Não há liberdade para as mulheres no Iraque
As mulheres no Iraque vivem, segundo a Anistia Internacional, com um medo constante de ser agredidas. Dois anos depois da invasão dos EUA, há menos mulheres trabalhando e menos meninas estudando.
Sem trabalho, eletricidade e água, sofrendo violência constante e humilhação de soldados estadunidenses, são as mulheres que sofrem mais. E, como diz Widad Zaki, da Associação de Mulheres Iraquiana na Suécia, as eleições não alteram substancialmente a situação.
Os EUA tentam apresentar sua ocupação como sendo uma “oportunidade democrática”, apontando por exemplo para o fato de 31 por cento dos membros do parlamento iraquiano serem mulheres.
Mas as mulheres no Iraque enfrentam uma nova armadilha: uma nova constituição que dá o poder sobre as leis de famílias para clérigos reacionários. “Isso pode significar um novo retrocesso que é difícil alterar”, avisa Widad Zaki.
Os que mais insistem na introdução de leis religiosas da “Sharia”, especialmente com relação à família, são setores da aliança de xiitas que ganharam as eleições. Mas para obter a requerida maioria de dois terços para aprovar a constituição eles vão ter que fazer negociações com os curdos e os sunitas.
Widad Zaki teme que um acordo entre eles pode resultar numa situação parecida com a do Líbano, onde as leis de famílias seguem as regras de cada comunhão religiosa.
As interpretações sunitas serão mais reacionárias ainda que as xiitas. A própria Igreja Católica no Iraque proíbe o divórcio. “Uma lei civil pode ser alterada, mas uma lei controlada por um grupo religioso vai ser um inferno para mulheres e será difícil mudá-la” , ela diz.
A Anistia Internacional descreve em um relatório a situação precária das mulheres no Iraque. Só houve piora com a ocupação estadunidense.
“O aumento de assassinados, seqüestros e estupros que seguiu a queda do Saddam tem restringido a liberdade de ação das mulheres e a possibilidade de estudar e trabalhar. A falta geral de segurança tem forçado muitas mulheres a desaparecer do espaço público”, diz o relatório.
Apesar do regime ditatorial de Saddam, as mulheres no Iraque tiveram seus direitos fortalecidos entre os anos 60 e o começo dos anos 80, com acesso a educação, trabalho, assistência social etc.
Durante guerra prolongada contra Irã, muitas mulheres ficaram apenas sustentando o domicílio.
O retrocesso aumentou durante o embargo da ONU nos anos 90, quando muitas mulheres perderam o trabalho, ao mesmo tempo em que Saddam tentou fortalecer sua posição através de acordos com líderes religiosos e clânicos.
“Com o clima de um conservantismo crescente e restrições sociais para mulheres os efeito de duas guerras foram devastadores”, escreve a Anistia.
Mais e mais mulheres são agora forçadas a usar véu por causa das ameaças de grupos fundamentalistas. Várias lutadoras pelos direitos de mulheres foram ameaçadas, agredidas e assassinadas.
As mulheres no Iraque não são só ameaçadas pelo terror dos ocupantes imperialistas, mas também pelo partidos reacionários e religiosos que lutam para estabelecer seu própio poder