A Verdadeira História do Militant

Capítulo Dois – O Partido e sua direção

Sobre a questão da organização, a direção e o método de construção de uma organização marxista viável, eles estão completamente perdidos. Muito poucas organizações tem adotado uma postura de tanto alarde, ou de uma idealização tão nauseabunda de suas figuras dirigentes como esta. Lênin sempre vacilou em escrever em primeira pessoa sobre si mesmo e suas idéias e usou o sinônimo de “bolchevismo” como uma expressão do que estas idéias representavam. De maneira similar, o termo “trotskismo”, primeiro foi invocado pelos stalinistas. Trotsky inicialmente rechaçou-o sustentando que os que usavam este termo queriam dar um nome pessoal a um corpo de idéias que representavam a continuação do bolchevismo. Também assinalou que seu famoso Programa de Transição de 1938; “a agonia mortal do capitalismo”, “não foi o produto de um homem “mas o pensamento e experiências combinadas e coletivas de um movimento, a Oposição de Esquerda Internacional.

O “Trotskismo”, através do uso durante décadas, agora é sinônimo de uma tendência distinta dentro do movimento operário. Mas qualquer hesitação sobre a personalização, o culto à personalidade para dar-lhe um nome correto, é estranha a este grupo. Isto é sublinhado por Sewell quando descreve a “Tendência Ted Grant Militant” (Pág. 211)

Este termo nunca foi usado por nós antes da cisão de 1992. Só foi utilizado por eles depois disso. Agora eles se chamam oficialmente a “Tendência Grant”. Inclusive têm um web site especial, “O web site de Ted Grant”, com o propósito de deusificar seu líder.

A posição que têm sobre o tema “direção” nos leva ao coração das profundas diferenças que existem entre eles e nós sobre o conceito de direção em uma organização revolucionária ou potencialmente revolucionária, que luta para ser uma força significativa e finalmente de massas. É axiomático para os trotskistas que a direção de um partido é vital nestes momentos de inflexão na história em que é possível uma revolução. Sem a presença de Lênin e Trotsky na Rússia em outubro de 1917, a Revolução Russa não teria acontecido.

Em seu “Diário do Exílio”, escrito principalmente para seu próprio uso, mas que foi publicado depois de sua morte, Trotsky comentando seu próprio papel escreveu: “Se eu não estivesse presente em 1917 em São Petersburgo, a Revolução de Outubro teria acontecido do mesmo jeito, com a condição que Lênin estivesse presente e na liderança. Se nem Lenin nem eu estivéssemos presentes em Petersburgo, não teria havido Revolução de Outubro, a direção do Partido Bolchevique teria evitado que ocorresse, disto, não tenho a menor dúvida! Se Lênin não estivesse em Petersburgo, duvido se eu poderia superar a resistência dos líderes bolcheviques. A luta com o “Trotskismo” (isto é, com a revolução proletária) começou em 1917, e o resultado da revolução estava em dúvida. Mas repito, garantida a presença de Lênin, a Revolução Russa teria vencido de qualquer modo”

Não ha nada “pessoal” nestes comentários, como demonstra um estudo da vitoriosa Revolução de Outubro. Inversamente, o fracasso das revoluções cujas condições eram muito mais favoráveis, em numerosas ocasiões durante o século XX, também demonstrou o preço terrível que a classe trabalhadora paga pela falta de um partido revolucionário e uma direção provada e com visão do futuro. Podemos deduzir disto, que em todo lugar e ocasião, que são apenas um ou dois líderes especiais que fazem a diferença entre o êxito e o fracasso de uma revolução? É possível que algo assim ocorra mas nossa aspiração é tratar de assegurar que evitemos esta situação ampliando o número e a base da direção, elevando o nível de todos às tarefas da historia.

O oposto de Trotsky

Apesar das palavras de bom escoteiro sobre o “trabalho em equipe”, Grant y Woods praticam algo completamente oposto a esta idéia. Continuamente sublinharam seu papel “único” e “especial”. Isto foi feito com o propósito de demonstrar que eram indispensáveis para o futuro da organização, e mesmo da classe trabalhadora. Os líderes dos vários grupos da “esquerda revolucionária” tem usado as palavras de Trotsky citadas acima para enfatizar que a direção é vital em uma revolução: eles SÃO a direção, portanto são indispensáveis.

Ainda que não se expressem de uma maneira tão crua, no fundo este é o sentimento de Grant e Woods. E trazem como evidencia “a correção” de suas idéias, especialmente de Grant, por mais de 70 anos! Deixando de lado, como temos demonstrado, que ele está longe do correto no último período histórico. É ridículo para marxistas que apenas dirigem pequenas forças reivindicar que eles são A direção, que eles incorporam toda a experiência exigida para levar adiante uma revolução, quando nunca foram provados em tal situação.

Mais ainda, uma coisa é estar correto no período de unir forças, inclusive envolver-se em escaramuças, greves, grandes campanhas, etc., que são tarefas absolutamente vitais para uma verdadeira direção revolucionária. Mas o verdadeiro exame vem nesses períodos de abruptos giros na situação e, sobretudo, em uma situação revolucionária. Como temos mostrado, Grant e Woods se encontram em espera, não em uma revolução, mas em lutas importantes e preparatórias nas quais Militant estava envolvido.

Grant reivindica a justificação para seu papel nos documentos que escreveu para a WIL (Liga Internacional dos Trabalhadores) e RCP (Partido Comunista Revolucionário). Não queremos diminuir a contribuição que Grant fez para o desenvolvimento destas idéias, mas as formulações finais em documentos não contam toda a história de como as idéias sobre perspectivas, programas, táticas e estratégias evoluem dentro da direção de uma organização revolucionária séria. Em uma organização viável há um processo constante de diálogo e discussão. Quem contribui com o que, onde começam as idéias de um e terminam as de outro, às vezes é difícil de saber.

Trotsky sublinhou isto quando comentou o papel de Plekanov, “o pai do marxismo russo”, Axelrod e Zazulich, no movimento marxista russo inicial. Ele escreveu o seguinte: “Plekanov e Zazulich viviam geralmente em Gênova, Axelrod em Zurique, Axelrod se concentrava em questões de tática. Como é bem sabido não escreveu nenhum livro teórico ou histórico. Escreveu muito pouco e o que escreveu concerne quase sempre à questões táticas do socialismo. Nesta esfera Axelrod mostrou independência e agudeza. Em inúmeras conversas com ele, eu fui muito amigo seu e de Zazulich durante um tempo, tive a clara impressão de que muito do que Plekanov escreveu sobre questões de tática é fruto do trabalho coletivo, e que o papel de Axelrod é consideravelmente mais importante do que pode provar apenas o documento impresso. Axelrod disse mais de uma vez a Plekanov, o líder indisputado do “grupo” (antes do racha de 1903): “Jorge, tens um focinho muito grande e tomas de todos os lados o que necessitas”. (Sobre Lenin, por León Trotsky).

É claro, pode haver contribuições importantes de indivíduos importantes que recebem o merecido crédito por elas. Mas se isto se faz às custas de ocultar os vários talentos reunidos nas fileiras de um partido, de tirar as contribuições de todos em todos os níveis da organização, então fracassaremos. Mais que no tempo da Revolução Russa, as tarefas de construir um partido de massas, não dizemos já para a tomada do poder, será mais difícil e muito mais complexa. Será uma tarefa que estará além de apenas uma ou duas pessoas do “Centro Internacional” ou em “um centro” a nível nacional. De nenhuma maneira isso diminui a necessidade de desenvolver uma direção e dar lugar para o florescimento de indivíduos importantes. Mas isto se deve fazer no contexto de aumentar continuamente a direção e a renovar com os representantes mais promissores destacados da nova geração.

O marxismo é uma ciência. Mas os cientistas, especialmente na era moderna, aprendem um do outro e compartilham informações com objetivo de fazer avançar o saber. Isto não significa que entre os científicos não haja indivíduos importantes. Mas a idéia de trabalho em equipe de cientistas destacados construindo sobre o trabalho de outros, é aceita quase automaticamente. Este tipo de enfoque é alheio a Grant, como fica em evidência no seu livro, e a seus partidários, Woods e Sewell.

Uma história desonesta

Como outros têm comentado, esta não é uma “história do trotskismo britânico” mas uma memória pessoal, falsa e auto-referente, que busca aumentar seu próprio papel às custas de outros. Seu livro se centra em si mesmo e contrasta seu papel virtuoso com o de vários “demônios” , especialmente Ferry Healy e, em menor medida, James Cannon, Pierre Frank, Michel Pablo e Ernest Mandel. Todos eles hoje falecidos e que portanto não podem responder as acusações levantadas contra eles por Grant ou Sewell. Infelizmente para eles nós podemos responder suas distorções.

Nós não mantemos nenhuma responsabilidade sobre outros dirigentes trotskistas britânicos e internacionais atacados por Grant, muitos dos quais cometeram erros assim como fizeram contribuições ao movimento trotskista, mas é errado esperar que estejam todos mortos e portanto não possam responder.

Ted Grant sempre insistia que ele foi o “único” individuo no movimento trotskista que compreendeu o que estava ocorrendo durante a II guerra mundial e depois dela. Esta pretensão foi contestada por várias partes, o que agora obrigou Grant e seus acólitos a modificar ligeiramente sua linha de inabilidade política.

Mesmo Sewell, em sua introdução, agora concede que Grant “não foi o único” a entender o que estava ocorrendo durante a II Guerra Mundial. O trotskista norte-americano Félix Morrow e o trotskista francés Rousset, segundo parece, adiantaram algo (vejam o apêndice de Tony Aitman). Inclusive, agora Grant admite, mediante Sewell, que ele cometeu um erro oportunista ao não apoiar a fração “Partido Aberto” do Partido Comunista Revolucionário em 1949. Sem dúvida, esta admissão foi extraída dele somente pelas críticas no livro de Richarson e Bernstein, “A guerra e a Internacional: Uma história do movimento trotskista na Grã-Bretanha, 1937-1949”. A fração “Partido Aberto” acusou Grant de “traição” nessa época por sua completa capitulação a Healy, que nessa época era servil ao Secretariado Internacional da Quarta Internacional.

Nós fizemos as mesmos críticas contra ele em”A Historia do CIO”. Seus erros oportunistas desencaminhou o que poderiam ter sido importantes forças que poderiam ter continuado a tradição do Partido Comunista Revolucionário no período entre 1949 e 1956. Este foi o período quando Healy e, em menor medida, aqueles ao redor de Tony Cliff, ultrapassaram completamente Grant e o grupo ao seu redor em termos de número, influência, produção regular de material, etc. Grant também deu a Cliff as idéias sobre o “capitalismo de estado” e logo as rechaçou. Portanto também tem alguma responsabilidade no moderno SWP e sua organização internacional, a Internacional Socialist Tendency

Sewell, o defensor de Grant, busca argumentar que quando ocorreu a divisão no Partido Comunista da Grã-Bretanha com os acontecimentos de 1956 na Hungria, nenhum dos proeminentes ex-membros do PC se moveram na direção de Grant. Ainda que, Grant, através de Sewell diga que isto se deveu a seu “baixo nível”. Na realidade, foi devido à completa ineptude e a desorganização de Grant e de suas “forças”, que beirava a anarquia. Healy, com um método incorreto e políticas erradas, assim como um regime interno repressivo, apesar de tudo fez avanços importantes ganhando trabalhadores, e ex-membros do PC para sua organização. Isto era algo que Grant era incapaz de fazer, então e posteriormente.

De fato, apesar dos esforços de jovens membros, como Keith Dickinson e Reg Lewis, o estado do grupo de Grant em 1960 não era diferente do estado caótico de 1956. Quando uns poucos novos recrutas entraram em sua órbita, tanto Healy como Cliff tinham periódicos regulares, o primeiro com uma certa influência entre sindicalistas e trabalhadores, o último entre uma camada de estudantes de classe média e intelectuais na área de Londres. Grant por outro lado produzia um periódico chamado Socialist Fight (Luta Socialista) que seus adversários davam o apelido de “Socialist Flight” (Vôo Socialista), hoje aqui e amanhã em outro lugar, porque era produzido com um intervalo de 6 meses por cada número.

Por que então gente como eu e um grupo de jovens se uniu ao grupo de Grant? Não devido a Ted Grant, certamente. Foi pelos excelentes militantes de base de Merseyside, particularmente trabalhadores como John mcDonald, jovens impressionantes como Pat Wall, Ted Money e Don Hughes, que gente jovem se uniu à organização. A Socialist Labour League de Healy (que mais tarde foi o Revolutionary Workers Party) se aproximaram deles através de seu organizador em Merseyside, Hill Hunter e tiveram discussões com ele. Se tivesse sido apenas por uma questão de organização, onde a SLL superava completamente o grupo Grant, então eles como outros grupos de jovens trabalhadores teriam se unido à SLL. Eles vacilaram devido a desacordos com sua política e a suspeitas inatas frente ao tom messiânico e à estrutura da SLL. Também se inclinaram pelo método de análise e os pontos programáticos que lhes foram explicados pelo grupo de Merseyside, mais do que pela SLL.

Em questão de três meses depois de haver entrado na organização fui feito secretário de Merseyside, do que era reconhecidamente uma organização muito pequena. Junto com outros jovens camaradas, há que dizer que em oposição à velha geração, que queria seguir numa existência cômoda mais conservadora dentro do Partido Trabalhista, reorganizamos a seção de Merseyside, arrendamos nosso próprio local, reanimamos antigos trotskistas, e atraímos um segmento completo de gente jovem. Eu junto com Ted Money, Tony Mulhearn, Ferry Harrison (que não estava em Merseyside quando eu me uni ao partido devido a seu serviço nacional em Hong Kong), Marie Harrison, Linda Taaffe, Dave Galashan e outros, combatemos os “Healyistas” dentro da Young Socialist Federation (Federação de Jovens Socialistas) de Merseyside.

Eles receberam o apoio da direção nacional da organização, especialmente de Jimmy Deane, que além de ser politicamente capaz, era também extraordinariamente caloroso nas boas vindas, dava a impressão de uma visão dinâmica das idéias e da organização e tinha em vista a próxima geração. Ted Grant não era um indivíduo ou um orador impressionante quando se o conhecia pela primeira vez. Um maior contato com ele permitia umaapreciação maior de suas capacidades nesta etapa.

Reconhecimento do papel de Ted Grant, insultos maliciosos como resposta

Alguém tem que contrastar a generosidade, alguns diriam a exagerada generosidade dada sua difamação contra nós nesse tempo, com a qual tratamos seu papel na história do Militant e a diatribe abusiva, não política, que ele tem sancionado para uso de seu acólito Sewell contra seus antigos camaradas. Quando ele se separou de Militant em 1991, escrevemos o seguinte: “Lamentamos que Ted Grant se tenha cindido desta maneira. Ele fez uma contribuição vital para manter as genuínas idéias do marxismo e desenvolver o legado teórico de Leon Trotsky no clima político hostil do período de pós guerra. Jogou um papel chave na formulação das idéias e das políticas sobre as quais se construiu o Militant desde 1964. Especialmente aqueles que trabalharam próximo a ele por mais de três décadas lamentam que agora tenha dado as costas ao Militant, a nossos grandes sucessos na luta e aos potentes partidos que temos construído na Grã-Bretanha e internacionalmente. É lamentável que tenha permitido que sua autoridade política seja usada por gente cuja preocupação principal não é clarificar idéias e sim causar o máximo dano ao Militant. Um elemento infeliz da vida política é o impulso rancoroso de antigos ativistas por justificar sua defecção lançando alegações de crimes políticos de seus antigos camaradas. Estão perdendo seu tempo, este mini êxodo não nos desviará o mínimo do curso que temos seguido” (Militant, 1072, 24 de janeiro 1992)

Em “Rise of Militant” escrevemos: “as diferenças de aproximação sobre a estratégia e as táticas são comuns no movimento marxista. Todos defendem pontos errados em algum momento, especialmente quando não são conhecidos todos os fatos. Mas as posições de Grant se distinguiam por uma adesão dogmática e teimosa a um ponto de vista quando era claro que ele não tinha a perspectiva necessária de como se estava desenvolvendo a luta no terreno. Mais ainda, tentava exercer um veto político sobre pontos de vista diferentes e apreciações mais claras de uma situação.

Explicando esta cisão também fizemos o devido reconhecimento do papel que ele havia jogado no passado: “Tem feito uma grande contribuição em termos da teoria marxista, especialmente defendendo as idéias de Marx, Engels, Lênin y Trotsky, tanto contra o oportunismo como contra o ultraesquerdismo. Mas uma teoria correta em si mesma não é suficiente. É necessário traduzi-la em programa, estratégias e táticas, e relacionar tudo com o movimento real da classe trabalhadora. Foi isto que distinguiu o Militant de todos os outros grupos “marxistas”, no curso da luta de Liverpool e da batalha do Poll Tax. Apesar de seus êxitos passados, Ted Grant às vezes não estava à altura da situação, especialmente a situação instável dos anos 80. Sua falta de agudeza e aptidão tática foi fonte de irritação e conflito com algumas das principais figuras do drama de Liverpool” (The Rise of Militant, por Peter Taaffe, Pág. 445)

Isto contrasta com os comentários que ele e seus partidários fazem sobre gente com a qual ele colaborou por um período de 30 anos. Sewell escreve o seguinte sobre mim: “Um homem muito ambicioso com um temor mórbido de seus rivais, reais ou potenciais, Taaffe concluiu que seus talentos não eram suficientemente apreciados. Na realidade, apesar de certa capacidade organizativa, Taaffe nunca foi um teórico e estava profundamente receoso de gente que via como de um nível mais elevado que ele mesmo…Ainda que Taaffe fosse um orador talentoso e organizador capaz, todas suas idéias foram tomadas de Ted (Grant)”.

Mais ainda: “na realidade, Taaffe se sentia particularmente ameaçado por Alan Woods, que certamente estava em um nível teórico mais elevado e era considerado por todos um excelente orador e escritor, como Taaffe sempre estava olhando sobre seus ombros em busca de rivais, imaginou (erroneamente) que aqui havia uma ameaça a sua própria posição”.

Aumentar desta maneira o papel de Woods permite a Sewell envolver-se na glória refletida do talento de seu meio irmã. O fato de Woods ter permitido que estas palavras fossem escritas sobre ele constitui todo um comentário em si mesmo!

Certamente não perdeu nada de seus modos arrogantes, condescendentes, que conseguiram afasta-lo de tantos líderes e membros de base do Militant na época do apogeu de sua vitalidade e vigor.

Sobre qualquer ressentimento pela superioridade como “teórico” de Woods, tais ressentimentos nunca puderam ocorrer a nenhum dirigente do Militant na época. Eu, Lynn Walsh, Keith Dickinson, Clare Doyle e muitos outros dirigentes de Militant escrevemos literalmente dezenas, ou centenas, de artigos no Militant e no Militant Internacional Review sobre aspectos teóricos e os processos dentro dos sindicatos, a Greve Geral, a Revolução Cultural na China, sobre o stalinismo, a revolução portuguesa, sobretudo sobre a estratégia e táticas dos movimentos de massas ao redor de Liverpool e Poll Tax.

Essas não eram apenas contribuições individuais, mas o produto de nossa discussão e debate democrático, e o resultado da análise da direção coletiva e das ações e campanhas que saíram delas.

“Correção” de Grant?

“Ah, mas isso foi quando Ted Grant podia corrigir Taaffe e os outros”. Ted Grant não estava em primeiro plano nem na análise do Poll Tax nem das batalhas de Liverpool, ou na implementação das idéias que seguiram essas análises. O culto extremo à personalidade de Sewell, assim como suas mentiras e distorções, nos obriga a contar a verdade. é triste dizer que Grant nunca revisou nem uma linha de muitos se não da maioria dos artigos sobre isso!; nem meu livro sobre a Revolução Francesa por exemplo. Apesar do qual este é um tema constante no livro de Grant e não se aplica só a mim. Seu primeiro colaborador principal Ralph Lee, era um bom tipo mas “a teoria” havia sido baixada por Grant mesmo. O mesmo se aplica a Jack Haston e a toda direção do RCP, não apenas Healy, mas também Jimmy Deane, Pat Wall e a todo o resto, exceto Ted Grant. A verdade é que as idéias de Grant eram originalmente totalmente ininteligíveis, impossíveis de ser comprendidas salvo reescritos para publicação por seus colaboradores que invariavelmente faziam adendos, não apenas na apresentação, mas na formulação das idéias também.

A denúncia dos demais acompanhada de afirmações da supremacia teórica de Grant e Woods não importavam absolutamente nada em 1991 e ainda menos agora dada a incapacidade teórica durante o difícil e complexo período histórico desde então. Agora eles estão em apuros para tratar dos assuntos políticos em disputa em 1991. Apelam à patética desculpa de que perderam em uma luta fracional dentro de nossas fileiras devido a uma pretensa “camarilha” em torno de Peter Taaffe. Sewell admite que a divisão começou com “uma violenta peleja” causada por Woods e Grant com suas “alegações de camarilha”. Mas logo, devido a que a evidência está tão gasta, deixa cair imediatamente a questão em lugar de tratar de prová-la. Também sustenta que levaram “os principais teóricos com eles”, sem nomear nem um só deles. Contestamos,e esta afirmação foi rechaçada pela esmagadora maioria das bases do Militant.

Por una curiosa coincidência, Grant em seu próprio livro dá provas de sua tendência a apoiar uma “camarilha”. Na discussão no RCP sobre a entrada no Labour Party ou trabalho independente no final dos anos 40, tomou uma posição “neutra”, ainda que na realidade favorecesse a continuação do trabalho aberto. A razão disto, admitida em seu livro, era porque quis “preservar a direção”. “Nós queríamos manter a direção a todo custa para o futuro”. Que é isto senão uma definição clara de uma política de camarilha? Uma tática correta não foi apoiada por Grant porque era necessário “preservar a direção”.

É claro que a direção de uma organização revolucionária, especialmente que tenha sido construída durante um período de tempo, é um capital precioso para a construção de um movimento poderoso. Não deve ser jogada de lado ou dividida facilmente. Esta é, entre parênteses, uma razão pela qual, apesar das divergências crescentes entre nós e Grant sobre vários temas, nos esforçamos por manter a unidade do Militant. Mas se quiser “preservar” os quadros da direção a todo preço, o que se acaba é não “preservando-os”.

A questão de entrar no Partido Trabalhista ou um partido aberto não era um assunto menor ou secundário, mas vital para o futuro do RCP na Grã-Bretanha. Foram as divisões sobre esta questão o que ajudou a desencaminhar o RCP e levou à sua desintegração. Os interesses de camarilha, neste caso a direção do RCP, significou que Grant abandonou uma posição de princípios. Compare isto com “a evidência” por cargos que ele, Sewell e Woods levantaram contra a maioria sobre a organização de uma “camarilha” ao meu redor em 1991.

Os contos de fadas, de que eu suprimi o livro de Woods sobre o bolchevismo, que impedi pessoalmente que ele falasse em encontros, nem sequer merecem resposta. É suficiente dizer que não há evidência fornecida por Sewell, nenhuma minuta de reuniões ou sub comitê, nem de reuniões do Comitê Executivo, do qual o mesmo Sewell foi membro proeminente. Ele nunca até então jogou esta acusação, que é claramente uma tentativa ex post facto para inventar a lenda de que havia manobras contra seu irmão.

Woods e Grant organizaram a divisão de 1991

Outro típico conto de fadas de Sewell é a afirmação de que “o principal pecado de Alan (Woods) foi que sempre esteve próximo de Grant e portanto nunca tolerou nenhuma manobra contra ele, ou qualquer outro. Taaffe sabia que seria impossível remover Ted sem uma batalha com Alan Woods, algo que ele temia, sobretudo pelas conseqüências na Internacional”.

Cada palavra de Sewell sobre este e outros temas relacionados à história de Militant é um erro e alguns são dois! Não houve “complô” para remover Ted Grant e seus partidários. De fato, os dirigentes do que posteriormente foi a maioria dentro de Militant foram muitoingênuos sobre o que passava atrás da cena.

Sem sabermos, Woods e Grant estavam solicitando apoio dentro do CIO por uma “mudança de regime” na direção da organização britânica e internacionalmente, mas não amplamente na Grã-Bretanha porque sua base era muito débil aqui. François Bliki na Bélgica nos revelou depois da cisão de 1991 que Woods se aproximou dele sobre esta eventualidade. Tais acercamentos habitualmente eram feitos em Conferências Internacionais.

Não fomos nós, mas Grant e Woods mesmos que trataram de organizar um “golpe” contra a direção. O desencadear desta intenção foram as objeções de Grant, destá vez secundado por Woods que lhe havia feito oposição em alguns assuntos como este no passado, a que camaradas “mais jovens” como Bob Labi de 32 anos, fizessem o fechamento de um próximo evento internacional! Tony Saunois, Bob Labi e eu recusamos esta posição. Foi suficiente para desencadear acusações de uma “camarilha”, pela primeira vez, dentro da direção do Militant e do CIO.

Woods então tentou conseguir apoio fora do Secretariado Internacional. A exigência de uma mudança foi acompanhada com o ultimato que Tony Saunois, então Secretário Geral em função, deveria ser removido devido a sua oposição a Woods e Grant. Generosamente concederam que não seria despedido como permanente, mas seria enviado ao equivalente de um exílio siberiano, a trabalhar no Chile! Lawrence Coates teria que ser removido. A mim mesmo se permitiria manter minha posição desde que “mantivesse meu lugar”, reconhecesse a superioridade teórica de Grant e Woods, e limitar-me-ia a tarefas organizativas.

Debilidade de método

Este incidente realçou o dilema que o Militant enfrentou nos anos 80, especialmente na última parte da década. Ainda que Grant fosse respeitado pelos membros e dirigentes do Militant, por algum tempo havia sido evidente que seus melhores dias, especialmente sobre uma plataforma pública, haviam ficado para trás. Esta não era a primeira vez na história do movimento marxista em que um líder pôde jogar um papel pioneiro numa etapa, mas demonstrar ter carências, se transformando num obstáculo, quando a situação muda. O trágico exemplo de Plekanov, “pai do marxismo russo” vem a mente. Seu papel foi decisivo no período em que a tarefa era estabelecer os caminhos, defender o marxismo contra o oportunismo e o ultraesquerdismo. Mas o mesmo Plekanov demonstrou ser completamente incapaz frente à grandes acontecimentos quando o ritmo da luta de classes mudou.

Camadas completamente frescas foram atraídas pela bandeira do Militant, especialmente nos encontros massivos que ocorreram nos finais dos anos 80 e começos dos 90. Não é possível levar um cavalo à corrida do Grand National (Grande prêmio da hípica n.d.t.) na primeira vez que corre. Era necessário apresentar as idéias do Militant da maneira mais popular e acessível possível, sem diluir ou ocultar nossas posições. Outros jovens oradores eram mais aptos para desempenhar esta tarefa que alguém que já estava no final de seus setenta anos, e que agora está em seus últimos 80.

Ted Grant não foi capaz de reconhecer as limitações que a idade impõe a todos. A experiência e a continuidade são essenciais em qualquer organização marxista. Mas nunca deve transformar-se numa barreira a uma nova geração de dirigentes que são os herdeiros do futuro e devem inevitavelmente levar a principal carga do trabalho diário para construir uma organização marxista viável.

Grant operava com fórmulas antiquadas que já não se aplicavam à situação atual. No período posterior à Segunda Guerra Mundial, os processos eram mais esquematizáveis, mais “previsíveis”. Depois de 1950, a formulação de perspectivas, ainda que de modo algum uma tarefa simples, era mais fácil do que foi nos começos dos anos 90 ou hoje em dia. Então existia um certo equilíbrio mundial, com a existência de poderosos estados stalinistas.

O boom dos anos 80, o esvaziamento de muitos partidos de trabalhadores, e sobretudo o colapso dos regimes stalinistas nos fizeram entrar num período instável, completamente novo. Novas tarefas teóricas, novos problemas no campo da estratégia, tática e organização. Faz-se necessário ser mais condicional. Isto não significava que deveríamos tomar uma posição covarde de falsa neutralidade nos assuntos. O que se necessitava e ainda se necessita, é que discutíssemos todas as contingências decidíssemos sobre a variante mais provável em qualquer situação dada. Isto as vezes requer a correção de uma posição prévia, quando novos fatores, mesmo alguns antes desconhecidos, entram na equação política.

Velho Bolchevique

Isto não tem nada em comum com “empirismo” e “impressionismo”, os pecados que nos atribuem Grant e cia. As suas avaliações, Woods y Cia., tomou cada vez mais a forma de predições astrológicas. Adotaram uma postura absolutamente dogmática, de branco e preto, não dialética, dos fenômenos políticos, tanto na Grã-Bretanha como internacionalmente. Isto combinado com as tentativas de Grant de exercer um veto político sobre a direção, teria tido efeitos desastrosos para nosso desenvolvimento se não fosse contrabalançado.

Os paladinos de Grant, incrivelmente, tem tratado de argumentar que nó fomos “salvos” de embrulhadas por intervenções no tempo de Grant. Pelo contrário, como temos mostrado, a verdadeira história da década de 80, até a cisão de 1991, se caracterizou por avaliações dogmáticas e intolerantes de Grant, usualmente suavizadas, corrigidas e às vezes opostas dentro do Comitê Executivo do Militant e do CIO por outros camaradas.

Na complexidade do mundo novo e na situação nacional Grant e Woods demonstraram uma atrofia do processo de pensamento, confiando em fórmulas ultrapassadas que se mostraram inadequadas frente aos desafios atuais.

O mesmo é certo sobre a organização e a história do Militant. Sewell faz a absurda afirmação de que foi ele e seu irmão, de sua base em Swansea e Brighton, em equipe com Ted Grant, que asseguraram o renascimento da nossa organização, que posteriormente se tornou o Militant no começo dos anos 60. É claramente uma tentativa de estabelecer a reputação de Woods como “Velho Bolchevique”, um pioneiro do renascimento da organização. Ele jogou um certo papel em Gales por um curto período, e mais importante na Espanha mais tarde, mas não esteve presente quando a organização começou a crescer novamente em 1960.

Isto contrasta com o que Sewell escreve sobre mim. Sewell sugere que eu era só um companheiro debutante na época do “lançamento do Militant”. Escreve: “um jovem recruta de Birkenhead, foi escolhido para vir a Londres, como funcionário permanente e para que ajudasse a produzir o periódico e colaborar com o trabalho nacional”.

Este “novo jovem recruta” já estava ativo na organização quatro anos antes disto. Mais ainda, eu participara em numerosas batalhas com nossos oponentes na Young Socialist em nível local e nacional, havia falado na Conferência da Young Socialist, havia liderado uma greve de aprendizes em Liverpool e Manchester em 1964, e estivera muito envolvido nas discussões ao redor da unificação com o Internacional Group (IG), que mais tarde foi o internacional Marxist Group (IMG), a seção britânica do Secretariado Unificado da Quarta Internacional (SU-CI).

Eu confrontei Joe Hansen, que havia sido secretário de Trotsky numa época, e Ernest Mandel, líder teórico do SU-CI, em uma conferência que havíamos organizado para debater importantes diferenças políticas em Wortley May, perto de Sheffield em 1963. Na chamada conferência de unidade entre nós e o IG em 1964, eu liderei a retirada da delegação de Liverpool, com o apoio da maioria de Liverpool, contra a decisão de continuarnuma unificação prematura com o IG. Portanto eu não era um “jovem recruta” em 1964, como sugere Sewell, mas alguém que apesar de minha idade, tinha certa história atrás de mim.

Não se pode dizer o mesmo de Sewell e Woods, que nem sequer haviam aparecido em nosso movimento nesta etapa. Fui eleito para ser o secretário geral e o editor público oficial do jornal, assim como o primeiro liberado em tempo completo, por proposta de Jimmy Deane. O erro deste último em relação ao apoio sobre a unificação com o IG, o qual nos opomos a ele com muito mais energia que Grant, foi em parte motivado pela frustração de trabalhar com Grant durante um período de tempo e em uma completa falta de confiança de que algo pudesse ser conseguido por esse homem na construção de uma organização trotskista viável.

Onde estavam Sewell e Woods enquanto isso? Sewell era um adolescente e Woods não era ainda membro de nossa organização, mas membro do Labour Party Young Socialists. A mesma técnica de “limpeza” é utilizada por Sewell em relação ao Congresso Mundial de 1965 do SU-QI realizado nas montanhas Taunas na Alemanha. A presença de Grant na conferência é mencionada, mas não a minha. Eu fui delegado da organização britânica a esta conferência e falei, tanto nas sessões formais como nas discussões informais.

Reescrevendo a história: as invenções de Sewell

Não são apenas “omissões” de Sewell. Há uma tentativa deliberada e absurda de falsear a história de nossa organização completamente, durante seu renascimento especialmente nos começos dos anos 60. O que é incrível é que Sewell fale na primeira pessoa do plural, “nosso”, de novo, com sua própria admissão de que nem sequer era membro quando os acontecimentos tiveram lugar. Ted Grant tem sancionado esta falsificação, com o objetivo de diminuir o papel de outros que colidiram com ele em 1991, e, o que é “imperdoável”,convenceram a maioria do que ele considerava até então “sua” organização. De fato, este livro, o Epílogo de Sewell, e as contínuas ações de franco-atirador ao Socialist Party e ao CIO desde então constituem um caso severo de “uvas amargas” da parte desta “tendência”. Ao decidirem se opor, da forma mais não-principista à maioria de 1991 e posteriormente, eles tem sido marginalizados pela história.

Segundo ele próprio, Sewell não se incorporou na organização até 1966, e não jogou um papel nacional por muito tempo depois disto. Fora o fato falso de que ele foi informado por seu irmão, ele não está em posição de conhecer os fatos. Alan Woods não fez parte de nenhuma decisão adotada em nível nacional em relação à Young Socialist, em relação à cisão com o SU-QI em 1965, em relação à formação do Militant, em relação à greve de aprendizes no começo dos anos 60 e muitos outros assuntos.

Quando me tornei membro em 1960, a organização local de Swansea era muito pequena e ineficaz, com poucas pessoas ao redor de Dave Mathews e Colin Tidley, assim como Muriel Browning. Alan Woods tentou em poucas ocasiões quando discutimos nossa história interpretar sua permanência no Labour Party Young Socialist como permanência em nosso grupo em Swansea neste tempo. Este não foi o caso, de fato, a primeira vez que entramos em contato com ele e Roger Silverman, foi na conferência de 1964 da YS em Brighton.

Se Woods foi membro desde 1960, porque durante os conflitos com o grupo de Cliff na YS e a SLL, ou a fusão com o SU-CI, as inúmeras batalhas nas conferências da YS entre 1960 e 1964, ele era desconhecido por aqueles que estavam na plataforma das lutas que aconteciam? Nós o notamos somente quando foi a Brighton e exerceu um papel, junto a Grant, sobre um grupo de estudantes. Antes disto, eu, junto com Ted Money, Tony Mulhearn e outros, visitamos a Escócia e Nottingham, construindo uma organização local viável da YS em Merseyside, ganhando a maioria das organizações locais da YS, no total 25, dividindo a SLL e ganhando para nossas fileiras suas melhores pessoas, dirigindo a greve nacional de aprendizes de 1964, participando na conferência de “Unidade” com o Internacional Marxist Group de 1963 e outros eventos tanto locais como internacionais.

Woods jogou um papel em Brighton introduzindo alguns estudantes muito capazes ao marxismo. Não é casual, sem dúvida, que a maioria deles foram depois seus críticos mais severos. Posteriormente deixou a região e viajou à Rússia e Bulgária, e na sua volta encontrou uma organização mudada não totalmente de seu agrado. À sua maneira habitual exigiu a aceitação automática como o “líder” do grupo mas sofreu um agudo revés daqueles como Lynn Walsh que (como outros tais como Clare Doyle, Roger Silverman, Meter HaddenRoger Keyse, que havia nascido em Brighton) jogaram um importante papel no movimento trotskista na Grã-Bretanha, assim como apoiadores do Militant como o operário Ray Apps. Nenhum dos quais recebem uma menção no relato de Sewell, que passa por “história” objetiva.

Outro conto de fadas é a importância outorgada por Sewell ao fato de Woods, na construção do Militant, ter sido o “primeiro liberado regional”. De fato, Clare Doyle foi liberada antes dele, em North East, como Lynn Walsh na área de Manchester e Lancashire, e Ferry Harrison em Merseyside.

Inexatidões históricas

Se havia qualquer ressentimento oculto não era de parte de outros senão de Woods. Devido a seus alegados talentos “teóricos” ele pensou que isso era suficiente para garantir sua autoridade política. Sem dúvida, sua incapacidade para compreender a nova situação que estava se desenrolando, reforçada por sua dependência a Grant, significou que estava cada vez mais deslocado com suas posições e atitudes ante a maioria dos membros do Militant e dos elementos mais reflexivos do CIO.

Ironicamente, foi este autoproclamado partidário da “dialética” que demonstrou a aproximação menos dialética frente ao fenômeno político que estava surgindo no final da década de 80. A dialética é essencialmente a teoria da mudança. Sem dúvida, tudo neste mundo, desde 1990, especialmente depois da queda do muro de Berlim, tem mudado. Exceto os pontos de vista de Woods e Grant!

O Partido Trabalhista segue igual, a Rússia nas primeiras etapas seguia igual, como um estado operário. Se levantavam consignas pertencentes a outra época, como o serviço militar obrigatório durante a Guerra do Golfo, sem considerar a situação objetiva que existia.

Durante dez anos antes de 1991, Militant foi decisivo nas grandes batalhas em Liverpool assim como na luta do Poll Tax. Foi nesse período que fizemos uma significativa contribuição à greve dos mineiros também. Igualmente foi nesse período de 10 a 12 anos que fomos capazes de agrupar jovens quadros que por sua vez conseguiram influir em camadas ainda mais amplas de jovens da classe trabalhadora britânica.

Esta intervenção não teria sido possível sem combater a mentalidade de círculo que afligia muitos camaradas no período que precedeu os finais dos anos 70 e princípios dos 80. Tínhamos muitos que estavam bastante cômodos no Partido Trabalhista debatendo e passando resoluções. Eram em todo os sentidos do termo, mais “resolucionários” do que revolucionários. A perspectiva de trabalho de massas, de “sujar as mãos”, chegando a novas camadas de trabalhadores fora das “organizações tradicionais”, sem duvida atemorizava muitos destes “marxistas” que se distanciaram gradualmente da organização. Sua perda foi mais do que compensada pelos novos elementos combativos que foram ganhos para as fileiras de nossa organização.

Iniciativas da militância

Em seus corações Ted Grant e Alan Woods não gostavam do novo aspecto político da organização. É claro, não objetavam uma organização maior e portanto maiores audiências para discursos e artigos. Mas a necessidade de apresentar as idéias marxistas de uma maneira nova e bastante diferente dos períodos anteriores para atrair e manter essas camadas foi difícil e cada vez mais fastidiosa para eles.

Temos escutado da parte deles muito sobre a necessidade de “teoria”. A atual direção do Partido Socialista e do CIO tem feito uma contribuição que não é pequena às idéias eexplicações teóricas da organização de 1960 em diante. Por exemplo, em Liverpool, eu e outros independentemente chegamos à conclusão que Cuba era um estado operário ainda que burocraticamente deformado, antes de Grant e a direção nacional da pequena organização que éramos nessa etapa. Posteriormente Grant chegou à mesma conclusão que nós depois que visitou a Embaixada Cubana, conseguiu material, o leu e depois se pronunciou sobre o assunto. Nós nos baseamos na literatura existente, em especial os artigos de Ortiz na revista do então Secretariado Internacional da Quarta Internacional, “Fourth International” que fornecia um tesouro de material empírico, para tirar as conclusões sobre este assunto chave antes que a direção nacional.

Outras importantes improvisações táticas surgiram das fileiras militantes, antes que da direção nacional, e essa é a maneira como deve ser uma organização trotskista sã com uma militância combativa e pensante. Não foi a direção nacional, mas os camaradas em Glasgow quem conduziram e organizaram a greve de estudantes secundaristas em 1985. Isto foi retomado por nossos camaradas jovens na greve nacional em 1986-87. Baseando-se nesta experiência nossa organização espanhola liderou uma greve em 1986-87, que posteriormente levou à formação do sindicato de estudantes.

A percepção da teoria e do papel dos “teóricos” de Woods y Grant é a de “mestre e discípulo”, de patrício e plebeu. Outros camaradas, incluindo camaradas dirigentes, seriam recipientes vazios nos quais esses “teóricos” poderiam colocar suas “idéias”. Esta concepção, evidentemente, não tinha êxito conosco, especialmente quando confrontava com a incapacidade cada vez maior destes “teóricos” para respaldar as questões prementes da política contemporânea na Grã-Bretanha e em nível internacional. Caiu nas mãos de outros rearmar a organização em uma situação nova, complexa, que desafiava o trotskismo no final dos anos 80 e nos 90, assim como o período que estamos começando.

Temos cometido erros, de ‘tempo’ na estimativa de vários movimentos grevistas e sobre eventos internacionais. Não é possível para uma direção séria não cometer erros deste tipo. Mas nas discussões sobre todos os grandes acontecimentos da década de 90, nove de cada dez vezes a razão estava do lado dos que depois foram a direção do Partido Socialista e do CIO do que com Grant y Woods. O fracasso, o completo evitar de temas políticos, em explicar as diferenças teóricas e práticas que levaram à separação do grupo Grant, é evidente no relato de Sewell.

Nenhum socialista ou marxista sério pode aceitar que uma cisão na maior e mais eficiente organização trotskista que a Grã-Bretanha já viu possa ser reduzida à questão de uma “camarilha” ao meu redor. Esta acusação foi respondida detalhadamente erechaçada pela militância da organização britânica e pelo CIO como um todo. A divisão aberta que se manifestou em 1991 foi precedida como vimos, por uma série de enfrentamentos políticos de caráter teórico e organizativo.

A luta de Liverpool

As escassas palavras que Sewell menciona em relação à luta de Liverpool, e em tudo o que concerne ao Poll Tax, constitui evidência por si mesma da posição vergonhosa adotada pela “Santíssima Trindade”. Grant não jogou um papel decisivo nos acontecimentos de Liverpool. De fato, em uma famosa reunião do Comitê Nacional em 1982, em que participaram Tonny Mulhearn e Derek Hatton, Grant entrou em conflito comigo e com esses dois líderes de nossa organização em Liverpool.

Os camaradas de Liverpool esperavam que o grupo trabalhista se pronunciaria a favor de um orçamento ilegal, apesar do fato da esquerda estar em minoria entre os conselheiros municipais. Sua conclusão, posteriormente provada correta, foi que como resultado da pressão de massa que se exerceria sobre os conselheiros trabalhistas, mesmo setores da direita seriam persuadidos a apoiar o orçamento ilegal. Grant, em sua forma dogmática usual, sustentou o contrário e chamou-me a atenção mais tarde por alinhar-me com os camaradas de Liverpool. Eu levei a Tony Mulhearn e a Derek Hatton adiscussão com Grant. Esses camaradas lhe deram uma séria bronca por sua falta de conhecimento tático, por sua tendência a fazer grandes pronunciamentos sobre uma situação sem saber o que estava se passando no terreno.

Derek Hatton já não é um trotskista, mas jogou um papel vital na luta de Liverpool. Tanto ele como o Militant ganharam uma reputação de luta ante os olhos das massas. Ele foi empírico em sua conduta e sem duvida cometeu pecados de ativismo contra o credo de Sewell e Grant. O mesmo não se pode dizer deles, nem então nem posteriormente.

Derek Hatton julgava as pessoas de acordo como as via comportarem-se em ação. Rechaçou Grant com desprezo. Eu tratei de convencê-lo que escrevesse algumas palavras de saudação sobre a posição adotada por Grant no livro que escreveu ao final da luta de Liverpool. Se cometeram erros nesta luta, que nós admitimos honestamente em seu momento e no material escrito desde então. Mas a escala deste movimento, que estava em um plano superior até mesmo que a luta do Poll Tax, aterrorizou a burguesia britânica e a ala direita do movimento trabalhista de modo igual. Quando Sewell se refere a este acontecimento, ele fala sobre “nossa” participação. Ele teve uma participação pequena em Liverpool, apesar de sua posição como organizador “nacional”, e era muito pouco conhecido pela militância de Liverpool.

O Poll Tax

Eu visitei a Escócia para falar numa reunião de membros do Militant, que discutiu a campanha para derrotar este imposto. Em cada etapa da batalha na Escócia, foi eu e outros membros do Comitê Executivo britânico, e raramente Grant, que estávamos em discussões com os camaradas escoceses.

Gente como Tommy Sheridan e Alan McCombes, que já não são membros do CIO, e Phillip Stott e Ronie Stevenson que o são, assim como outros muitos camaradas demasiado numerosos para nomeá-los, jogaram papéis importantes. Mas o papel de Sewell foi virtualmente inexistente. A maioria dos participantes nesta batalha ficaria atônito se lessem alguma vez a narração de Sewell, ao descobrir que, já que ele era “organizador nacional”, jogou um papel chave na luta do Poll Tax. Mais ainda, a única vez que adotou uma posição diferente à da imensa maioria do Militant foi na época da cisão, quando propôs, com Grant e Woods, que adotássemos a tática desastrosa de permitir aos parlamentares do “Militant”, Dave Nellist e Ferry Fields, que pagassem secretamente seu imposto Poll Tax, para que mantivessem seus mandatos. Centenas haviam sido encarcerados por negar-se a pagar o Poll Tax e 34 deles eram membros de nossa organização. Os mais proeminentes eram Tommy Sheridan na Escócia e Ferry Fields na Inglaterra. Permitir então aos líderes da campanha desprenderem-se da responsabilidade de fazer o que defendiam que deviam fazer os trabalhadores comuns era completamente sem princípios, seria o cúmulo da irresponsabilidade. De fato, se a direção do Militant defendesse este curso, é duvidoso que mesmo se os parlamentares tivessem aceitado. Sem dúvida teria sido um assunto que teria posto a prova a unidade de nossa organização e provavelmente teria provocado uma revolta, por exemplo, na Escócia e outras partes do país.

Nós derrotamos esta proposta no Comitê Executivo e os parlamentares se mantiveram firmes em sua posição. Isto provocou a prisão de Ferry Fields, cujo papel ficou gravado para sempre nos corações da classe trabalhadora em Liverpool e em todas as partes. A posição de Dave Nellist de manter-se neste assunto de princípios foi utilizada para expulsá-lo do Partido Trabalhista. Ao mesmo tempo aumentou enormemente seu prestigio entre a classe trabalhadora em geral. Quando se revelou que Sewell, Grant e cia.defenderam este curso na luta do Poll Tax, houve um desencanto generalizado com Grant, e desgosto igual aos irmãos Sewell e Woods.