Por uma alternativa econômica anti-capitalista que garanta emprego, salário e serviços de qualidade
O anúncio oficial do IBGE apontando um crescimento de 5,2% do PIB em 2004 não esconde o fato de que a vida não melhorou para milhões de brasileiros e a crise social continua gravíssima.
Apesar da geração de empregos novos, o desemprego continua alto, a precarização das relações de trabalho só aumenta e a renda dos trabalhadores continua caindo.
Segundo o DIEESE/SEADE, os trabalhadores sem carteira assinada viram sua renda média cair 5,3% em um ano. Para os demais, a renda caiu em média 2,8%. Embora tanto os trabalhadores do comércio e serviços como os da indústria tenham sofrido perdas, esses últimos foram os mais afetados com uma queda da ordem de 6,7% na renda.
Se isso já é ruim para os trabalhadores em geral, para as mulheres trabalhadoras a situação é ainda pior. Elas receberam em 2004 apenas 66,8% dos salários pagos aos homens.
Cortes e pagamento da dívida
Ao mesmo tempo em que anunciou um vergonhoso reajuste de 0,1% para os trabalhadores do serviço público federal e cortes no orçamento da ordem de 15,9 bilhões de reais (afetando inclusive os gastos com reforma agrária), o governo Lula se vangloria de que a união, estados e municípios conseguiram economizar 11,3 bilhões de reais em janeiro (o maior superávit desde 1991) para pagar os juros da dívida pública.
Mesmo retirando esse dinheiro dos gastos sociais e repassando para o bolso dos banqueiros e especuladores, o governo continuou sem conseguir pagar os juros do período, equivalentes a 12,3 bilhões de reais em janeiro.
Recorde de lucros para os bancos
Não é à toa que os bancos batem recorde atrás de recorde de lucros no Brasil. Dessa vez foi o Itaú que anunciou um lucro líquido de 3,776 bilhões de reais em 2004. Trata-se do maior resultado da história dos bancos brasileiros. Superou o Bradesco que lucrou ‘apenas’ 3,024 bilhões!
Com taxas de juros estratosféricas (o Brasil só perde para a Turquia) que não devem diminuir no próximo período, o Brasil é hoje sem dúvida o paraíso dos banqueiros e especuladores.
Ameaças à estabilidade
Os 5,2% de crescimento em 2004 são resultado do péssimo resultado de 2003 e de uma situação internacional favorável às exportações brasileiras. Os índices foram favoráveis, mas não houve efetiva distribuição de renda.
Mas, mesmo esses índices favoráveis estão ameaçados com um cenário externo menos favorável. A instabilidade no mercado internacional e a desvalorização do dólar devem afetar as exportações. Um futuro ajuste do dólar em meio á instabilidade internacional também pode provocar uma crise cambial que será enfrentada com mais medidas recessivas, cortes nos gastos, elevação dos juros, como já vimos no passado.
Renovação do acordo com o FMI?
Esse quadro negativo não é descartado nem mesmo pelo governo que aparentemente é tão ufanista com sua política econômica. A renovação do acordo com o FMI é uma possibilidade concreta apesar de todas as declarações contrárias de Lula e membros do governo.
Lula não quer correr o risco de não ter o ‘amparo’ do FMI num momento de possível crise aguda em meio à campanha pela reeleição. Trata-se de repetir a dose já adotada por FHC em 2002.
Por uma alternativa anti-capitalista e socialista
O anúncio de crescimento econômico e a queda na renda dos trabalhadores devem estimular mais lutas por reajustes em 2005. É preciso unificar esses movimentos, arrancar conquistas salariais e, ao mesmo tempo, derrotar a política econômica do governo Lula.
Um grande movimento nacional contra a renovação do acordo com o FMI e pelo não pagamento da dívida externa e interna aos grandes tubarões capitalistas precisa ser construído. O Partido Socialismo e Liberdade (P-SOL) deve trabalhar pela unidade dos movimentos sociais e da esquerda nesta luta.
Junto com isso se poderá apresentar um projeto alternativo da classe trabalhadora visando o real desenvolvimento econômico a partir de bandeiras anti-capitalistas e socialistas como a estatização dos bancos e grandes empresas estratégicas sob controle democrático dos trabalhadores e uma planificação da economia visando os interesses da grande maioria da população.