PUC-SP troca qualidade pelas exigências do mercado
A mercantilização da PUC-SP, que já tem ocorrido nos últimos tempos e foi explicitada no início do ano com a intervenção direta da igreja, que feriu a autonomia e democracia universitária, hoje assume novas caras.
Com a maximização das horas de trabalho, implementada no final de 2005, diminuiu o tempo de pesquisa dos professores aumentando seu tempo (e sua exaustão) na sala de aula, a reitoria provou não estar mais interessada na qualidade acadêmica que permearam a história desta universidade.
Demissões em massa
Na seqüência vieram as demissões em massa, 30% do quadro docente e funcionários foram mandados embora, passando por cima do estatuto, dos conselhos superiores, da convenção coletiva e, principalmente, dos vários anos de vida dedicados à construção da PUC por estes trabalhadores. Novos docentes foram contratados com um terço do salário daqueles demitidos, o que menospreza o professor e o ”obriga” a procurar outros empregos, fazendo com que ele ”venda” sua aula sem rendimento.
Tamanho ”genocídio” com os trabalhadores foi ”imposto” pelos bancos, Bradesco e Real, para quem a PUC já deve R$106 milhões o que é mais uma prova de que a educação hoje não passa de uma mercadoria. Porém, a atual administração utiliza a crise financeira para justificar tais medidas e o total desrespeito que tem tratado os funcionários, professores e estudantes, escondendo seu verdadeiro interesse que é transformar a PUC em uma universidade lucrativa, longe deste modelo comunitário que já em nada lhe serve. Essa falência da PUC significa uma perda para a todo a sociedade.
Este momento histórico em que a PUC vive simboliza a falência do ensino privado e prova ser inviável conciliar lucro e qualidade acadêmica, os três setores da universidade não se calaram. Ocorreu uma mobilização a muito tempo não vista, com assembléias que ultrapassaram a capacidade de lotação do TUCA, atos diversos dentro e fora da PUC e uma greve de uma semana.
No entanto, o movimento estudantil na PUC reflete o baixo nível de luta na sociedade e a ausência de uma entidade estudantil que construa a potencialize as lutas, já que a UNE não cumpre mais esse papel. Isto levou uma não sustentação e não ampliação da greve, além de uma falta de organização do movimento e diálogo com o conjunto dos estudantes.
Vitória temporária no TRT
Porém, as atitudes combativas do movimento mostrou para a comunidade puquiana e para a sociedade que, ao contrário do que é alegado pela reitoria, não estamos em um momento de normalidade, o que garantiu a vitória dos professores demitidos no TRT (Tribunal Regional do Trabalho), que tiveram suas reintegrações imediatas votadas por unanimidade.
Porém, a Fundação São Paulo e a reitoria, que já nem se preocupam mais em vestir a pele de cordeiro, entraram com recurso e conseguiram que o TST (Tribunal Superior do Trabalho) suspendesse a reintegração dos professores, o que já está sendo contestado pelo Sinpro-SP.
Mas, ainda não satisfeita, a reitoria para conseguir se aproximar ainda mais do modelo mercantil e lucrativo de universidade, acabou com o Acordo Interno dos professores e irá rever o dos funcionários. Entre as principais conquistas dos trabalhadores, estão ameaçados os qüinqüênios (reajustes de 5%a cada cinco anos), estabilidade de um ano de emprego, bolsa de estudos para os trabalhadores e seus familiares e o auxílio-creche.
Mas nesta ”nova” onda de ataques os atingidos não são só os funcionários e professores. A reitoria também quer selecionar o perfil dos estudantes da PUC, elitizando a universidade e excluindo dela os filhos dos trabalhadores. Para tal a reitoria tem sido muito eficiente, se negou a abrir o edital de bolsas de estudos no início do ano, e só voltou atrás depois das reivindicações dos estudantes que aprovaram a abertura dos editais e a matrícula dos inadimplentes em todas as suas assembléias estudantis.
Nenhuma bolsa, só desconto
Porém, este edital concedidas somente 200 bolsas, o que nem arranha a demanda real, já que no ano passado foram concedidas 300 bolsas e mesmo assim muitos não foram contemplados. Além disso o que a reitoria chama de bolsa, para aqueles que necessitam é mal um desconto, já que são bolsas de 50 e 60%, o que exclui aqueles que não tem como pagar a outra parte, que de acordo com a média das mensalidades, ficaria em torno de R$ 500,00.
O Movimento dos Cursinhos Populares junto com o Comitê de Bolsas tentou de diversas formas o dialogo com a reitoria, reivindicando bolsas 100%, ou seja, o direito de permanência na universidade dos estudantes de baixa renda e o compromisso da reitoria com o caráter da PUC, que pelo menos até agora, é filantrópico e comunitário.
Ocupação
Como a reitoria se mostrava indiferente, os estudantes não esperaram as suas expulsões da universidade no próximo semestre por serem inadimplentes. No dia 10 de abril uma manifestação com 200 estudantes ocuparam o setor financeiro da universidade (Setal).
A ocupação durou duas semanas e, em uma atitude heróica, permaneceram durante todo o feriado da Páscoa, sem tomar banho já que os banheiro com chuveiros foram trancados e enfrentando todas as dificuldades que o local oferecia. Durante o feriado, além dos 15 estudantes ocupados, permaneceram em vigília do lado de fora 25 estudantes, eles conseguiram o apoio da vizinhança, que lhes cediam o banheiro, davam cafezinho e fizeram moções de apoio e abaixo assinado.
Em resposta a reitoria mais uma vez demostrou não se importar com a filantropia e a história democrática da PUC, tão pouco com os estudantes, o que ficou explícito quando ela ameaçou de sindicância 5 dos manifestantes e se negou a negociar. Para desmobilizar o movimento e sair menos queimada, a reitoria apresentou 60 bolsas 100% do Prouni. É preciso desmascarar esta farsa, o Prouni quem da é o governo, com o intuito de salvar da falência as instituições privadas, a PUC nada vai gastar com estas bolsas e ainda sairá com o ônus.
A desocupação se deu no momento em que, corretamente, o movimento avaliou ser a hora de sair do Setal para buscar mais forças e aglutinar os demais estudantes para dar continuidade do movimento. A reitoria garantiu uma negociação com os estudantes que será preparada em uma reunião prévia, já que o movimento reivindica uma negociação pública, para que toda a comunidade esteja realmente a par e participando de todo processo e a reitoria se nega a flexibilizar até nisto.
Construir o movimento
Neste momento onde vozes são caladas e cabeças rolam pela universidade, é necessário fortalecermos a organização do movimento, o dialogo e a unidade entre todos os alunos, professores e funcionários. Atos e atividades já estão sendo programados pelo movimento estudantil, que diante de vitórias ou derrotas não irá se render até conquistar aquilo que é nosso por direito, educação com qualidade para todos.