Romper com a CUT?

Desde que tiveram início os debates sobre a reforma sindical, uma das questões que mais têm sido discutidas pelos militantes socialistas está relacionada à proposta, impulsionada principalmente pelos companheiros do MTS/PSTU, de ruptura com a CUT e a formação de uma nova central sindical.

Essa proposta foi aprovada e está sendo implementada em alguns sindicatos e oposições sindicais.

Para fazer essa defesa apresentam-se dois argumentos básicos. O primeiro é que a CUT é governista e, portanto, joga um papel reacionário. O segundo é de que há uma ruptura da massas dos trabalhadores com a central.

Para nós do SR, a defesa ou não da ruptura de uma central sindical e formação de uma nova não é uma questão de princípio. Entendemos que a tarefa dos socialistas é estar colados à massa dos trabalhadores, disputando o melhor de sua vanguarda para um projeto de transformação da sociedade.

O próprio Trotsky, analisando a situação dos sindicatos na Inglaterra nos anos 30, afirmava que o principal erro de algumas correntes era o de reduzir o grande problema político de como libertar os trabalhadores da influência da burocracia sindical, a meras experiências organizativas. Para ele, não bastava oferecer aos trabalhadores aonde se dirigir, mas era preciso buscá-los onde estavam e dirigí-los.

Em concordância com essa visão, entendemos que a proposta defendida pelos companheiros tem um efeito desastroso, pois divide os trabalhadores e provoca o isolamento de um setor importante da vanguarda em relação ao conjunto da classe trabalhadora.

Os argumentos básicos apresentados pelos companheiros não justificam uma ruptura com a CUT, pois o fato de um sindicato ou central sindical ter uma direção burocrática e reacionária não significa que tiraremos, mecanicamente, a conclusão de formar um novo sindicato ou central sindical.

Lênin criticou duramente os setores ultra-esquerdistas que tinham essa visão.

Além disso, discordamos da caracterização de que há uma ruptura da massa dos trabalhadores com a CUT.

Para nós, há um processo em curso de experiência de setores importantes da classe trabalhadora com a direção majoritária da CUT. As greves dos servidores federais e dos bancários são expressões desse processo.

Entretanto, essa experiência está ainda em sua fase inicial, mas poderá ser acelerada de forma qualitativa através da implementação da reforma sindical e principalmente da trabalhista pelo governo Lula em colaboração com a direção majoritária da central.

A formação de uma nova central sindical não pode ser apenas um movimento por cima, de motivação aparelhista, mas deve ser a expressão de um movimento construído pela base e que reflita também uma mudança na consciência do conjunto dos trabalhadores.
Alguns companheiros afirmam que precisamos formar uma nova central sindical antes da reforma, porque após a sua aprovação, não haverá mais espaço para a esquerda combativa.

Entretanto, caso a reforma seja aprovada, independentemente da existência ou não de uma nova central sindical, a possibilidade de que se consiga manter estritamente dentro da nova legislação será é mínima em virtude dos critérios impostos pelo próprio conteúdo do projeto.

Fora isso, os companheiros não querem se lembrar que a CUT surgiu como um central sindical por fora da estrutura legal da época, mas teve o seu reconhecimento político através de sua capacidade de mobilizar os trabalhadores contra os ataques de patrões e governos.

A Conlutas é a alternativa?

Em janeiro foi realizado o primeiro Encontro Nacional da Conlutas. Apesar do calendário de mobilização aprovado, o centro do Encontro girou em torno da proposta por parte do MTS/PSTU de ruptura com a CUT e a formação de uma nova central sindical.

Para nós do SR, a Conlutas pode ser um instrumento progressivo se estiver a serviço de uma política que busque unificar todos os setores combativos – sendo que a maioria deles está fora da Conlutas – numa frente social de luta, para derrotar a política econômica e as reformas neoliberais do governo Lula.

A marcha que foi realizado no dia 25 de novembro do ano passado mostrou que essa unidade não só é necessária como possível.

Entretanto, essa construção vem sendo secundarizada diante da prioridade dada à transformação da Conlutas em uma nova central sindical.

Ao priorizar esse debate fica evidente uma forte pressão aparelhista, já que caso ocorra a transformação da Conlutas em central sindical, está ocorrerá através de acordos definidos pela cúpula e não impulsionados pela base.

Por esse motivo, entendemos que a principal tarefa da Conlutas é a de impulsionar, junto com outras organizações, partidos e movimentos sociais, uma frente social que lute por emprego, terra, salário e contra os ataques neoliberais do governo Lula.