Direito ao aborto nos EUA: ‘Roe’ revogado, tomar as ruas
Construir um movimento de massas contra a direita!
A decisão Roe versus Wade (caso judicial em que a Suprema Corte dos EUA reconheceu o direito ao aborto) foi revogada. Esta é uma derrota histórica para o movimento das mulheres e representa uma vitória na campanha da direita para minar a autonomia das mulheres e das pessoas queer sobre seu próprio corpo em todo o país.
Apesar do grande apoio ao aborto legal, dezenas de milhões agora vivem em estados onde realizar essa prática significa infringir a lei. Isso pesará de forma esmagadora sobre as costas das mulheres pobres que, com ainda mais frequência, agora têm que viajar centenas de quilômetros e perder vários dias de salário para fazer um aborto. Embora tenha sido a direita que tem travado uma campanha determinada para revogar Roe por décadas, são os Democratas e suas ONGs associadas que permitiram que isso acontecesse.
Não precisava ser assim. Com o apoio generalizado pela manutenção da Roe, as organizações de mulheres lideradas por liberais poderiam ter travado uma verdadeira luta de massas para protegê-la. O vazamento do projeto de parecer contrário à Roe em maio poderia ter servido como base para uma campanha de meses de protestos, plenárias e ação direta. Ao invés disso, essas organizações desmobilizaram ativamente o movimento tentando canalizá-lo para uma farsa eleitoralista.
Entidades como Emily’s List, Planned Parenthood e NARAL Pro-Choice (Liga nacional pelo aborto e direito reprodutivos) anunciaram US$ 150 milhões em doações para os Democratas nas eleições de 2022. Heather Williams, diretora executiva do Comitê de Campanha dos Democratas para o Legislativo, disse sobre os eleitores democratas: “A queda da Roe certamente lhes dá motivação e urgência adicionais [para votar]”.
Isso representa um insultante tapa na cara de centenas de milhares ou mesmo milhões de pessoas que estavam buscando mobilizar-se para evitar que esta decisão fosse revogada.
“Vote azul para proteger o direito ao aborto” não significa nada quando os Democratas estão se recusando a agir. Joe Biden está sentado sobre uma pilha de ordens executivas que ele poderia assinar agoraexpandindo e garantindo acesso à medicamentos abortivos em todo o país. Em meio a um ataque chocante e bárbaro contra crianças trans e não binárias em todo o país, a dirigente do Partido Democrata, Hillary Clinton, diz que o “debate transgênero” não deve ser uma prioridade para os Democratas. Adicione isso à longa lista de coisas que os Democratas estão escolhendo ignorar em vez de lutar.
É tão claro quanto o dia que precisamos de novas organizações de massas, totalmente independentes do Partido Democrata, que lutem sem desculpas contra a ofensiva de ataques da direita.
Precisamos de novas organizações de massas para a luta
Em muitos estados, reverter o acesso ao aborto, atacar os direitos das crianças trans e atacar qualquer componente antirracista no currículo das escolas tornaram-se as formas favoritas adotadas pelos políticos Republicanos para estimular suas bases. Com uma completa falta de liderança do Partido Democrata ou ONGs liberais, barrar a direita exigirá um movimento completamente independente composto por jovens e trabalhadores.
Precisamos de um movimento de massas com estruturas democráticas que possam proporcionar uma direção para a luta para derrotar a direita e proteger (ou reconquistar) nosso direito à autonomia sobre nosso próprio corpo. Esse movimento precisa ter objetivos políticos nitidamente definidos, estruturas democráticas e total independência dos Democratas.
Organizações socialistas, sindicatos e grupos por justiça social devem unir forças para lançar tal organização. As estruturas necessárias para o nosso movimento devem ser construídas para que as demandas, táticas e estratégia sejam democraticamente decididas.
Infelizmente, a maior organização socialista dos EUA, os Socialistas Democratas da América (DSA), limitou-se a lançar um site que pede doações para fundos pelo aborto e para que se filiem ao DSA. Isto representa uma abdicação de responsabilidade em meio a este ataque histórico.
Se uma nova organização de massas fosse formada, o que achamos absolutamente necessário, a Socialist Alternative a construiria entusiasticamente e lutaria para que ela tivesse um programa feminista socialista.
Isso significaria um conjunto de demandas que dialoguem com as necessidades de longo alcance das mulheres e das pessoas queer. Exigências que apontem tanto para a autonomia sobre o próprio corpo quanto para dar às pessoas os meios para ter uma família se assim quiserem. Isso inclui: Medicare For All(programa de assistência à saúde) inclusivo para pessoas trans, com aborto gratuito sob demanda, cuidado infantil universal, educação pública totalmente financiada, moradia pública permanentemente acessível e de alta qualidade, propriedade pública e controle democrático dos monopólios da produção de fraldas e fórmulas alimentícias para bebês, assim como sobre todas as outras megaempresas parasitárias.
Lutaríamos para que essa organização se utilizasse das táticas enraizadas na luta de classes, ao invés de depender de atos individuais de resistência. Com a revogação de Roe, as pessoas farão o que for preciso para ter acesso ao aborto, incluindo a utilização de redes informais, fundos de aborto e financiamento coletivo de amigos e familiares. Mas o foco somente na ajuda mútua ao invés de construir uma luta de massas não será suficiente para reconquistar o aborto como um direito legal neste país. Só a luta de massas pode fazer isso. Isso significa marchas e protestos massivos, ação direta e até greves. Podemos olhar para os históricos movimentos feministas na América Latina e na Irlanda como inspiração.
O feminismo liberal provou estar completamente falido. Lutar por nossos direitos e reconquistar os que perdemos significa lutar pelo feminismo socialista. Precisamos de um novo partido para pessoas trabalhadoras, mulheres, queer e todas as pessoas oprimidas, um partido que se baseie nos movimentos sociais e lute inequivocamente por nossos interesses.
É apenas com base na luta da juventude, da classe trabalhadora e todos os oprimidos sob este sistema brutal que poderemos barrar a perigosa escalada da direita.