeu todas as expectativas com £12,000 levantados.

1 Militant 694 6.4.84

2 Militant 709 20.7.84

3 The Times 11.7.84

4 Michael Crick, Militant, P209

5 ibid, P212

6 Militant 722 26.10.84

7 ibid