Nota da LSR sobre transfobia no PSOL e perseguição a militantes transfeministas

Nós da LSR – Liberdade, Socialismo e Revolução, seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores – CIT, compomos o PSOL – Partido Socialismo e Liberdade, um partido amplo com diversas correntes e tradições, que defendem uma sociedade sem opressões. Estivemos presentes na fundação do partido e depois, também, na fundação do seu Setorial Nacional de Mulheres. Um setorial que hoje é controlado por apenas um campo do partido, chamado Unidade Socialista, que infelizmente vem rifando algumas de nossas pautas. Até o último congresso do PSOL em 2015 o Setorial Nacional de mulheres era construído de forma unitária por todas as correntes e regiões.

No domingo fomos surpreendidas com uma nota do Setorial Nacional de Mulheres do PSOL que repreende a ação da Executiva Estadual do PSOL RJ que expôs, também em nota, que as ações transfóbicas da ativista Eloisa Samy Santiago, filiada ao PSOL, não refletem o acúmulo coletivo do partido, nem mesmo do Setorial de Mulheres. Compreendemos que Eloisa teve um papel importante como advogada não só no caso recente e amplamente divulgado de estupro coletivo no RJ, mas em outras lutas no próprio estado. Porém, uma boa atuação em um movimento feminista não apaga erros, para nós considerados muito graves, que ela teve e tem no trato com outras militantes de dentro e fora do partido, nem mesmo lhe dá a possibilidade de agredir e perseguir mulheres trans*, ativistas ou não. Invisibilizar e desrespeitar a identidade de gênero de pessoas trans* não devem ser ações toleradas dentro do partido.

Neste sentido, a nota da executiva do RJ foi acertada. Entendemos também que é necessário ir além, pois, transfobia no movimento feminista e socialista não é uma mera divergência, como tenta colocar o Setorial Nacional de Mulheres, é opressão e precisa ser tratada como tal, precisa ser combatida com campanhas educativas e ações cotidianas. A nota lançada por um blog que se coloca na vertente feminista radical demonstra o quanto é necessário que avancemos neste debate. Em uma ação consciente de distorção, nossa militante Hailey Kaas é acusada de ser misógina e fazer apologia ao incesto, ao repostar uma publicação em inglês no tumblr, uma rede social. Uma pessoa que desconhece essa ferramenta, não lê em inglês e se prende as frases de efeito pode ser facilmente convencida que a militante foi anti-feminista. Ações como essa se assemelham muito com a grande mídia quando quer incitar as pessoas contra os movimentos sociais. Não apenas Hailey é alvo de ações como essa, mas outras transfeministas também são perseguidas por defenderem que mulheres trans* devem ser tratadas como o que são: mulheres.

Hoje, o trabalho precário que pessoas trans* conseguem, por sua condição, as deixam à margem de nossa sociedade, sendo tão exploradas quanto outro trabalhador, ganham menos mesmo tendo qualificação, que já lhes é difícil conseguir, pois são escrachadas desde novas nas escolas e pela sociedade. Elas sofrem com essa marginalização, que também se dá por não se encaixarem nos padrões de gênero que são impostos pela nossa sociedade patriarcal e machista.

Para nós, fica a necessidade urgente da construção de um polo classista dentro do feminismo que compreenda as diversas opressões que atravessam as mulheres, que tenha como foco organizar as mulheres para as lutas concretas e que compreenda que nosso inimigo comum é a estrutura patriarcal e capitalista, que oprime e explora as trabalhadoras e trabalhadores. Nós, da LSR/CIT repudiamos e denunciamos toda e qualquer forma de intimidação, agressão verbal, transfóbica ou não, que tem sido orquestrada por pessoas que certamente não fazem parte da construção de uma nova sociedade. Essas posturas levianas apenas contribuem para a manutenção da sociedade exploradora e opressora como é a capitalista. São essas questões que preocupam a LSR no Brasil e, internacionalmente, o CIT – Comitê Por Uma Internacional dos Trabalhadores.

Por uma sociedade sem transfobia e machismo!
Por um PSOL que defenda as pautas de todas as mulheres!
Contra a perseguição às transfeministas!

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