Os socialistas e a resistência iraquiana

 A guerra e a invasão imperialista sobre o Iraque representam hoje o centro da situação política internacional. O poder e a força do imperialismo, assim como seus limites e contradições, estão lá representados de forma concentrada.

A constituição de um novo governo supostamente legitimado pelas eleições do início do ano não trouxe mais estabilidade e calma ao Iraque. As massas iraquianas continuam sob a tutela de forças imperialistas de ocupação. Seus direitos nacionais, democráticos e sociais continuam sendo esmagados cotidianamente.

A perspectiva traçada pelo governo Bush de que as eleições estabilizariam a situação, criariam condições para uma retirada gradual e garantiriam que o saque e a tutela imperialista se dariam de forma mais tranqüila através de um regime títere não se concretizou. O beco sem saída e a ‘vietnamização’ da situação no Iraque continuam.

Balcanização do Iraque?

Hoje, diante da continuidade da resistência e dos conflitos armados, parte dos neo-conservadores em torno de Bush joga até com a possibilidade de promover deliberadamente a fragmentação do país na velha estratégia do “dividir para dominar”. As eleições acabaram provocando um aprofundamento ainda maior das divisões étnicas e religiosas envolvendo sunitas, xiitas, curdos, outros grupos e seus subgrupos.

O risco de balcanização do Iraque – um cenário de divisão e guerra civil generalizada e caótica – não está descartado. Para um setor dos estrategistas do imperialismo, diante do risco do caos desordenado e da guerra fratricida, coloca-se até mesmo o desmembramento do Iraque em dois países – um hegemonizado pelos xiitas e outro pelos sunitas.

É por isso que os socialistas em todo o mundo, ao defender inequivocamente a retirada das tropas e de todo tipo de interferência imperialista sobre o Iraque, devem também trabalhar para fomentar e fortalecer um movimento unitário e de massas dos trabalhadores, camponeses e população pobre de todas as etnias e grupos religiosos. Essa seria uma força de resistência poderosíssima e capaz de vencer.

Resistência de massas

Num quadro de invasão militar e brutal repressão, o direito à resistência armada dos iraquianos é inquestionável. Mas, a perspectiva de vitória contra as tropas dos EUA, Grã Bretanha e aliados só se coloca se a resistência armada iraquiana adquirir um caráter de massas, com organização democrática e unitária, baseada na classe trabalhadora e setores mais pobres e oprimidos da população.

As ações de terrorismo individual promovidas por alguns grupos e que muitas vezes atingem os próprios trabalhadores, são ineficazes para isso. Não promovem a organização dos trabalhadores. Ao contrário, pretendem substituir as ações de massas por iniciativas de pequenos grupos e muitas vezes acabam fomentando mais divisão entre o próprio povo iraquiano.

Um exemplo positivo de luta de massas que precisa ser generalizado é a greve dos petroleiros do sul do Iraque, um movimento que se enfrentou inclusive contra a empresa Halliburton do vice de Bush, Dick Cheney.

Por outro lado, um exemplo negativo de forças que se colocam como resistentes é o ataque que assassinou o dirigente sindical Hadi Salih. Apesar do caráter burocrático e colabo-racionista do sindicalista assassinado, não se pode aceitar que as organizações dos trabalhadores estejam à mercê dos ataques realizados por decisão de pequenos grupos com uma perspectiva não classista.

No futuro, esse tipo de ação pode ser utilizado por setores fundamentalistas de direita contra as organizações dos trabalhadores e da esquerda socialista.

Contra os dirigentes sindicais colaboracionistas é preciso organizar um amplo movimento classista, democrático de massas e socialista.

Questão nacional e socialismo

A resistência de massas precisa vincular a luta pela libertação nacional do povo iraquiano com uma luta efetiva pela transformação do sistema econômico e por uma alternativa de classe capaz de oferecer uma saída que garanta melhores condições de vida para todos.

As lutas cotidianas que já acontecem por emprego, salários, melhores condições de trabalho, saneamento básico, moradia, educação e saúde, têm que estar ligadas à luta contra a invasão imperialista e por um outro sistema econômico.

Para expulsar de vez o imperialismo é preciso também defender a estatização das principais corporações multinacionais no país e o controle dos trabalhadores sobre o petróleo e o conjunto da economia no marco de um governo dos trabalhadores da cidade e do campo. Essa alternativa anti-capitalista é necessária para dotar a resistência de capacidade de unidade de classe entre as diferentes etnias e grupos religiosos.

Um programa anti-capitalista e socialista como esse levantado por um partido da classe trabalhadora e pelas organizações sindicais e populares deveria garantir os direitos nacionais de cada grupo ou etnia específica e dessa forma forjar a necessária unidade no combate ao imperialismo e ao capitalismo na região.

A falência dos fortes partidos comunistas existentes no passado no mundo árabe, em razão de sua política meramente nacionalista e de aliança com setores burgueses, deixou espaço para que o fundamentalismo islâmico reacionário, assumisse a posição de direção anti-imperialista.

É tarefa dos socialistas iraquianos e de todo o mundo trabalhar pela construção de um partido socialista de trabalhadores, jovens e da população pobre que levante a bandeira socialista na luta contra o imperialismo. Somente essa alternativa de direção poderá levar a luta anti-imperialista e socialista até as últimas conseqüências.

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