Malcolm X – “Eles me chamaram de o negro mais raivoso na América”

Malcolm X expressou a fúria de milhões contra a pobreza, o racismo e a brutalidade policial. Evoluindo de um Nacionalismo Negro para o anticapitalismo e chegando ao socialismo, ele continua como uma inspiração para todos aqueles que desafiam o sistema capitalista, racista e excludente.

“Por que eu sou como sou?”

Malcolm X experimentou o racismo desde seu nascimento. Forçado por supremacistas brancos a mudar de casa, Malcolm ainda era jovem quando estes assassinaram seu pai. As companhias de seguro recusaram-se a pagar “afirmando que meu pai cometeu suicídio… como o meu pai poderia espancar a si mesmo na cabeça e caminhar até o trilho dos bondes para ser atropelado?”.

Malcolm X freqüentemente era superior em sua classe. Mas o sistema racista o fracassou, levou sua mãe a um colapso nervoso e para o hospital e acabou com sua família. Malcolm desejava ser advogado. O professor de sua escola respondeu: “Um advogado – este não é um objetivo realista para um preto… Por que você não planeja carpintaria?”
Golpeado pela pobreza, alienado, furioso e sem respostas, Malcolm trabalhou desde em limpeza de sapato e carregamento de bagagens em trem até crimes pequenos, adicção por drogas e a prisão. Enquanto estava preso ele se converteu à Nação do Islã.

“A verdadeira sabedoria do homem negro”

A Nação do Islã foi fundada em 1931, pregando a honra negra e o separatismo – encontrando um solo fértil entre prisioneiros negros crentes. Malcolm X assim descreveu: “Aqui está um homem negro engaiolado atrás das grades, provavelmente por anos, colocado ali pelo homem branco”.

“Usualmente os prisioneiros crentes vêm entre aqueles negros do fundo do poço, os negros que em todas as suas vidas foram chutados, tratados como crianças – negros que nunca conheceram um homem branco que não tirou algo deles ou fez algo a eles… ‘O homem branco é o demônio’ é um eco perfeito da experiência de um crente negro”.

“Eu senti que Alá estaria mais inclinado a ajudar aqueles que ajudam a si mesmos”

Saindo da prisão, Malcolm X dedicou-se a construir a Nação do Islã. Ele rapidamente tornou-se um pastor destacado: fundando templos e o jornal da Nação do Islã; discursando em reuniões; atacando furiosamente a história racista da América; articulando a raiva instintivamente sentida pelos negros oprimidos. A Nação do Islã cresceu para 100.000 seguidores no início dos anos 60.

Movimento de direitos civis

O movimento de massas pelos direitos civis envolveu milhões de negros irados demandando mudanças. Para romper com a segregação, jovens ocuparam bares e organizaram Viagens da Liberdade para forçar um fim à segregação no transporte público. No mundo neocolonial, revoluções derrubaram o comando metropolitano. Eventos revolucionários combinados com a brutalidade policial impulsionaram um movimento de massas.

Os líderes dos direitos civis tentaram limitar o movimento na idéia de influenciar os políticos democratas. Malcolm X, corretamente, atacou isto: “Quem já ouviu falar de revolucionários irados balançando seus pés descalços junto aos seus opressores em piscinas de parques cercada de lírios, com gospels e guitarras e discursos do tipo ‘Eu tenho um sonho’[referência à famosa fala do Martin Luther King em Washington em agosto 1963]? As massas negras na América estavam – e continuam – vivendo um pesadelo”.

Martin Luther King mais tarde moveu-se à esquerda, chamando pela unidade da classe trabalhadora e apoiando greves antes de ser assassinado.

A polícia de Los Angeles atacou um templo da Nação do Islã em 1962, matando um destacado ativista. Malcolm X começou uma campanha de defesa, apoiando reuniões de massas. Ele apoiou o boicote, feito por um sindicato de Nova York, contra uma firma que se recusava a contratar trabalhadores negros.

“As galinhas voltam para casa para empoleirar-se”

Mas isto contradisse os líderes conservadores da Nação do Islã, que não ofereciam uma saída prática para o movimento por direitos civis. Assim, começaram movimentos para minar Malcolm X, sancionados pelo líder da Nação do Islã Elijah Muhammad.

O assassinato do presidente Kennedy em 1963 fez com que os pastores da Nação do Islã fossem imediatamente ordenados a não dizer nada. Malcolm não se silenciou: “… ao meu ver este é um caso em que ‘as galinhas voltaram pra casa para empoleirar-se’ [expressão idiomática usada para afirmar que as conseqüências de fazer algo errado, sempre retornam para quem fez a coisa errada]. Eu disse que o ódio no homem branco não parava com a morte de negros indefesos, mas que o ódio espalhou-se incontrolavelmente, golpeando finalmente o Chefe de Estado desta nação”.

A Nação do Islã moveu-se ligeiramente usando este pretexto. Reunido com Elijah Muhammad, foi dito a Malcolm X: “Terei que silenciar você pelos próximos noventa dias – assim os mulçumanos em todo lugar podem ser desassociados deste erro”.

Dentro de dias a suspensão se transformou em conversas de membros mais antigos da Nação do Islã sobre matar Malcolm X. seguida por conversas de membros mais antigos da Nação do Islã sobre matar Malcolm X.

“Uma unidade dos trabalhadores entre todos os povos”

Cinqüenta semanas separam a saída de Malcolm X da Nação do Islã e seu assassinado pelo governo dos EUA. Em Meca, durante uma peregrinação e discutindo com líderes de movimentos de independência na África, as idéias de Malcolm mergulharam em uma profunda transformação. Ele encontrou muitos “revolucionários verdadeiros” que não eram negros dedicados a derrubar, usando os meios necessários, o sistema de exploração que existe nesta terra.

“Então eu passei a muita reflexão e reconsideração sobre minha definição de nacionalismo negro. Nós podemos resumir a solução aos problemas que confrontam nosso povo como nacionalismo negro? E, caso tenha percebido, eu não uso esta expressão há meses.”

Malcolm X lançou uma nova organização “Mesquita Mulçumana Inc.” para: “… abraçar toda a fé dos negros e levar à prática o que a Nação do Islã apenas pregou”.

“Este foi um movimento que o povo esperou. Muitas pessoas falaram isso… eles queriam entrar aqui… Mulçumanos escreveram de outras cidades que entrariam em minha organização, seus comentários geralmente eram de que o ‘Islã é muito inativo’… ‘A Nação do Islã está andando muito devagar’”.

Depois de suas viagens internacionais, Malcolm X procurou desenvolver laços entre a “Mesquita Mulçumana Inc” e mulçumanos por todo o mundo. Suas idéias continuavam a mover-se para a unidade da classe trabalhadora e o socialismo.

Do desafio ao racismo com a religião, ao desafio ao capitalismo com a unidade dos oprimidos, Malcolm X afirmou: “Eu estarei com qualquer um, não me importa a sua cor, desde que você queira mudar a condição miserável que existe nesta terra”.

Isto representou uma ameaça real. Dentro de semanas Malcolm foi morto, assassinado pelo estado, com o apoio da Nação do Islã.
“O sistema não pode produzir liberdade para os afro-americanos. É impossível para este sistema, este sistema econômico, este sistema político, este sistema social, o próprio sistema”.

As idéias de Malcolm X foram distorcidas. Ele foi falsamente acusado de ser um “negro racista”. A Nação do Islã clama que ele pertence a ela. Porém, pouco antes de Malcolm ser morto, o líder corrente da Nação do Islã, Farrakhan, afirmou “um homem como este merece somente a morte”.

Alguns enxergam Malcolm como um pregador mulçumano. Ele preencheu sua fé com a luta social por libertação – alcançando, primeiramente, todos os negros e, então, os trabalhadores brancos, pela unidade contra o racismo e a pobreza.

Quatro décadas depois toda uma indústria de relações raciais existe. O racismo mais ofuscante foi jogado para debaixo do tapete. Mas a polícia é institucionalmente racista. A perseguição e a pobreza continuam. O Novo Trabalhismo e os democratas dos Estados Unidos não tem nada a oferecer. Tal como Malcolm disse, “com estas escolhas, eu sinto que os negros americanos só podem optar por serem devorados pela raposa ‘liberal’ ou o lobo ‘conservador’ – porque ambos querem devorá-lo”.

O assassinato de Malcolm enfureceu uma geração e estimulou-a para levantar-se e lutar. Um milhão de negros consideraram a si mesmos revolucionários. O Partido Pantera Negra, organizando a defesa comunitária contra racistas e a polícia, chegou a algumas conclusões socialistas.

O líder pantera Bobby Seale sumarizou isto: “Nós não lutamos contra o racismo com racismo. Nós lutamos contra o racismo com solidariedade. Nós não lutamos contra o capitalismo explorador com o capitalismo negro. Nós lutamos contra o capitalismo com o socialismo. Nós lutamos contra o imperialismo com o internacionalismo proletário”.

O Partido Socialista (seção do CIO na Inglaterra) apóia-se nas melhores tradições da luta de massas e autodefesa, pela unidade da classe trabalhadora de todas as raças, religiões e países.

Traduzido por Fernando Lacerda de artigo escrito em 28 de fevereiro disponibilizado no sítio www.socialistworld.net 

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