Clara Zetkin: lutadora e pioneira socialista

Na Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas em 1910, em Copenhague, foi decidido lançar o Dia Internacional da Mulher, que “serviria principalmente de agitação ao sufrágio feminino. Essa afirmação deve ser elucidada do ponto de vista socialista. O Dia da Mulher deve ter caráter internacional e ser bem preparado”, afirmou a conferência.

Por trás da declaração estava a socialista alemã Clara Zetkin. Naquela época, ela lutava pelos direitos das mulheres há 20 anos. Como socialista, ela viu como uma tarefa principal organizar as mulheres trabalhadoras de forma consciente e sistemática.

Foi em Leipzig, durante seus estudos para se tornar professora, que Clara Zetkin entrou em contato com a social-democracia alemã e conheceu muitos dos líderes do partido, incluindo August Bebel. Em 1878, ela se filiou como membro do partido social-democrata alemão (SPD). No mesmo ano, a partido foi banido.

Em 1889, ela se envolveu na preparação do primeiro Congresso Internacional dos Trabalhadores em Paris, o congresso fundador da Internacional Socialista (Segunda Internacional). No congresso, ela iniciou um debate sobre a situação da mulher trabalhadora.

Em seu discurso, que mais tarde foi publicado sob o nome “Pela libertação das mulheres”, ela se voltou contra aqueles do movimento de trabalhadores que queriam proibir mulheres de trabalhar. Ela explica que “aqueles que têm a libertação da humanidade inscrita em sua bandeira não devem condenar metade da humanidade à escravidão política e social. Assim como o homem é subjugado ao capitalista, a mulher é subjugada ao homem; e ela continuará subjugada se continuar a depender financeiramente. O trabalho é o pré-requisito básico para a independência financeira das mulheres”.

Após o congresso, ela voltou à Alemanha e tornou-se editora do jornal “Die Gleichheit” (Igualdade), o jornal de mulheres da social-democracia alemã. A proibição do SPD foi então retirada, mas até 1908 as mulheres na Alemanha eram proibidas de se organizar politicamente.

Zetkin usou o jornal como uma ferramenta para politizar e organizar as trabalhadoras. O artigo tratou de questões cruciais, como a posição das mulheres na vida profissional, prostituição e afins, mas também temas como economia marxista e luta contra o militarismo. A tiragem do jornal cresceu de 4 mil em 1900 para 77 mil em 1908 e para 112 mil em 1913.

Zetkin também teve que ilustrar a diferença entre o movimento das mulheres proletárias e burguesas. No caso, por exemplo, do direito de voto, a burguesa basicamente lutou apenas pelos mesmos direitos que seu marido burguês – mas quem tinha permissão para votar em muitos países ainda dependia de renda e a qual classe pertencia, homens da classe trabalhadora também muitas vezes não tinham o direito de votar. Portanto, a internacional socialista exigiu o direito de voto universal e igual.

Zetkin explicou que, para uma mulher trabalhadora oprimida como mulher e como trabalhadora, é necessária uma luta contra a exploração baseada na propriedade privada dos meios de produção – o capitalismo. Para enfrentar os opressores, os trabalhadores, independentemente do sexo, devem estar unidos na luta de classes.

Ao longo de sua vida, Clara Zetkin lutou para que o movimento das mulheres proletárias fosse parte integral do movimento socialista de trabalhadores.

Em um discurso, após o rompimento com a social-democracia e como membro do Partido Comunista Alemão KPD, ela declarou no Quarto Congresso da Internacional Comunista (Comintern) em 1922, que um trabalho socialista de mulheres busca principalmente que as mulheres sejam totalmente integradas ao partido e que fosse ganhas trabalhadoras que ainda não faziam parte da luta da classe trabalhadora. Para isso, por exemplo, eram necessárias estruturas e reuniões especiais do partido apenas para mulheres.

Quando o reformismo, a ideia utópica de que o capitalismo poderia ser abolido gradualmente sem lutas revolucionárias de massa, começou a ganhar uma posição no SPD, ela usou o Die Gleichheit para lutar contra essas ideias que não rompiam com o capitalismo. Die Gleichheit publicou vários artigos de Rosa Luxemburgo, amiga íntima de Zetkin. Rosa Luxemburgo foi a primeira a assumir a luta contra o reformismo e a direita emergente da social-democracia.

Como Rosa Luxemburgo, Zetkin era internacionalista. Ela tomou a iniciativa para a primeira conferência socialista internacional das mulheres em Stuttgart, em 1907, com a participação de 58 mulheres de 15 países. Quando a Conferência Internacional das Mulheres Socialistas se reuniu novamente em 1910, foi decidido organizar um Dia Internacional de Luta das Mulheres.

O primeiro Dia Internacional da Mulher foi comemorado em 19 de março de 1911 na Alemanha, Áustria, Dinamarca e Suíça. Nenhuma data especial foi marcada, mas somente em 1921 a Internacional Comunista decidiu fixar a data até 8 de março.Em homenagem à greve das trabalhadoras têxteis russas pela paz em 1917, que deu o início da Revolução de Fevereiro e a queda do czarismo.

“Die Gleichheit” foi o único jornal social-democrata que não era controlado pela direita do partido. Clara Zetkin e a maioria da organização de mulheres apoiaram a esquerda no SPD, que tinha Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht como figuras centrais.

Quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu em 1914, ela lutou contra a “trégua nacional” e política de conciliação de classes do grupo parlamentar social-democrata, que não se opôs à guerra. No início da guerra, a internacional socialista entrou em colapso e a social-democracia internacional foi dividida.

No início de 1916, Clara Zetkin ingressou na parte da esquerda do SPD que, por sugestão de Rosa Luxemburgo, formou o grupo Liga Espartaquista. Na virada do ano de 1918/19, após a Revolução Alemã ter sido traída pela liderança do SPD, ela participou da conferência de fundação do Partido Comunista Alemão (KPD).

No entanto, o novo KPD e Clara Zetkin pessoalmente sofreram um duro golpe quando Luxemburgo e Liebknecht foram assassinados em janeiro de 1919.

De 1921 a 1933, Clara Zetkin foi editora do jornal “A Internacional Comunista das Mulheres”. Ao mesmo tempo, a internacional comunista ficou cada vez mais sob o domínio de Stalin. Com a ascensão do stalinismo, a Revolução Russa de Outubro e o Comintern degeneraram.

Há fatos que afirmam que Zetkin não apoiava as políticas e métodos de Stalin, mas ela não entrou em oposição.

Em 1932, como deputada mais antiga do parlamento (de acordo com a lei alemã), ela fez o discurso de abertura após a eleição parlamentar. Doente e quase cega, ela defendeu uma frente única contra o nazismo e alertou para uma nova guerra.Em 1933, ela fugiu para a União Soviética. Quando ela morreu, em 20 de agosto daquele ano, 600 mil pessoas compareceram ao seu funeral.

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