Basta de guerra aos pobres!

Em plena semana santa, a comunidade do Complexo do Alemão voltou a chorar a morte de inocentes. Quatro pessoas, entre eles uma educadora da rede municipal, Elizabeth de Moura Francisco, de 40 anos, morta dentro de casa, e Eduardo Jesus, de 10 anos, morto de forma brutal enquanto brincava. A resposta do governador Pezão a estes crimes é a promessa de aumentar a ocupação na comunidade. Na comunidade vizinha, a Maré, a ocupação militar do governo Dilma assola os moradores com violência nas abordagens.

A indignação tomou as ruas e redes sociais, no dia 2, com a morte do pequeno Eduardo Jesus. A comunidade em comoção inicia uma reação em cadeia e, aos gritos, panos brancos são balançados nas janelas e nas lajes e motoboys percorrem as vielas durante algumas horas em um “buzinaço”, após a PM agredir manifestantes que iniciavam uma caminhada na Avenida Itaoca, que corta os morros do Complexo do Alemão (agressões transmitidas ao vivo pela TV). No dia seguinte um ato foi convocado pelos moradores e as pessoas de toda a cidade se somaram à manifestação. Um outro ato ocorreu em Copacabana no domingo de páscoa. Não por acaso, essas últimas não foram reprimidas pela PM.

A política de segurança do governo do PMDB carioca tem como carro‑chefe as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). O projeto utiliza o discurso da pacificação, do policiamento comunitário, de forma muito maniqueísta. De fato, o projeto das UPPs foi concebido para criar um cinturão de “pacificação” para os eventos esportivos que aconteceriam na cidade do Rio – a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Nenhuma ou quase nenhuma preocupação para com a população foi esboçada. O resultado é o rápido esgotamento desta falsa política de segurança. Toda semana novos relatos de agressões aos moradores surgem e são gravados pelos celulares nas vielas das comunidades cariocas.

A guerra às drogas na cidade do Rio nada mais é que uma guerra aos pobres. Na verdade, ela serve como pretexto para a criminalização da pobreza, extermínio da população negra e para uma militarização das periferias das cidades. Estes são os verdadeiros interesses do capital para a questão das drogas e da violência. O lucro com essa política é imenso: entre os que ganham com ela, estão das empreiteiras aos verdadeiros traficantes de drogas, aqueles que não estão nas periferias brasileiras.

Desmilitarização e controle democrático

O debate de uma nova política de segurança se faz cada dia mais necessário. Mudanças como a criação de uma ouvidoria externa, a implementação de um policiamento comunitário com participação da população no gerenciamento, o fim do projeto das UPPs e, principalmente, a desmilitarização das polícias e da vida são propostas que tratam uma possibilidade concreta de mudanças no trato da segurança pública.

Nas favelas, diante de tantas dificuldades, a única ajuda vem dos próprios moradores, da solidariedade que persiste entre aqueles que compartilham da opressão. São trabalhadores que dão duro diariamente em empregos precarizados. Ali não há, como tenta afirmar a polícia e o governo, maus cidadãos, apenas faltam condições para que eles tenham acesso igualitário aos benefícios democráticos, como educação, saneamento, saúde, espaços culturais. Direitos estes que qualquer cidadão deveria ter, mas apenas os privilegiados da nossa sociedade possuem. Será a partir da garantia destes que se abrirá a possibilidade de libertação social para os moradores das favelas.

Chega de pobres fardados matando pobres descalços!

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