Chega de estupro e violência contra a mulher!
O estupro coletivo que chocou o país há algumas semanas é o relato de uma triste realidade que está presente todos os dias no nosso país. Esta situação se mostra mais trágica a cada dia. Enquanto a delegacia descredita e culpabiliza a vítima e o vídeo com toda a cena dos estupros é divulgado nas redes sociais, a menina é ameaçada de morte, levando-a a mudar de estado, nome e moradia para preservá-la.
Na mesma semana, morreu no interior do Piauí outra jovem que foi estuprada por três adolescentes e ficou internada por dez dias na UTI.
São Marias, Cláudias, Lauras, Franciscas, Joaquinas, Priscilas. A cada onze minutos uma mulher é estuprada no Brasil e, com certeza, esse número pode ser ainda maior e mais assustador.
O medo que nós mulheres temos em denunciar pode elevar em até dez vezes o número de vítimas desse crime bárbaro. Em 2014 foram registrados 47.646 casos. Estima-se que 450 mil casos de estupro não sejam denunciados por medo de represálias e culpabilização da vítima.
A Culpa nunca é da vítima
Em 2013, pesquisa feita pelo IPEA mostrou que 26% dos entrevistados concordavam total ou parcialmente que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Vemos que a culpabilização da vítima está presente em todos os espaços. Qual roupa estava vestindo? Por que estava andando sozinha e tão tarde? Você usa drogas? Não importa!
O que vemos são mulheres em diversas situações sendo violentadas por serem mulheres, independente da roupa, da hora e do lugar. Temos uma cultura extremamente machista, que coloca a mulher como um objeto à disposição do homem. A violência e o estupro estão tão presentes e culturalmente aceitos que vemos em rede nacional o Alexandre Frota confessar que abusou de uma mãe de santo e nada acontecer com ele. Ou mesmo no caso da jovem do Rio de Janeiro, divulgam as imagens do ocorrido sem o menor medo ou culpa, e só são investigados depois de muita pressão nas redes sociais e da vítima ter ido até a delegacia.
Educação e investimento contra a violência
O Governo de Michel Temer já se mostrou tão ineficiente para tratar desse assunto quanto o de Dilma. Acaba de nomear para a secretaria de política para as mulheres a deputada Fátima Paleaes que se posicionou contra o aborto mesmo em caso de estupro, contrariando toda a luta das mulheres em relação a esse tema. E com toda a pressão da grande mídia em torno desses casos, anunciou um plano de combate à violência a mulher que, além de não ter nenhum prazo para ser posto em prática, não disponibiliza nenhum recurso. A ideia principal é colocar à disposição, policiais militares de folga em áreas onde houver um maior índice de violência. Sabemos que muitas das mulheres não têm nenhuma confiança na polícia, e hoje os policiais não recebem nenhum tipo de treinamento ou educação para auxiliar de forma eficaz tal violência, e algumas vezes são protagonistas da violência contra às mulheres.
Violência não é só caso de polícia, a nossa principal tarefa é evitar que esses crimes aconteçam. Precisamos encarar esse problema de frente, ter discussões de gênero nas escolas, investir em propagandas e mais redes de acolhimento as mulheres em situação de violência.
Por uma saída coletiva!
Criar espaços de acolhimento onde mulheres se sintam à vontade para denunciar é muito importante, assim como o papel da escola de descontruir o papel da mulher na sociedade e a educação machista que está presente em todos os espaços.
Precisamos, acima de tudo, construir outra sociedade, sem opressões, sem exploração, onde mulheres e homens possam conviver de forma justa e igualitária, onde investir em pessoas seja mais importante que garantir o lucro de poucos.
Nós defendemos uma grande luta por:
● Toda proteção e apoio às vítimas de violência. Que elas possam ser ouvidas e recebam todo suporte legal, físico e psicológico.
● Tanto no caso do Rio de Janeiro como em todos os outros, é preciso uma investigação séria e punição a todos os envolvidos.
● Mais investimentos ao combate à violência contra a mulher. Hoje só se investe 40 centavos por mulher por ano. Por mais casas abrigos e espaços de acolhida às mulheres.
● Educação de gênero nas escolas. Precisamos que crianças e adolescentes discutam gênero nas escolas. Machismo e LGBTfobia devem ser combatidos desde cedo.
● Uma campanha nacional de denúncia e combate a cultua do estupro
● Defesa de 1% do PIB para combater a violência contra a mulher.
● Defesa de 10% do PIB para educação pública garantindo, também, a permanência de uma educação não sexista.