O ajuste só começou

Os dados do PIB do segundo trimestre confirmam o que todo mundo já estava vendo por toda parte: a crise econômica está se aprofundando e não chegamos ainda ao fundo do poço. A queda do PIB, que mede o tamanho total da economia do país, foi de 1,9% entre o primeiro e segundo trimestre – uma queda acima do previsto.

Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), essa crise já é a mais longa desde o Plano Real nos anos 1990 e as previsões apontam para um PIB negativo também no ano que vem.

A desaceleração chinesa está afetando duramente o preço das commodities (matérias-primas que tem preço no mercado mundial). O minério de ferro caiu pela metade no último ano. A queda do preço do petróleo está acima de 60% e coloca em dúvida se a exploração do pré-sal se pagará.

A esperança de que o pré-sal significaria um salto do Brasil ao “primeiro mundo” está se afundando na crise econômica e nos escândalos revelados pela operação Lava-Jato. As obras do Comperj (o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), um dos símbolos da nova era, estão praticamente paralisadas. Em 2013 a obra chegou a ter 35,5 mil trabalhadores. Em março deste ano, tinha caído para 4,5 mil.

A disputa central hoje é quem vai arcar com o custo da crise. Nessa disputa, o governo, a oposição da velha direita e os patrões estão de acordo. Fazem de tudo para colocar o peso da crise sobre as costas do povo trabalhador.

De um lado, os patrões tentam salvar seus lucros demitindo centenas de milhares de trabalhadores. Do outro lado, os governos aplicam uma política de ajuste que recai principalmente sobre os mais pobres.

O desemprego está crescendo em um ritmo acelerado e em julho havia 56% mais desempregados do que um ano atrás. A renda dos assalariados caiu nos últimos 12 meses em 3,5%. Somado ao aumento da inflação (acima de 9%), juros mais altos e alto endividamento, isso explica a queda no consumo, o que agrava ainda mais a crise.

Com o aumento do desemprego, as campanhas salariais ficam mais difíceis para os trabalhadores. A parcela dos acordos salariais que ficam abaixo da inflação cresceram no primeiro semestre desse ano para 14,6%, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), comparado com 2,6% no ano passado. Quer dizer, é necessário mais luta só para manter o mesmo poder de compra.

A queda na atividade econômica reduz a arrecadação de impostos e as finanças públicas. Apesar dos “ajustes” do governo, as contas da União fecharam com um déficit primário (sem incluir o pagamento de juros da dívida) de 0,27% nos sete primeiros meses do ano.

Se incluir os juros, a situação fica pior ainda. Os gastos com juros do setor público no primeiro semestre praticamente dobraram, de R$ 120,2 bilhões no ano passado para R$ 225,9 bilhões esse ano. Não é à toa que o único setor que continua com lucros recordes são os bancos.

A equipe econômica do governo está preparando o orçamento para o ano que vem e estão com grandes dificuldades para alcançar a meta de superávit primário de 0,7% do PIB, ou R$ 69 bilhões para 2016. Vêm mais “ajustes” por aí.

Está sendo discutido desde a volta do famigerado “imposto do cheque” (CPMF) até cortes em “despesas obrigatórias”, como pensões, limitando o aumento de gastos com a previdência e salários do funcionalismo público. Cortes na educação, saúde, investimentos públicos e arrocho salarial para os funcionários públicos devem continuar, portanto.

O governo está propondo prorrogar novamente o DRU (Desvinculação das Receitas da União), instituído por FHC para cortar gastos sociais garantidos na Constituição. Além de prorrogar por oito anos essa medida neoliberal (ao invés de quatro, como foi feito até agora), o governo quer aumentar a parcela sujeita a cortes de 20% para 30%.

Qual é o sentido por trás dos “ajustes”, que só aprofundam a crise? Se trata de recuperar a “credibilidade” no mercado financeiro que o governo não vai deixar de garantir os gastos cada vez maior com a dívida pública. Por isso o “ajuste” fiscal.

Se trata também de restaurar a “competitividade” do Brasil perante outros mercados, para não perder investimentos. Querem reduzir o “custo Brasil”, os salários e direitos dos trabalhadores. Para fazer isso, têm que atacar a capacidade de lutar dos trabalhadores, seus sindicatos e direitos trabalhistas.

No fundo, se trata de fazer uma redistribuição de renda dos trabalhadores para as grandes empresas e bancos. Essa é a regra número um do mercado.

A conclusão de todos esses dados é que só vimos o começo dos ataques. A maioria dos acordos salariais ainda estão acima da inflação. Os gastos públicos ainda são altos demais. A redistribuição de renda não foi suficiente para o mercado.

Nossa alternativa só pode ser construir uma ruptura com a ditadura do mercado, o sistema capitalista. Para isso é necessário unificar as lutas, mas também armá-la com um programa que aponte para uma saída alternativa, à esquerda, com um genuíno programa socialista.

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