O legado homofóbico do Papa

Mesmo depois da renúncia ao papado a atuação de Bento XVI vai deixar muitas marcas para a comunidade LGBT e para todos que lutam pelo socialismo.

Atualmente milhares de pessoas passam fome, outras participam involuntariamente de guerras, sendo vitimas de violência física constante. A crise econômica mundial coloca parâmetros cada vez mais difíceis para a vida humana: desemprego, aumento do preço de alimentos, sucateamento de serviços básicos como saúde e educação. Em meio a tudo isso, Bento XVI fez uma grande campanha contra o casamento gay. Porque o Papa escolheu esse alvo?

O que está por trás das declarações de Bento XVI é a defesa de uma organização de sociedade já obsoleta, onde cada membro tem um papel muito bem definido. A “família tradicional” de Bento é aquela composta por um pai, uma mãe e seus filhos, exatamente nessa ordem, isto é, seguindo uma hierarquia onde o pai detém o poder sobre a mulher e os filhos. Mesmo o amor relacionado ao casamento tradicional é envolto em relações de poder, onde um parceiro é visto como dono do outro. O exemplo mais claro disso são os chamados “crimes passionais”, onde um parceiro (geralmente o homem) mata o outro (geralmente a mulher) diante de uma situação de traição ou mesmo de término do relacionamento. Com as crianças a lógica é parecida: quantas vezes não vemos pais tratando seus filhos como propriedade privada? Ou mesmo impondo regras que, quando quebradas, são seguidas de violência física?

Os papéis dentro da família tradicional

O papel da mulher nessa família está relacionado ao cuidado do bem estar do marido e dos filhos e também ao cuidado com a harmonia dentro da família. Em situações de tensão, é da mulher que se espera a tentativa de apaziguamento, mesmo que o conflito não a envolva. As mulheres que trabalham e estudam fora de casa também são cobradas pela realização desses afazeres, tendo, portanto, que trabalhar dobrado.

Por outro lado, o papel do pai é de ser provedor e de estar à frente nas decisões da família. Sua dominação está ligada ao fato da organização social da família permitir que os bens das famílias ricas continuem sendo passados para suas novas gerações; legalmente, as heranças são propriedade dos filhos. Porém, os filhos só herdarão algo quando seus pais possuírem bens, o que não corresponde à realidade da maior parte da classe trabalhadora.

O amor entre duas pessoas do mesmo sexo é um nó na cabeça de quem pensa que, num casal, o homem deve ser o dominador e a mulher deve estar a sua disposição. Algumas vezes vemos esses mesmos modelos se reproduzirem em casais de mulheres ou de homens, mas a priori o casamento gay quebra com a idéia tradicional de família.

A violência contra LGBTs

Desde os países que legalmente matam as pessoas que se declararem homossexuais, até os países onde não existem leis específicas, a violência causada pela homofobia é um fato. No Brasil, por exemplo, as últimas pesquisas mostram que a cada 26 horas um LGBT é morto. E se levarmos em conta casos que não são notificados como homofobia, esse número deve ser ainda maior. Apesar da Igreja tentar vestir uma mascara defendendo a paz, as declarações de Bento XVI legitimam a violência vivida pelos LGBT atualmente.

A ideologia disseminada pela Igreja, que é dirigida por setores conservadores, tem um papel político importante para a defesa da família e da sociedade como ela está. Nem Bento XVI nem outros papas estarão ao lado dos que lutam, eles, junto da Igreja, servem muito bem à burguesia, que tem grande interesse em deixar as coisas como estão.

No dia 23 de julho o Papa eleito virá ao Rio de Janeiro participar da Jornada Mundial da Juventude. Nós da LSR chamamos tod@s para o beijaço pelo direito à livre expressão do amor nesse mesmo dia! 

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