Contra o “lulismo” e a velha direita
Estamos vivendo uma situação de agravamento da crise econômica e política no país. Do ponto de vista econômico, há um quadro de aumento da inflação e desemprego, principalmente no setor industrial. As previsões indicam que não só em 2015, mas também 2016, serão anos de PIB negativo.
Este quadro econômico combinado com o avanço das investigações de corrupção da operação Lava Jato tem aprofundado a polarização social e a crise política do governo Dilma.
A burguesia está dividida em relação a saída para a crise. Setores do PSDB, capitaneados por FHC defendem a renúncia de Dilma. Outros continuam defendendo o impeachment ou mesmo a realização de novas eleições.
Apesar destas divisões, setores importantes da burguesia fizeram movimentações e se posicionaram para que Dilma continue no poder e implemente a fundo a política de ajuste fiscal. Estas movimentações se expressaram principalmente pelas notas da Fiesp e Firjan, editoriais da Globo, Folha de São Paulo e entrevistas dadas pelos presidentes do Bradesco e Itaú. A fatura do apoio deste setores da burguesia é a aprovação da chamada Agenda Brasil.
A Agenda Brasil apresenta um pacote de medidas a favor do capital e contra os trabalhadores. Entre as medidas, estão a liberação das terceirizações, estabelecimento de idade mínima para aposentadoria, cobrança de serviços do SUS, liberação das licenças ambientais para atender os interesses das empreiteiras e do agronegócio, política de arrocho para o funcionalismo, revisão do marco jurídico das áreas indígenas, dentre outras medidas.
A estes ataques, os trabalhadores tem respondido com luta, como a greve dos servidores federais, funcionalismo estadual do Rio Grande do Sul e da vitória parcial dos metalúrgicos da GM de SJC contra as demissões. Mas isto não basta. Para derrotarmos efetivamente os ataques de Dilma, governadores, prefeitos e patrões, é necessária a unificação destas lutas e a construção, pela base, de uma greve geral no país.
Entretanto, as direções das centrais sindicais governistas, como é caso da CUT, CTB, e de movimentos sociais importantes como é o caso do MST e da UNE, ao invés de organizarem a luta contra estes ataques, tem priorizado uma política contra um “suposto” golpe da velha direita.
Entretanto, há pressões de suas bases para que estes ataques sejam combatidos. Estas pressões fazem com que as direções destas centrais sindicais e movimentos sociais sejam obrigados a fazerem um discurso que é contraditório: falam contra estes ataques ao mesmo tempo em que defendem o governo Dilma que é o responsável pela implementação dessas medidas. Estas contradições se expressaram nos atos que foram realizados de 15 de abril e 29 de maio, mas principalmente em 20 de agosto.
As lições de 20 de agosto
As manifestações de 20 de agosto organizadas com base no Manifesto “Contra a direita e o ajuste fiscal” foram marcadas por profundas contradições.
A situação mais emblemática foi a de São Paulo. Na maioria dos demais estados, tivemos Atos separados entre governistas, de um lado, e o MTST e a oposição de esquerda de outro. No Rio, por exemplo, um pequeno e combativo Ato, com claro perfil de oposição às políticas do governo Dilma, foi realizado pela manhã na Cinelândia por iniciativa do MTST com apoio de setores do PSOL. Os governistas, com outro eixo, fizeram seu Ato na parte da tarde. Onde não havia mobilização do MTST, os Atos foram puramente governistas. Nesses casos, o PSOL corretamente não foi e rejeitou a iniciativa.
Nos dias 15 de abril e 29 de maio, o setor mais combativo e independente do movimento popular e sindical conseguiu incidir sobre as entidades governistas e ações unitárias foram organizadas contra a ampliação das terceirizações (PL 4330) e os ataques ao seguro-desemprego, pensão por morte, etc (MPs 664 e 665), além de bandeiras gerais contra a pauta de direita no Congresso nacional.
Uma diferença agora é que a crise do governo Dilma tornou-se muito mais aguda. A queda da presidenta passou a ser encarada como uma possibilidade concreta e a luta contra isso passou a ser o centro das ações tanto do PT e PCdoB como dos movimentos por eles dirigidos.
A ação das entidades governistas tentando sequestrar o Ato e desvirtuá-lo foi suficiente para gerar muita confusão. Evidentemente a maior parte da cobertura midiática ajudou as entidades governistas a dar um perfil pró-Dilma aos Atos. Isso não foi suficiente para esconder a contradição dos governistas em participar em uma manifestação que tem como um dos eixos o combate ao ajuste fiscal do governo federal.
Porém, ausência da CSP-Conlutas e setores do PSOL na disputa que foi o processo de construção do dia 20, enfraqueceu o polo de esquerda, necessário para enfrentar os enormes aparatos da CUT e demais setores governistas.
A necessidade de uma Frente de Esquerda e dos Trabalhadores
O balanço do dia 20 de agosto nos alerta para a necessidade de reforçar esse polo de esquerda na luta contra os ataques de Dilma. O “lulopetismo” vive sua maior crise na história, ainda assim é uma força política que não pode ser subestimada no seu papel de contenção da luta mais dura contra os ataques do governo e dos patrões.
A divisão da esquerda, sindical e política, só favorece a burocracia sindical governista e joga a luta em um impasse e falta de perspectivas.
Se uma Frente social e política da esquerda, envolvendo PSOL, PSTU, PCB, MTST, CSP-Conlutas, Intersindical e outros, estivesse sendo construída, poderíamos conquistar uma hegemonia mais clara mesmo nas mobilizações unitárias com a CUT, CTB, etc, em torno a pautas concretas.
Além disso, essa Frente de Esquerda e dos Trabalhadores poderia acumular forças no sentido de se colocar como clara referencia política alternativa para o conjunto da classe trabalhadora diante da falsa polarização entre PT e PSDB.
Marcha de 18 de setembro
Passado o dia 20 de agosto, ainda existem inúmeras categorias travando uma difícil luta contra a agenda de cortes e ataques de Dilma, governadores e patrões. São principalmente os trabalhadores do setor público federal e os trabalhadores ameaçados de demissão pelas grandes empresas (GM, Volks, Mercedes, etc).
Entretanto, para barrar o ajuste fiscal e a Agenda Brasil é necessário derrotar o governo Dilma. Para isso, é fundamental construirmos um terceiro campo que seja uma alternativa de esquerda ao PT e a velha direita expressa pelo PSDB e PMDB.
Na última reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas foi aprovada a realização de uma Marcha no dia 18 de setembro em São Paulo. Apesar de termos acordo com esta Marcha, o Bloco de Resistência Socialista (BRS), da qual a LSR faz parte, junto com outros setores que tem intervenção na Central, apresentamos diferenças em relação à forma, eixo e a data em que ela será realizada.
Em relação à forma, há um grande risco que esta Marcha fique restrita apenas à CSP-Conlutas e as entidades que fazem parte do Espaço Unidade de Ação. Para evitar isso, era necessário que ela não fosse realizada no mês de setembro, mas em outubro, o quer permitiria um tempo maior para um diálogo com outros setores da esquerda combativa.
Além da data, apresentamos diferenças em relação aos eixo. Para nós, esta Marcha deveria ter como eixo principal a luta contra o ajuste fiscal e os ataques imediatos de Dilma-PT, PMDB e PSDB e a Agenda Brasil, por estabilidade no emprego através da redução da jornada de trabalho, sem redução de salários, pelo fora Cunha e sua pauta reacionária no Congresso, pelo fim da lei antiterrorismo, pela auditoria e não pagamento da dívida pública aos grandes capitalistas e por uma real alternativa política de esquerda e socialista dos trabalhadores.
Entretanto, a direção majoritária da CSP-Conlutas fez aprovar que o eixo principal da Marcha será contra Dilma-PT, Cunha e Temer-PMDB, Aécio/PSDB e colocou em segundo plano, a luta contra o ajuste fiscal.
Além da Marcha, será realizado no dia seguinte, 19 de setembro, um Encontro Nacional de Lutadores e Lutadoras. Este Encontro corre o mesmo risco da própria Marcha que é o de não conseguir ampliar para muito além das entidades que já compõem o Espaço Unidade de Ação. Para evitar isso, ele tem ser construído pela base, de forma ampla e que tenha como objetivos, não só o de aprovar um calendário de continuidade da luta contra os ajustes, como o de contribuir para a construção de alternativa política de poder, socialista e unitária para o país.