A Verdadeira História do Militant

Capítulo um – Insultos no lugar de política

Até mesmo Harry Ratner, um ex-trotskista britânico, em seu artigo no Web site “What Next?” se surpreende pelo método usado por Sewell em seu epílogo horrível. Ratner escreve: “Por volta de 1991, Militant estava em sério declínio e em janeiro de 1992 se fracionou e Grant e Sewell haviam sido expulsos. Uma maioria abandonou o Partido Trabalhista e organizou o Partido Socialista e o Partido Socialista Escocês. O que deu errado? A explicação de Sewell é superficial e longe de ser satisfatória. Quase sete parágrafos completos estão dedicados a descrever Peter Taaffe como o principal vilão que organizou uma fração contra Grant”. De acordo com Sewell, Taaffe e sua equipe “deliberadamente sabotaram”, estavam “seguindo a sua própria agenda”. “Um homem muito ambicioso, com um medo mortal dos rivais reais ou potenciais, Taaffe pensava que seus talentos não eram apreciados devidamente… Se rodeou de um grupo de homens servis… Recorreu a manobras por baixo do pano para isolar Ted, propagou rumores sobre seu caráter pretensamente insuportável, e coisas piores”… etc. “Sewell parece dar ao contexto político real um papel menor”. (As críticas de Ratner são significativas, pois o mesmo Sewell o cita para justificar algumas de suas críticas a outros).

Sem dúvida Ratner constata a falta de qualquer intenção de explicar o contexto político da causa da divisão de 1991. Ainda que também ele esteja errado em dizer que o Militant estava em sério declínio nesta etapa. Ao menos trata de explicar a base política e objetiva da divisão, algo que Sewell não faz. Existiam dificuldades objetivas que tornavam mais difícil para nós fazer os progressos que havíamos feito nas décadas anteriores. Os efeitos posteriores da greve mineira, com o giro à direita da cúpula do Partido Trabalhista e dos sindicatos, a continuação do boom dos anos 80, e o colapso do stalinismo, que permitiu aos capitalistas prosseguirem a campanha ideológica contra o “socialismo”, dificultaram nossa posição. Mas, estas dificuldades se complicaram enormemente pelo fracasso da direção do Militant, de Grant sobretudo, para reagir com suficiente prontidão à mudança da situação objetiva. Militant tinha uma história considerável atrás de si e uma reputação ganha nas vitoriosas greves de Liverpool e contra o “Poll Tax” (Imposto por cabeça introduzido por Thatcher).

O Partido Trabalhista havia se convertido em uma barreira e numa arena fútil de atividade para qualquer organização socialista séria que buscava intervir ativamente nas lutas dos trabalhadores. As posições do Militant dentro dele haviam sido purgadas ou fechadas pela ala direita. A Juventude Trabalhista (Labour Party Young Socialist), o setor mais vibrante e ativa do Partido Trabalhista nos anos 80, devido à influência do Militant em seu seio, haviam sido silenciadas. Em Liverpool, o Partido Trabalhista era uma sombra da força poderosa para a ação da classe trabalhadora que havia sido há dez anos atrás.

Estávamos sendo expulsos por defender o não pagamento do imposto per capita(poll tax). Muito antes de 1991, alguns estavam tendendo a romper com a prisão ideológica e organizativa que o Partido Trabalhista significava para nós nesta etapa. Ainda em 1987 cogitávamos a possibilidade de lançar uma organização independente em Liverpool, depois da expulsão de nossos militantes desta cidade. A isto se opôs veementemente Ted Grant sobretudo, e mesmo alguns dos companheiros dirigentes de Liverpool. Em 1991 a situação estava insustentável, especialmente em áreas chaves do país onde havíamos encabeçado lutas de massa vitoriosas, como na Escócia contra o poll tax.

Para um marxista, divisões sérias dentro de uma organização não caem do céu. Os fatores pessoais podem jogar um papel, mas quando estas divisões envolvem forças substanciais aqueles são de um caráter secundário. Sewell, Grant e Woods elevam os fatores pessoais e outros incidentes às causas principais da divisão de 1991. Nós, por outro lado, desde o começo buscamos explicar as raízes políticas das tendências divergentes dentro do Militant.

Um fosso político cada vez maior se abriu entre um agrupamento conservador ossificado ao redor de Grant e aqueles que estavam preparados para enfrentar a nova situação que tomou forma em 1991. Nós nos ocupamos destas diferenças em nosso livro The Rise of Militant, em assuntos relacionados com a África do Sul, a Guerra do Golfo, Namíbia, o Partido Trabalhista, as perspectivas para as organizações de massas e o stalinismo.O leitor pode se familiarizar com as críticas a Grant que fizemos neste livro, o que contrasta com a visão de Sewell. Aqui faremos um breve resumo.

Perspectiva “catastrofista” de Grant sobre a economia mundial.

Se produziram diferenças políticas importantes sobre a crise financeira de 1987. Logo que ocorreu o desmoronamento das ações, Grant estava predizendo uma depressão econômica mundial, “dentro de seis meses”, similar à de 1929-32. Suas opiniões, infelizmente, transpareceram nas páginas do Militant. Em seus comentários sobre estes eventos, dizia: “Uma grande depressão da produção e comércio é certeza, quiçá antes do verão de 1988”. Seu colaborador Michael Roberts defendeu que a quebra de outubro “é um barômetro que predisse a iminente tormenta que excederá qualquer coisa experimentada pelo capitalismo no período do pós-guerra, possivelmente comparável à grande depressão dos anos 30”.

Lynn Walsh e eu nos opusemos vigorosamente a este prognóstico nos Comitês Executivo e Nacional ingleses, e Tony Saunois, Bob Labi e eu no Comitê Executivo Internacional do CIO. Como sempre Woods apoiou Grant servilmente. Não foi possível dialogar com Grant sobre o assunto. Ao invés disso ele lançou amargas denúncias contra Bob Labi, por exemplo, por ousar questionar esta análise, dizendo que este “não compreende o ABC do marxismo”. Argumentamos que as enormes reservas do Japão e Alemanha Ocidental poderiam permitir à burguesia um pára-quedas para a caída da economia, e portanto do capitalismo mundial, ao custo de acumular dificuldades futuramente. A posição de Grant desorientaria completamente nossos membros na Grã-bretanha e internacionalmente. Se sua previsão astronômica, para não dizer astrológica não ocorresse, provocaria um estado de ânimo de decepção, quando não de defecção, de nossos membros.

Era necessário entender este assunto de uma maneira equilibrada, algo alheio a Grant, Woods e Sewell. Apesar de tudo, o capitalismo mundial possuía enormes camadas de gordura para queimar, evitando uma crise imediata. Argumentamos que podiam tomar medidas de curto prazo, o que teria o efeito de acumular os problemas e agravar a crise em uma etapa posterior. Contrariamente às análises de Grant foi exatamente isto que aconteceu, uma reanimação do capitalismo teve lugar logo depois da crise de outubro de 1987. De resto, a enorme injeção de crédito alimentou um novo crescimento do capitalismo mundial a uma taxa maior que no período anterior ao crash. Isto terminou com recessão no começo dos anos 90.

Mas a questão do tempo em política e, deveria acrescentar na arte da economia política, é importante. Grant adquiriu o hábito de criticar Gerry Healy, o que repete em seu livro, por predizer continuamente um novo 1929 durante décadas, mas ele cometeu o mesmo erro “catastrofista” em 1987. Sem dúvida, se uma nova crise do tipo de 1929 ocorresse, ele declararia que sempre teve razão! Inclusive um relógio quebrado está correto duas vezes ao dia. Este comportamento oferece aos ideólogos capitalistas um campo aberto para desacreditar o marxismo como incapaz de analisar os processos sociais de maneira equilibrada.

Estas embrulhadas teóricas de Grant tinham que ser vistas contra o pano de fundo de que ele “era o único” que foi capaz de interpretar as idéias econômicas de Marx e aplicá-las à era moderna. É de conhecimento público que nesta ocasião foi reprovado no exame. É claro, denunciou os que tiveram razão nesta questão por terem uma posição “eclética” porque não apoiavam sua posição unilateral. Nós, por outro lado, contrastamos este prognóstico com o de Trotsky, que no “O Terceiro Período de erros do Comintern”, escrito em dezembro de 1929, antecipou que havia neste momento quatro possibilidades na esfera econômica; um desaceleramento da taxa de crescimento; uma recessão com uma pequena caída na produção; uma depressão severa; ou uma combinação destas três! Trotsky não se pronunciou por nenhuma destas variantes. Aos olhos de Grant e Woods; ele era um “empirista” e “eclético”. O marxismo é uma ciência, mas a ciência está baseada na análise do processo real, não em previsões a priori feitas com a confiança de um astrólogo. Sem dúvida, foi desta forma o prognóstico de Grant e Woods. Não satisfeitos com uma generalização ampla das tendências principais, tentaram impor um calendário ridículo de seis meses para a depressão que viria. Isto deu o tom para os escritos de Grant tanto na Inglaterra quanto internacionalmente. Quando a depressão tão esperada não se materializou, isto sem dúvida desorientou toda uma camada de companheiros pelo mundo afora.

Grant cometeu um erro similar sobre a Namíbia, sustentando que as forças sul-africanas presentes no país não se retirariam, e sobre a mesma África do Sul, de forma similar, ele argumentou que era impossível que tivesse lugar um acordo entre o Partido Nacional de De Klerk e o Congresso Nacional Africano de Mandela, que levaria ao desmantelamento do regime do Apartheid e a introdução de uma forma de democracia burguesa.

Erros sobre o stalinismo.

Todavia, uma embrulhada pior foi centrada sobre as perspectivas do stalinismo na URSS e a possibilidade de restauração do capitalismo. Militant e o CIO subestimaram as possibilidades de restauração capitalista na URSS e no Leste Europeu. Isto se pode explicar parcialmente por nossa falta de base nos estados stalinistas, e por outro lado, a ausência de medidas com a qual se pudesse conhecer a degeneração daqueles regimes. Sem dúvida, foram aqueles que depois seriam a maioria no Militant os primeiros que colocaram a possibilidade da restauração capitalista. Isto foi negado por Grant e Woods fervorosamente, que operavam com uma concepçãodescolada da situação real que existia.

Depois da visita de Thatcher à Polônia em 1988 e seu caloroso apoio recebido em Gdansk, começamos a cogitar a possibilidade de uma restauração burguesa. De fato, as posições pró-capitalistas estavam fortemente representadas no movimento de 1980-81 ao redor do Solidariedade, e mesmo nos acontecimentos tchecoslovacos de 1968. Nesta etapa, sem dúvida, a possibilidade de “reforma”, do “socialismo com rosto humano” de Dubcek, ainda, era bastante forte. O boom dos anos 80 e ocolapso posterior dos estados stalinistas contribuíram particularmente, na Polônia, depois da supressão do movimento 1980-81, a um estado de ânimo francamente pró-capitalista, refletido no apoio que receberam Thatcher e George Bush pai em suas visitas ao país. O boom dos anos 80 contribuiu também para reforçar este estado de ânimo em todos os estados stalinistas.

Então propusemos precocemente, muito precocemente, como ficou logo claro, no Congresso Mundial de 1988 a possibilidade de restauração capitalista na Polônia e no resto do mundo stalinista. Isto foi antes do colapso do Muro de Berlim, mas então era evidente que havia uma crescente oposição aos regimes stalinistas. Esta possibilidade foi negada por Grant. Em uma intervenção sobre o stalinismo em 1988, causei uma certa comoção colocando a questão da restauração burguesa, que resultou num pouco de controvérsia no Congresso, mas Grant, o líder teórico oficial, se negou a falar. Privadamente confessou que isto se devia a estar em desacordo comigo, mas não estava preparado para responder.

Mais tarde este não foi o caso, quando se desenvolveu a divergência crescente entre as duas tendências a respeito do stalinismo. Enviamos delegações à Europa Oriental, que na sua volta reportaram sobre o massivo sentimento a favor da volta ao capitalismo. Grant se negou a reconhecer isto e condenou aqueles que deram o informe de “desconectados da realidade”. A mesma coisa ocorreu quando alguns companheiros passaram um período na Rússia e informaram a respeito do crescente estado de ânimo pró-capitalista.

O Golpe de 1991

As diferenças sobre esta questão saltaram à vista durante o golpe de agosto de 1991 na URSS. Em 19 e 20 de agosto, a velha guarda “conservadora” da burocracia organizou um golpe contra Gorbachev. Grant e cia se inclinaram ao apoio crítico aos organizadores do golpe! Posteriormente o negaram devido à vergonha de aparecer junto à burocracia stalinista. Mas em um documento que redigiram como parte da discussão interna no Militant eles defendiam: “Assim como era inteiramente possível, o regime foi compelido a levar adiante uma política baseada na re-centralização e na economia planificada, acompanhada pelo terror, isto também daria um certo impulso às forças produtivas durante um período de tempo (“The Thruth about the Coup”).

Woods e Grant se aferraram a sua posição obsoleta desde o começo dos anos 90. No livro de Ted Grant, “Rússia da revolução à contra-revolução”, em sua introdução Alan Woods escreve: “vale recordar que 25 anos atrás Ted Grant havia analisado corretamente as razões da crise do stalinismo e previu seu colapso. Mais ainda. Ele foi o único a faze-lo”. Esta é uma revisão da história, já que todos os partidários de Militant, incluindo sua direção, onde nós mesmos nos incluímos, tinham esta posição baseados em nossas leituras dos trabalhos de Trotsky. Mais ainda, Ted Grant não foi o único a analisar as razões de porque esperávamos o colapso do stalinismo. Mas então Woods escreve: “A única correção que teve que ser introduzida foi a respeito da perspectiva de uma volta ao capitalismo na Rússia. Por muito tempo o autor achou que tal desenvolvimento estava descartado, o que demonstrou ser incorreto”

Igual a Ted Grant, nós também esperávamos que a Rússia não retornaria ao capitalismo, por razões que explicamos mais detalhadamente em outro lugar (ver “The Rise of Militant, págs 321-414). Mas quando enfrentamos a realidade do que estava ocorrendo no Leste Europeu mudamos nossa perspectiva, antecipando a volta ao capitalismo primeiro na Polônia, e seguindo ao colapso do Muro de Berlim, no Leste Europeu e mesmo na Rússia.

Infelizmente Ted Grant, resistiu teimosamente a esta conclusão, negando-se a aceitar os fatos e crendo que os intentos de voltar ao capitalismo eram de caráter puramente temporal. Ele persistiu com este método até 1997 e mais além, como admite Woods: “A opinião do autor (Grant) é que o movimento ao capitalismo não foi levado à sua conclusão definitiva, e que todavia pode ser revertido”.

Agora, em sua atual Perspectiva para a Revolução Mundial, eles confessam: “Temos que admitir que as coisas não aconteceram como esperávamos até poucos anos atrás. Não esperávamos que a crise do capitalismo mundial seria prolongada por tanto tempo como tem sido. Isto deu ao capitalismo russo tempo suficiente para consolidar-se. O movimento ao capitalismo tem durado dez anos. O novo sistema produtivo e suas relações de propriedade tem tido tempo de penetrar na consciência das massas. Este processo se prolongou muito mais do que esperávamos. A principal responsabilidade recai nos stalinistas que capitularam totalmente… Dez anos é tempo suficiente para julgar. Temos que dizer que agora o Rubicão foi cruzado. O movimento ao capitalismo foi contraditório, com muitas correntes cruzadas, mas depois de cada crise o processo continuou com força renovada.”

Comparem o método de Grant hoje em dia, como está refletido nestas linhas em relação aos estados stalinistas, e a posição que adotou em relação à China e Europa Oriental nos anos 40. Junto com o restante da direção do Partido Comunista Revolucionário, reconheceu o que estava acontecendo, um processo virtualmente inexorável, dada a relação mundial de forças, a criação de estados stalinistas. O Secretariado Internacional da Quarta Internacional (antecessor do Secretariado Unificado) reconheceu isto apenas em 1953! Grant não vacilou em mostrar isto para deixar claro o falso método da direção do SI-CI. Agora é ele quem comete a mesma classe de erros só que em um sentido oposto, falando em tentar entender o processo de restauração capitalista na Europa Oriental e na ex-URSS. Dado o pano de fundo nos quais estes processos se desenvolveram, não havia possibilidade de uma “marcha à ré” em curto prazo no processo de restauração capitalista, uma contra-revolução social, que estava ganhando lugar na Rússia nos anos 90.

Hoje em dia, no Leste Europeu (e amanhã também na Rússia) o começo de uma oposição a isto está em marcha. Mas não anula o fato que no começo da década de 90, frente à realidade da restauração, Woods e Grant esconderam suas cabeças debaixo da terra, da mesma maneira que a direção do Secretariado Internacional da Quarta Internacional fez no final dos anos 40. Isto é ilustrado pelo que escreveu Grant na última parte do seu livro: “A natureza de classe do estado russo ainda não foi determinada decisivamente… É uma questão de qual forma de propriedade prevalecerá finalmente, nacionalização ou propriedade privada. Esta luta está em curso, mas o resultado ainda não está decidido” (pág. 38). Isto mostra o quão longe da realidade estavam, e estão, Grant e Woods em relação a uma análise séria dos processos dos antigos estados stalinistas. Ao tempo em que isto foi escrito, 1997, uma contra-revolução estava em plena marcha, um caminho de “via rápida ao capitalismo”.

Restabelecimento do regime stalinista

Sua perspectiva em 1991 era o restabelecimento do regime stalinista, baseado na economia planificada, se os organizadores do golpe tivessem tido êxito. Além do que, eles argumentaram que era o resultado mais provável do golpe. No dezembro anterior, Woods argumentou numa discussão sobre o stalinismo: “Sejamos claros,se há uma luta entre alas rivais da burocracia, uma ala abertamente pró-capitalista e outra ala que por seus próprios interesses trata de defender as bases da economia nacionalizada, seria um erro grave pensar que nós deveríamos ser neutros nesta situação, ainda mais se eventualmente houver setores de trabalhadores apoiando aoutra ala”. Continuou dizendo: “Trotsky disse que em princípio vocês não podiam descartar a possibilidade de uma frente única, uma frente temporária, parcial, entre os trotskistas e a burocracia stalinista, se chegar a uma guerra civil a intenção de restaurar o capitalismo na URSS” (Woods dirigindo-se a um encontro internacional do Militant, citado em “The Collapse of Stalinism” parte 2), e como temos visto, eles se agarraram a esta falsa perspectiva durante anos.

Nós por outro lado, sustentamos que havia uma diferença fundamental entre a situação da União Soviética em 1991, e o período em que Trotsky havia vislumbrado uma posição de “apoio crítico” a uma fração da burocracia. Esta havia se degenerado completamente, em sua grande maioria abandonando o apoio à planificação central e o antigo sistema. Haviam adotado o capitalismo como a via a seguir. Não havia setor significativo algum da burocracia, no período de 1991, que se manteve partidária da economia planificada. Grant estava tão convencido de que o golpe teria êxito que quando a TV começou a dar informes sobre o colapso do golpe na quarta-feira de 21 de agosto, ele os denunciou como “mentiras” e “propaganda burguesa”.

Ele e Woods falharam em entender que mesmo se o golpe tivesse êxito isto não levaria à restauração dos regimes stalinistas. Os regimes da “velha guarda” seriam restabelecidos mas não a economia planificada. Jaruselski havia tentado isto na Polônia em 1981, mas admitiu posteriormente: “Nosso maior erro foi manter o monopólio do partido do poder, defender a indústria nacionalizada e a luta de classes”. Coerente com isto, ele se moveu até uma posição abertamente pró-capitalista, pavimentando o caminho para a chegada ao poder do Solidariedade e de Walesa. E todavia, Woods e Grant em seu documento “The Truth about the Coup” (A Verdade sobre o Golpe), argumentam: “O que aconteceria se Yanayev e cia. (os principais organizadores do golpe) tivessem tomado o poder? A conclusão de antemão é que eles aplicariam seus desejos de mover-se até uma economia de mercado só que a um passo mais gradual? Para a maioria do Secretariado Internacional esta é questão simples de responder: na situação atual… “objetivamente… sim”, mas isto não termina a interrogação”.

Eles então colocaram a idéia que os organizadores do golpe se veriam obrigados a re-estabelecer os elementos da economia planificada, ignorando completamente a experiência de Jaruselski a evolução dos stalinistas chineses depois da Praça de Tienanmen. Evidentemente, eles tentaram cobrir suas pegadas acusando-nos de ir a reboque de Yeltsin no golpe de agosto. Isto apesar do fato de que nos distanciamos publicamente dos Yeltsinistas pró-capitalistas, alguns dos quais acudiram em defesa de seu heróis

Na Casa Branca de Moscou

A massa da população na União Soviética se opunha ao golpe. Alguns tinham ilusões em Yeltsin, a maioria se opunha por temor de que os direitos democráticos elementares que conquistaram desde 1989 seriam apagados se o golpe triunfasse. É por isso que uma série de greves tiveram lugar em Moscou, Ucrânia e em todos os lugares (ver páginas 449-451 em “The Rise of Militant” para explicações adicionais).

Guerra do Golfo. “Alguns de vocês serão mortos”

As posições adotadas por Grant e Woods a respeito dos acontecimentos de agosto na Rússia os afastaram mais ainda da grande maioria de nossos membros. A autoridade de Grant já estava severamente diminuída, não pelo malvado Taaffe e sua “camarilha”, mas por seu próprio desempenho lamentável durante a guerra do Golfo. Sérias divergências no interior da direção do Militant estavam crescendo lentamente por detrás dos panos, e estalaram abertamente, exigindo a necessidade de convocar uma Conferência Especial para discutir a Guerra do Golfo em janeiro de 1991 (realizada na London School of Economics)

Novamente Grant quis predizer tempos exatos, argumentando que caso estalasse uma guerra terrestre, esta duraria um mínimo de seis meses ou provavelmente dois anos. Esta declaração, carente de qualificação, foi repetida na organização espanhola do CIO, devido à influência de Woods. Sem dúvida, na Grã-Bretanha, o Militant nunca fez uma declaração similar. Não houve nenhum membro do Comitê Executivo, mesmo Sewell, que adotou esta posição além de Grant.

Nada demonstrou seu distanciamento da realidade mais claramente que sua posição sobre o alistamento… Num encontro na London School of Economics, antes da Conferência Especial sobre a Guerra no Golfo, ele fez a seguinte declaração: “Se for introduzido o alistamento obrigatório, sejamos claros, os jovens devem ir ao exército. É claro, (dirigindo-se aos jovens na audiência), alguns de vocês serão mortos, mas para cada morto, dez tomarão seu lugar.

Esta fala foi rechaçada com atônita incredulidade e nojo. Foi feita apesar de que uma clara maioria da direção estava em desacordo com as propostas de Grant e tentou dissuadi-lo de expressar essas idéias publicamente. O mais incisivo foi ninguém menos que o mesmo Sewell, que não vacilou em fazer comentários depreciativos sobre a incapacidade de Grant, geralmente às suas costas. Sem dúvida, de nada serviram seus melhores esforços.

Depois do encontro, Grant foi rodeado por jovens que se opunham a seus pontos de vista. Apesar disto, na Conferência no dia seguinte expressou as mesmas opiniões na introdução à discussão sobre a Guerra do Golfo. Isto gerou uma revolta na sala. Eu intervi na discussão tratando de salvá-lo, como já havia feito em outras ocasiões, da ira dos membros do Militant. Se decidiu que ante a eventualidade do alistamento obrigatório, que nós considerávamos tão pouco provável que efetivamente foi descartado, chamaríamos uma Conferência Especial para determinar nossa atitude.

Pode-se ver que era errôneo repetir simplesmente a posição de Trotsky na época da Segunda Guerra Mundial, como fizeram Grant e Woods. Nessa época a perspectiva da massa da classe trabalhadora estava determinada pela ameaça de invasão de uma potência fascista estrangeira, com tudo o que isto implicava: a destruição dos direitos democráticos e organizações de trabalhadores. Em 1990-91 os marxistas estavam ante uma guerra colonial de intervenção imperialista no Golfo. Se a posição de Grant sobre a conscrição e entrar no exército fosse adotada, seria impossível para nós participar nas crescentes mobilizações contra a guerra. Inicialmente tais movimentos seguramente têm tons pacifistas. Os marxistas não são pacifistas, mas ao mesmo tempo distinguem entre o hipócrita “pacifismo” dos capitalistas e suas sombras reformistas no movimento operário, que invariavelmente atuam como encobridoresda guerra e o estado de ânimo genuinamente antiguerra da juventude.

Argumentamos, na eventualidade pouco provável da introdução do recrutamento forçado, que isto não significaria que os jovens iriam passivamente a um exército de conscrição. Poderíamos ver o mesmo tipo de revolta que teve lugar na época da guerra do Vietnã, com oposição de massas e rechaço generalizado à guerra. A curta duração da Guerra do Golfo, contrária a todas as expectativas de Grant e Woods, nos salvou a nós e a eles de um vexame adicional. Este assunto foi uma escaramuça entre as tendências divergentes nas fileiras do Militant, que estouraria em divisões abertas apenas alguns meses mais tarde. Entretanto, não impediu uma intervenção séria no movimento antiguerra, tanto na Grã-Bretanha como internacionalmente.

A cisão de 1991

O mês de abril de 1991 foi decisivo na evolução de Militant. A direção nacional decidiu apoiar unanimemente o lançamento de uma organização independente na Escócia para aproveitar as condições favoráveis que haviam se desenvolvido para nós ali. Posteriormente, Grant sustentou que foi esse assunto que “destruiu 40 anos de trabalho”, o que agora é repetido por Sewell, e foi o pretexto para romper com o Militant. Ainda assim, está registrado que tanto Grant como Sewell votaram a favor desta decisão. Nós damos os detalhes no capítulo 44 de “The Rise of Militant”. De fato, ambos falaram entusiasticamente a favor da proposta e votaram por ela no Comitê Nacional. Não se queixaram então que esta fora uma decisão “precipitada”. Se foi este o caso, como foi que dois experientes e supostamente “astutos” dirigentescomo Grant e Sewell se precipitaram em tomar uma decisão tão importante, que representou um giro histórico?

A verdade é que eles aceitaram a decisão devido à pressão exercida sobre a direção do Militant com o completo colapso e vácuo do Partido Trabalhista. Durante meses e anos antes desta decisão, as fileiras de nosso partido debateram sobre tomar esta iniciativa. Tony Mulhearn revelou que em 1983, na época da expulsão do Comitê Editorial, Grant, em uma discussão com ele, havia colocado a possibilidade para nós de levantar uma organização independente com o nome de “Socialist Labour Party”. Nessa época ele nunca compartilhou este ponto de vista com a direção de Militant.

Afora a questão da “camarilha”, ele e Woods e posteriormente Sewell passaram a assuntos políticos, o que implicou na defesa de posições passadas que já não eram relevantes na situação diferente do final dos anos 80, para não dizer dos 90. Mesmo antes do lançamento de uma organização independente na Escócia, havíamos apoiado candidatos trabalhistas não-oficiais em Liverpool contra o grupo direitista que tinha tomado o partido naquela cidade. A verdade é que, antes de 1991, seria mais correto ter lançado em 1987 uma organização aberta, independente, primeiro em Liverpool, antes da Escócia. A verdade é que eu plantei essa possibilidade, mas recebi a decidida oposição de Grant e mesmo de alguns camaradas dirigentes de Liverpool. Se tivéssemos lançado uma organização independente em 1987, estaríamos mais bem posicionados para intervir contra a expulsão da direção do Militant em Liverpool e também nas imensas mobilizações de massas que dirigimos contra o poll tax.

Sem dúvida, reconhecemos tardiamente a mudança da situação, a degeneração do Partido Trabalhista, que Grant, Woods e Sewell se negavam a aceitar. Eles resumiram seus argumentos em um grande documento submetido à discussão nas fileiras do Militant. Argumentavam: “Nosso trabalho nas organizações de massas da classe trabalhadora britânica tem um caráter de longo prazo” e tinha que continuar. Eles não compreenderam as transformações que se operaram nas perspectivas de setores significativos dos trabalhadores sobre o que no passado sempre consideramos as “organizações tradicionais” da classe trabalhadora.

O Partido Trabalhista

Estes “dialéticos” se negavam a reconhecer as mudanças mesmo quando estas os golpeavam em seus narizes. Grant argumentou que a posição interna do Partido Trabalhista não mudara fundamentalmente: “Em 1950 o regime interno estava marcado pela caça às bruxas contra a esquerda Bevanista, proibições e proscrições, a clausura contínua da organização juvenil Trabalhista”. Nós sublinhamos que o Partido Trabalhista estava muito mais à direita que em 1950. Ainda que em períodos anteriores houvesse ataques contra a esquerda, a direita nunca conseguiu destruí-la totalmente nas organizações de base. De fato, nos anos 50, à esquerda Bevanista dominou a maioria dos postos das organizações de Base do Partido Trabalhista no Comitê Executivo Nacional. Com Kinnock, depois com Smith e agora com Blair, a democracia interna do Partido trabalhista, especialmente em nível local, foi claramente destruída. Este processo se aprofundou ainda mais nos anos 90.

Só dogmáticos incorrigíveis poderiam dizer nesse período que “nada mudou”. Não apenas o Partido Trabalhista mudara internamente, mas seu lugar na consciência da classe trabalhadora sofreu mudanças dramáticas, desde começos dos anos 90. Mesmo na eleição geral de 1997, muitos trabalhadores “taparam o nariz” e votaram no trabalhismo, não devido a nenhum entusiasmo, mas como um meio de livrar-se dos conservadores. Agora há uma percepção maior que esse partido não os representa.

Este estado de ânimo inclusive é mais pronunciado nos sindicatos. Os sindicalistas ativos há tempos se desligaram da participação no Partido Trabalhista a nível local. Os ativistas deste Partido são conselheiros e outros membros da máquina trabalhista, complementados com uns poucos grupos “revolucionários” e ex-revolucionários que se adaptaram aos ex-socialdemocratas.

Nosso giro para um trabalho mais independente nos anos 90, inicialmente não significou uma mudança em nossa análise do Partido Trabalhista como partido operário burguês. Sem dúvida, o desmantelamento completo da democracia interna facilitou as posições pró-burguesas de Blair, que está mais cômodo em companhia de Berlusconi, Aznar e George Bush filho que com os líderes ex-socialdemocratas da França ou da Alemanha. Chegamos depois à conclusão que o Partido Trabalhista era um Partido burguês e não era um terreno viável de trabalho para socialistas legítimos, não dizendo já marxistas ou revolucionários. Isto nos permitiu intervir com êxito nas lutas da classe trabalhadora na Grã-Bretanha e Europa que estavam tendo lugar fora e em oposição ao New Labour. Tomamos iniciativas como os “Jovens contra a Guerra e o Racismo na Europa”, que tiveram um profundo efeito nos princípios dos anos 90 e organizamos a maior manifestação que já houve na Europa contra o fascismo. Também intervimos vitoriosamente no movimento anticapitalista e continuamos expandindo nossa influência no movimento dos trabalhadores.

Perspectivas para o Partido Trabalhista hoje

Também temos avançado a idéia de um novo partido de massas de trabalhadores e previmos o desenvolver de um estado de ânimo entre os trabalhadores, especialmente sindicalistas, para separarem-se dos capitalistas do New Labour Party. Testemunham isso a série de resoluções propostas nas Conferências Sindicais Britânicas para romper o vínculo entre os sindicalistas e o Partido Trabalhista.

É certo que alguns líderes sindicais no passado propuseram “reclamar o Partido Trabalhista”. Não temos fetiches por formas organizativas da classe trabalhadora. A história conhece toda classe de mudanças, como assinalou Lênin. Houve ocasiões em que partidos burgueses, ou parte deles, evoluíram para a esquerda, dando origem a novas formações da classe trabalhadora. Este foi o caso da Grécia com Andreas Papandreu que tirou alguns trabalhadores da União do Centro Liberal burguês, dirigida pelo padre George, assim como ganhou novos setores frescos para fundar o PASOK, que se transformou em um potente partido socialista na Grécia. O PASOK depois se moveu dramaticamente para a direita e dificilmente se diferencia hoje de qualquer outro partido burguês. Nós previmos isto numa discussão com Grant e Woods na Grécia em 1992. Agora, dez anos mais tarde, um setor de seus partidários gregos que se opuseram a nós, chegaram tardiamente à mesma conclusão.

Nunca se pode descartar teoricamente, nem nunca os temos dito em ocasião alguma, que um ex-partido operário que se degenerou em uma formação burguesa pudesse, sob o impacto de poderosos eventos econômicos e políticos, mover-se uma vez mais para a esquerda e se transforme em um veículo para os trabalhadores. Não está excluído que uma coisa assim ocorra no Partido Trabalhista na Grã-Bretanha, com o blairismo rechaçado, um grande deslocamento à esquerda e uma nova arena de luta abrindo-se para os socialistas e marxistas. Isto, entretanto, definitivamente não é possível através dos débeis esforços de alguns líderes sindicais de “reclamar o Partido Trabalhista”. Estes mais desejam um pouco mais de influência, uma xícara com Blair em Downing Street 10, do que um contra-movimento sério nas bases e seções contra Blair, um programa para rechaçar os agentes capitalistas e uma volta do trabalhismo às suas aspirações socialistas.

Os Grantistas exageram completamente os desenvolvimentos deste partido. Isto foi indicado por seu papel na conferência trabalhista em setembro-outubro de 2002 em Blackpool. A “tendência Grant”, em seu web site saudou esta conferência como uma manifestação de que “as velhas tradições do partido trabalhista não estão em absoluto mortas”. De acordo com isto, eles deram uma falsa pintura de Blair na conferência como que estando sendo derrotado a respeito da Iniciativa de Financiamento Privado (IFP) dos serviços públicos, e sobre “seus planos de lançar a guerra contra Iraque”. Na realidade tudo o que cedeu Blair sobre a IFP foi que deveria haver uma revisão, o que concordaram os dirigentes sindicais. Sobre o Iraque foi adotada uma resolução de que a “guerra” poderia ser lançada através das Nações Unidas se houvessem “provas” da “culpabilidade” do Iraque. Depois da conferência a ala direita alardeou que havia ganhado por 4-1. O mais que se pode dizer desta conferência é que inclusive no altamente sanitizado New Labor Party, com a maioria dos delegados das organizações de base apoiando a direita, as pressões de fora se refletiram de maneira distorcida. A conferência foi um pálido eco do estado de ânimo contra a guerra dos trabalhadores e jovens mais sensíveis.

Sobre as expectativas futuras da “tendência Grant” eles escrevem: “sobre esta base o congresso do próximo ano da TUC (Central Sindical da Grã-Bretanha) e a conferência do Partido Trabalhista vão ver mais oposição”. Inclusive chegam a embelezar o que representou o Partido Trabalhista no passado escrevendo: “(Blair) está pavimentando o caminho para a luta entre as classes que verá um Partido Trabalhista reclamado, transformado e restaurado como uma organização de luta política da classe trabalhadora”.

Esta é uma interpretação grosseiramente oportunista do que o Trabalhismo representou historicamente. Quando foi alguma vez o Partido Trabalhista uma clara “organização política de luta da classe trabalhadora”?. Nós sempre assinalamos seu caráter dual, burguês na cúpula, mas com uma base na classe trabalhadora e sujeito às pressões e ao poder dos trabalhadores por fora. Isto, algumas vezes, obrigou os dirigentes trabalhistas e mesmo governos trabalhistas a tomar medidas radicais, mas nunca foi “uma organização política de luta da classe trabalhadora” num claro sentido marxista.

Reclamar o Partido Trabalhista?

Isto é só uma indicação da adaptação oportunista desta organização. Naufragaram pela mudança de caráter do Partido Trabalhista no final dos anos 80 e nos 90. Os efeitos da derrota da greve mineira se juntaram nos anos 90 ao colapso do stalinismo, e com ele, das economias do Leste Europeu e da União Soviética. Isto deu à burguesia a possibilidade de conduzir internacionalmente uma campanha ideológica colossal contra o socialismo e a favor do “mercado”. O Comitê por uma Internacional Operária (CIO) foi à única organização trotskista que analisou este processo de uma maneira equilibrada, assinalando os efeitos inevitáveis em fortalecer a burguesia e debilitar a classe trabalhadora, mas não no mesmo sentido do período entreguerras com o triunfo do fascismo na Itália, Alemanha e Espanha. O poder latente da classe trabalhadora permaneceu basicamente intacto e isto será demonstrado de forma mais clara com o golpe de martelo da recessão econômica e numa guerra contra o Iraque.

Contrastem isto com a posição patética dos Grantistas, que passa por uma análise séria. Incrivelmente, no artigo sobre a Conferência Trabalhista, eles escrevem: “Os últimos vinte anos, mais ou menos, foram anos de trégua no movimento”. Nestas últimas duas décadas, apenas na Grã-Bretanha, temos sido testemunhas da greve dos mineiros, os acontecimentos de Liverpool, a luta do poll tax, e a derrota de Thatcher, assim como a edificação de uma poderosa organização trotskista ao redor do Militant. Estes acontecimentos tumultuosos, é claro que ultrapassaram esta tendência conservadora fundamentalmente limitada à oficina.

Os dirigentes sindicais foram pressionados à semi-oposição a Blair devido o crescente ódio ao New Labour e o que representa entre os trabalhadores. Há uma cobrança em aumento de que nenhum dinheiro sindical adicional deva ir para este partido contrário à classe operária. Na China, as famílias de gente executada pelo estado são obrigadas a pagar as balas dos executores. Esta “tendência” advoga por um cumprimento similar de parte dos sindicalistas: continuar pagando a um partido que busca “atira-los para baixo” através da privatização, ataques à educação, bem- estar social etc. Esta recomendação é rechaçada pelos trabalhadores e sindicalistas à medida que se afastam de maneira crescente do New Labour e exigem que os preciosos recursos dos sindicatos não devem sustentar mais este partido capitalista.

Os líderes sindicais querem desviar este movimento até “um último” esforço para “reclamar” o Partido Trabalhista. Mas o candidato de “esquerda” preferido deles é Gordon Brown, cujas políticas econômicas, burguesas de todo, tem servido como a coluna vertebral do blairismo desde que está no governo. O fato de que Brown tenha aumentado parcialmente o gasto público até um nível que todavia não chega ao do governo conservador de Major, tem aumentado suas credenciais de “esquerda”, entre os lideres sindicais da ala direita e mesmo entre alguns dos novos líderes de esquerda. Isto provará ser uma quimera. Os blairistas estão tão preocupados pela pressão por baixo para separar os sindicatos do Partido Trabalhista que inclusive estão considerando a possibilidade de revogar uma parte da legislação anti-sindical conservadora, a obrigatoriedade de votação sobre os fundos políticos. Isto se deve ao temor que haja um rechaço massivo da vinculação entre o trabalhismo e os sindicatos nestas votações (ver Socialism Today, setembro 2002).

Pode o trabalhismo mover-se para a esquerda?

Se houvesse qualquer perspectiva séria de mover o trabalhismo para a esquerda, se convertendo uma vez mais em um instrumento de luta dos trabalhadores, então nenhum marxista sério poderia ficar à margem disto. Diferente de Woods e Grant não somos dogmáticos. Temos que seguir o curso dos acontecimentos, os deslocamentos e giros inevitáveis numa situação para determinar a política marxista, incluindo a estratégia e a tática sobre as organizações de massas da classe operária. Sem dúvida, não é uma política marxista séria continuar com uma tática que é estéril e sem resultado, o que significa que tudo o que fazem é entoar o mesmo mantra de que “nada tem mudado”. Isto só afastará os marxistas de qualquer movimento real que aconteça. Mesmo que em 1991 se pudesse aceitar que em algum momento no futuro o Partido Trabalhista pudesse mudar, isso não justificaria adotar a posição estéril de que os marxistas deveriam sentar e “esperar”, sem tratar ativamente de preparar forças para as batalhas atuais e futuras.

Os tempos não carecem de importância na política como na guerra. Aproveitar as oportunidades em situações quando o tempo está maduro é uma arte que só se adquire e aperfeiçoa numa discussão constante dentro de uma organização marxista sadia e em um diálogo com a classe trabalhadora. Em 1991 tomamos a decisão de adotar uma tática diferente.

Sobre este assunto, no passado, nem sequer Grant foi tão dogmático. Como afirmaem seu livro, em 1941, a Workers Internacional League (WIL) (Liga Internacional dos Trabalhadores) de que ele fazia parte, tinha concluído: “Que não estava acontecendo muito no Partido Trabalhista; que a atividade que tinha lugar de parte da classe trabalhadora era a atividade industrial… nos convencemos que não era muito o que se podia ganhar mantendo a posição do entrismo nessa etapa.” Em 1941, esta era uma questão de tática, não de princípios. Porque então, se converteu em um assunto de princípios em 1991 e supostamente ameaçava “40 anos de trabalho”?

Mais tarde, nos anos 50, Grant escreveria acerca dos “problemas de tática e não como fetiches para todas as situações” (Problemas do Entrismo). Em 1957 também sustentou: “A situação exige sobretudo táticas flexíveis. Entrar não tem que ser um fetiche, nem o conceito de trabalho aberto. Nossa tática em um momento dado está ditada pelas oportunidades abertas ante nós e as possibilidades de resultados”. O taticamente flexível Grant dos anos 40 e 50 havia se transformado em um dogmático ossificado nos anos 90, junto com Woods.

Este último, sem dúvida, antes de 1991, estava se movendo na mesma direção que a maioria dos dirigentes de Militant, particularmente em relação com as questões de construção de uma base na Espanha. Alan Woods havia jogado um importante papel na construção da organização do CIO na Espanha, que havia dirigido algumas lutas importantes. Esta estava confrontando os mesmos problemas que nós na Grã- Bretanha ao permanecer vinculada ao Partido Socialista (PSOE). Isto levou à discussão sobre a futura orientação da organização. Em março de 1989, ele deu um informe escrito sobre as discussões de táticas dentro do grupo dirigente da organização espanhola. Pleiteou que havia um enorme ânimo entre os trabalhadores e a UGT(central sindical socialista), especialmente, contra o voto a favor do PSOE (Partido Socialista Obrero Español, a ex-socialdemocracia).

Chegou a dizer que “o PSOE mesmo é uma concha vazia (e) o apoio ao PSOE é visto virtualmente como o apoio à polícia, torturadores e à dominação espanhola (dos bascos) em amplos setores, especialmente dos jovens”. Disse a um camarada dirigente espanhol, “Rati”, que defendia que a seção espanhola apresentasse seus próprios candidatos contra o PSOE, e comentou sobre as dificuldades de convencer os membros da organização espanhola de que advogar”o voto PSOE na base seríamos isolados, sendo que nem as bases da organização participariam” (De fato tivemos esta experiência em 1987 em Alava, quando o Centro Espanhol conseguiu convencer os camaradas bascos a apoiar o PSOE contra sua vontade); “as bases votaram com seus pés”.

Qual foi então a resposta de Grant ao dilema que enfrentava à seção espanhola? Escreveu: “Sem dúvida, dada a decomposição das organizações tradicionais existentes, se houve alguma vez possibilidade para o trabalho independente (ou semi-independente), é esta. Entretanto é necessário enfatizar e repetir a necessidade de orientar-se para as organizações de massas, do meu ponto de vista existe o perigo de deixar passar oportunidades que existem de ganhar trabalhadores e jovens diretamente para a nossa organização sob a bandeira do marxismo”.

Enquanto Woods estava a favor de considerar o trabalho independente fora das “degeneradas” organizações tradicionais, qualquer intenção de mover-se nessa direção na Grã-Bretanha ou na Escocia foi condenado como pura heresia. As condições não mudaram, mas Woods o havia feito porque era necessário, para ele e Grant, abandonar o assunto da “clica”, que os desacreditou totalmente nas discussões, para buscar alguma justificação política para a contínua oposição à maioria. Para estes “principistas”, possíveis líderes, se isso significava repudiar antigas posições, que seja.

Dupla posição sobre as “organizações independentes”

Grant e Sewell votaram a favor do estabelecimento de uma organização independente, tanto no Comitê Executivo como no Comitê Nacional. Sewell rechaçou nossa proposta anterior de uma organização somente na Escócia, com chamados a favor do lançamento de “um partido revolucionário”, a escala de toda a Grã-Bretanha. Quando se passou ao campo de Grant e seu irmão, este caso foi posto de lado sem maior cerimônia. Agora qualquer saída de um Partido Trabalhista cada vez mais vazio para um trabalho independente ou semi-independente era atacado brutalmente. A proposta de apresentar-se, não como candidato do Militant como diz erroneamente Sewell, mas como candidato do “verdadeiro trabalhismo” na eleição parcial de Walton, foi denunciada como suicídio, como assinala Harry Ratner. Nossa candidata, Leslie Mahmoud, recebeu 2.613 votos, um ganho enorme dadas às circunstâncias. Isto apesar da campanha brutal de assassinato da imagem conduzida contra ela e contra o Militant em geral nesse período.

Isto foi denunciado por Sewell, Woods e Grant. Sua posição foi outro exemplo de sua posição dupla. O voto do RCP nas eleições parciais de Neath foi de 1,781, que Grant comenta como um grande triunfo. Os 2.613 votos de nosso candidato em Walton foi caracterizado como um “desastre”. Mas outros, habitualmente mais propensos a criticar o Militant, elogiaram a campanha. Paul Foot, colunista no The Guardian depois do Daily Mirror, escreveu no periódico do SWP, Socialist Worker:

“Leu com todas as palavras que Leslie Mahmoud foi humilhada nas eleições parciais”. Deu exemplos de cinco candidatos do SWP que se apresentaram para as eleições nos anos 70 e comparou: Mas posso dizer que a votação total para todos os candidatos foi menor que os 2,600 que conseguiu Leslie em Walton… Penso que é uma boa votação dada às circunstâncias. É uma base razoável para continuar a luta pelos postos de trabalho em Liverpool”.

Não podemos nem recuperar o apartamento do RMT

Que contraste com o tom depreciativo de Woods, Sewell e Grant depois da eleição parcial! Não conseguiram nenhuma simpatia à vasta maioria dos partidários do Militant. Incrivelmente essa minúscula organização ano após ano tem sustentado que nada mudou no caráter do Partido Trabalhista, que as massas retomarão este Partido, a direita será derrotada e a nova ala esquerda se levantará nele.

Woods mesmo escreveu em 1988 a propósito da Espanha: “Nada pode dizer quanto tempo passará antes do surgimento de uma ala esquerda de massas no PSOE. Poderá tomar um par de anos ou pode ser no próximo mês”. Seu calendário está desatualizado em pelo menos 14 anos que não se levantou nenhuma ala esquerda no PSOE, é duvidoso que surja em um futuro imediato dado o aburguesamento desse partido, como de outras ex-“organizações tradicionais” da ex-socialdemocracia em toda Europa Ocidental. Como crustáceos, se aferram tolamente ao Trabalhismo, ainda que muito poucos dentre eles sejam ativos nele pela boa razão que não há atividade dentro do Partido Trabalhista, ainda que outros nunca estiveram dentro dele desde que se separaram de nós. Mas em lugar de reconhecer seus erros e se engajar em um trabalho frutífero fora dele, se limitaram ao estudo.

No começo dos anos 90 era necessário discutir sobre o caráter de classe do Partido Trabalhista. Desde então sua degeneração se desenvolveu a tal passo e escala que apenas agrupamentos ossificados que se aferram a fórmulas passadas de moda poderiam justificar a caracterização do Partido Trabalhista, como já fizemos alguma vez, como “partido operário burguês”.

As bases socialistas há tempos que se retiraram do Partido Trabalhista. A militância é cada vez mais de classe média e a democracia interna e as estruturas partidárias tem sido todas destruídas pelo projeto de Blair e Mandelson. O seu Comitê Executivo Nacional recentemente tomou a decisão que nenhum assunto político será discutido por este corpo mas por “foros” especiais. O conhecido periodista de esquerda John Pilger estimou que já não haviam mais de cinco deputados, dentre 412 parlamentares Trabalhistas, que poderiam ser chamados de “esquerda”.

A direção de Blair agora não é considerada sequer “radical”, nem dizemos socialista. Um deputado italiano descreveu Blair não como o líder da “centro esquerda”, mas como um líder chave da “centro direita” na Europa atual. Ele faz bloco com Aznar na Espanha e Berlusconi na Itália para impulsionar o modelo “anglo-americano” de neoliberalismo.

O fato de que alguns trabalhadores, em número cada vez menor, ainda votem nos trabalhistas nas eleições gerais não tem uma significação decisiva para medir o caráter de classe deste partido. Nos EUA muitos trabalhadores votam pelos Democratas, vistos tradicionalmente como mais “amistosos com os trabalhadores” e como partido burguês radical (ainda que esta visão tenha sido severamente minada por Clinton), que o Partido Republicano abertamente burguês. Sem a existência de uma alternativa de massas o grosso dos trabalhadores que votam podem seguir fazendo-o pelos partidos ex-social democratas como um meio de bloquear o caminho aos partidos burgueses direitistas ou, em alguns casos, para bloquear a extrema direita.

Mas isso não significa que as massas continuem, como no passado, vendo esses partidos como “seu partido”. Não é provável que os sindicatos, cuja influência se tem reduzido dramaticamente, e o será ainda futuramente, se movam dentro e transformem estes partidos. O mecanismo para fazê-lo se distorceu nos últimos dez anos. Alguns sindicatos, como a União de Transporte, Marítima e Ferroviária (RMT) e o sindicato de bombeiros (FBU) estão no presente em uma situação a meio caminho. Retiraram alguns fundos de deputados da ala direita e os repassaram a deputados da ala esquerda, e tem levantado a vaga noção de recuperar o Partido Trabalhista. Bob Crow, dirigente do RMT,reconheceu: “Recuperar Partido Trabalhista? Nós (o RMT) não podemos recuperar sequer nosso apartamento (John Prescott, representante do New Labour do primeiro ministro, atualmente vive em um apartamento de propriedade do RMT).

Mas este estado de ânimo está confinado às cúpulas dos sindicatos. Na base há uma crescente e determinada opinião de que os sindicatos deixem de pagar o defiro e separem-se do Partido Trabalhista, que os ataca quando está no governo e que não é diferente, e em alguns casos pior, que o anterior governo conservador.

Uma trapalhada similar sobre a Itália

A responsabilidade dos marxistas e socialistas não é repetir formulas de outras épocasfora de moda, sem entender a situação quando ela sofre mudanças, especialmente na consciência da massa da classe trabalhadora, e a direção na qual se espera que se mova. Nosso chamado por novos partidos de massas dos trabalhadores será feito pela maioria da classe trabalhadora no futuro. Agora e nesse momento, são possíveis toda classe de situações transitórias, como alianças entre grupos de trabalhadores, socialistas e marxistas que estão preparados para oferecer uma alternativa eleitoral como um meio para agrupar trabalhadores contra o programa neoliberal de Blair e também contra sua participação nos ameaçadores planos imperialistas de novos ataques ao Iraque.

A única solução oferecida por Grant e Woods é sentar quietamente e esperar um ilusório movimento no futuro dentro do Partido Trabalhista. Sua atividade é fundamentalmente de caráter literário, e de um tipo vácuo, vazio. É doloroso ler as mesmas velhas frases, as idéias requentadas, e a linguagem que não mudou por décadas.

Uma trapalhada parecida foi cometida por este grupo sobre as perspectivas para a Itália no começo dos anos 90. No debate sobre a tática até as “organizações tradicionais” italianas no momento da cisão de 1991-92, revela mais claramente a miopia política de Woods, seu oportunismo ao mudar de táticas e a maneira desonesta como isto foi feito. Havia uma clara diferença entre Grant, Woods e seus partidários italianos, a maioria do Secretariado Internacional do CIO. O Secretariado Internacional argumentava que a cisão do Refundação Comunista (RC) do ex-comunista Partido Democrático de Esquerda (PDS) representava uma clara oportunidade para nossos camaradas italianos, que deviam participar nas suas fileiras. Inicialmente isto foi rechaçado por Woods e seus partidários italianos. Eles argumentavam que a fundação da RC era um erro e que se desfaria. O qual fica claro nos escritos trocados sobre esta questão.

A maioria do Secretariado Internacional, em um documento escrito por Peter Hadden depois de uma visita à Itália, com forças muito pequenas, de cerca de cem membros, a maioria jovens, pleiteou claramente a necessidade de concentrar a maioria das forças dentro do RC. este foi rechaçado pelo Comitê Executivo Italiano, respaldado por Woods e Grant. Em um documento seu, que era uma réplica ao posicionamento do Secretariado Internacional, escreveram: “Se a RC tivesse atraído milhares de jovens trabalhadores e aprendizes, ou que por si mesmo tivesse criado as condições para debater dentro dele, em outras palavras se as posições da maioria do Secretariado Internacional sobre a RC não fossem apenas desejos, então teria sido possível considerar uma orientação temporária com todas nossas pequenas forças para recrutar o máximo de camaradas. Mas, camaradas, de qual Refundação Comunista falam vocês? De que país estão falando? De que condições históricas estão falando?

Falsas perspectivas para fundação

Quatro anos mais tarde os líderes desta organização viram a futilidade de permanecer dentro do Partido Democrático de Esquerda (PDS) e estavam dentro da Refundação Comunista. Quando foram confrontados recentemente por alguns ex-membros dizendo-lhes que estavam errados e que a maioria do Secretariado Internacional estava com a razão, a desculpa pouco convincente foi que “éramos jovens e tínhamos poeira em nossos olhos”. Mas a maioria do Secretariado Internacional não tinha “poeira em seus olhos”, tanto que pleiteou claramente em um documento em janeiro de 1992: “As táticas e orientação da seção italiana”, os métodos incorretos empregados na Itália na época da cisão da RC do PDS e a aproximação posterior a esta importante formação de massas. O documento assinalava: “A RC atraiu 150.000 membros e, com suas bandeiras e símbolos comunistas, apareceu posicionado à esquerda do PDS. Esta situação exige uma flexibilidade tática como no passado. Finalmente se chamou uma discussão e revisão das táticas existentes que implicara toda a militância. Tal discussão não se realizou.

Em seu documento de perspectivas, os líderes da organização italiana escreveram: “Se a divisão a qual se referem os periódicos tiver lugar, ele [Cossuta, um dos líderes originais da Refundação Comunista] não gozará de grande apoio. Evidentemente, pode encontrar uns poucos milhares de membros. Mas para quê? Ao final do dia a maioria dos atuais partidários de Cossuta terminarão abandonando a atividade política ou em um pequeno grupo como o DP (Democracia Proletária)”.

O Secretariado Internacional comentou, “as perspectivas sustentadas pelos camaradas eram as de uma divisão menor que não duraria muito, a maioria dos partidários de Cossuta terminariam fora da política ou em um grupo sectário como DP… os acontecimentos claramente contradisseram esta análise. Não houve um período de oportunidades no PDS. Em lugar disso, os camaradas virtualmente em todas as áreas tem informado que tanto o PDS como a juventude de esquerda, estão fundamentalmente vazias e não oferecem uma arena para um trabalho frutífero no curto prazo. Por outro lado, a cisão tem sido muito maior do que esperávamos… Os membros do RC não só chegaram a 150.000 mas permaneceram nesta cifra. O Comitê Executivo acha que apenas 15.000 são ativos. Mesmo este é um número significativo, especialmente dada a falta de atividade no PDS neste período. Em algumas áreas, por exemplo, Roma e Turín, a RC tem tomado um impulso considerável, em outras, por exemplo a Sicília, os camaradas informaram que é a principal força… as perspectivas de 1990 estavam claramente erradas a respeito do RC”.

Não ficamos apenas criticando posições passadas, mas defendemos um giro decisivo: “Quando ocorreu a cisão a melhor opção teria sido levar o grosso de nossas forças inclusive o periódico, para dentro da RC … Adotar este passo não teria significado algo novo para nossa tendência internacionalmente.”

Então examinemos o que o grupo italiano realmente fez: “Escolhemos permanecer no PDS, sem sequer considerar seriamente a possibilidade de sair com a cisão. Com nossa perspectiva de uma formação de vida curta, nosso ponto de partida foi se opor à cisão. O “especial” (do periódico italiano) que editamos sobre o PDS-RC se refere à divisão como um “erro daninho”. Este e outro material explica que “a divisão favorece os burocratas, os carreiristas e os patrões.” Tratando disto comentamos: “De maneira nada surpreendente, encontramos problemas com a posição errônea sobre o PDS… Em Roma (numa manifestação) trabalhadores que se deram conta que pretendíamos permanecer no PDS nos acusaram de ser oportunistas e exigiram saber a quem apoiaríamos”.

De fato, a organização italiana adotou uma posição completamente sectária sobre a RC. A maioria do Secretariado Internacional defendia que a organização Italiana deveria buscar imediatamente ser parte da RC. Qual foi a resposta do Comitê Executivo Italiano? Vamos citar aqui somente as mais importantes das muitas posições incorretas sobre a RC. Afirmaram sobre ele: “A cisão atraiu uma parte do velho PCI (com uma média de idade ao redor de 50 anos) e várias seitas, a maior delas, a DP (Democracia Proletária)… Se passou nove meses e nos últimos dias a RC teve seu Congresso. Podemos dizer que a RC não tem sido, e hoje é ainda menos, um pólo de atração para a juventude, especialmente os jovens trabalhadores que entraram nas fábricas nos últimos cinco anos.”

Criticando as deficiências do programa político da direção da RC: “Com posições como esta, e com o enfrentamento que se desenvolveu no congresso, a RC não pode transformar-se numa força crível para a massa dos trabalhadores”. Chega a dizer que é “impossível definir o novo partido como reformista de esquerda, nem dizemos centristas. É um pequeno partido reformista, abertamente oposto à economia planificada, querem preservar, como fez o PCI no passado, os nomes e símbolos comunistas. Refundação Comunista pode recrutar velhos membros do PCI e estudantes que já estão na esquerda, mas é incapaz de abrir caminho nos novos setores de trabalhadores jovens.”

Também escreveram: “É importante recordar que o líder do “Acera Sindicato”, a ala esquerda da CGIL (Confederação General Italiana do Trabalho), é Bertinotti, Um líder do PDS!.” Bertinotti abandonou o PDS, para converter-se agora no líder mais conhecido da RC. Que previsão, que surpresa!

Obrigados a mudar

Um par de parágrafos mais adiante os camaradas declararam: Quanto mais se volta em nosso favor a situação objetiva, mais entrará em crise a RC.”a RC foi desprezada como “muito pequena” e, como conclusão, o CE Italiano declarou: “Um giro temporário até a RC estaria justificado somente se fosse capaz de nos dar bons resultados em curto prazo. Uma orientação em grande prazo na RC estaria justificada somente se sacássemos a conclusão que a RC se transformaria em um pólo de atração para as massas uma vez que se ponham em movimento. Mas devemos excluir ambas possibilidades. Temos dedicado uma parte de nosso trabalho à RC porque nos parece que poderíamos ter melhores resultados aonde a RC tem uma certa base. A experiência demonstrou que poderíamos atrair alguns indivíduos mas não há possibilidades de grande crescimento”.

Criticando a maioria do Secretariado Internacional, também sustentaram: “Toda a discussão, não só este documento (referindo-se à proposta da maioria de que o grosso de nossas forças entrassem na RC), tem uma certa aura fora da realidade, quase como se estivesse ocorrendo fora do mundo político real.”

Esta organização aplicou mais tarde os argumentos políticos “irrealistas” da maioria do Secretariado Internacional, sem reconhecê-lo ou dar crédito àqueles que os propuseram em primeiro lugar. No principio, sem dúvida, o Comitê Executivo Italiano cavou um poço e complicou seus próprios erros. Mas dada à pressão da situação e obviamente aos efeitos de seus argumentos em suas fileiras, se viram obrigados a dar um giro.

Recomendação errônea sobre o Sri Lanka

Ted Grant, no passado, se afeiçoava em dizer que se alguém comete um erro deveria reconhecê-lo e corrigi-lo abertamente. Nossa experiência mostra geralmente que ele nunca seguira sua própria recomendação, mas que bradava que ele havia tido razão o tempo todo”, mesmo quando havia ficado patentemente demonstrado que não era assim. Não é esta outra mostra do método completamente falso da “Tendência Grant”?

Ao julgar todas as informações políticas, mesmo as pequenas como esta, é necessário relembrar a recomendação de Trotsky: “Não se trata tanto do que se faz, mas sim de quem o faz, porque o faz, e quando o faz”. Havendo entrado tardiamente dentro da Refundação Comunista, sem uma explicação clara de seus erros passados, é certo que cometerão novos erros no futuro, e atuarão de forma sem princípios.

Não se trata apenas que no passado a dupla Grant-Woods cometeram erros fundamentais. Sua posição equivocada sobre as “organizações tradicionais” tem tomado proporções grosseiras no período recente como no Sri Lanka por exemplo.

Depois de uma visita ao Sri Lanka, Woods escreveu uma carta a Vasudeva Nanayaka, importante figura da esquerda do movimento de trabalhadores do Sri Lanka que fez parte do CIO no passado. A carta defendia que todos os marxistas deviam trabalhar no Lanka Sama Samara Party (LSSP), que foi o principal partido de trabalhadores no Sri Lanka, mas se reduziu a uma carcaça devido à degeneração oportunista e nacionalista de seus líderes depois de um tempo. Ele escreveu: “Temos tudo a ganhar aferrando-nos firmemente ao LSSP… Na realidade é incrível como as massas se aferram a estas organizações. Vejam só o Partido Trabalhista na Grã-Bretanha!”

O camarada Siritunga, líder do United Socialist Party (Partido Socialista Unido), a seção no Sri Lanka do CIO, comentou sobre esta carta: “Recebi esta carta escrita por Alan Woods em abril de 2000 de um membro da fração majoritária do LSSP há tempos. Não creio que seja muito importante porque está claro que eles simplesmente estão vivendo o mínimo a algumas décadas atrás. A carta guarda pouca ou nenhuma relação com a situação atual no Sri Lanka. Depois das eleições gerais (de Outubro de 2000), o grupo de Vasu, junto com a “fração majoritária do LSSP” (todos fora do LSSP agora!) se reuniram para discutir sobre suas perspectivas políticas e táticas futuras… Nesta discussão, um dos seguidores de Woods – Grant propôs que todos os que saíssem do LSSP como protesto por sua desastrosa política de coalizão deveriam reincorporar-se. Isto era absurdo, especialmente considerando que Vasu sacrificou sua posição como parlamentar e se passou à oposição.

“Na mesma eleição o LSSP foi barrado da política parlamentar e não pode ganhar nem um só assento no parlamento. Nesta situação qualquer um fazendo campanha para que Vasu voltasse ao LSSP claramente tinha que estar louco…”

“Nesta situação ninguém tomaria Woods seriamente já que está sugerindo que Vasu e os demais deveriam reincorporar-se ao LSSP. Esta é realmente uma perspectiva ridícula; qualquer um que entenda um pouco de política pode ver. Na realidade o LSSP já não existe. Se alguém está pensando em fazer uma tática entrista no LSSP deveria ir ao cemitério! O LSSP já não funciona mais como um partido.”

A carta, que circulou entre a esquerda no Sri Lanka, converteu Woods em um palhaço. O LSSP agora tem menos de cem membros e seu único parlamentar é um monge budista. Há mais possibilidades de ressuscitar Lázaro do que o LSSP.

Sem dúvida, um mudança na situação no Sri Lanka abriu um espaço para a possibilidade de desenvolver uma nova formação radical, que a seu tempo poderia levar a um novo partido de massas. Tudo isto é um livro fechado para Woods e Grant. Isto é mais um exemplo de como as fórmulas, corretas em um período da história, podem se transformar em seu oposto quando as condições mudam e podem transformar-se em uma barreira para o avanço do movimento marxista e trotskista.

Um erro cometido há onze ou doze anos atrás em relação com a mudança de caráter das antigas organizações tradicionais ou com as perspectivas do stalinismo por exemplo, poderia não ter sido sério se fosse corrigido honestamente a tempo. Mas ao persistir teimosamente, contra toda a evidência, sustentando o contrário, se condenaram à marginalidade. Eles se retiraram ao escritório, para regurgitar, de forma apenas diferente, todos os velhos argumentos e posições do passado.