O PSOL com Erundina: os desafios de representar a maioria

Este ano acontecerão as primeiras eleições depois da Operação Lava Jato e do impeachment da presidenta Dilma. Vivemos um momento agudo da crise econômica, que se traduz também numa das maiores crises políticas que o Brasil já viu.

São Paulo, uma das principais cidades do Brasil, é vitrine para todo o país. Portanto, o resultado das eleições municipais terá impacto nacional. Num cenário onde os favoritos são Celso Russomano (PRB) e Marta Suplicy (PMDB), temos o desafio de construir uma real alternativa de esquerda.

Na pesquisa realizada pelo Ibope no dia 21 de junho, Russomano aparece na frente, seguido por Marta. Logo em seguida, Luiza Erundina, do PSOL, com 8% das intenções de voto, na frente do atual prefeito Fernando Haddad (PT).

Erundina possui uma longa trajetória de lutas, apesar de ter ficado entre 1997 e 2015 no PSB e Michel Temer ter sido seu vice na disputa para a prefeitura em 2004. O que ocorre é que as lições do último período levaram-na a construir uma pré-candidatura pela esquerda, se aliando a setores que claramente se opõem ao governo de Haddad e também a direita tradicional tucana e do PMDB, além de oportunistas como Russomano.

Nem PT, nem PSDB

Devemos resgatar a positividade da construção do governo Erundina dos anos 1980 e início de 1990, sua dimensão popular e de luta, assim como ter condições de fazer balanços necessários a esta conjuntura de crise política e econômica no país.

Neste sentido, é central o debate feito por Luiza Erundina no lançamento de sua pré-candidatura, no dia 11 de junho em São Paulo, onde apontou a necessidade da inversão de prioridades na cidade.

Devemos governar para a maioria e, com isso, construir uma nova concepção de poder. Posições como as de Haddad, de criminalização de moradores de rua e retirada de cobertores, foram denunciadas de maneira radical por Erundina. Mas, assim como Haddad, Alckmin também não foi poupado: ela falou do trensalão ao roubo de merenda e da ocupação das escolas pela juventude como indicação do caminho.

Apontar um programa político para a cidade de São Paulo significa pautar a questão do poder e sobre quem deve decidir na cidade. A retomada de conselhos populares eleitos pela base, assim como subprefeituras, será uma forma de desconstruir o coronelismo e as indicações clientelistas que retalham a cidade em favor dos interesses de grupos privados.

O povo de São Paulo está cansado do genocídio do povo negro na periferia, do descaso e abandono dos serviços públicos, do caos no transporte e na saúde – que, hoje, é gerenciada pelas OSs (organizações sociais), que precarizam a força de trabalho, através dos baixos salários e terceirização, e sucateia o serviço prestado à população. Isso sem falar da educação, das creches não construídas e salas de aula superlotadas.

Frente de esquerda contra o “mal menor”

A lógica do “mal menor” não deve ter espaço nem no discurso do PSOL, através de Erundina, tampouco nesta conjuntura de crise.

A melhor forma de combater a crise é potencializar a capacidade de organização e de luta da maioria da população, da classe trabalhadora e do povo pobre na cidade de São Paulo. Isso se realiza a partir da identificação dos problemas concretos do dia a dia e sua relação com a crise política e econômica que vivemos.

Neste sentido, cabe ao PSOL se aliar politicamente – e não apenas eleitoralmente – apenas com setores que se localizam no campo da esquerda e da luta dos trabalhadores(as), não sendo possível qualquer coligação e relação com partidos da ordem burguesa, do governo, ou da velha direita. Nosso marco de alianças deve ser PSTU e PCB, junto com movimentos sociais combativos, sendo este o espectro da construção de uma real alternativa de esquerda.

Está lançado o desafio ao PSOL de expressar os interesses da maioria da população. Devemos nos colocar à altura do desafio. Temos, com Erundina, condições de cumprir esta tarefa, bastando apenas tirar as conclusões corretas do processo, não buscar atalhos e não nos intimidar com o tamanho da tarefa histórica.

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