Carta de Fortaleza pelo Bloco de Esquerda Socialista
Aos passarmos da marca dos dois meses do afastamento de Dilma Rousseff da presidência da república e da montagem do governo de Michel Temer é urgente avançar na organização do polo de resistência dos trabalhadores e da esquerda socialista tendo em vista que a continuidade do governo Temer é para nós sinônimo de uma perspectiva muito mais dura de que tudo o que já vivemos desde o fim dos governos militares em 1985.
Nos somamos aos militantes, ativistas, intelectuais, trabalhadoras e trabalhadores que em importantes cidades do país vem desenvolvendo atividades para buscar superar a fragmentação da esquerda socialista a que o movimento de massas brasileiro está particularmente submetido após os últimos 13 anos. Em especial reivindicamos as iniciativas do bloco de esquerda socialista de São Paulo e da Frente de Esquerda Socialista no Rio , Recife, Curitiba e Maceió que unem correntes, coletivos e organizações na tentativa de abrir o debate franco e fraterno na construção de uma perspectiva que permita construir as trincheiras necessárias para enfrentar os ataques que se avizinham.
Rejeitamos a estratégia permanente do lulopetismo de desperdiçar as esperanças de gerações e gerações de lutadores e ativistas na busca irrefreável pela conciliação de classes. Foi assim com o PMDB de Temer e Cunha, PP de Maluf, PTB de Roberto Jefferson, como também foi assim com os grandes setores do empresariado, dos banqueiros e do latifúndio brasileiro. Segue assim mesmo após o impeachment, com a busca pelas alianças eleitorais com supostos setores progressistas da burguesia ou com as negociações e negociatas para impedir a confirmação do impedimento de Dilma pelo senado. Tal atitude servil foi a que ainda hoje permitiu que a presidência da câmara dos deputados passasse das mãos de um aliado de Eduardo Cunha para as do DEM, ex-Arena, ex-PDS, ex-PFL e aliado de Temer, com a missão de acelerar os projetos que darão fim a crise econômica e política, leia-se acelerar a retirada de direitos da classe trabalhadora.
Defendemos que é preciso derrubar o governo Temer e impedir as contra-reformas que nos levariam a um futuro dos mais sombrios. Não é possível tolerar que defensores de jornadas de 80 horas semanais, como o presidente da CNI, sintam-se absolutamente a vontade para citar, como exemplo a ser seguido, a intenção do governo francês de recuar da atual jornada francesa de 36 horas autorizando as oitenta semanais, sem ao mesmo tempo preparar nas ruas brasileiras a mesma resposta dadas pelos trabalhadores franceses a tal insulto: manifestações massivas, greves poderosas e ocupações de fábricas e usinas. Construir a resistência socialista dos trabalhadores é urgente, o FORA TEMER é a grande bandeira de nossas trincheiras e a greve geral é a importante arma a ser devidamente carregada. Exatamente por isso defendemos que CUT, CTB, Intersindicais, Conlutas, MTST, Frente Povo Sem Medo avancem urgentemente e de forma unitária na construção de uma jornada nacional de lutas que permita parar o Brasil em uma grande greve geral em defesa dos direitos sociais e trabalhistas.
Reivindicamos que é preciso estar à altura dos desafios que nos impuseram e impõem as manifestações populares de junho de 2013, as crescentes greves de trabalhadores, as mobilizações feministas contra Cunha e sua turma, assim como o movimento de ocupações de escolas secundaristas. Afirmamos que é impossível resistir aos ataques seguindo marchando separadamente w nem muito menos é possível avançar na luta por mais direitos de tal maneira. Temos a clareza que também não é possível unificar sem a disposição ao debate ainda que por vezes duro mas sem jamais perder a ternura. Muito menos é possível sujeitar a necessidade de um bloco socialista de esquerda unicamente ao calendário eleitoral ou às campanhas salariais e de eleições sindicais. Defendemos que a unidade nas urnas e ruas sempre que possível deve ser buscada e pensamos que o momento que vivemos nos cobra apresentar uma alternativa unificada dos trabalhadores nas eleições municipais, mas temos clareza que as eleições passarão e a unificação das lutas e iniciativas seguirá como indispensável. Acreditamos que as iniciativas locais pela Frente de Esquerda precisam confluir para uma grande Frente Nacional que discuta seriamente a possibilidade de um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora.
Temos clareza que há muito a debater e muito por que lutar. Causas como a luta pelo jovem negro vivo, o orgulho LGBT, a batalha contra o machismo, a defesa do meio ambiente, o fim da violência policial e da própria polícia militar, a demarcação de terras indígenas e quilombolas, o direito a moradia e a reforma urbana, a luta antiproibicionista, a defesa do SUS, da previdência social, da educação pública e da universidade pública e gratuita são todas bandeiras que nos unificam e podem e devem nos levar à luta pelo fim do capitalismo e da construção do socialismo. Temos muito trabalho pela frente, muito tempo já perdemos e não temos mais um único minuto a perder.
É nesse espírito que convocamos todas e todos que acreditam ser necessário a construção de uma via socialista e revolucionária a somar esforços junto conosco.
Fortaleza, 14 de julho de 2016
Assinam:
Insurgência (PSOL)
LSR – Liberadade, Socialismo e Revolução (PSOL)
NOS – Nova Organização Socialista
PCB – Partido Comunista Brasileiro
Epitácio Macário – Professor da UECE
Fabio Sobral – Professor da UFC
Frederico Costa – Professor da UECE