A CPI dos correios e a crise do governo Lula
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos correios é uma derrota do governo Lula que reforça mais ainda o quadro de crise do governo. Desesperado para encontrar outro tema sobre o qual falar, Lula tenta até usar o miserável 0,3 % de crescimento do PIB no primeiro trimestre para requentar a velha sopa do “espetáculo do crescimento”! O governo tentou todos os métodos para barrar a CPI, mas a bancada governista do congresso rachou. 15 deputados e senadores do PT votaram a favor da CPI, junto com 5 do PCdoB. A cena do senador Eduardo Suplicy chorando quando anuncia que iria apoiar a CPI é um símbolo da crise interna do PT.
A luta a favor ou contra a CPI não é uma luta da esquerda contra a direita. Embora os parlamentares do PSOL possam jogar um papel, é uma luta entre duas alas burguesas sobre o poder.
O PT continua tentando abafar a CPI, tentando barrar a implementação com ajuda da Comissão de Constituição e Justiça, ou tentando destruí-la por dentro, já que CPI não pode ser barrada que seja controlada pelo governo.
Uma pesquisa do CNT (Confederação Nacional do Transporte) mostrou que 86% dos entrevistados que acompanham o caso de corrupção nos Correios são favoráveis à instalação da CPI. 16,4% disseram acompanhar as denúncias e outros 34,8% disseram ter ouvido falar. A soma de 51,2% é consideravelmente maior que dos 43,9% que disseram ter conhecimento do caso Waldemiro Diniz (ex-assessor do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu), flagrado supostamente pedindo propina ao empresário Carlinhos Cachoeira em abril de 2004, logo depois da divulgação das denúncias desse caso.
O caso vai além da acusação de envolvimento do Roberto Jefferson, líder do PTB, da base governista. Sob qualquer pedra que você levanta, se encontra conexões da corrupção com o governo e o PT. A CPI tem o potencial de criar uma crise mais profunda que o caso Waldomiro Diniz. Nesta acusação a classe burguesa deu respaldo ao governo Lula, apostando que Lula seria a única alternativa de governo para os próximos 8 anos e que seria útil para implementar as reformas neoliberais que o governo FHC não conseguiu. Mas a atual crise política do governo, que teve como ponto de partida a eleição do Severino Cavalcanti como presidente da Câmera, aumenta a esperança na possibilidade de derrotar Lula em 2006. A tática de PSDB e PFL não é de derrubar Lula, eles não tem uma alternativa a oferecer para a atual crise, mas desgastar o governo para abrir espaço para uma derrota eleitoral do PT em 2006, ao mesmo tempo enfraquecendo o que sobra da imagem do PT como um partido “limpo”. Dessa maneira, o PT seria também uma oposição enfraquecida depois de uma derrota.
O problema é que a CPI pode iniciar uma guerra de acusações e atingir todos os partidos corruptos. O PSDB e PFL querem revelar corrupção, mas com moderação. Nós somos a favor da instalação da CPI, ao mesmo tempo que apontamos os limites dela.
Os partidos corruptos burgueses não vão querer levar a CPI até as últimas conseqüências, já que todos estão envolvidos na corrupção. Nesse contexto a presença da Heloisa Helena na CPI é fundamental. Ela poderá garantir que fatos revelados não sejam abafados por ambos lados.
Em casos anteriores nós argumentamos por uma outra CPI paralela, uma Comissão Popular de Inquérito, onde os sindicatos e movimentos populares tenham seus representantes. É necessário também colocar entre as palavras de ordem uma oposição à política de privatização, que aumenta o espaço para a corrupção. O projeto de PPP vai significar ainda mais contratos entre o setor público e privado e vai abrir mais oportunidades de desvio e propinas.
A questão de corrupção tem o potencial de jogar um papel decisivo para a retomada de lutas no Brasil. A perspectiva é de lutas, depois de um certo período de relativa calma. A marcha a Brasília do MST teve um efeito e deu um exemplo de luta, mesmo com a direção do MST apostando no apoio ao Lula.
Líderes do MST ajudaram por exemplo o governo a pressionar deputados para que eles retirassem a assinatura para a instalação da CPI. Há também uma perspectiva de várias greves e paralisações.
Nesse contexto, os casos de corrupção são elementos que politizam as lutas. Os protestos ficam mais voltados às questões do poder político. Embora muitos no primeiro estágio vejam a corrupção como uma confirmação que “todos os políticos são iguais”, haverá um importante setor que concluirá que o sistema é que é corrupto, e que só um partido preparado a romper com o sistema é quem vai poder mostrar o caminho para frente.
Há possibilidades de novas explosões contra a corrupção, como o caso de Rondônia. Foi também anunciado que o caso do assassinado em Santo André do prefeito Celso Daniel será reaberto. Nesse caso, o deputado Greenhalgh foi o agente enviado pela direção do PT para enterrar a conexão política ao caso de corrupção. Por isso Greenhalgh foi premiado pelo governo com a candidatura à presidência da Câmera, o que provou ser um enorme fracasso que abriu o caminho para Severino. Agora o caso enterrado por Greenhalgh pode se tornar um fantasma que pode perseguir o governo Lula.
Mesmo com essa crise a perspectiva é que o projeto principal da classe dominante continue sendo a reeleição do Lula. A popularidade do Lula e do governo caiu. Na pesquisa da CNT, Lula teve aprovação de 57,4% em maio, comparado contra 60,1% em abril. Isso é o menor índice desde junho de 2004, que foi 54,1% logo após o caso Waldomiro Diniz. A pesquisa também mostra uma queda de aprovação ao governo de 41,9% em abril para 39,8% em maio. Por outro lado, as simulações de eleições à presidência mostra que Lula ganha no primeiro turno contra todos candidatos do PSDB mesmo de Serra, que ele derrota facilmente no segundo turno.
Mas novas crises e desgaste do governo podem alterar o quadro. O que é necessário é de construir um pólo de atração da esquerda, de luta, classista e socialista, que pode dar alternativa diante dessa crise.